sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Bate papo bloguístico

 



            Esse ano eu estou marcando minhas leituras. Em janeiro eu li três álbuns de histórias em quadrinhos e um livro.

            Na verdade verdadeira, o livro eu havia começado a ler em dezembro, mas como ele tem 1022 páginas eu considero uma leitura de janeiro.

            Eu quero ver se esse ano consigo ler mais. Pelo menos um livro por mês e no mínimo três quadrinhos.

            Para muitos essa meta parece ousada, mas depois que a gente pega o ritmo até que fica bom. O segredo é não se cobrar se por acaso não conseguir, pois se o negócio virar obrigação ao invés de diversão, aí já não é legal e nem prazeroso.

            Esse livro enorme que eu li se chama: O coração de Nanquim, e apesar de grande, até que não foi cansativo. No final, eu fiquei um pouco insatisfeito com o desenrolar da investigação, mas depois que pensei um pouco, acho que foi uma saída digna para a autora. Se ela fosse resolver o caso como a história merecia, talvez tivesse que escrever pelo menos mais umas 100 páginas.

            Talvez eu escreva a resenha desse livro aqui, mas dessa vez eu estou com ideia de gravar um vídeo com a resenha e publicar no Instagram.
            Falando em Instagram, qual é o Instagram de vocês? Coloquem nos comentários se tiverem. O meu é @andremansim, me procurem lá. A gente já é amigo aqui mesmo... Podemos nos seguir por lá também.

            Resolvi escrever esse bate papo para incentivar vocês a terem uma meta de leitura esse ano também. E quem sabe incentivar a vocês a incentivarem seus amigos, filhos, irmãos, vizinhos... Gente; vamos ler!

            A literatura é a única saída para o nosso povo!

            Falando nisso, eu vou começar a ler um livro que todo mundo (aqui no Brasil), falou bem: Torto arado.

            Vocês sabem que o Brasil está dividido entre direita e esquerda, e esse livro agradou mais as pessoas com inclinação à esquerda, mas; mesmo assim eu vou ler, porque foi presente de um amigo muito querido.

            Depois falo para vocês o que achei!

            Então é isso! Hoje foi só um bate papo! Na verdade, sempre é, né?

Então tchau e... Vão ler alguma coisa, seus preguiçosos.

 

 

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Um ano de boas guerras

 


                Uma vez eu comecei a escrever uma série de crônicas disfarçadas de contos, onde um personagem chamado Valfredo lutava contra monstros, bruxas, duendes, participava bravamente de aventuras das mais malucas, à mando do rei, e para salvar o reino onde ele era um grande cavaleiro.

            Acontece que nessa época eu estava com várias batalhas internas e externas na vida, e o Valfredo foi uma válvula de escape para as situações que estava passando.

            Hoje olhando meus guardados eu me deparei com os contos do Walfredo.

            Graças a Deus os tempos mudaram e hoje a vida está muito mais tranquila.

            Mas a título de nostalgia, desse personagem que foi importante pra mim, vou republicar um dos contos e; se vocês quiserem, eu posso republicar outros.

            Esse foi um dos contos do Valfredo escritos quando as coisas já estavam entrando nos eixos, por isso tem um final feliz, “pero no mucho!”

 

 

Um ano de boas guerras

 

 

            Rufus, o cavalo do nosso herói Valfredo, vinha cambaleando pela estrada que trazia até a cidade.

            Com o corpo arqueado para frente e quase desmaiando de sono, vinha seu dono, só Deus sabe como, pendurado em cima de Rufus, que além de também estar exausto, ainda tinha que tomar cuidado e olhar onde pisava, para não dar nenhum tranco que jogasse seu dono ao chão.        O dia era 31 de dezembro, e o cavaleiro, mesmo absorto em pensamentos confusos, ainda conseguiu avaliar o ano e perceber que trabalhando juntos, os dois (ele e Rufus), passaram por muitos apuros. Muitas batalhas, muitas justas e muitos duelos. Os dois se aventuraram por todo o reino e enfrentaram inimigos de todos os tipos: bruxos, magos, cavaleiros negros, gnomos malvados, e praticamente um dragão por dia.

            O dia estava raiando quando o cavalo ganhou a praça central da cidade e se encaminhou para a casa de Valfredo.

