quarta-feira, 2 de julho de 2025

Tachos Calvino

 


Segundo a religião cristã, haverá um dia em que você, eu, tu, ele, nós, vós e eles, serão, seremos, serei, sereis, julgados!
Depois desse julgamento, se você aceitou a Jesus como seu único e suficiente salvador, você deverá, segundo a Bíblia, ser salvo e ir morar no céu eternamente. 
Mas se você não aceitou Jesus, e torceu pelo lobo mau a vida toda, certamente você vai fritar no tacho do capeta — eternamente — e de vez em quando o capiroto vai te dar umas cutucadas com o tridente, para ver se você já está bem fritinho. 
Mas esse prato, meu amigo,  onde você é o ingrediente principal, nunca vai ficar pronto, afinal, eternamente é muito tempo! 
Quer moleza? Então vira católico, aceita Jesus mais ou menos, e aí talvez, mas apenas talvez, você fique num lugar fedido, chamado purgatório, até pagar seus pecados, e só depois que talvez, mas apenas talvez, você vá morar no suburbio do céu.
E como tudo que é ruim, ainda pode complicar mais um pouco, apareceu um cidadão chamado João Calvino, que formulou uma teologia baseando-se em versículos bíblicos, que diz que as coisas não são bem desse jeito! 
Oras bolas! O meliante escolhe Jesus como seu único e suficiente salvador e será salvo. 
Não! 
O Calvino bolou uma trama teológica, onde a simplicidade da salvação se dá apenas para um grupo de pessoas, que ele chamou de escolhidos, eleitos, ou predestinados. Segundo Calvino, Deus, na marra, fará com que alguns escolham a Jesus e o aceitem, mesmo que não queiram, como seu único e suficiente salvador, irresistivelmente, "fantochemente", e pasmem — livremente!
Segundo ele, a outros, mesmo que queiram, não será dada a chance de escolher a Jesus, mesmo que o cara assista uma pregação, encontre uma Bíblia em uma ilha deserta e se convença de que Deus é o caminho, e queira trilhar esse caminho, Deus vai mexer os pauzinhos para que o coração desse fulano se endureça e ele não aceite Jesus verdadeiramente, porque ele não é um dos eleitos. 
Na cabeça do Calvino, mesmo que Deus tenha interferido pro cara não aceitar a Jesus, a não escolha, é "calvinamente" classificada como livre.
Cês tão entendendo?
Esse Calvino tem milhões de seguidores no mundo, na verdade, entre as igrejas evangélicas tradicionais, esse cidadão é o mais influente teólogo. 
Seus discípulos são combativos, e sua doutrina tem entrado em igrejas que tradicionalmente pensavam diferente disso. Essa questão que eu coloquei aqui, é apenas um agente complicador da teologia calvinista, existem outras tantas, pois sua doutrina é calcada em 5 pontos, e cada ponto é mais polêmico que o outro.
Ainda bem que no dia do julgamento, quem vai julgar é Deus e não, nenhum calvinista, senão, não iria caber tanta gente no tacho do capeta. Na verdade, acho que o capeta teria que abrir uma fábrica de tachos! Imagine o slogan da fábrica: Tachos Calvino, eternamente esperando por você!
Eu hein... Tô fora!



3 comentários:

  1. André, sua crônica levanta uma discussão importante com leveza e ironia, mas sem fugir da profundidade teológica. A forma como você contrasta a simplicidade do evangelho com as complexidades da doutrina calvinista especialmente no que diz respeito à predestinação nos obriga a pensar sobre até que ponto a fé pode
    (ou deve) ser explicada por lógicas humanas.
    Ao provocar, você nos lembra de que, por trás dos dogmas e das tradições, existe sempre uma pergunta essencial: que imagem fazemos de Deus? Um juiz implacável com lista pronta ou um Pai que oferece livremente a salvação a todos? A crítica ao “fator fábrica de tachos” é bem construída e, ainda que carregada de humor, aponta para o risco de uma fé baseada no medo e não na graça. Parabéns por tratar de um tema tão complexo com clareza, ritmo e provocação saudável. Leitura que vale cada linha.
    Amei!

    Abraço,
    Fernanda

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  2. Voltei outra vez,com uma resposta mais bem humorada 😜 Então temos duas opções.

    André, sua crônica é como uma panela de pressão: começa com um tom leve e irônico, mas vai esquentando até explodir em crítica teológica fervente. Adorei o modo como você desmonta, com humor e inteligência, a doutrina da predestinação como se dissesse: “isso aqui tá cozinhando há séculos, mas ainda não desceu!”. A comparação com o tacho do capeta foi impagável! E esse slogan final “Tachos Calvino, eternamente esperando por você!” é de uma genialidade debochada. Risos 🤭
    Confesso: quase ouvi o estalo da tampa de alumínio voando longe. Haha
    Crônica que diverte, cutuca e faz pensar. Tô dentro (desde que o tacho não seja meu)!

    Abraço,
    Fernanda!

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  3. Olá, amigo André!
    Um texto bem inteligente.
    Tenho um filho que adoraria ler algo assim pois reflete comigo sobre questões idênticas.
    Sabe, se um dia me dissessem que nada do que creio tem sentido, eu continuaria crendo....
    Vejo a fé como um dom.
    O Deus amor em quem creio saberá acolher a TODOS pois não estaremos diante de criminosos, assassinos cruéis, larápios, prostituídos e outros, seremos todos irmãos.
    Diante do Divino, nos purificaremos de todo mal que em nós habita.
    Eu creio.
    Tenha um julho abençoado!
    Abraços fraternos de Paz

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