sábado, 26 de dezembro de 2020

O pão de Antônio

 

 


                                          


Noel virou a esquina errada quando estava chegando à Londres e quando caiu em si, estava viajando com seu trenó no meio do oceano.

- Que estranho, - pensou – onde está a terra firme? Eu não me lembro que da Lapônia até Londres tinha esse pedaço tão grande de mar...

Mesmo achando que estava no caminho errado, Noel continuou em frente confiando no instinto de suas renas, que continuavam a cavalgada como se soubessem o caminho.

Depois de algumas horas ele avistou algumas luzes no meio do nada, parecia um vilarejo. Mas o velho ficou surpreso quando percebeu que o vilarejo era muito precário,

- Com certeza não estamos na Inglaterra. – disse para si mesmo em voz alta. Tudo estava muito escuro. Alguns lampiões colocados em locais estratégicos iluminavam pedaços da noite em meio as vielas enlameadas devido a alguns dias de intensa chuva.

Os casebres ficavam espalhados pela vila sem alguma ordem que desse para entender, a não ser o fato de que rodeavam a igreja que ficava numa espécie de praça central.

As pessoas estavam reunidas num galpão que ficava ao lado da igreja.

Noel escondeu seu trenó atrás numa árvore, disse para as renas não fazerem barulho e foi com cuidado dar uma espiada.

Pé ante pé Noel chegou até a janela do barracão e furtivamente começou a espiar. Ele viu que um homem vestido com túnica branca falava para pessoas, que atentamente o escutavam sem ao menos piscar.

Noel achou interessante aquilo, porque sabia que não existia nada a quilômetros de distância, mesmo assim na pobreza extrema daquele povo ele percebeu pela feição deles que eles respeitavam aquele homem. Ele até se lembrou de outro homem, a muitos anos atrás que pregava e batizava às margens do Rio Jordão, e que pessoas humildes o seguiam sem pestanejar. Esse homem parecia ser um messias para aquelas pessoas. Até um cajado ele tinha nas mãos, como se fosse um novo Moisés.

Entretido na sua observação e nas velhas lembranças, Noel escutou um "click" atrás de si e lentamente virou-se dando de cara com os dois canos de uma carabina apontados no meio da sua testa.

- Quem é vósmecê?

- Eu sou o Noel. Também conhecido como papai Noel. – disse arregalando os olhos.

- Pai de quem?

- Noel... Você nunca ouviu falar?

- Vosmecê é português?

- Hã...? Português? Não, eu sou da Lapônia.

- Mas o sinhô fala português. – falou o homem aumentando a vós.

- É... – respondeu Noel levantando os braços. – Isso se deve a magia natalina.

- Você então é um bruxo?

- Não... – falou Noel tentando consertar o mal entendido. – A magia do Natal não sou eu quem faço. Ela existe porque hoje o mundo inteiro se une para adorar o nascimento do cordeiro.

- É melhor vosmecê parar de falar, porque essas suas conversas estão muito estranhas. Eu vô levá ocê pra conversá com o mestre Antônio Conselheiro.

O homem, apontando a carabina para Noel, fez um sinal para que ele andasse e entrasse no barracão.

Lá na frente, em cima de uma espécie de púlpito feito com tábuas, o velho com o cajado na mão franziu o cenho e seu susto fez com que as pessoas que estavam sentadas em silêncio se voltassem para a entrada do barracão. Todos estranharam ao ver aquela figura estranha. Alguns se colocaram de pé, outros fizeram o sinal da cruz, e outros esperaram para ver o que o mestre Antônio Conselheiro iria fazer.

- Mestre! - falou o sentinela. - Esse sujeito aqui tava espiando ali da janela. Eu perguntei quem ele era e ele me falou que era o pai dum tal de Noel.

- Não meu filho - interrompeu o bom velhinho - eu sou o papai Noel!

As pessoas sem entender nada, olhavam e cochichavam umas com as outras e procuravam no seu velho mestre Antônio Conselheiro uma razão para essa situação. O mestre, por sua vez, levantou o cajado e como se entendesse cada movimento do messias, as pessoas se sentaram e ficaram quietas observando. 

Depois virando-se para Noel o velho Antônio Conselheiro falou:

- O senhor é português? Veio aqui mandado pelo rei?

- Pelo rei? – falou Noel fazendo cara de desentendido. - Que rei?