            Eles viajaram a noite toda, porque no dia anterior haviam libertado a princesa Florinda, das mãos do perverso Rei da Malvitânia. Teoricamente, o rei a havia capturado e a fazia refém em seu castelo.   Valfredo teve que agir como um agente secreto e se infiltrar entre os cavaleiros de Malvitânia para poder chegar até o castelo sem ser notado, e assim, poder salvar a princesa.

            O problema é que na hora da fuga eles foram notados, por isso Valfredo teve que enfrentar os soldados da guarda real em uma batalha mortal. A guarda real da Malvitânia era conhecida por ter grandes espadachins, e bruxos com línguas mágicas que conjuravam os mais terríveis encantamentos. Mas, felizmente eles não tinham tanta experiência na arte da sobrevivência, e um a um foram caindo.

            Enquanto isso, Rufus se posicionou na porta do castelo, para que ele, a princesa e seu dono, saíssem em uma fuga desenfreada.

            Quando chegaram com a princesa Florinda até as portas de seu reino, o “Reino do Amanhã”, que é conhecido como um reino onde todos os problemas se resolvem, o trio foi surpreendido em uma emboscada, e acabaram descobrindo que foi a própria irmã da princesa, que querendo ser a única herdeira do reino, a havia traído e a entregado ao rei da Malvitânia.

            Valfredo apeou de seu cavalo, colocando-se como escudo entre os bandidos e a princesa, e nervoso falou para seu companheiro:

— Rufus! Corra com a princesa e a salve! Leve-a para o castelo de seu pai.

            O bom e obediente cavalo, saiu correndo com a princesa, enquanto Valfredo ficou ali enfrentando com fúria todos os cavaleiros que fizeram a emboscada. O aço das espadas soltava fagulhas a cada pancada que davam entre si.

            Depois de longos minutos de luta, Valfredo não aguentou e caiu no chão. Quatro cavaleiros que ainda sobravam de pé, cercaram Valfredo e quando iriam desferir o golpe de misericórdia, ouviram o som de uma trombeta e dos cascos dos cavalos da cavalaria real que chegava. Todos correram deixando Valfredo estendido no chão, mas com vida. À frente da cavalaria, vinha Rufus guiando a guarda real.

            Os cavaleiros chegaram e saudaram o cavaleiro que havia salvado a princesa, dando-lhe os cumprimentos reais.

            Já era tarde e Valfredo morto de cansaço, não quis ir até o castelo participar da confraternização de boas-vindas pela volta da princesa, por isso se despediu ali mesmo e decidiu voltar para casa, pois estava com muita saudade de sua esposa e de sua cama.

            Valfredo chegou em casa, apeou de Rufus, desarreou seu amigo, deu-lhe água, milho, e soltou-o no pasto para descansar. Então, sua esposa, quando percebeu que ele havia chegado, correu ao seu encontro, lhe deu um beijo de boas-vindas e os dois entraram em casa de mãos dadas. O brio do cavaleiro depois da demonstração de amor de sua esposa, até voltou, deixando-o mais animadinho.

            — Val, — falou a esposa balançando um papel. — O mensageiro do rei deixou essa carta pra você.

            O cavaleiro abriu a carta, e correndo os olhos, franziu a testa quando viu que nela havia as seguintes instruções:

            "Cavaleiro Valfredo, se apresente no castelo real, as sete horas da manhã do dia 1 de janeiro. Você tem alguns serviços agendados para este mês. Entre eles, deve caçar e matar o dragão que está assustando o povo do vilarejo dos camponeses plantadores de figo, depois, tem que enfrentar e encarcerar o cavaleiro negro que tomou o castelo do príncipe Joselito, e em seguida, se juntar a tropa de cavaleiros da meia cruzada, para expulsar os bárbaros das terras baixas do bairro da cidade norte. Depois, se ainda estiver vivo, deve lutar contra as gárgulas vampiras, que estão atacando os pescadores do rio que contorna as muralhas do nosso reino, e por fim, caçar a bruxa da floresta, que está amedrontando os caçadores de raposas, com feitiços e poções mágicas terríveis."

            Valfredo olhou para o céu, olhou para sua esposa que o fitava esperando sua reação, olhou para sua cama, que o convidava para descansar e com uma lágrima brilhando, que escorria pelo seu rosto, falou consigo mesmo:

             — Puxa vida... Como é bom ter saúde, disposição e poder começar o ano com tanta coisa para fazer! Assim me sinto cada dia mais vivo e útil. Triste deve ser aquele que não tem vontade de se virar, e vive só de sonhos... É, parece que mais um ano feliz vem por aí!

