sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Fagulhas






A vida se vive.
Se vive enquanto está vivo, porque agora mesmo... Puft!
A vida escapa.
Escapa como escapa a fagulha do motor quando a gasolina acaba.
Sem fagulha o motor não funciona.
Sem fagulha não se vive.
Os sonhos são fagulhas, e por sonhos fazemos loucuras.
Viajamos longe.
Corremos muito.
Por sonhos mesquinhos fazemos loucuras mesquinhas.
Tentamos chegar onde nosso tanque de fagulhas não deixa.
Por isso, acabamos destroçando sonhos alheios.
Sonhos destroçados comovem.
Comovem e emocionam.
Mas os sonhos, por mais bonitos que sejam, dependem das fagulhas da vida.
E a vida, implacável, pode, sem avisar, acabar na próxima curva, na próxima montanha, no próximo respiro, na próxima gota.
Na última fagulha...
Assim acabam os sonhos dos bem aventurados.
Bem aventurados aqueles que sonham até a última fagulha, pois em sua lápide terão o privilégio de gravar:
Viveu, sonhou e se foi, mas se foi sonhando, pois não desistiu nunca!





quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Bulling!


Olá amigos, tudo bem?
Puxa, faz tempo que não posto nada por aqui hein!
Que férias compridas...
Hoje não aguentei, pois escrevi esse texto em um momento de descanso e resolvi matar a saudade de blogar.
Um abração a todos, e logo, logo, estarei por aqui de novo, firme e forte!






- Oi Pedro, tudo bem?
- Nada bem.
- Uai, porquê?
- Você acredita que uma menina está fazendo bulling com o Pedrinho lá na escola dele?
- Bulling? M... mas de que tipo?
- Ah... Ela chama o Pedrinho de quatro zóio, rolha de poço, troço de elefante, essas coisas.
- Coitado Pedro, só porque ele é gordinho e usa óculos...
- Só!
- E você sabe qual menina é essa?
- Sei sim, uma magrela sardenta, se chama Cláudia. Uma menina horrorosa, tão magra e alta que parece uma vara de cutucar estrela.
- Ah, você se lembra da Tânia, que a gente chamava assim quando era criança?
- Lembro, ela era irmão do boca de lata.
- Boca de lata?
- É o Carlos cabeção, que usava aparelho, e a gente chamava ele de boca de lata.
- É verdade... O Boca de lata se sentava do lado do Júlio cara amassada.
- Isso, hahahahaha, o Júlio japonês, que a gente chamava de cara amassada.
- Hahahahaha, como era bom no nosso tempo né?
- É... A gente colocava apelido em todo mundo e ninguém reclamava.
- Pelo contrário, as pessoas se esforçavam pra arrumar um apelido ou uma fofoca bem pior pra gente.
- É... Mas os tempos mudaram e essa magrela me paga! Vou lá reclamar com aquele careca do pai dela, e ela vai ver só. O Pedrinho chegou chorando hoje em casa.
- Quem é o pai dela?
- O Osvaldo careca, ele também estudou com a gente.
- Osvaldo careca?
- Na nossa época ele tinha cabelo, mas a gente chamava ele de pintor de rodapé.
- O Osvaldo anão de jardim?
- Ele mesmo! Lembra que ele chorava quando a gente falava que ele atravessava a rua correndo pra pegar impulso pra pular na guia?
- É mesmo Pedro! Hahahahahaha. Quando a gente fazia ele chorar era a nossa glória!
- Então, agora a sardenta magrela da filha dele está enchendo o saco do Pedrinho!
- Ah, Pedro, quer saber! Se eu fosse você, eu falava mesmo com ele, e se não resolver, eu falava na diretoria da escola ou dava parte na polícia!
- Isso mesmo! Acho que é isso que vou fazer!





