quinta-feira, 10 de julho de 2025

Raízes da culinária brasileira, principalmente da Paulistânia - Parte 2


 

Da senzala à casa grande: Sabores sendo construídos




Vamos continuar com a nossa saga pela origem da culinária brasileira — principalmente da região conhecida como Paulistânia — voltando alguns anos no passado.
Para entender bem nosso registro gastronômico, teremos que ir e vir na história. Mas vai ser fácil de acompanhar. 

Antes dos imigrantes europeus desembarcarem no Brasil, os escravos negros de origem africana, foram trazidos pelos portugueses para trabalhar nas fazendas.
Os portugueses compravam ou trocavam esses indivíduos, que, em sua grande maioria, já eram escravos de tribos e povos rivais — grupos que haviam subjugado suas tribos e os escravizado. 
Infelizmente não existe santo nesse mundo. O ser humano é naturalmente malvado — tenha ele a pele da cor que tiver. 
Mas esse assunto é complicadíssimo e muita gente usa mais o coração do que a razão para debater sobre ele. 
Então vamos voltar ao nosso assunto principal, que é a culinária.
Os negros não eram bem tratados. Geralmente comiam as partes menos nobres dos porcos e bois, que eram mortos para a subsistência das pessoas que moravam nas colônias das fazendas. 
O arroz e o milho que era destinado aos negros, eram de grãos quebrados, chamados arroz de segunda e milho quirela.
Abóbora, galinhas e galos velhos, feijão preto, mandioca e frutas nativas como a goiaba, também faziam parte da dieta dos negros.
A mandioca, natural do Brasil, e o milho que era natural das Américas, logo caíram no gosto desses negros, que passaram a cozinhar pratos que até hoje são queridos pelo nosso povo, como a canjica, a "vaca-atolada", a galinhada, o cuscuz de milho, o bolo de fubá e doces como Mané-pelado, goiabada, pamonha e cural.
Nessa época, grandes cozinheiras negras, trabalhavam na sede das fazendas e cozinhavam para seus "patrões", que lhes ensinavam a culinária de origem européia e essas negras adaptavam esses pratos, aos produtos que existiam no Brasil.
O trigo, era um alimento imprescindível para os portugueses que moravam na Europa, mas, por aqui, era escasso. Por isso, o fubá e o polvilho entraram na dieta, tanto da casa-grande, quanto da senzala.
Agora a gente iria viajar um pouco mais para o passado, para entender o futuro, e iríamos falar dos indigenas na próxima postagem.
Mas eu resolvi colocar um pouco de pimenta, ainda dentro do tema dos escravos, e suas cozinheiras maravilhosas e fazer a primeira provocação da nossa viagem: a feijoada!
A primeira grande divergência histórica de uma receita símbolo do Brasil.
Por isso, — os indígenas que nos perdoem — na próxima postagem vamos falar de feijoada.
Se eu conseguir, é lógico... porque com essa minha boca grande, acabo falando de várias outras coisas paralelas!

Espero que estejam gostando e se preparem, porque muita água ainda vai passar debaixo dessa ponte.



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21 comentários:

  1. André,

    Teu texto tem gosto de lenha, de história contada entre uma colherada e outra, dessas que a gente escuta de canto de orelha enquanto a panela chia. É como se você tirasse do fundo da panela não só a comida, mas tudo o que ela carrega: o silêncio imposto, a astúcia em sobreviver, o talento de transformar migalha em sabor. Gosto do jeito como você escreve direto, sem verniz mas ali no meio escorre poesia, mesmo que você não perceba. Está nas entrelinhas da dor sem vitimismo, da denúncia sem grito, do respeito sutil pelas mãos negras que ensinaram o Brasil a comer com alma.
    Quando você diz que “não existe santo nesse mundo”, o som fica. Fica porque é verdade. Mas ainda assim, no meio desse mundo de faltas e faltosos, havia quem soubesse temperar até a injustiça com uma pitada de esperança e disso nasceu nossa cozinha. E quando você lança a feijoada como provocação, sorrio. Porque sei que você quer mais do que contar receitas: você quer que a gente mastigue a memória, engula o desconforto, e ainda peça repeteco. Sigo com fome de mais não só do prato, mas do que ele diz sem dizer.

    Abraço amigo,
    Fernanda

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    1. Eita!
      E sse comentário está melhor que a postagem!!!
      Obrigado minha amiga!

      Em outro comenntário eu perguntei para uma amiga: Você leu?
      No seu comentário eu afirmo: Você leu!!!!

      Um abraço!

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  2. André,
    O SER me "atacou" verbalmente num comentário que ficou perdido por aí e não postarei. hahaha .Mas respirei fundo, dei três voltas em mim mesma e, claro… fiz um texto. 😂 É que quando falta argumento, sobra inspiração pelo menos pra mim.
    Tem gente que lança farpas. Eu lanço crônicas.
    Kkkkk
    Espero que entenda a brincadeira.

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    1. Isso mesmo!
      Ataque com crônicas laser e destrua os comentários malignos!
      É isso que eu faço também!!!

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  3. E aí, tem treta? A nossa feijoada foi ou não foi inventada pelos negros? Se foi, deve ter sido o maior legado cultural que nos deixaram...!!

    E o que dizer do milho, exaltado que foi pela nossa presidenta naquele icônico momento em que ela homenageou também o milho...o milho é fantástico. Gosto de tudo que vem do milho, principalmente a canjica com milho branco. Lá pelas bandas nordestinas da Bahia chamavam de "mungunzá", mas acho que há mais de um doce com esse nome.