 

 

sábado, 1 de fevereiro de 2025

Yelowstone e a nossa moralzinha insípida

 



            Se você gosta de séries ou se liga no que está acontecendo nos streamings e na vida dos grandes astros de Hollywood, certamente já ouviu falar de Yelowstone.

            Yelowstone é uma série que conta a história da família Dutton, que é uma família que tem uma fazenda enorme no estado americano de Montana há 7 gerações.

            A fazenda é cercada por uma reserva indígena e pela cidade urbana, que parece estar um pouco estacionada no tempo, justamente porque a área rural onde a maior é Yelowstone, trava o avanço da modernidade.

            No seriado vemos que a família dos Dutton, chefiada pelo pai John, é uma família totalmente esfacelada. Os filhos: Beth, Kayce e Jamie, tem problemas uns com os outros e com o mundo. O pai, agora viúvo, se preocupa muito mais com ter poder e mandar na fazenda, na cidade, na lei, na política, do que na sua própria casa.

            Os americanos chamam suas fazendas de rancho, e o rancho Yelowstone tem vários cowboys que moram em um alojamento e que depois de ficarem ali por um tempo e participarem de algumas atrocidades, são marcados como gado pelo capataz Rip, e não podem mais sair do rancho; o que quase sempre eles escolhem fazer por livre e espontânea vontade.

            Na última temporada, o ator Kevin Costner, que interpretava o patriarca John Dutton, alegou problemas com o contrato e com sua agenda e não participou das gravações da série, por isso o seu personagem teve que sumir, deixando os fãs da série revoltados com o ator e com a direção.

            Bom... Vamos lá!

            A série é boa. Prende a gente do início ao fim. Tem reviravoltas absurdas, que fazem a trama ficar cada vez mais interessante.

            A família Dutton, principalmente a Beth, é uma personagem complexa, com incontáveis camadas psicológicas, que fazem dela uma vilã e heroína ao mesmo tempo.

            Na verdade, todos da família e alguns dos empregados são ao mesmo tempo heróis e vilões. E aqui é que está o “X” da questão, pela qual eu resolvi escrever essa crônica.

            Os Dutton fazem qualquer coisa pela sobrevivência de seu rancho, que está ameaçado pela reserva indígena e pela cidade que quer se modernizar, e invadir suas terras. Qualquer coisa mesmo. Matar, torturar, julgar, enforcar, sumir com os corpos, mandar na lei e na justiça com mão de ferro, infiltrar na política da região, interferir em ações na bolsa de valores, destruir carreiras e demitir pessoas sem qualquer motivo e pisar em todos que possam ser empecilho.

            Mas apesar de serem seres desprezíveis, eles são mostrados de uma forma tão humana, desnudados de suas intimidades, com múltiplas fraquesas e questões psicológicas, traumas e carências, que a gente acaba entendendo e até torcendo por eles.

            Mas isso está errado! A série desperta na gente uma sensação de apresso pelo mal. De afeição ao monstro que o ser humano pode ser quando o poder está em jogo.

            Essa série nos mostra e joga na nossa cara, porque os políticos são tão desprezíveis e porque tanta gente apoia isso. Nós, seres humanos sempre tomamos um lado na disputa, e as vezes não olhamos e nem pensamos no que estamos fazendo. Estamos sendo manipulados e torcemos pelo lado ruim sem pestanejar.

            Tem um personagem que nos é apresentado como vilão, que é o presidente da reserva indígena; que a gente pega birra, o vê como inimigo e quer que ele se ferre, mas que na verdade durante as seis temporadas, não fez absolutamente nada de errado ou fora da lei. Inclusive, deu vários conselhos para os Dutton, abrindo-lhes os olhos para as besteiras que eles estavam fazendo.

            Olha que doido isso!

            Se você ainda não assistiu Yelowstone, vale a pena assistir, é um drama familiar psicológico de altíssima qualidade.

            No final, as coisas acabam se encaixando e o pior, nós ficamos chateados porque nossa torcida era para acabar diferente. Como espectadores... Nesse caso, torcemos pela maldade e pela loucura pelo poder. Tudo o que dizemos que mais abominamos na vida.

           


domingo, 26 de janeiro de 2025

Descartáveis S/A




 



Tuuu... tuuu... tuuu... tuu...

