quinta-feira, 24 de junho de 2021

A ilha do tesouro



 

 

Quando eu tinha quatorze anos mais ou menos, eu era um avido leitor. Lia quadrinhos, revistas e livros geralmente emprestados na biblioteca da escola onde estudava. Falando nisso; que biblioteca maravilhosa! Com livros luxuosos, raros e impecavelmente cuidados pela “moça chata que não dava mais de duas semanas pra gente ler qualquer livro, fosse ele do tamanho que fosse.”

Eu já havia lido, Dartagnan e os três mosqueteiros, As aventuras de Simbad o marujo, As aventuras de Guliver, Hobin Hood, muitos livros da coleção Vagalume e mais alguns clássicos infanto-juvenis muito famosos, até que um belo dia, a “moça chata que não dava mais de duas semanas pra gente ler qualquer livro, fosse ele do tamanho que fosse”, me chamou e disse:

- André, hoje eu vou escolher um livro para você ler.

- A... a senhora?

- Isso! – respondeu ela se levantando e buscando um livro na prateleira onde se lia: Clássicos, literatura europeia. – Esse aqui! – falou, estendendo a mão e me entregando: A ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson.

- E por que a senhora quer que eu leia esse livro?

- Porque eu tenho acompanhado suas leituras e acho que já está na hora de você ler esse livro. Vou te dar duas semanas.

- Ah é? – respondi olhando o livro relativamente pequeno nas minhas mãos. – Uai? Livros de 400 páginas a senhora também dá duas semanas, por que esse de cento e poucas a senhora vai me dar as mesmas duas semanas?

- Porque você vai ler esse livro duas ou três vezes seguidas.

- Vou? A senhora está me mandando fazer isso?

- Não! O livro vai te mandar fazer isso e você não vai resistir.

Gente! Essa “moça chata que não dava mais de duas semanas pra gente ler qualquer livro, fosse ele do tamanho que fosse” sabia do que estava falando!

O livro “A ilha do tesouro”, foi escrito em 1883, de uma forma inovadora. Ele tem dois narradores: O narrador onipresente, comum em 90% dos livros e o jovem Jim Hawkins, que é o herói da história. O engraçado é que esses narradores se entrelaçam e contam a história sob seus pontos de vista e em nenhum momento você se perde no assunto, ou se confunde com quem está “falando com você.”

O clima do livro é tão cativante que não tem como você não ser absorvido pela leitura! Não tem como você não virar um pirata ou um aventureiro perdido no mar. É mágico!

Hoje, trinta e tantos anos após esse dia, eu percebo que tudo, exatamente tudo o que existe em histórias de piratas no cinema, nos quadrinhos, nos desenhos e até em histórias de aventuras e mistério, ou se inspiraram na “Ilha do Tesouro”, ou se inspiraram em alguma obra que se inspirou nele. Pasmem, até em Guardiões da galáxia, o primeiro filme da Marvel, a gente vê traços da “Ilha do tesouro.”

Para mim, foi uma das obras mais importantes que li, mesmo, lógico, sabendo que é uma obra clássica, mas, infanto-juvenil.

Eu não me lembro mais o nome da “moça chata que não dava mais de duas semanas pra gente ler qualquer livro, fosse ele do tamanho que fosse”, mas tenho um grande amor por ela, guardado aqui em meu coração! Amor e agradecimento.

Depois de alguns meses ela “escolheu” outro livro para mim: O tempo e o vento de Érico Verissimo, mas essa história vou contar outro dia!

Hoje, é dia de indicar para vocês: “A ilha perdida, de Robert Louis Stevenson.” Um livro que vai te consumir, entrar na sua cabeça, te encantar e te fazer acabar de ler, voltar à primeira página e começar a ler novamente! Eu li, três vezes em duas semanas!

É... A “moça chata que não dava mais de duas semanas pra gente ler qualquer livro, fosse ele do tamanho que fosse”, podia ser chata na época, mas hoje é minha amiga. Uma amiga que sabia muito das coisas. Uma bibliotecária que fazia jus ao seu salário e ao amor pelos livros!

Deus a abençoe, esteja ela onde estiver.

 

 

 

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Saudade do novo!

 













Esse texto, apesar de servir para pessoas de todas as idades, vai especialmente para os amigos que eram adolescentes nos anos 80, assim como eu.

Eu tenho alguns amigos saudosistas que sempre falam: - Ah, como eram boas as bandas e as músicas do nosso tempo! – Como se o tempo de hoje não fosse mais nosso tempo! Como se nós, fossemos almas penadas, que vagam por aí, perdidos, porque o tempo em que era vivo já não existe mais após a morte!

