segunda-feira, 30 de setembro de 2024

O genial Robert Johnson

 



Robert Johnson, começou a tocar guitarra por volta dos anos 1920, mas ele só foi fazer um relativo sucesso na década de 1930. Naquela época os músicos de blues viajavam de cidade em cidade, principalmente do Delta do Mississipi e tocavam em qualquer lugar que abrisse as portas para eles. Geralmente, lugares que não eram muito recomendados para menores de 18 anos. 

Drogas, bêbados, prostitutas, matadores, trabalhadores da roça de algodão, casais informais, e gente que queria apenas diversão, eram a maioria do público dessas bibocas, que além de perigosas, eram maravilhosas.

Quem viu o jovem Robertinho tocar no começo de sua carreira dizia que ele era mais ruim que pinga quente, mas "milagrosamente" depois de alguns anos de reclusão, onde não se sabe bem para onde foi, ele reaparece tocando feito um demônio!

Digo feito um demônio, porque, (à boca pequena), os fofoqueiros de plantão, pregavam que Robert Johnson fez um pacto com o capeta em uma encruzilhada e que o caramunhão, depois de afinar seu violão, disse que ele faria sucesso, mas que depois teria que pagar com sua alma!

Não se sabe muita coisa dessa época, e muitas lendas giram em torno desses bluseiros antigos. As notícias se espalhavam mais no boca à boca, e os pobres, geralmente afro-americanos, que eram os principais consumidores de blues, não tinham acesso à imprensa.

O negócio era tão doido nessa época, que um gaitista chamado Sonny Boy Willianson tocava acompanhando os principais artistas que se apresenatvam nas mesmas bibocas que o Robert Johnson e era considerado por todos um músico excepcional. 

Sabendo disso, um outro gaitista começou a se apresentar com o mesmo nome. Ele tapeava o povo, porque enquanto estava em uma cidade o verdadeiro estava em outra, até que um dia, Howlin Wolf, um músico reconhecido e famoso em toda a região, questionou o impostor Sonny Boy, que em sua defesa, disse que à partir daquele momento iria se chamar: Sonny Boy Willianson II.

O caso não foi levado adiante, porque dizem, que os dois Sonnys nunca se encontraram cara a cara e também, porque o segundo Sonny Boy, tocava melhor que o original.

Nos anos 40 e começo dos 50, o blues saiu do gueto das pequenas cidades rurais  e chegou até a cidade grande e esse Sonny Boy Willianson II, até participou de especiais de TV. 

Voltando ao Robert, ele foi o primeiro dos artistas famosos que morreu aos 27 anos. Vocês sabem da maldição dos 27 anos, né? Se não souberem eu conto outro dia.

Uns dizem que ele caiu no palco uivando feito um lobo, andando de quatro e espumando pela boca enquanto uma luz vermelha apareceu dentro do bar e uma silueta com chifres dava chicotadas nele. (A parte da luz e da silueta foi eu que inventei pra ficar mais legal).

Mas a história oficial é a de que ele andou flertando com a mulher do dono do bar onde estava cantando e esse cara colocou veneno no uísque do Robertinho.

As músicas do Robert Johnson caíram em um curto esquecimento, mas nos anos 60 e 70, artistas de rock influenciados pelo antigo blues do delta do Mississipi, reviveram essas canções e o que é mais incrível: Todas as 29 músicas que ele compôs, chegaram em diferentes momentos entre as 10 melhores da parada da bilboard e ele foi considerado pela crítica especializada, o músico mais influente do século 20.

Tudo bem... A gente sabe que o americano acha que o mundo gira emtorno do umbigo dele, e que quando por exemplo, um time de basquete ganha o campeonato americano eles falam que é campeão do mundo, mas nesse caso, exageiros à parte, o Robert Johnson é sim um dos músicos mais incríveis e com a história mais misteriosa, do século 20, e além disso é o primeiro dos que morreram com 27 anos.


quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Todos iguais? Ou uns mais iguais que os outros?

 



Eu gosto de rock e de suas vertentes. Dentre elas a que mais gosto é punk rock.