— Obrigado por ligar para a Descartáveis S/A, aqui você encontra a maior linha de produtos descartáveis do mercado. Os produtos mais pedidos desse mês são: uma namorada ou namorado, tecle 1. Um amigo para acabar com a solidão, tecle 2, mas se precisa apenas de um caso de final de semana tecle 3. Se quiser receber o nosso catálogo, tecle 4, ou aguarde para falar com um dos nossos atendentes.

...

— Alô, aqui quem fala é Ademar Pereira, em que posso lhe ajudar?

— Oi, eu queria saber como é esse negócio de descartáveis.

— Sim... Aqui a gente trabalha com todos os tipos de descartáveis. Pois nesse mundo corrido em que vivemos, não dá mais pra ficar perdendo tempo com coisas fúteis e sentimentalistas.

— Legal, se eu quiser um relacionamento como é que vocês fazem?

— Quantos anos o senhor tem?

— Dezenove.

— Muito bem... A partir da sua idade, nós temos agentes espalhados pelos bares e clubes da cidade, e em todos os tipos de balada. Você pode beijar quantas garotas, ou garotos quiser, sem compromisso, como num relacionamento relâmpago, totalmente descartável. Mas se preferir, pode levar esse relacionamento por alguns dias ou semanas, e talvez até meses, e depois, quando enjoar, pode simplesmente largar e terminar o relacionamento.

— Mas a menina não vai ficar chateada?

— Não, porque aqui o nosso lema é: "Eu feliz e mais ninguém." Nossos clientes têm que zelar apenas pela sua satisfação pessoal, e nada mais.

— E casamento?

— Temos também. Totalmente descartáveis, até com filhos, você namora, fica noivo, casa, tem filhos e o dia em que não estiver mais feliz, parte pra uma vida nova, sem problemas.

— E os filhos?

— Descartáveis, eles arrumam outro pai descartável que lhes crie depois. Mas nesse produto existe apenas uma pequena regra.

— Qual regra?

— O pai tem que pagar uma pensão até as crianças alcançarem a maioridade. Mas fique tranquilo, nossos advogados sempre dão um jeito do pai pagar o mínimo possível.

— Que legal!

— Você feliz e mais ninguém!

— Bom mesmo! E amigos? No menu de atendimento fala em amigos... Aí tem amigos também?

— Temos... Amigos de infância, de escola, de faculdade, do futebol, de trabalho, todos totalmente descartáveis, depois quando você não os quiser mais como amigos, é só passar do outro lado da rua, como se não os conhecesse.

— Rapaz, mas isso aí é bom demais!

— Obrigado senhor, a sua satisfação, é o mais importante para nossa empresa.

— Então anota aí meu pedido: Eu quero três amigos pra um ano, cinco meninas pra ficar hoje, sendo que uma delas é pra namorar três meses.

— Tudo bem senhor, mais algum pedido?

— Hummm, e que tal um sogro e uma sogra? Só pra brincar durante esses três meses?

— Eu particularmente acho divertido.

— Legal, então anota aí!

— O que mais senhor?

— Se eu quiser um cachorro, o dia que enjoar o que faço com ele?

— Abandona na rua senhor.

— Mas e o que acontece com ele?

— Aí já é problema dele senhor, afinal, ele é descartável.

— Verdade...

— O que mais senhor?

— Acho que já está bom. Ah, vocês tem copinhos plásticos para café também?

— Sim senhor, temos todos os produtos descartáveis do mercado.

— Então inclui uma dúzia no pedido.

 


domingo, 19 de janeiro de 2025

5:00 da manhã, do dia dezenove de fevereiro de 2025

 

5:00 da manhã; José Quispe sai de sua casa no alto de uma colina, aos pés da majestosa Huascaràn, uma das 5 montanhas mais altas da cordilheira dos Andes. Durante a noite a temperatura chegou a - 8 graus, mas nesse momento ela estava apenas 2 graus negativos. José nem colocou o terceiro casaco.

Ele abriu a porta, olhou para o horizonte e viu um condor planando ao longe! Isso era um bom presságio, certamente Pachamama; a deusa da terra, da fertilidade e da abundância estava feliz.