Para esses eu sempre respondo o seguinte: - Meu amigo, eu também sou saudosista e também escuto os velhos discos das bandas que fizeram sucesso na nossa adolescência, porém, se você não sabe, essas mesmas bandas ainda gravam discos espetaculares! Só não tocam mais no rádio e na TV, porque o show business resolveu escolher outros ritmos que agradam mais o público de hoje em dia.

Gente, o último disco do Paralamas do sucesso, (Sinais do sim), pra mim, é o melhor de toda a carreira deles! Os últimos três ou quatro discos do Capital Inicial são melhores que todos os discos deles dos anos 80... E muito melhores!

Os últimos do Lobão, do Ira!,  do Biquini Cavadão, do Nenhum de Nós, da Plebe Rude, dos Inocentes, são muito bons! Muito bons mesmo. Especialmente o último da Plebe Rude, (Evolução), que pra mim, é uma obra prima!

Eu não posso negar que algumas bandas pararam no tempo e que algumas se desfizeram, mas mesmo essas que se desfizeram, continuam com seus músicos fazendo ótimos trabalhos em discos solo, como é o caso do Nando Reis, Paulo Miklos, Guilherme Isnard (vocalista do Zero), Gaspa (ex-Ira!), Paula Toller, Leoni, Bonfá, Wander Wildner, Marcelo Gross, Samuel Rosa, Marcelo Nova, Humberto Gessinger e tantos outros. Esse povo todo nunca parou de trabalhar e produzir coisas novas.

Então meu amigo saudosista! Deixe de preguiça e procure por novos sons de velhos ídolos! Vocês vão se surpreender com cada trabalho magnífico que você deixou passar batido.

Ah... E se você se empolgar nesse garimpo, vai acabar encontrando novas bandas de rock que nunca ouviu falar, dessa garotada adolescente ou na casa dos vinte e poucos anos hoje, que também são muito bons!

Se vira! Alma penada!



sábado, 5 de junho de 2021

CBF, CPF e CNPJ




 

A seleção brasileira de futebol é muito maior que qualquer técnico. Muito maior que o presidente da entidade. Muito maior que todos os jogadores. Ela representa para o brasileiro uma entidade quase sobrenatural, da qual ele se orgulha. O futebol para o brasileiro é o maior, senão, o único esporte onde ele se acha capaz de ser o melhor do mundo.

A seleção brasileira de futebol não pertence a indivíduo nenhum e ninguém pode falar em nome dela, porque a seleção é do povo!

Falando no povo, como está o povo brasileiro hoje?

O povo brasileiro está dividido em 3 grandes grupos: O grupo que apoia o governo, o grupo que é oposição ao governo e o grupo que está indeciso. Essa trinca de situação política é a definição da nossa sociedade polarizada, tri-polarizada melhor dizendo, e a seleção brasileira de futebol representa todos eles.

Não importa o lado político do técnico, não importa a ideologia política do presidente da CBF, não importa a ligação política do roupeiro, da cozinheira da seleção, do preparador físico e nem do torcedor enquanto indivíduo portador de CPF.

Os CPFs tem que se manifestar quando estiverem falando sobre suas posições pessoais! Nunca, ninguém pode falar politicamente em nome da CBF. Porque como disse acima, a CBF representa um orgulho para TODA a nação brasileira, seja ela de que cor, raça, classe social, cidade, estado, religião orientação sexual ou política tiver.

A CBF não tem CPF, ela tem CNPJ e os CNPJs não tem voz política pois eles representam pessoas, e pessoas são indivíduos. Indivíduos são diferentes.

Alguns CPFs estão querendo politizar a seleção, colocando suas posições pessoais como se fossem a voz do CNPJ, mas não são!

Quem quiser trabalhar na seleção tem que ter claramente em sua mente a imagem de que trabalha para um povo tri-polarizado, e que não tem que dar palpites públicos, na frente de microfones e holofotes, a não ser, que deixem bem claro que essa é sua opinião pessoal e não da entidade. E deve também saber, que se quer trabalhar na seleção, vai ter que fazer coisas que não quer, porque a sua vontade individual não se sobrepões a vontade do povo, e lembrando: a seleção é do povo.

O Brasil tem que jogar a copa América sim.

As pessoas que confundem futebol com política e são contra o governo, ou que simplesmente acham que não se devia jogar uma competição dessas em meio à pandemia, é só usarem seus controles remotos e assistirem outras coisas, ignorando a seleção.

As pessoas que acham que a seleção tem que jogar, mesmo em meio à pandemia, que usem seus controles remotos e assistam.

As pessoas que não estão nem aí para a seleção, que tanto faz, tanto fez... Que usem seus controles remotos da melhor forma possível.

Democracia é isso!

A seleção é do Brasil, o Brasil é do povo!

Povo é CPF, seleção é CBF e CBF é CNPJ.

Entendeu?