sábado, 2 de julho de 2016

Vou alí






Olá!
Hoje, olhando para meu blog, reparando nas minhas idéias e percebendo prioridades, eu percebi que não estou correspondendo nem aos leitores do blog e nem a mim mesmo.
Estou capengando na blogosfera, como um zumbi, morto vivo, paciente de alguma UTI da internet.
Resolvi parar um pouco, e recarregar minhas baterias blogosféricas.
Infelizmente estou sem tempo de dar a atenção devida aos companheiros de outros blogs e por isso, ando recebendo a visita só dos amigos de verdade e leitores que gostam de tudo que escrevo.
Infelizmente esse mundo da blogosfera é um mundo de trocas e eu no momento estou sem nada para oferecer... Nem idéias e nem tempo.
Espero voltar em breve. Com a cabeça mais leve e com idéias mais claras para blogar.
No momento minhas idéias estão voltadas para escritas mais trabalhosas. Estou pensando em terminar o segundo livro, e outro está querendo nascer antes do tempo, e por isso, estou me cobrando muito, pois levo isso aqui a sério, assim como levo muito a sério o meu lado escritor. Mas para um pai de família, que escreve apenas nas oras vagas, o serviço acaba acumulando e eu não faço nem uma coisa e nem outra da forma como deveria fazer.
Por isso, vou ali e prometo voltar logo.
Não tão logo, mas prometo voltar!






quinta-feira, 23 de junho de 2016

O blues


Escuto um blues.
Sempre escuto muitos blues.
Penso na vida, como se a vida fosse um emaranhado de muitos blues. Com seus velhinhos tocando guitarra, com suas divas soltando a voz. Com acordes que fazem sonhar.
O blues consegue ser melancólico sem ser. Consegue ser feliz sem ser. Consegue emocionar sem pretender, consegue ser blues, apenas blues.
No blues a beleza não está na figura esguia ou bombada de quem canta, no blues, a beleza vem da alma.
O olhar do bluesman já anuncia antes que o som da gaita chegue até seus ouvidos: Essa música foi feita pra te tocar, pra te abençoar, pra mexer com sua alma... Com seu dia, com seus sonhos e, com a forma que você tem de encarar a vida.
Parece bobeira, mas a vida com blues é muito mais fácil de viver!












sábado, 18 de junho de 2016

Tic, tic, tic...






Os acordes das palavras pulsam na ponta dos dedos, ao som do tic, tic, do teclado do computador.
Isso funciona para o escritor assim como a seiva que corre nos troncos das arvores frondosas, onde cada galho representa um sonho, uma idéia, um poema, uma vida de papel. Esse som do teclado, teclando, representa a vida.
Escrever, tic, tic, tic, escrever... Tic, tic, tic, esse é nosso vício; escrever, escrever, escrever.





sábado, 11 de junho de 2016

Pode haver luz nas trevas?






