segunda-feira, 21 de julho de 2025

Raízes da culinária brasileira, principalmente da Paulistânia - Parte 5

 


Mocinhos ou bandidos? O início de tudo.




Nós já voltamos no tempo 3 vezes para falar da culinária brasileira — especialmente da Paulistânia.
Hoje vamos dar uma passeada por diferentes épocas. Nossa reflexão começa antes da chegada dos negros e termina já na fase dos imigrantes.
O personagem em que vamos focar nossas atenções, não é o cara mais carismático da nossa história — principalmente nos dias de hoje, em que as pessoas estão olhando mais para a forma em que as coisas foram feitas, e não para o que foi feito.
Mas aqui fica uma pergunta: naquele tempo, com as condições em que eles viviam, com a mentalidade, a ética e a moral da época... será que eles foram mesmo errados?
Hoje vamos falar dos Bandeirantes.

Os bandeirantes eram grupos de homens paulistas. Moradores da Capitania de São Vicente.
Inicialmente trabalhavam por conta própria, e percorriam o interior do Brasil em busca de indígenas para escravizar, riquezas minerais e rotas desconhecidas. 
Com o tempo, passaram a trabalhar para a Coroa Portuguesa, ajudando na expansão territorial e exploração das riquezas coloniais.
Os bandeirantes eram formados por portugueses e pessoas nascidas aqui no Brasil. Alguns já eram mestiços, filhos de portugueses com indígenas.
Até esse momento a culinária brasileira praticamente não existia.
Os habitantes das Capitanias Hereditárias comiam produtos trazidos da Europa e acrescentavam alguns produtos indígenas, como a mandioca, milho e caça.
Os bandeirantes tinham esse nome, porque as expedições que faziam para adentrar as matas eram chamadas de Bandeiras.
À medida que iam adentrando o país, esses bandeirantes estabeleciam rotas, descobriam produtos interessantes para a comercialização e estabeleciam povoados, que aos poucos foram originando pequeninas cidades.
Geralmente atrás dos bandeirantes, vinham os padres jesuítas, que em cada cidadezinha, abriam missões, com a intenção de catequisar indígenas, lhes ensinar a fé cristã e "domesticá-los", para serem usados para os interesses comuns tanto da igreja, quanto da Coroa Portuguesa.
Os Bandeirantes eram rústicos. Homens talhados para sobreviver com pouco. Sua alimentação baseava-se em carne seca, feijão, farinha, e coletas que encontrassem no meio do caminho.
O arroz com charque e feijão gordo, como conhecemos hoje, são herança desses Bandeirantes. 
O tutu de feijão, a paçoca de farinha de mandioca com charque, também é herança bandeirante.
Muitas frutas, raízes e produtos indígenas, foram absorvidos primeiro pelos Bandeirantes e depois para as cidades. Eles foram a ponte cultural da culinária indígena para o homem branco europeu.
Uma coisa muito interessante que eu descobri pesquisando essa fase da nossa história, é que os indígenas não queriam comer as galinhas e frangos que os bandeirantes levavam, porque tinham nojo daquela ave estranha, que comia de tudo.
Mas com a presença dos Bandeirantes e depois dos jesuítas missionários, aos poucos os indígenas incorporaram o frango à sua dieta.
Esses Bandeirantes foram os responsáveis direto para o aparecimento do Norte do Paraná, de São Paulo, de Minas Gerais, de Goiás, de Mato Grosso, e do que se convencionou chamar de "Paulistãnia", a grande região formadas hoje por esses Estados, mas que naquela época não era dividido assim.
Os Bandeirantes existiram até quase a criação da área urbana das cidades dessa região, e aos poucos migraram para o serviço de tropeiros. Peões que levavam gado de uma fazenda para outra por grandes distâncias.
A comida que hoje conhecemos como comida tropeira, nada mais é do que a comida dos Bandeirantes, que com o passar do tempo, mudou de nome. Ou melhor — ganhou um nome. 
Então meus amigos!
Agora que nós arrumamos o cenário, escalamos os atores e atrizes e traçamos o roteiro. 

Finalmente podemos começar a falar da culinária brasileira e da grande Paulistânia.



18 comentários:

  1. Texto bem bacana e informativo.
    Nunca soube que os índios tinha nojinho de comer galinha porque elas comiam de tudo..ora, se essas que são as melhores!! rs
    Os Bandeirantes tiveram sua função de interiorizar o país com os modos e jeitos da época.
    Só a conhotada gosta desse negócio de julgar o passado pelas lentes atuais (e mais particularmente da lente deles!) mas é claro que isso é um equívoco enorme.