Sorrindo e deixando à mostra seus 4 dentes, José pegou um balde e caminhou por entre a estradinha de pedras, que seus ancestrais fizeram há milhares de anos, e foi até a neve que cobria a vegetação rasteira ao lado de onde as lhamas estavam fechadas em um curral. Ele encheu o balde de neve e trouxe até sua casa, para aquecê-la em uma panela de pedra no fogão à lenha, para fazer a água, que ele misturaria com quinoa, gordura de lhama, leite de cabra e ovos, para assar e fazer seu pão, antes de sair com seus filhos para levar as cabras e as lhamas para pastar.

5:00 da manhã; Patricio Pereira colocava mais uma leva de pães no forno. O dia em Lisboa estava começando movimentado. As pessoas corriam de ônibus, metrô, carros e motos, indo para seus trabalhos bater seus cartões, mas antes, passariam na padaria Nossa Senhora de Fátima, e não poderiam demorar. Pães, bolos, pasteizinhos de Belém, broas, leite, café e chá. Tudo deveria estar pronto, para as 6 horas em ponto, quando as portas da padaria fossem abertas, e a enxurrada de clientes se acotovelassem no balcão.

5:00 da manhã; e Xiao Luaoling deixava seu turno na fábrica em que trabalhava e seguia para sua casa que ficava no conjunto residencial número 17. Seu andar era o nono e seu apartamento era o 153.

Ele agradecia todos os dias ao presidente Xi Jinping, porque tinha um trabalho indicado pelo governo, tinha moradia cedida pelo governo, seus filhos poderiam estudar em uma escola indicada pelo governo.

Sorridente, ele pegava o café da manhã na cantina da fábrica e agradecido levava para casa, onde daqui há pouco todos estariam em volta da mesa, agradecendo ao presidente pela primeira refeição.

5:00 da manhã; Omar El Kadri caminha pelos destroços do último ataque. Ontem a escola onde ele e a família estavam abrigados veio abaixo. Um míssil de Israel atingiu o telhado e a estrutura de madeira caiu. Graças a Alah, (ele pensou), nenhuma telha ou viga caiu em ninguém de sua família. Depois do ataque eles se mudaram e agora estavam amontoados no quartinho que restava do antigo posto de saúde. Eles dividiam o espaço minúsculo com outras nove famílias, se revezando entre quem vigiava os ataques e quem dormia.

Omar entrou na fila do pão. Os médicos sem fronteira e a ONU, distribuíam diariamente uma porção de pão sem fermento e um litro de leite para cada quatro membros de cada família. Se a família tivesse mais membros, eles poderiam pegar a porção dobrada.

A cada 15 dias, todos deveriam comparecer à contagem, para atualizar o número de membros, pois a guerra era cruel, e as famílias diminuíam todos os dias.

5:00 da manhã; o forno elétrico de Theodore Maxwel apitava três vezes: Piiiii... piiii... piiii...., indicando que o pão estava pronto.

Theodore gostava de programar seu forno para que seu pão ficasse pronto 2 horas antes dele acordar, porque assim dava tempo de a farinha sem glúten descansar e absorver melhor o sabor das castanhas, da gordura de coco, dos grãos integrais e do açúcar mascavo.

Theodore era um homem fitness e exigente com sua dieta. Diminuíra muito a carne vermelha e os açucares. Diminuíra também as farinhas e grãos processados. Ele só almoçava em restaurantes da chamada “comida saudável”, que era uma organização que determinava o cardápio semanal das pessoas amigas da boa forma e da natureza.

Theodore sabia que seus investimentos na bolsa de valores lhe davam essa mordomia, e ele não agradecia ninguém por isso, pois tudo o que ele tinha ou era, se devia a seu esforço pessoal.

Uma coisa que deixava Theodore feliz, era que uma parte do dinheiro que gastava nos restaurantes da comida saudável, era revertido para o fundo de solidariedade aos pandas gigantes da Indonésia, que estavam em risco de extinção.

A próxima campanha seria pelas girafas da Amazônia, e Theodore estava ansioso em poder ajudar.

5:00 da manhã do dia dezenove de fevereiro de 2025!

Todos acordaram para mais um dia! Todos no mesmo planeta, mas vivendo em épocas históricas diferentes.

Alguns indígenas acordaram para caçar o pão, alguns filhos de imigrantes italianos na serra gaúcha fizeram polenta com fubá moído no moinho de pedra, alguns nordestinos dividiram uma porção de cuscuz entre nove irmãos, alguns irlandeses esperaram a entrega do café pelo iFood, alguns americanos do Alaska comeram bacon de alce, que estavam enterrados no gelo atrás da casa.

Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea se misturando na mesma volta do relógio...

  

 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

O desconvite

 


O Brasil finalmente tem chance de ganhar um Oscar.

As pessoas estão falando isso por aí, mas... O que está errado nessa frase?

Primeiro, que não é o Brasil que vai ganhar o Oscar. Quem vai ganhar, (se ganhar), é o elenco, o diretor, os atores, os roteiristas, engenheiros de som, de imagem, os produtores e as pessoas que trabalharam no filme.

Segundo que uma parte da população se apropriou do filme dizendo que este "o representa" e que não representa a gentalha do lado de lá, que aliás; foi desconvidada a assistir ao filme.

O presidente, que anda meio biruleibe, dizendo que ama mais as amantes que a esposa, também se apropriou do filme, dizendo que ele é um pedaço da sua história, e ao telefone, ouviu da atriz que ganhou o Globo de ouro que:

— Ai presidente... — fazendo voz de menininha. — Ainda bem que esse prêmio veio durante o seu mandato!

As coisas estão muito loucas aqui nesse país.

As pessoas em vez de querer unir os brasileiros em torno de alguma coisa, parece que fazem questão de dividir. Como dizem as táticas de guerra: Dividir para conquistar.

Mas conquistar o quê?

Conquistar o bagaço da laranja? Conquistar o aterro sanitário?

Porque é isso que está sobrando...

Nós vivemos em um país, que tem a maior quantidade de àgua doce do mundo e no mercado tem peixe que vem do Vietnã e da China, muito mais baratos que os peixes daqui. Vocês sabem onde fica a China?

O brasileiro vive na Idade Média ainda, pois mora em um país que não tem tecologia para fabricar uma calculadora! Um relógio de pulso, um notebook ou um carro. Se pararem de importar essas coisas, vamos ver a hora olhando para o sol e vamos andar em carroças e carros de boi.

Outro dia eu comprei uma vassoura, e ela era made in China. UMA VASSOURA!

Enquanto nossas bruxas tem que andar de UBER, porque não tem condição de compar as vassouras importadas, o nosso povo, "politizado e engajado", resolveu se dividir em dois grupos de jumentos; ou como eles mesmo se intitulam: De gado! 

O gado da fazenda da direita e o gado da fazenda da esquerda, indo todos para o matadouro virar carne moída, e brigando com o orelhudo do outro lado da cerca, sem perceber que sua orelha é do mesmo tamanho.

Já falei aqui várias vezes.

Só a literatura vai salvar esse país... A escola não, porque hoje ela também é uma fábrica de gado.

Infelizmente...

O último que passar pelo moedor, que apague a luz.

 


sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Bate-papo literário (Primeiro de 2025)




        Eu sei que vocês malvados blogsféricos, não comentam muito e talvez nem gostem quando eu resolvo falar sobre literatura.

        Quando coloco uma resenha de um livro, as visualizações mantem a média, mas os comentários diminuem.

        Eu fico pensando: Como é que autores de blogues (que teóricamente são escritores), não comentam sobre o que deveria ser fundamental para quem gosta de escrever?

        O Stephen King diz em seu livro: Sobre a escrita, que o bom escritor, tem que necessariamente ser um ótimo leitor. Ninguém consegue escrever bem, sem ler bastante.

        Vamos lá...

        Estou lendo um livro infinito, chamado: O coração de nanquim, que é do autor Robert Galbraith, que na verdade é o pseudônimo da autora, Joanne K. Rowling, que é a autora de Harry Porter.

        Porque as pessoas escrevem sob pseudônimos? Tá aí uma coisa que eu nunca entendo... Na minha cabeça não faz sentido, a não ser no caso do Fernando Pessoa, que dizem as más línguas, era maluco, tri-polar e que cada dia acordava diferente e se comportava como um de seus personagens internos.

        Ah... Uma fofoca literária: Vocês sabiam que o Fernando Pessoa morou junto com Aleister Crownley, que é considerado o papa do satanismo? Um "filósofo" com muitas aspas, que escreveu um livro chamado A lei de thelema, onde ele prega que o homem só vai alcançar a maturidade espiritual se fizer tudo o que quiser sem ligar para consequências. Inclusive sexualmente. Homem com homem, mulher com mulher, poligamia, pedofilia e até ser humano com animal. 