Pode haver luz nas trevas?
Teólogos afirmam que somos feitos de trevas, e que não podemos fazer nada que seja bom, a não ser, que aceitemos Jesus como nosso único e suficiente salvador, e, aí sim, podemos começar, pela graça, que por sinal não vem de nós, pois um presente de Deus, a fazer algo que seja bom. Mas os mesmos teólogos afirmam que, tudo de bom que a gente fizer, aos olhos de Deus, não passa de trapo de imundícia!
Essa corrente teológica se chama Calvinismo e afirma que todos os homens pecaram a partir do pecado de Adão, e que por causa disso, toda a humanidade está destinada a queimar nos mármores do inferno. Mas, com sua soberania e bondade, Deus mandou Jesus, para morrer, sem pecados, na cruz, e assim salvar algumas pessoas, que o calvinismo chama de eleitos.
Pensem na discrepância: O pecado de Adão condenou toda a humanidade, mas o sacrifício de Jesus não salvou toda a humanidade. Pode uma coisa dessas?
Mas não é só isso: O calvinismo afirma que um eleito, mesmo sendo eleito, tem que aceitar a Jesus, como seu único e suficiente salvador, senão não recebe a salvação. Mas... Esse cidadão eleito, não precisa se preocupar em aceitar a Jesus, pois, por uma força, que o calvinista chama de graça, esse eleito vai aceitar a Jesus até o final de sua vida queira ele ou não, pois isso acontecerá naturalmente, e de uma forma irresistível.
Outra coisa, o calvinista afirma: as pessoas que não são eleitas, não podem aceitar a Jesus, e não podem ser salvas, porque não lhes é dada essa permissão pelo próprio Deus.
Ou seja: Deus não aceitará essas pessoas lá no Céu, e não lhes concederá a oportunidade e nem a condição de que elas possam aceitar a Jesus.
Essas pessoas povoarão o inferno eternamente, pois por uma ordem divina, nasceram destinadas a isso, por um capricho de Deus, que em sua soberania, faz o que quer e ninguém tem nada a ver com isso.
O calvinismo surgiu com João Calvino, que começou seus escritos e estudos em 1534, para propor uma reforma na fé católica. Nessa época a igreja católica realmente cometia alguns deslizes, e alguns persistem até hoje. Mas o maior problema disparado, era a opressão religiosa e o cabresto imposto aos homens, com a desculpa de que isso era cristianismo. Essa época foi a transição da baixa para a alta Idade Média, e a igreja proibia qualquer tipo de arte que não fosse sacra, e qualquer tipo de manifestação religiosa que não fosse cristã, aos moldes do catolicismo, pois a própria igreja cristã primitiva, era caçada, e pessoas eram queimadas em praça pública, acusados de bruxaria. Um dos grupos mais caçados da época foram os Anabatistas, que eram verdadeiros cristãos, seguidores do evangelho, mas que não se enquadravam na teologia da igreja católica.
Uma ala da igreja fez a reforma protestante e, fundaram apoiados por reis, em alguns países, outros tipos de cristianismos, que não se subjugaram à igreja católica. Foi nessa turbulência teológica, que João Calvino ganhou reconhecimento e que sua teologia ganhou status de teologia certa.
Acontece que nessa época, alguns reinados queriam se desvencilhar do poder da igreja católica, mas não queria deixar de comandar o povo usando a força e o terror religioso. Assim, o calvinismo, surgiu como um ótimo recurso para que o povo continuasse encabrestado. Pois da mesma forma que a igreja católica fazia suas inquisições e churrasquinho de bruxos, o calvinismo também fez.
O calvinismo até hoje é muito popular, apesar de estar sendo contestado em muitos países e por muitos teólogos. A igreja calvinista mais conhecida no Brasil é a igreja Presbiteriana, mas algumas outras denominações, também adotam essa doutrina e acreditam que ela é a verdade absoluta.
A corrente antagônica ao calvinismo se chama arminianismo, pensada por um cidadão holandês chamado Jacobius Arminius, que afirma que Jesus morreu por todos, que a graça de Deus vai alcançar a todos, e que todos terão o direito a fazer a escolha em aceitar a Jesus ou não, por livre e espontânea vontade, pois segundo o arminianismo, Deus concedeu ao homem uma coisa chamada livre arbítrio, e é baseado nas escolhas individuais de cada um, que o julgamento final de sua alma será feito.
Algumas igrejas tradicionais, trafegam entre essas duas correntes, tentando fazer um misto das duas. A principal igreja que faz isso é a igreja Batista, que por sinal é descendente daquele povo da igreja primitiva, caçada tanto pela igreja católica quanto pelo calvinismo, chamado Anabatista.
Essa discussão teológica já dura séculos.
Para se justificarem, todas as correntes teológicas se sustentam em versículos, em capítulos, em histórias e em partes da Bíblia... Mas e Jesus? O que ele ensinou realmente?
Eu tenho uma posição teológica, que as vezes me causa problemas, mas eu acredito em Jesus, e que Deus ama a todos. Mas não posso ser o dono da sua verdade... 
Apenas da minha... Da minha teologia.
   






sábado, 28 de maio de 2016

Amizade eterna






Que legal quando as tecnologias são usadas para coisas bacanas.
Ontem eu e um monte de amigos da terceira, quarta e até quinta série, fizemos um grupo no watsapp!
Olha que hoje nós somos todos quarentões, temos filhos e uma amiga tem até netos!
Puxa, como é bom relembrar histórias, fatos engraçados, fatos tristes, saber como estão essas pessoas que fizeram parte de uma época tão feliz de nossas vidas. Uma época em que a gente não tinha tantas responsabilidades, não pensava em muita coisa e queria mesmo é ser feliz.
Os anos oitenta foram muito bons pra gente! Um anos onde se podia caçoar do amigo, que se defendia com uma caçoada pior que a sua, e a gente não reclamava para os pais e muito menos para os professores.
Ontem no watsapp, as brincadeiras reapareceram, e num determinado momento alguém falou: - Opa! Isso é bulling.
Na mesma hora alguém respondeu: - É mas aqui nós estamos nos anos oitenta!
Todo mundo deu risada, pois a pureza de criança estava de volta nas nossas conversas, e a alegria daquela época parece ter viajado pelo tempo e chegado até os dias de hoje. Talvez possa ter vindo de alguma máquina do tempo... Uma máquina que se chama subconsciente e que grava tudo o que ele acha que é bom e precioso.
Como essas pessoas são preciosas, e como aqueles dias ficaram marcados para todos nós.
Não sou o sábio da montanha, mas vou te dar um conselho: Se você puder fazer um grupo no seu watsapp com pessoas que são importantes para você; faça! Você não tem nada a perder. Pelo contrário, ganhará, carinho, alegria e boas lembranças.