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    1. Então Dudualdo, por isso que eu fiz questão e tocar nesse ponto.
      Não existe julgar o passado.
      Aprendi isso na faculdade de História.
      A moral de cada época é diferente.

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  2. André, adorei a volta no tempo. A gente mal termina de digerir a feijoada do presente e você já serve uma marmita de carne seca colonial. E, claro, com direito a tutu, paçoca e umas boas doses de contradição histórica. Você começa dizendo que o personagem da vez “não é o cara mais carismático da nossa história”. André… dizer que o bandeirante não era carismático é quase um eufemismo. Tipo chamar de “pouco simpático” aquele tio que aparece no Natal pra falar mal de todo mundo e ainda levar o peru embora.
    Hahaha. A proposta de tentar entender os caras “com a mentalidade da época” é legítima. Mas cuidado! Esse tipo de reflexão escorrega fácil pro “não era errado, era costume”. E quando a gente vê, tá passando pano com farinha de mandioca e charque. Gostei da parte das galinhas. Descobrir que os indígenas tinham nojo da ave e que foi o bandeirante quem enfiou o frango na dieta brasileira é quase uma metáfora nacional: ninguém queria, mas empurraram e hoje tá em tudo do PF ao casamento. No geral, você equilibra bem o conteúdo histórico com leveza. Mas vou ser sincera: esse texto é tipo prato de bandeirante mesmo alimenta, mas deixa uma sede moral danada depois. Faltou um pouco mais de molho crítico. E talvez uma pitadinha de escuta dos povos que estavam aqui antes dos moços da Capitania começarem a “domesticar” geral. Mas seguimos! Próxima parada: quem sabe a história do feijão tropeiro contado pelo boi? Aposto que ele tem outra versão.

    Muito boa,
    Fernanda

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    1. Oi Fernanda!
      Eu já esperava reações iguais a que você teve, e até te entendo.
      Mas note que eu não defendi os Bandeirantes, o que eu defendi e sempre defendo é o momento histórico e o que as pessoas daquele tempo entendiam sobre a vida.
      A gente julgar essas pessoas pelas lentes de hoje não é honesto. Imagina você, sem tecnoligia nenhuma, adentrar uma terra deesconhecida, de mata fechada, intocada, servindo os poderosos da época, sem certeza alguma de que voltaria a ver sua família... Não é fácil.
      Muito pior que os bandeirantes, são os traficantes de hoje em dia, o pessoal do crime organizado, os caras que roubaram o INSS, os russus que invadiram a Ucrannia, os terroristas do Hamas, a retaliação de Israel...
      Isso é muito pior, porque hoje a moral da época mudou.
      Naquele tempo os europeus acreditavam sinceramente que indigenas e negros não tinham alma, (sabia disso), era ensinado na igreja. Pra eles, eles não estavam pecando. Esse era o entendimento da época.
      Uma das primeiras coisas que a gente aprende na faculadde de história e que sempre é lembrado quando surge uma polêmica é: Não julgue o momento histórico pela moral de hoje. Tente se inserir e entender o que estava acontecendo.
      Egipcios escravisaram judeus, judeus massacraram babilônicos, caldeus, amorreus, matando todos os homens e jovens e escravizando as mulheres e os velhos... Em nome de Deus.
      Era a moral da época.

      Um abração!!

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    2. Andre, quis apenas brincar como costumamos fazer.
      Sobre a parte do “não é o cara mais carismático da nossa história”, eu fiz graça, mas acho que fui meio estabanada no tom. Não era minha intenção te criticar foi só aquela vontade de brincar com as palavras, como quem joga farinha pro alto e depois percebe que tem que varrer. Aliás, acho importante (e corajoso) o esforço de revisitar figuras históricas tentando entender o contexto da época. É um terreno delicado mesmo e você caminhou com equilíbrio. Eu só me empolguei no tempero e exagerei na pimenta da “ironia”.
      A parte das galinhas, então, é genial. Fiquei imaginando o frango como símbolo nacional involuntário ninguém queria, mas virou figurinha carimbada do cardápio. Enfim, seu texto me fez pensar, rir e até aprender (de novo). Obrigada por isso. E me DESCULPA se o meu comentário anterior soou mais crítico do que bem-humorado.
      Na próxima parada, prometo levar água e mais gentileza no cantil. Novamente peço DESCULPAS.


      Abraço com afeto,
      Fernanda

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    3. Quê isso menina! Não fiquei bravo não!
      Só estava explicando.
      Todo mundo tem o direito de comentar da forma que entender.
      Fica tranquila!!!!

      Kkkkkkkkkkk.