Mas, com um bom menino dos anos 80 eu também gosto de bandas mais popizinhas que tocaram no rádio, tipo: Ira!, Legião Urbana, Nenhum de Nós, Paralamas, Biquini, Blitz, Camisa de Vênus, Capital Inicial, Ultraje a Rigor, Lobão, Uns e Outros, 365, Garotos da Rua, TNT, Engenheiros do Hawai, Skank e por aí vai.

Esses dias em um show eu vi o Nasi do Ira! fazendo campanha para um político que ele apoia e fiquei pensando: Será que isso é certo?

Eu entrei e paguei o ingresso, porque gosto das músicas deles e não da posição política deles, que aliás, sou totalmente contra.

Uma vez em uma questão dessas, o chatíssimo crítico musical Régis Tadeu, me respondeu em uma live que o artista não pode ser calado nunca, e que ele tem o direito de falar sobre política a hora e quando ele quiser.

Uai? Porquê?

Eles são melhores que as outras pessoas? Ou se a gente for ver certinho mesmo, eles não passam de empresas que vendem seu produto que é, talento e entretenimento?

Imagina se os cozinheiros acharem que um cozinheiro tem o direito de falar sobre política e não pode ser calado nunca. Aí você vai a um restaurante e na hora que vem o prato, o cozinheiro vem junto, senta-se à mesa e faz campanha do candidato dele.

Iria dar dor de barriga!

E se um médico achasse que também tem esse direito e antes de te operar, lógicamente que antes da anestesia, pra você ficar atento, ele falasse de partido político, ideologia e fizesse campanha do candidato dele.

Você opreraria com um cara desses?

Então! Porque os artistas tem esse direito? Ainda mais a gente sabendo, que muitos deles vivem no mundo de Narnia e outros ainda gostam de uns aditivos que os deixam loucões...

Tudo bem que individualmente, no CPF deles, em suas redes sociais, ou entre amigos, todo mundo de qualquer profissão pode fazer campanha de qualquer candidato e de qualquer partido e adorar qualquer líder de merda desses que eles adoram, mas quando a situação é profissional, aí, na minha humilde opinião, eu acho que eles tem que apenas mostrar a sua arte, o seu serviço ou o seu talento.

O que vocês acham?



segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Resenha do livro: Antes que o café esfrie

 


Antes que o café esfrie, do autor Toshikazu Kawaguchi, é o primeiro livro de literatura japonesa que eu li. Apesar de uma ou outra coisinha que achei estranho, no balanço final, eu gostei.

Imagine um café antiguissimo que fica em uma pacata rua de um pequeno bairro de Tókio e que tem a particularidade de ter uma cadeira que serve como um portal para uma viagens no tempo. Essa ideia maluca e ótima, teria tudo para ser a ideia central do livro, mas por incrível que pareça, não é.

O livro fala sim de viagens no tempo e de curiosas regras para se fazer essa viagem, tipo: Só dá pra viajar no tempo de uma determinada cadeira e depois que é servido uma xícara de café. Tudo o que for feito ou falado durante a viagem não mudará o presente. É proibido levantar da cadeira durante a viagem e, o mais importante, a pessoa tem que voltar antes que o café esfrie.

Essas regras prendem a atenção, despertam o interesse e servem de pano de fundo para a verdadeira sacada do autor, que é usar as viagens para falar dos pequenos e grandes problemas da vida e o que você faria se tivesse uma oportunidade para rever alguém que ama e ter a chance de se acertar com ela. 

O autor oferece quatro lindas histórias, que falam de amores mal resolvidos, relacionamentos machucados por atitudes intempestivas, problemas de saúde, luto e culpas que carregamos por ter magoado alguém.

Essas histórias são independentes, mas fazem parte de um todo que acontece dentro do café e interagem com a vida dos personagens que trabalham ali.

Uma coisa que estranhei e que não sei se é da literatura japonesa ou se é do autor, é que todas as personagens têm nome. Mesmo os figurantes que aparecem em uma única vez, têm nome. Isso as vezes confunde um pouco, mas nada que a gente não se acostume.