segunda-feira, 23 de maio de 2016

Adultinhos e crianções






Eu tenho notado que as coisas estão um pouco mudadas hoje em dia.
As crianças estão muito mais espertas do que na minha infância, tanto que as vezes, chegam até a discutir com a gente sobre coisas que eu nunca imaginava que elas poderiam saber. Outro dia uma menininha de cinco anos estava falando sobre como o desenho dela estava chato em relação a novela da mãe, porque o desenho repetia muito, e a novela não. Na novela era um capítulo novo por dia e nunca repetia nada.
Quando que eu com cinco anos, saberia argumentar, demonstrando minha opinião sobre qualquer coisa, que não fossem meus brinquedos, ou alguma comida que eu gostasse.
Um filho de um amigo meu estava com uma chuteira no pé, e dizia que era a marca do Neymar, e que o pai dele queria lhe dar uma outra, mas ele não quis, porque calçando a do Neymar, ele poderia mostrar para os amiguinhos e tirar um sarrinho! Gente! Eu nem sabia o que era tirar um sarrinho, e nenhum dos meus amiguinhos sabiam também. Falando a verdade, a gente brincava uns com os outros e até poderíamos fazer o que hoje se chama bulling, mas no nosso tempo era tudo sem maldade.
As crianças de hoje mexem em computador, em televisão, atendem telefone, fazem pesquisa na internet, conversam entrando no assunto dos adultos, e parecem não ter limite!
Minha sobrinha quando tinha seis anos e estava na escolinha, (que hoje não se chama mais parquinho e nem prézinho), já fazia pesquisa na internet. Quando ela tinha dez, já usava batom, bota de couro da Angélica, luzes no cabelo, olhos delineados com lápis, e falava em namorar, (meninos mais velhos!)
Menininhos que jogam futebol, falam em ir para a Europa. Falam em Barcelona, Real Madri, Chelsea. Crianças que tem mais dinheiro, fazem judô, jiu-jitso, caratê, natação, balé, estudam música, inglês, francês, chinês, e por aí vai.
Quando que eu e meus amiguinhos de seis ou sete anos, sabíamos o que é Europa? E Barcelona então?
Mas por outro lado, os jovens pais e jovens mães, que eram essas crianças chatas, adultinhas, se tornaram um adultocrianção, sem ter tido infância, eles querem ser crianças agora. Brincando de Playstation, brincando de ser pai, brincando de ser marido, achando que trair seu cônjuge e beber até cair é uma brincadeira muito legal. As famílias não tem filhos e filhas, elas tem adultos em miniatura. Pois ignoram a hierarquia da família, e deixam seus filhos tomarem as rédeas da casa.
Outro dia um programa estava entrevistando um jovem empresário, que estava de terno e gravata do Mickey. Esse empresário é o que eu chamo de crianção!
Os crianções estão por aí, brincando no trânsito, tirando rachas e arrumando encrenca se alguém encostar no brinquedinho deles.Os crianções brincam de votar sem nunca ter lido um jornal, afinal ler sobre política é um brinquedo muito chato! Melhor assistir o Big Brother.
Tenho uma teoria: Criança adultinha sem infância, vira adulto crianção que quer viver a infância depois de velho.
Tive a ideia de escrever esse texto no supermercado. Na minha frente um casal recém casado estava na fila do caixa, fazendo a sua primeira compra. No carrinho deles só tinha danoninho, bolacha recheada, chocolate, tody, suco, refrigerantes, bolacha recheada, tody, sucos, refrigerantes, refrigerantes,danoninhos, bala, balinha, refrigerante, danone, bolacha recheada, bolacha sem recheio, tody, danone e danoninho.
De repente a mãe de um deles chegou ao mercado e olhou o carrinho que estava lotado dessas coisas, e falou fazendo cara feia:
- Uai gente, essa é a primeira compra de vocês! Onde está o arroz, o feijão, óleo, verduras, frutas, carne?
Eles se entreolharam envergonhados e saíram da fila, voltando a fazer mais compras.
Tomara que eles tenham escutado a mãe e tenham ido atrás de produtos para sua despensa, mas talvez, só tenham se lembrado de que esqueceram a pipoca de microondas.