- Senhor, - falou o Conselheiro ainda demonstrando calma - não te faças de desentendido. O rei de Portugal colonizador que se acha o dono dessa terra chamada Brasil.

- Olha meu filho, hohohohoho, eu sou o papai Noel, eu venho das terras gélidas do norte europeu e vim trazer paz e alegria junto com o espírito natalino.

- O que é espírito natalino? - perguntou Antonio Conselheiro olhando Noel de cima abaixo.

- É o espírito de paz, alegria, felicidade, amor! Eu faço isso a muitos anos lá na minha terra, e parece que meu chefe mexeu uns pauzinhos para eu começar a fazer isso aqui nessas novas terras também.

- Seu chefe é o rei de Portugal? O senhor é português? 

- Hohohohoho! - gargalhou papai Noel – Não, eu sigo apenas as ordens de Deus! Eu represento a união dos povos em torno do nascimento de Jesus!

- O senhor é chegado a uma falácia hein senhor Noel? – disse Antônio Conselheiro coçando a barba. - Onde já se viu dizer que trabalha diretamente com Deus... O senhor é português e trabalha para o rei de Portugal e está aqui pra confundir meu povo, mas nós não vamos deixar! O senhor tem dez minutos pra se retirar da vila de Canudos e se voltar aqui mais uma vez, não vai sair com vida. E por favor não seja ridículo com essa roupa vermelha e esse chapeuzinho horroroso! - Virando-se para o sentinela que estava com a carabina Antônio Conselheiro falou – Chico! Leve esse senhor daqui.

O sentinela levou Noel até onde o trenó estava amarrado. Papai Noel subiu no trenó e levantou vôo sumindo entre as estrelas. Engraçado é que Chico não se lembra disso e nem sabe como Noel foi embora. No outro dia de manhã era dia de Natal e uma coisa estranha aconteceu na vila de Canudos. Todas as crianças acordaram com roupas e sapatos novos. Alguns vestiram sapatos pela primeira vez na vida. Ninguém sabe de onde os presentes vieram. Nas mesas dos casebres apareceu uma espécie de pão engraçado e muito gostoso todo cheio de umas frutinhas cristalizadas no meio.

As pessoas perguntaram a Antonio Conselheiro o que era aquilo e ele simplesmente respondeu que devia ser mesmo coisa de Deus ou simplesmente uma tentativa do rei de Portugal em fazer as pazes com o povo da vila.  

Diz a lenda que essa foi a primeira vez que papai Noel veio ao Brasil. Mas desse dia em diante ele nunca mais deixou que ninguém o visse quando viesse deixar os presentes para as crianças brasileiras. Dizem que numa conversa informal com um dos anões da fábrica mágica, papai Noel teria comentado que o povo do Brasil é diferente porque mesmo achando que ele fosse um inimigo ainda o deixaram ir embora. Desde aquele dia, até hoje, Noel sempre volta ao Brasil; pena que já no ano seguinte a Vila de Canudos, e Antonio Conselheiro, não existiam mais.

Mas para a surpresa de Noel quando Conselheiro chegou ao céu ele perguntou a Deus sobre aquele velhinho de roupa feia e chapeuzinho horroroso que apareceu uma vez na vila de Canudos dizendo ser um enviado do próprio divino.

Deus explicou para ele com detalhes quem era o papai Noel e o velho Conselheiro, agradecido, pediu à Noel para trabalhar com ele na confecção daqueles pães engraçados. O messias de Canudos desde esse dia trabalha fazendo os “pães do Antônio” com gosto, pois se lembra da alegria das crianças do seu antigo povoado se deliciando com aqueles pães, como se ele fosse a maior alegria da vida delas.