A Editora Valentina fez um ótimo trabalho editorial. O livro ficou bonito e agradável de ler.

Devorei "Antes que o café esfrie", em pouco tempo e me diverti bastante. Confesso que em alguns momentos cheguei a me emocionar e em outros eu ri alto, parecendo um bobão.

Nota 8,5 de 10. Apesar de bom, a ideia é tão interessante que eu acho que poderia ser mais explorada.

O livro tem mais duas continuações, mas as histórias desse primeiro volume se fecham nele. Acho que cada livro pode ser lido independentemente de ter lido os outros.

Recomendo!



sábado, 7 de setembro de 2024

Amigos de rua

 



Ele acordou, suas costas estavam doendo pelo mal jeito que foi dormir naquele banco. Por mais que forrasse o banco com jornal e papelão para improvisar um colchão, as suas costas estavam lhe matando.

Seus dois cachorros, acostumados a dormir ao seu lado, estavam de guarda nos seus pés, esperando que ele acordasse. O sol já vinha nascendo e os primeiros raios ajudavam a esquentar seu corpo franzinho e debilitado.

"Puxa vida... Como esfria no nascer do dia." — pensou se sentando e esfregando os olhos com as costas das mãos.

Depois de espreguiçar, dobrou seus trapos que servem de cobertor e guardou junto com os jornais, colocando-os dentro da carrocinha que usa para catar latinhas e plásticos recicláveis pela cidade.

"Vou guardar esses jornais aqui, porque eles quebram um galhão à noite."

Seus dois companheiros desceram do banco e ficaram em sua frente balançando o rabo à espera de um afago. Esse era o melhor bom dia que ele poderia ter, e todos os dias ele se repetia, sempre com todo o carinho que ele poderia ganhar e retribuir.

Depois do bom dia canino, ele sorriu, e foi até a fonte da praça dar uma lavada no rosto e nas mãos, para depois voltar ao banco e abrir seu saco de pão com mortadela, que cuidadosamente havia guardado debaixo de seu travesseiro, para que no outro dia cedo servisse de café da manhã.

— Pitoco, Juquinha, venham aqui! — falou ele chamando seus dois amigos. — Olha, hoje só tem esses dois pães aqui, então eu vou dividir um entre vocês dois que são pequenos, e vou comer um inteiro. Vocês sabem que eu tô numa tosse dos infernos e tenho que comer um pouco mais senão não eu num guênto!

Os dois cachorros pararam em sua frente novamente e ficaram esperando o café da manhã. Então, ele dividiu um dos pães com os dois e começou a comer o outro. Dalí um pouco ele separou mais um pedaço agora de seu pão e falou novamente:

— Toma vai... Seus dois gulosos, ficam aí me olhando com essa cara de pidão...

Depois do pão, ele pegou um resto de guaraná que estava no fundo de uma latinha, colocou na boca, fez uns gargarejos e engoliu. Depois ajeitou sua roupa, passou seu pente banguela no cabelo, e colocou seu boné de propaganda eleitoral da eleição passada.

Em seguida saíram os três, andando juntos pelas ruas da cidade.

Ele tinha que procurar nas latas de lixo do calçadão, e ver se coletava alguma coisa que lhes garantisse o almoço.

Para ele era assim, a noite era seu quarto, o dia era seu escritório, as latas de lixo eram seu estoque de mercadorias e seu mercado. Ele tinha que ganhar o próximo pão. Sua vida era para ser vivida, para ele e para os seus amigos, que alegres, o seguiam pela cidade, sem protestar em viver daquela forma. Porque eles eram amigos... Amigos sinceros. Amigos de rua, e por toda a vida.

 

Esse texto é bem antigo, e por incrível que pareça, ele foi o que me inspirou a escrever meu segundo livro, que é a história da investigação de um sequestro de uma garotinha de 12 anos, filha de um servente de pedreiro e uma manicure.

Aqui esse personagem é um andarilho anônimo, no livro ele ganhou nome, sobrenome e foi um coadjuvante muito interessante e cativante. Inclusive o livro termina com ele. 





terça-feira, 3 de setembro de 2024

O sucesso do improvável.