terça-feira, 17 de maio de 2016

Tudo gostoso






Vou caminhar, se o sofá deixar. Talvez, caminhar do sofá até a geladeira.
Vou correr, fazer flexões, polichinelo e coisas assim, se a preguiça e a nhaca sumirem.
Vou fazer regime, se a gulodice me abandonar.
Vou comer de três em três horas, se a vida correr um pouco menos. Puxa... Como ela é rápida...
Vou trocar o leite pelo suco de laranja, se as vacas pararem de produzir, ou se o suco vier natural, fresco, puro, vitaminado e em garrafinhas.
Vou comer menos carne, se os açougueiros fizerem greve.
Vou comer mais frutas, mais legumes, mais fibras... Se a lasanha for proibida pela polícia federal.
Vou mudar de vida, se os obstáculos deixarem de ser tão gostosos...




terça-feira, 10 de maio de 2016

De quem é a razão?






Ele sumiu!
Não queria sumir, pois era muito combativo e ativo, mas, sumiu.
Ele adorava entrar em uma discussão. Adorava deixar claro seu ponto de vista, adorava estar com a razão.
Ele não admitia perder em qualquer questão, por isso, entrava de cabeça em todas as discussões.
Ele era assim.
Agora, eu o procuro em meio às discussões, procuro seu ponto de vista, pergunto a sua opinião, mas não tenho resposta.
Nem sei por onde procurar, ou, se devo procurar.
Outro dia, ele me mandou um watsapp mental que dizia:
Melhor ser feliz do que ter razão.
Meu Deus! Será que ele aprendeu?
Vamos ver. 