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  3. Boa tarde André
    Mais um texto bastante informativa e muito esclarecedor .
    Estou a gostar de ler esta "saga" sobre culinária e muita coisa que não sabia.
    Boa semana.
    Um beijo
    :)

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    1. No próximo vamos começar de verdade.
      Kkkkkkkkkkk

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  4. Olá, amigo André!
    Um primo meu não come carne de porco até hoje pois viu em laboratório a imensa quantidade de bactérias... é uma carne que aprecio muito.
    Desculpe passar dos frangos e galinhas ao porco, mas é que você diz da História que conta sobre o nojo das aves que eles tinham pois elas se alimentavam de 'tudo'.
    Hoje em dia, as rações substituem as 'lavagens' e outros...
    Enfim, quem estuda a História tem embasamento para debater questões múltiplas, sobre os alimentos e suas origens também.
    Sigo acompanhando...
    Fiz dobradinha hoje, donde será o fundamento do tal bucho? Sofistiquei com bacon, rs.
    Em sério, seu post tem muito de sabedoria de quem entende do que fala.
    Tenha dias abençoados!
    Abraços fraternos de paz

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    1. Que legal seu comentário minha amiga!
      Obrigado.

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  5. André, o seu compêndio sobre as raízes da culinária brasileira está fantástico e muito completo. Digo isso porque eu estudei um pouco sobre a culinária da época das capitanias hereditárias, para poder desmembrá-la e inseri-la em alguns artigos no meu blog Natureza Capixaba. Lá eu explicava como a Moqueca Capixaba é a melhor do mundo ( rsrs) e suas raízes inteiramente indígenas. Dos portugueses, pegamos apenas as especiarias e alguns temperos e olhe lá. Infelizmente, como você destacou brilhantemente em seu texto, os bandeirantes aliciavam os indígenas nas entranhas do Brasil simplesmente para serem usados pela Igreja e coroa portuguesa. Mas nós capixabas tivemos um grande defensor dos índios naqueles tempos bicudos: o padre José de Anchieta, frade franciscano co-fundador de São Paulo e Rio de Janeiro. Ele, dentro das suas possibilidades, tentava integrar os índios na sua cultura sem causar ruptura com suas raízes livres. Mas foi muito difícil. Tempos de imenso sofrimento. Aqui no Espírito Santo foram os indígenas que tiveram que trabalhar forçado na construção da ladeira da penitência no Convento da Penha. É história das grandes amigo...
    Ahh, mas o arroz com charque não tem pra ninguém. Mesmo eu sendo defensora acirrada da culinária capixaba, esse arroz é um alimento forte, altamente nutritivo e pensado para sustentar a difícil caminhada dos bandeirantes pelos sertões e rincões deste imenso país!
    Maravilhosa a sua ideia de unir CULINÁRIA e HISTÓRIA amigo! Parabéns!!!
    Vou continuar acompanhando, com toda a certeza!!
    Maravilhosa semana!! :))))

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    1. Olá DRI!
      Que bom que está gostando.
      Quem sabe você não faz um capítulo capixaba!!!!
      Kkkkkkkkkkk
      Obrigado minha amiga.

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  6. Uma leitura deliciosa, cheia de história e sabor! A forma como descreves as origens e tradições tocou-me profundamente. Que riqueza de cultura temos à mesa! Que os dias continuem leves e saborosos, e que tenhas uma excelente semana!
    Com carinho, Daniela Silva 💜
    https://alma-leveblog.blogspot.com

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  7. Um pouco de história é sempre bom. Gosto das origens, gosto de quem inventou a roda rs. Sempre tem dois lados. Tem esse lado explorador, escravagista, a história em si, foi forjada assim, navegações, invasões, domínios, mas tem o lado cultural, o que deixa legados, heranças, aprendizados. Então concluo que os bandeirantes foram necessários sim. Belo texto!

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    1. Olá CARLOS!!
      Então! Infelizmente algumas coisas erradas aconteceram, mas no momento em que elas eram consideradas certas.
      E hoje a gente colhe os frutos!!

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  8. kkkkkkkk, essa tá boa!! Os indígenas com nojo de galinha?
    Sim, pode ser, os caras só comiam peixe etc...
    Acho que ficaram espantados com as galinhas, nada bonitinhas, são muito nervosas e com aquele pescoço de sentinela neurótica!
    André, adorei, aprendi algumas coisas que não sabia!
    Olha, tenho umas postagens de comida chinesa, mas nem te conto, guri!
    Uma loucura, deves conhecer, algumas coisas, sim! Curioso como és... rsss
    Uma leitura muito agradável!
    Abraços, uma boa quinta feira! 😅😁🙋‍♀️

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    1. Eita.
      Que legal.
      Vou procurar essas postagens no seu blog.

      Que bom que tem gostado das postagens.

      Um abração!

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