 

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Arapuca

 


 

Sabe o que está acontecendo dia a dia nos meios de imprensa "que agora" desde que as verbas comerciais vindas do governo acabaram, se alinharam com o pensamento da esquerda? Estão querendo introduzir ódio entre brancos e negros custe o que custar.
A algum tempo estou vendo várias manchetes do tipo: 
"Homem negro" agredido por simpatizante de Bolsonaro. 
"Mulher negra" agredida na porta de hospital. 
"Crianças negras" são agredidas em restaurante. 
O engraçado é que hoje eu li a seguinte manchete:
Mulher é agredida em posto de gasolina por namorado.
Ela é branca e ele é negro, a gente descobre isso porque no corpo da matéria tem a foto dos dois, só que isso não é destacado no texto. Eles não disseram em momento algum que, um homem negro espancou uma mulher branca.
Opa! Peraí gente! 
Igual ao caso do rapaz morto por seguranças do mercado mês passado. Os seguranças em HIPÓTESE ALGUMA poderiam bater no rapaz até a morte, porém os jornais e portais pintaram o cara como santo, sem falar uma palavra sobre as várias passagens pela polícia que ele teve, também não falaram que ele ofendeu uma funcionária do mercado e nem que ele deu o primeiro soco! 
Opa! Peraí gente! (2)
Eu sou mais negro que branco. Dizem que sou pardo, mas isso é conversa pra boi dormir. 
Quando o pardo é rico o chamam de branco e quando ele é pobre o chamam de negro.
Então, do alto da minha pardualidade negra eu posso falar que estão armando uma arapuca para o povo negro e humilde do Brasil. 
Estão implantando um ódio que não existe!
Todos os dias, brancos, negros, pardos, homens e mulheres são agredidos no Brasil. De todas as formas e em vários graus de violência. 
Amigos e irmãos negros! Não se calem, não sirvam de experimento social, não deixem que a imprensa os vitimizem.
Quem sofre nesse país não sofre porque é negro, e sim porque é pobre!
O problema nesse país é a distribuição de renda e não a raça. 
A periferia tem gente de todas as raças, etnias, credos e posicionamento político, social e sexual.
Amigos e irmãos negros, não caiam nessa armadilha que estão armando para vocês! Para nós. Para negros, pardos, brancos... Seres humanos, brasileiros.


 

domingo, 6 de dezembro de 2020

Recomendo:





Ontem assisti novamente O campo dos sonhos.
Esse filme é de 1989, estrelado por Kevin Costner, e na minha opinião é um filmaço!
A história é muito inteligente e intrigante e pra ser sincero eu que já assisti umas 4 vezes, a cada nova assistida acabo tendo uma ideia diferente que me leva a pensar por um caminho que não tinha enxergado antes.
Basicamente a história fala de um fazendeiro que plantava milho, que um dia escuta uma voz que o manda derrubar o milharal e fazer um campo de baseball. 
Como a voz era insistente e já o estava deixando louco, ele resolve ceder e fazer o que ela pedia. Pega o trator, e na frente da cidade toda, derruba sua plantação. Todo mundo o crítica e acha que ele está maluco, menos sua família. 
O que acontece a partir daí é muito interessante e se eu continuar contando fatalmente aparecerão spoilers indesejáveis e malvados.  
O mais intrigante se a gente for filosofar na história do filme é  que teologicamente esse campo pode ser: O céu, o purgatório ou o inferno? Não sei... 
Cada hora eu penso uma hipótese dessas e o pior é que todas fazem sentido. 
Se já assistiram ou forem assistir, passem aqui pra comentar depois.
Tem na Netflix.


 

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Quem matou Marielle Franco?