    E quanto aos escravos, não são monopólio do branco, europeu, colonizador. Ora, o próprio Zumbi dos Palmares tinham os seus escravos...

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    1. Dudu, eu também gosto muito de milho.
      Canjiquinha com costelinha de porco e bacom é uma delicia.
      Quantos a Zumbi ter escravos... Cuidado Dudualdo, eles vão cair de pau em você, mesmo sabendo que é verdade.

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    2. podem cair, mas de pau não que eu sou hétero.

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  4. Quantas boas comindas graças às invenções dos negros e adaptações das culturas européias . Gosto muito de milho, cuscuz, vaca atolada. E vamos aguardar a feijoada com tuuuuuuuudo dentro! abraços, chica

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    1. Hummmmmm Chiquinha!!!
      Como é a feijoada aí no Sul???

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  5. Oi André
    Outro texto muito bom com sabor de 'canjiquinha' que no inverno faz um bem enorme. Parece pouco servido nos pratos brasileiros ,já o milho está mais presente, onde ando ,tem sempre um carrinho perfumado por aqui servindo bem quentinho. E não podemos esquecer o angu que sofisticaram chamando da italiana polenta rs , o nosso angu, servido com carne é gostoso é é típico prato da cozinha brasileira. Vamos pois esperar a feijoada ,André. , sempre agradeço ... rs Lá na Suiça é servido o das latinhas rs o suiço adora mas não sabem o que uma boa feijoada_ meu genro vem aqui e pede feijoada. rs dificil encontrar em restaurantes. Tenho que ir para cozinha...Abraços, e bom final de semana.

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    1. Lis, minha amiga! Tudo bem?
      Na verdade, a polenta é uma simplificação do angu. As italianas queriam uma massa mais neutra, para fazer as vezes do macarrão, onde o sabor vem do acompanhamento. Por isso fizeram a polenta com àgua e sal.
      Já o angu, é do milhoralado e muito mais gostoso, se servido sozinho.
      Acho que vai ter um capítulo só sobre a polenta também.

      Que bom que está gostando.
      No final da postagem da feijoafa eu vou pedir para as pessoas colocarem suas receitas, e você já está escalada.

      Um abraço!

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  6. Boa Noite de paz, André!
    Gosto de todas as 'comidas de senzala'.
    Estou cozinhando batata doce... não me fala aipim, tudo de milho me abre o apetite.
    feijoada tenho evitado pela gordura, mas comi no final de semana passada com torresmo. Hum! É um manjar dos deuses.
    Entretanto, porém, mas, todavia, não posso mais me dar o desfrute de abusar...
    Gosto muito de tudo... rs...
    Tenha um final de semana abençoado!
    Abraços fraternos

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    1. Rosélia minha amiga!
      Quem não gosta de comida boa???

      Um abraço e um lindo fim de semana pra você.

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    2. Quis dizer:
      Não me falta aipim...
      No final de semana passado.

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  7. Para entrar no clima, direi que já estendi o guardanapo e aguardo que seja servida a feijoada completa para degustação dos seus amigos leitores, pois nessa festa eu não trago receita, só o apetite, ou seja, a vontade de mergulhar na feijoada. Na cozinha, só entro para degustar... Mas estou gostando da sua conversa sobre a culinária, o tempero e as pitadas de sal... há gente com água na boca, André.
    Obrigado pelo teu olhar em outras postagens lá do meu blog.
    Um grande abraço,

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    1. Ah... Mas pode ir arrumando aí a receita da feijoada da sua família para comentar na próxima postagem!!!!!

      Que bom que está gostando.

      Um abração!!

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  8. Olá, André, vamos lá para a segunda parte, está esquentando o assunto,
    e estou gostando muito.
    Pura verdade, não existe santo nesse mundo, o ser humano por natureza, não dá muito para confiar.
    Sim, trouxeram da Europa e adaptavam a cozinha aos produtos brasileiros.
    Gostei de ver nossa vaca atolada, galinhada, cuscuz, o bolo de fubá, pamonha!!! Mas nossa feijoada é demais, hein?? Uma loucura. Canjica!! Adoramos canjica aqui em casa.
    Péra, ainda não entendi os índios com a culinária? rss, como assim?
    A feijoada é famosa em várias regiões do Brasil, e sempre excelentes.
    Vamos lá, amigo, aguardo...Fala do mocotó!!! 😄
    Abração do RGS!!

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    1. Olá Tais!
      No próximo vamos falar só de feijoada e depois vem os indígenas!
      Você acha que eles não contribuíram??? Vai se surpreender.

      Um abração!!!

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    2. Acredito, sim, mas quero saber mais!!!
      E você vai contar, como prometeu!! kk
      Abração daqui!

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  9. Falar das raízes da culinária brasileira como o meu amigo o faz é uma delícia não só gastronómica mas também literária e histórica.
    Estou curioso como é que terá surgido a feijoada brasileira.

    Em Portugal há essencialmente 2 feijoadas: a transmontana e a do Porto. Da primeira não conheço como surgiu. Na do Porto há História, que não sei se é verdadeira. Conta-se que um exército cercou o Porto e passado algum tempo o povo começou a não ter que comer e a situação era crítica. Fizeram então um grande bluff, atiravam carne para os invasores e comiam as tripas dos animais com feijão. E assim os invasores desistiram do cerco e foram-se embora por pensarem que aquela gente ainda tinha muita comida.

    Boa semana caro amigo.
    Um abraço.

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    1. Bom dia, Poeta!!
      Que história legal essa.
      Mas tem que ter coragem pra afzer, se for verdade.

      A feijoada é a próxima postagem.

      Um abraço!!

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