        Então, eles moraram juntos e dizem que eram até amantes. Mas no fim o capetudo roubou o Fernando Pessoa e sumiu no mundo, voltando para a Inglaterra.

        Sei que essa fofoquinha não tem nada a ver com o assunto, mas eu não resisti.

        Bom, o livro O coração de nanquim tem mais de 1000 páginas, é bem escrito, tem uma trama cativante, tem personagens bem desenvolvidos, mas não tem um bom ritmo. Ou melhor; tem um ritmo lento, muito lento. 

        O problema é que o livros tem muitos personagens secundários, terciários, quarternários e insignificanntes para a história, mas a autora de vez em quando encasqueta que tem que escrever três ou sete páginas, sobre um personagem passageiro que não vai acrescentar nada! NADA!!!!

        A gente então, fica preso nessas divagações, querendo que ela retome a história principal, e as vezes ela demora para retomar. 

        É chato; mas eu não vou desistir da leitura! Na verdade, quase nunca desisto. Até hoje só desisti de duas leituras, mas que pertendo retomar.

        Se tudo correr bem, acho que em 2029 eu acabo de ler O coração de nanquim e prometo trazer a resenha aqui pra vocês.

        Agora, pra terminar o nosso bate-papo literário, comentem aí duas coisas:

        1 -  Porque vocês não comentam muito nas resenhas, ou quando o assunto é literatura?

        2 - Vocês abandonam livros pela metade, ou são insistentes?


       

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Camada de ozônio, ou; feliz 2025

 

         Depois de se revirar na cama, ele pegou o celular para ver que horas eram. Ainda dava para ficar na cama mais quinze minutos, mas ele resolveu se levantar.

         Apoiando as costas e andando lentamente, ele foi despertando os músculos e articulações. Todo dia era assim... As dores matinais faziam parte da sua vida, mas ele sabia que era só andar um pouco que elas iriam embora.

           Ele escovou os dentes, fez xixi, foi até a cozinha, comeu um pão com manteiga e tomou um copo de leite.

      Definitivamente, as festividades do final do ano não caíram muito bem em seu estômago. Cervejinhas a mais, vinhozinhos de vários tipos, várias uvas e várias procedências, muitas vezes duvidosas. Champanhe rosê, champanhe branco, champanhe amarelado e com gosto avinagrado, e como não poderia faltar, o champanhe fidido, que aquela tia avarenta sempre trazia todo ano.

           Tudo isso, combinado com uma dose a mais de churrasco, fricasê, chester, arroz temperado, pavê e pácumê, acabam formando um coquetel molotov, que fermenta e depois explode, detonando gases que contribuem para a destruição da camada de ozônio.

            Dando umas batidinhas na barriga, enquanto anda pelado pela casa ele pensa com um sorriso de canto de boca: "Acho que deve ser por isso que janeiro é um mês tão quente, os gases tóxicos aumentam muito, e isso pode realmente contribuir para o aquecimento global!"

            Ele está se preparando para o primeiro dia de mais um ano. Se esse ano continuar no mesmo ritmo dos demais, ele sabe que muita coisa vai acontecer. Ele vai sorrir, ele vai chorar, ele vai ter vitórias e pequenas derrotas.

            Ele vai ter felicidade e paz, mas também vai ter impaciência e momentos de raiva. Todos esses momentos, distintos, mas juntos, fazem dos anos sucessões de obstáculos. E como é bom vencer um obstáculo... Tudo bem que esses obstáculos as vezes machucam; mas as vezes alegram! Ele sabe que isso é que faz a vida boa para ser vivida.

            Ele toma banho, passa perfume e se ajeita pra ir trabalhar. Ele sabe que as rotinas da vida matam, mas também salvam! Cabeça vazia é oficina do capeta, já dizia sua avó!

          Então ele vai trabalhar. Certamente não é o melhor serviço do mundo, mas está longe de ser o pior... Ele sai feliz por mais um ano que começa e por saber que Deus lhe deu a honra de ter acordado e vivido 365 dias no ano que passou. Agora ele está pronto pra mais uma batalha. Aí vem mais 365 dias, e ele quer estar presente em todos. Daqui a um ano ele pretende estar feliz, com o estômago em frangalhos, com a boca amarga pela ressaca e cheio de comidinhas e bebidinhas, e por isso, contribuindo para acabar com a camada de ozônio e deixando os janeiros cada vez mais quentes...

            Feliz 2025!