Quem matou Marielle Franco? Essa é uma pergunta que a esquerda do Brasil não cansa de fazer!
Mas antes de tentarmos elucidar esse caso, primeiro nós temos que saber quem era a Marielle:
Marielle Francisco da Silva, foi uma socióloga e política brasileira, filiada ao Partido Socialismo e Liberdade. Ela elegeu-se vereadora do Rio de Janeiro e no período de sua morte, era uma pessoa muito influente entre as lideranças de esquerda do Rio de Janeiro.
Sua morte causou comoção; as vezes sinceras e em outras, exacerbadas. Seu nome virou grito de guerra entre o nicho político que representava, ganhando destaque nacional e internacional.
Inimigos políticos, principalmente do governo atual do Brasil, elegeram a “direita radical e fascista” como principais suspeitos do assassinato.
Bem... Colocados esses dados na mesa da investigação, nós notamos que várias pontas estão absurdamente soltas, e incoerentemente esquecidas, dando a entender que a justiça parece não querer saber quem são os mandatários que encomendaram a morte de Marielle aos policiais milicianos, que aliás, estão presos e sendo investigados pela justiça carioca.
Mas como eu não sou bobo nem nada, e tenho pelo menos dois neurônios funcionando, eu pensei sobre esse caso e cheguei em algumas conclusões que faço aqui agora para vocês em forma de colocações e perguntas.
1 – Marielle Franco era uma pessoa que estava cada vez mais ganhando visibilidade e credibilidade entre as pessoas que comungavam da mesma doutrina política que ela.
Então: A quem ela atrapalharia realmente se saísse candidata a deputada estadual pelo Rio de Janeiro?
2 – As pessoas que seguem a ideologia de direita conservadora jamais votariam na Marielle, e as pessoas de ideologia esquerdista jamais votariam em pessoas tipo Bolsonaro e seus filhos.
Então: Será mesmo que a Marielle era adversária política para políticos de centro-direita?
3 – Políticos do PT, PSOL, PCdoB etc, que perderiam muito com uma candidatura da Marielle, que certamente tinha chances de retirar a vaga de algum de seus caciques, começaram a bradar um mantra emburrecedor: Quem matou Marielle! Elegendo culpados e se escondendo atrás da massa de manobra que adotou esse mantra por modinha ou por alienação, sem ao menos raciocinar.
Então: Não seria esse mantra: Quem matou Marielle! Uma fuga? Uma forma de desviar as atenções?
Amigos, me desculpem, mas eu acho que a justiça, se realmente quiser fazer justiça, tem que começar a olhar para aqueles que perderiam com uma candidatura da Marielle. Tem que investigar os que bradam em voz alta, e principalmente aqueles que tem foro privilegiado, ou fugiram do país, depois de se elegerem, muito, graças a ausência da Marielle na eleição.
Para contratar ex-policiais milicianos, ou pessoas do tipo do Adélio, basta dinheiro. Pessoas desse tipo não trabalham por ideologia política, eles são matadores de aluguel, e trabalham para quem paga mais.
O povo brasileiro tem que parar de se deixar engambelar por bandidos, e exigir que todos sejam investigados, principalmente aqueles a quem uma candidatura de Marielle Franco faria mal.
Pensem nisso, tirem suas conclusões e levem a ideia adiante!
Matar alguém que dividiria um pequeno nicho de eleitores fiéis é diferente de matar alguém que estava disparado nas pesquisas e carregado nos braços do povo.
Matar alguém que dividiria um pequeno nicho de eleitores fiéis, interessa a pouca gente. Investiguem esses poucos!


  