 


Quatro jovens feios, desengonçados, tímidos, sem perspectiva de vida, quase delinquentes, antissociais, e tudo mais que possa servir de pedra de tropeço na vida, um belo dia resolveram formar uma banda de rock.

Nenhum deles sabia tocar, nenhum deles sabia cantar e nenhum deles sabia se comportar em frente ao público.

Com ajuda de alguém que lhes ensinou alguns acordes, eles começaram a tocar músicas que eles mesmo compunham, quase que por instinto, sem entender nada de música e sem saber compor. 

Melodias estranhas, baseadas toscamente no rock dos anos 50 e 60, mas que da maneira que eles tocavam, pareciam rápidas e agressivas demais.

O ano era 1974 e eles eram a banda: Ramones.

Suas composições eram básicas e tinham no máximo 3 acordes. Em todo seu primeiro disco, as 10 músicas somadas, tinham ao todo 5 acordes, que eram os únicos que eles conheciam.

Como eles se achavam deslocados socialmente, que não sabiam fazer mais nada na vida a não ser tocar mal as suas músicas e pelo aspecto não muito agradável que as suas caras feias tinham, eles resolveram que a banda seria o futuro deles.

Começaram a ensaiar insistentemente e a tocar em todas as bibocas possíveis.

No começo arrumaram uma sequência de shows no lendário bar chamado GBGB, que era um espaço fuleiro, sujo e de má fama, mas que abriu as portas para ícones do rock em começo de carreira, e dali, foram melhorando em suas apresentações e ganhando fãs, que os ajudaram a abrir outras portas e tocar por todo Estados Unidos. 

Eles fizeram cerca de 2.263 shows durante sua carreira, que durou 22 anos, de 1974 a 1996. A banda era conhecida por sua intensa agenda de turnês, fazendo quase sempre mais de 100 shows por ano.

O Ramones fez 19 turnês mundiais e tocaram em todos os continentes.

Ao todo eles venderam cerca de 5 milhões de discos durante sua carreira nos Estados Unidos e cerca de 15 milhões de discos em todo o mundo.

Eles são considerados a banda mais influente do rock de todos os tempos e um dos precursores do estilo punk rock.

A imagem deles, com calça jeans, camiseta surrada, tênis all star e jaqueta preta, tem sido copiado por jovens de todo mundo desde 1976.

Ao longo do tempo, com muita persistência, suor e crença de que a banda era as suas vidas, o Ramones passou de um projeto que tinha tudo para ser um fracasso, à um símbolo de que tudo é possível quando se acredita que é possível.

Joey Ramone e Jonny Ramone, os principais integrantes da banda, tiveram uma discussão porque Jonny roubou e se casou com a namorada de Joey e, porque eles tinham ideologia política diferente. Por isso os dois ficaram 20 anos sem se conversar, mas nunca deixaram a banda e nunca deixaram de compor, e fazer shows juntos, até o final da banda, com a morte de Joey por um câncer na garganta.

            Joey morreu em 2001, Dee Dee morreu em 2002, Jonny morreu em 2004 e Tommy morreu em 2014. Só Mark Ramone, o segundo e mais longevo baterista da banda, ainda está vivo e tocando com a molecada pelo mundo. Ele ainda faz pelo menos 50 shows por ano.

Há alguns anos pediram para uma orquestra fazer uma apresentação só com músicas dos Ramones. O maestro disse que não iria expor sua orquestra a tocar músicas com 2 ou 3 acordes.

            A pessoa que queria a apresentação perguntou se o maestro conhecia a obra dos Ramones e ele disse que não conhecia.

Então ele presenteou o maestro com todos os 14 álbuns da banda.

Depois de escutá-los, o maestro fez o concerto e em sua fala inicial disse:

Vamos tocar músicas de 3 ou no máximo 4 notas, mas são músicas tão sensacionais, que só os gênios poderiam compô-las. 

Ramones é um exemplo de que todos podem conseguir, mesmo que os obstáculos sejam considerados intransponíveis, mesmo que a timidez e a aparência joguem contra... No final, o trabalho e a dedicação, prevalecem.