quarta-feira, 4 de maio de 2016

Virgem Maria - final






A multidão atônita e os guardas prostrados como estátuas, encaravam a Miguelito sem conseguir mexer um músculo enquanto ele declamou todo o poema. Monsenhor Fernando ao fim da “apresentação” se virou para os guardas e, aos berros ordenou: - Prendam esse Miguel de Cervantes!
- Calma Monsenhor, no seu julgamento faltam algumas perguntas. - retrucou Miguelito. - O senhor não deu chances de Juan de Castro se defender, e fez perguntas que certamente lhe condenaram sem julgamento algum.
Os guardas rapidamente chegaram até Miguelito que levantou as mãos colocando-as atrás da cabeça num claro gesto de que estava desarmado e se entregando.
- Mais perguntas? - falou Monsenhor Fernando.
- Logicamente que sim. - respondeu Miguelito sendo levado para perto do Monsenhor pelos guardas. - Ou o senhor quer que algumas dúvidas sobre sua moral e lisura caiam como pulgas atrás das orelhas desse povo todo que está aqui assistindo ao tal “julgamento?”
- Então faça você as perguntas que salvará o pescoço do senhor Juan de Castro seu amigo, e faça-as bem feitas, porque ao declamar esse poema o senhor também cometeu crime de morte.
Miguelito virou-se para Juanito e falou: - Juan de Castro, o senhor escreveu esse poema para uma mulher normal ou uma mulher inatingível?
- Para uma mulher inatingível.
- Então na verdade, o senhor escreveu esse poema para uma mulher especial?
- Oras! - se irritou Monsenhor Fernando. - Onde essa ladainha vai dar?
- Calma Monsenhor - falou Miguelito, e virando-se para Juan novamente continuou. - Senhor Juan de Castro é verdade que o senhor fez esse poema, “preste bem atenção a minha pergunta”. - Miguelito falou essas últimas palavras em um tom de apreensão e com um gestual dizendo para Juan entender as entrelinhas da pergunta. - Para a virgem, Maria?
- O quê! - intercedeu Monsenhor Fernando. - Rapaz, ele está sobre juramento e se mentir vai para o inferno...
- Por favor Monsenhor deixe eu perguntar, assim o senhor atrapalha o julgamento e as pessoas estão ali esperando e não querem pensar-lhe mal. - virando-se mais uma vez para Juanito, Miguel voltou a perguntar:
- Juan de Castro, é verdade que o senhor fez esse poema para a virgem, Maria?
            - A virgem, Maria?
- Isso. - falou Miguel em tom de afirmação. - A virgem... Maria!
Foi quando Juan entendeu o verdadeiro significado da pergunta e respondeu: - Isso mesmo, eu realmente escrevi esse poema para a virgem, Maria!
Nesse momento um alvoroço se ouviu de novo no meio da multidão e aproveitando-se dessa situação de bagunça Miguelito gritou alto: - Povo de Manzaneda! Quem de vocês não sente a mesma coisa quando estão diante da virgem Maria?  
As pessoas que falavam umas com as outras, discutiam, questionavam, pararam por um momento e olharam, dando atenção a Miguelito que continuou:
- Quem de vocês não sente a face enrubescer, ou se sente indefeso, ou sente que precisa da sua luz, ou sente que não é nada perto da virgem Maria? Quem de vocês não sente tudo igualzinho ao poema quando se tem um pouquinho de fé na virgem? Imagina um garotinho estudante de um mosteiro e educado segundo as rígidas leis católicas, tão plenamente aplicadas pelo disciplinador frei Augusto? Eu exijo que Juan de Castro, que agora sim teve chance de se explicar, seja libertado!
- Liberta-o! - gritou seu Armando do meio da multidão. – Liberta meu filho!
- Liberta o garoto! - outra pessoa gritou também.
A multidão em coro começou a se manifestar em gritos e brados de “liberta o garoto, liberta o garoto!”
Monsenhor Fernando, derrotado pela manifestação da multidão, abaixou a cabeça coçando a nuca, como se isso fosse abrandar a sua ira, e chegando-se perto de Miguelito falou baixinho entre os dentes:
- Eu e a santa igreja, vamos nos lembrar dessa humilhação, senhor Miguel de Cervantes Saavedra e nem que você se esconda entre os moinhos de vento holandeses, eu ainda vou te perseguir!
Miguelito abriu um largo sorriso de contentamento e abriu os braços como se comemorasse uma vitória.
            - Solte Juan de Castro! - ordenou Monsenhor Fernando.





A viagem de volta era longa, mas era muito mais feliz do que havia sido a vinda. Mas apesar da felicidade, uma coisa não deixava a paz adentrar o coração de seu Armando.
            - Filho, eu estou preocupado, porque você estava sobre juramento e mentiu dizendo que fizera aquele poema para a virgem Maria...
            - Não senhor Armando - interpelou Miguelito - ele disse que escreveu para a virgem “virgula” Maria, foi assim que eu perguntei.
            - Mas em quê isso melhora a situação? - falou seu Armando.
            - É que eu escrevi para a Maria filha do senhor Arquibaldo nosso vizinho. E como ela tem treze anos e é tão bem criada, eu tenho certeza que ela ainda é virgem...
            - Entendeu senhor Armando - falou sorrindo Miguelito - Maria a virgem filha do senhor Arquibaldo, ou simplesmente, a virgem, Maria!
            - Tudo bem, mas aí, você Miguel, fez as pessoas pensarem que era da virgem Maria mãe de Jesus, que o poema falava!
            - Tudo bem senhor Armando - respondeu Miguelito num largo sorriso. - Eu não estava sobre juramento mesmo.