sábado, 6 de junho de 2020

Anjos









Zezé é um menino.
Um menino que não tem celular, não consta nos dados do Google, não tem conta no Facebook e que não sabe o que é watsapp.
Zezé é um menino que vive à margem da sociedade. Uma margem, ao contrário do que a maioria pensa, feita de multidões e multidões de rostos invisíveis.
Ele não entende nada sobre esquerda, direita, democracia, socialismo, nazismo e não sabe qual é o tipo de governo do Brasil. Ele não sabe quem é o presidente, quem é governador e muito menos o ministro da justiça. Na verdade, ele não sabe o que é um governador, nem o que faz um prefeito ou um vereador.  
Zezé não sabe nem de onde veio, imagina se iria ficar preocupado em decorar nomes, de pessoas tão distantes.
Nem em sua lembrança mais antiga ele reconhecia um rosto para chamar pai. 
De vez em quando, ao examinar essas lembranças antigas, ele via em alguns flashes uma mancha disforme, que sorria para ele. “Essa mancha deve ser a minha mãe.” – pensava, coçando a cabeça.
Ele, com vergonha, sempre acompanhado de uma risada nervosa, brinca dizendo para todo mundo que é filho de pai sem mãe e de mãe sem pai.
Zezé foi criado por uma irmã mais velha; Marcia, apenas três anos a mais que o irmão, um dia se viu abandonada não sabe por quem, de mãos dadas a um garoto, de não mais de três anos, andando com ela pelas ruas da cidade.
Juntos, eles cresceram comendo restos de comida encontrados em latas de lixo, dormindo em terrenos baldios, ou nos jardins das praças. Eles se cobriam com jornal e trapos velhos, e quando o frio apertava muito, eles cheiravam cola para sumir desse mundo um pouco.
Em um lindo dia de primavera, acharam o corpo de Marcia num matagal atrás do campo de futebol, comida pelos humanos e pelos vermes.
A polícia achou normal, afinal, tratava-se apenas uma menina de rua.
Ela foi enterrada como indigente, e com o caixão lacrado.
Zezé nunca ficou sabendo da passagem de sua irmã. Em sua cabeça, ele imaginava que ela tinha encontrado um homem bom, e que se esquecera dele, assim como seu pai e sua mãe um dia se esqueceram.
Andando sozinho em meio à multidão, Zezé reparou que de repente as pessoas estavam usando máscaras.
- Dona, - perguntou a uma mulher que saía de uma loja – por que todo mundo está usando esse negócio na cara?
- Você não tem máscara? – respondeu a mulher examinando-o de cima abaixo. – Não está com medo do covid?
            - Medo de quem?
            - Do corona moleque! Você não tem medo corona? Você tem que se cuidar!
            - Quem é esse corona?
            - O vírus chinês! Onde você estava nos últimos três meses, que não sabe disso!
            “Onde eu estava?” – pensou Zezé confuso.
Depois do sumiço de sua irmã, Zezé continuou sua vida. Uma vida difícil, porém, para ele, feliz! Afinal, ele já tinha quatorze anos e uma mulher: Carol.
Carol, tinha treze anos e os dois tinham um filho de quatro meses.
- Por que sô feliz? - perguntava Zezé para todos que diziam que ele andava sorrindo pela rua. – Sô feliz porque eu sô pai!  
Depois que o neném nasceu, a comida encontrada nas latas de lixo não estava dando para os três, por isso Zezé começou a fazer pequenos furtos para comprar marmitas.
Ele sabia que era errado roubar, pelo menos ele ouviu o padre falando isso em uma missa. Mas será que o padre sabia o que era passar fome?
De vez em quando eles mendigavam no calçadão ou na porta do mercadão. Carol, desnutrida, não tinha muito leite, mas Zezé ouviu um homem falando na banca de jornais, que frutas e legumes ajudavam a mulher a ter mais leite.
Zezé sabia que as pessoas jogavam muitas verduras boas no lixo do mercadão, por isso sempre passava ali em busca de alguma coisa que desse para comer e quando estava com sorte encontrava além das frutas e verduras, alguns pacotes de bolacha.
 Uma vez uma mulher que viu ele e Carol revirando o lixo e acharem um pacote de bolachas, disse para eles não comerem, porque a bolacha estava vencida e poderia fazer mal.
Zezé deu risada e virando-se para Carol falou:
- Faiz mal é a barriga da gente doê e a gente não tê nada pra comê.
- Liga não – respondeu Carol – essa mulhé deve sê lôca!
Na rua, vários moleques que viviam pela cidade, acabavam por formar uma família, que dormia, comia, cheirava cola e conversava junto. Uma vez, em uma noite de muito frio, eles fizeram uma fogueira dentro de um tambor na praça, e ficaram em volta jogando conversa fora.
- Hoje uma mulhé me falô que tem um chinês aí quereno matar todo mundo. – disse Zezé a seus amigos.
- É... – respondeu Carlim. – Eu também escutei essa conversa.
- Um homem lá na porta da padaria disse que eu tinha direito a ganhar seiscentos reais do governo. – falou Craudia.
- O quê? E cê acredita nessa besteira, Craudia! – falou Zezé se levantando e caminhando até mais perto do tambor. – Se o governo dar esses seiscentos reais pra você eu dou o rabo!
Enquanto os moleques davam risada da fala de Zezé, uma viatura encostou atrás da igreja, e dois policiais chegaram furtivamente até onde eles estavam.
 Zezé, Jão, Carlim, Cráudia, Alê, Xixa, Carol e outros tantos moleques se assustaram quando os policiais gritaram:
- Polícia! Ninguém se mexe!
- Calma senhor! – falou um dos moleques.
- O que vocês estão fazendo aqui e sem máscara!
- Desculpa senhor! Mas a gente não tem masc...
- Cala a boca moleque! Todo mundo tem máscara!
- Mas a gente não tem nem comida! - falou Zezé. Como é que a gente vai tê máscara?
- Já falei para calarem a boca! – gritou o policial. – Vocês não sabem que está proibido aglomeração?
- Proibido o quê?
- Aglomeração, moleque! Não sabe não?
Os meninos se entreolharam sem saber o que estavam fazendo de errado, e não entendendo nada da conversa do policial.
- E esse neném? – gritou mais uma vez o policial. - Vamos levar pro juizado!
- Meu filho não! - Falou Carol agarrando-se ao bebê.
- Vai ele e você! – respondeu o policial retirando o bebê das mãos de Carol enquanto perguntava. - Quantos anos você tem menina?
            Carol sem responder a idade, se atracou com o policial, e os outros moleques vendo a reação da amiga, também entraram na briga. Foi uma confusão!
Os dois policiais foram cercados, e para se defenderem, sacaram suas armas apenas para tentar impressionar e manter o respeito dos moleques, mas de repente ao tentar impedir o ataque de um dos meninos, um policial puxou o gatilho por instinto e atirou à esmo.
            Zezé que já tinha visto muita coisa nessa vida, viu sua mulher e seu filhinho caírem no chão.
Justamente quando Carol conseguiu retirar o bebê das mãos do policial, a arma foi disparada. O tiro atravessou os dois.
Os moleques foram para cima dos policiais e Zezé com uma paulada movida a muita raiva, acertou a nuca de um dos policiais, que caiu morto ao chão.
As pessoas chamaram mais policiais, chamaram a televisão, gravaram com seus celulares, postaram no Facebook, no Instagram, no Youtube e repassaram esses vídeos incansavelmente pelo Watsapp!
Os moleques ao final da confusão, foram presos e encaminhados para a delegacia mais próxima, para depois serem encaminhados para as instituições que cuidam de menores infratores.
Um jornal noticiou que a população havia reagido aos policiais porque estava revoltada contra governo federal, outro jornal disse que essa atitude era associada a segunda onda, agora de pobreza e dificuldades financeiras, que estava chegando após a pandemia.
Pessoas, todas donas da razão, brigaram em suas redes sociais dizendo que o presidente já havia dito que isso aconteceria, outros compartilhavam o vídeo da prisão dos moleques dizendo que eles eram de esquerda, de direita, armamentistas, revoltados, contra o governador, contra o prefeito, contra o presidente, e que principalmente, o mais grave de tudo! Eles estavam aglomerados e não estavam usando máscaras!
Hoje Zezé está preso. Deflorado, surrado, usado, pisado. Considerado um maldito por ter matado um policial.
Na detenção para menores infratores ele sonha com o dia em que vai sair, e que vai ver a luz do dia novamente.
Ele sonha em encontrar alguém que goste dele tanto quanto Carol gostava. Ele sonha em ter outro filho. Sonha também com sua irmã.
A saudade bateu em seu coração e ele deixando cair mais uma lágrima em seu rosto, deseja que Marcia esteja em um lugar feliz, com um homem bom ao seu lado.
Zezé sonha em um dia, ainda conhecer seu pai e sua mãe.
Ele pede, não sabendo bem para quem, proteger seus pais e seus amigos contra o tal chinês.
Seus hematomas doem, suas costas, suas costelas, sua cabeça... Tudo dói, mas, mesmo assim ele sonha.    
Afinal, ele é criança, e crianças sonham acordadas antes de dormir.
Sonhos de criança com as fantasias de criança.
Apesar de tantas feridas causadas pela sua pequena vida, a maldade ainda não impera em seu coração, suas revoltas são muito mais por instinto do que por maldade, pois mesmo com toda sua história, ele não deixa de ser apenas uma criança de quatorze anos.
Uma criança que sorri enquanto sonha. Que sonha com dias melhores.
E que quando consegue dormir, sonha com os Anjos!
         