                                                                                                           FIM





domingo, 1 de maio de 2016

Virgem Maria - parte 9






Os guardas trouxeram Juanito, que ainda estava encapuzado e com as mãos amarradas nas costas e o colocaram junto a Monsenhor Fernando.
- Tirem o capuz e desamarrem suas mãos. - ordenou o santo homem.
A olhos atentos esta era uma visão surreal, dois guardas enormes, com aquelas armaduras reluzentes, e suas espadas afiadas e prontas para atravessar facilmente as entranhas de qualquer inimigo, desamarrando cuidadosamente, um garotinho de alguns poucos anos de vida, com a estatura normal de uma criança, com as mãozinhas normais de uma criança, amaradas como se fossem de um leão prestes a atacar e engolir toda aquela multidão.
Monsenhor Fernando pegou uma Bíblia, colocou-a na frente de Juanito e falou:
 - Senhor Juan de Castro, o senhor reconhece que esta é a Bíblia sagrada e que ela é a palavra de Deus entre os homens na terra?
Juanito olhou a sua volta, viu os rostos das pessoas que o encaravam como se encarassem o próprio demônio, com olhares de desaprovação e condenação, e no meio da multidão, reconheceu seu pai, com o olhar marejado, aflito e triste que a situação merecia.
- Sim Monsenhor Fernando – falou o menino - eu reconheço que a Bíblia é a palavra de Deus.
- Senhor Juan de Castro - prosseguiu Monsenhor Fernando - o senhor sabe que um juramento feito publicamente e com a mão sobre a Bíblia é um juramento muito sério e que se tratado com injúrias pode te levar para o inferno sem salvação?
- Sim Monsenhor Fernando eu sei.
- Senhor Juan de Castro o senhor sabe que queimando na fogueira santa, você poderá pagar seu crime com o sofrimento e depois de um tempo no purgatório terá absolvição para sua alma?
- Sim Monsenhor eu sei.
Monsenhor Fernando, com um sorriso de sarcasmo, olhou para a multidão e com um leve balançar de ombros como se dissesse “eu tentei ajudar” continuou o juramento:
- Senhor Juan de Castro, o senhor, então ciente de tudo o que eu lhe expliquei, mesmo assim, ainda quer fazer o juramento com a mão sobre a Bíblia?
Juanito dá uma rápida olhadela para seu pai que faz que sim com a cabeça e diz: 
-  Sim senhor eu quero.
Sua resposta causou um alvoroço sobre a multidão que não entendia como uma pessoa preferia a punição eterna ante a chance de salvação.
- Senhor Juan de Castro repita comigo - falou Monsenhor Fernando. – Eu, Juan de Castro.
- Eu Juan de Castro.
- Prometo com as mãos sobre a Bíblia.
- Prometo com as mãos sobre a Bíblia.
            - Reconhecendo nela a palavra de Deus.
            - Reconhecendo nela a palavra de Deus.
            - Que falarei toda a verdade, nada mais que a verdade e não impedirei com nenhuma injúria que meu julgamento seja feito na mais correta justiça.
            - Que falarei toda a verdade, nada mais que a verdade e não impedirei com nenhuma injúria que meu julgamento seja feito na mais correta justiça.
            - Muito bem senhor Juan de Castro - falou Monsenhor Fernando entregando a Bíblia para um dos frades - o senhor está sobre juramento santo, então me diga, foi o senhor mesmo que escreveu aquele poema?
            - Sim senhor, fui eu mesmo.
          - O senhor sabe que é proibido escrever qualquer tipo de coisa que tenha como tema os sentimentos carnais entre homens e mulheres?
- Sim senhor eu sei.
- O tal poema que o senhor escreveu o senhor se lembra dele?
            - Sim me lembro.
            - Ele foi escrito para uma mulher?
            - Sim senhor, foi escrito para uma mulher!
            - Hahahaha, obrigado senhor Juan de Castro! - falou Monsenhor Fernando se virando aos soldados. - Amarrem ele de novo e vamos começar o sacrifício da purificação de sua alma.
Foi então que do meio da multidão Miguelito, subiu em cima de um barril e começou a declamar em alto e bom som: 
- “Ó mulher que suga meu ar.
Que faz minha face enrubescer.
            Não sou nada sem sua presença.
            Nem sequer existo longe de ti.
            E quando chego-me perto de ti, percebo minha insignificância.
          Apenas me sinto uma planta, indefesa, imóvel, que necessita de seus raios! De sua energia!
Ó mulher, és a melhor entre as mulheres.
            És aquela por quem meu coração dispara.
         És aquela por quem minha vida grita a plenos pulmões! Quero ser teu escravo, quero ser teu súdito, quero ser seu!
            Agora e para sempre!
            Todos os homens, se te conhecessem fariam assim como eu!
            Jurariam amor, jurariam fidelidade.
            Agora e para sempre!”