terça-feira, 21 de abril de 2020

Economizar é fácil








Nesses tempos de pandemia a coisa não está fácil! Eu trabalho em uma loja de materiais para construção, e apesar de ser considerada uma necessidade essencial e estar funcionando desde o começo do “distanciamento social” até hoje, as vendas caíram muito, e é por isso que eu estou em fase de economia. Atualmente eu não estou gastando meu dinheirinho com bobeira, estou dando mais valor ao meu salário e por isso parece que o dinheiro está rendendo.
Como eu tenho que sair para trabalhar, combinei com minha esposa e minha mãe, que elas ficam em casa e só eu saio pra fazer tudo o que é preciso, e por isso, eu tenho ido muito ao mercado.
Sabe que indo ao mercado eu aprendi uma coisa bacana! A gente, quando está com dinheiro na mão, acaba sendo engambelado pelas propagandas e gasta muito, pagando mais pela "marca" do que pelo produto.
Alguns exemplos:
Maizena x amido de milho:
A Maizena na verdade é um amido de milho, sem nada a mais de um produto para o outro, e a diferença de preço entre eles pode chegar até a 5 reais.
Azeites conhecidos tipo Andorinha, Gallo, etc x azeites desconhecidos:
Se a gente ver a origem e ver que ele foi envasado nesse país de origem, que pode ser Portugal, Espanha, Itália, Grécia, Argentina ou Chile, e confirmar que a acidez se enquadra na categoria extra virgem, podemos comprar sem medo, e a diferença de preço pode chegar a 6 ou 7 reais.
Macarrão grano duro importado x macarrão grano duro nacional:
Aqui eu confesso que foi difícil pra mim que sou macarãozeiro, e que adoro um macarrão de origem italiana, mas mesmo assim eu comprei pra fazer um teste e me surpreendi, pois a qualidade do macarrão é idêntica, e a diferença de preço pode chegar a 10 reais.
Outra mentira, as vezes, são as tais embalagens econômicas, que de econômicas não tem nada, eu andei fazendo as contas e muitas vezes a gente confia que está pagando menos, mas está pagando bem mais.
Divida o preço da embalagem econômica pelo peso, e multiplique pelo peso da outra embalagem, e veja o quanto a gente é besta!
Esses são alguns exemplos, por isso, dá para economizar muito na hora da compra. Basta a gente não ter preguiça, não ser levado pelo lado emocional e prestar atenção.
Pense nisso.





domingo, 22 de março de 2020

Melhor ficar calado!







Nesses dias de quarentena, onde o watsapp está funcionando como nunca, eu recebi um vídeo se um senhor chamado Alexandre Terra, dono da rede Giraffas..
Ele até começa bem, falando sobre a crise que o país está passando por conta do coronavírus, e da crise econômica que vem após a pandemia passar.
Ele falou sobre os empresários, os boletos que os empresários terão que pagar, os fornecedores, as folhas de pagamento etc.
Tudo ia bem, até que ele disse: - E você, funcionário, que está aí em casa, curtindo, numa boa... (Nesse ponto o vídeo foi cortado.)
Olha a cabeça desse cidadão! Dá pra ver que o funcionário pra ele não passa de um número!
Claramente se vê que o que importa para uma pessoa dessa é talvez ter que fechar algumas de suas lojas, ele não está preocupado se o funcionário também tem boletos, se o funcionário tem casa própria e corre até risco de despejo, se o funcionário tem plano de saúde, se tem condições de passar ileso por essa crise.
O cara acha que o funcionário está em casa, curtindo, numa boa!
Percebe-se que esse cidadão não enxerga que sua fortuna existe sim pelo trabalho dele, mas que grande parte se deve ao trabalho de funcionários espalhados por suas lojas, que por sinal serve uma comida terrível de ruim, e esses funcionários ainda conseguem vender essa porcaria e juntar riqueza para o patrão, que agora, no primeiro momento de aflição, vem à público e grava uma sacanagem dessas.
E o infeliz ou outro igual a ele, tentando esconder a parte ofensiva aos funcionários, cortou o vídeo, mas por falta de capacidade, ainda deixou escapar essa frase.
Gente assim, pensando dessa forma, não é boa para o país, um cara desses acha que nós funcionários existimos apenas para extorquir os patrões.
Certamente muita gente desse tipo, viajou para o exterior, de férias, e trouxe esse vírus para o Brasil.
Não generalizando, porque quando digo: muita gente desse tipo, não quer dizer que todos que viajam são como ele.
Tem gente boa e que pensa diferente dele que também vai ao exterior e que trouxe o vírus pra cá, mas invariavelmente funcionário assalariado não consegue sair do país pra passear. Na verdade, é muito difícil tirar férias e ficar na própria cidade, acho que uns 80% dos brasileiros quando tiram férias ficam em casa e ainda fazem bicos em outros serviços. Pobre não vai passear na Europa, nos Estados Unidos e nem vai negociar na China, a não ser na base de muita economia e que isso seja um sonho de vida. Uma realização!
É triste ver a fala de uma pessoa dessas!
Já não comia essa comida ruim que vende nas lojas dele, agora, mesmo com dó dos funcionários, não vou gastar meu dinheiro colaborando com um egocêntrico desses.