sábado, 30 de janeiro de 2016

Raça pura




Tobias era um cachorro vira-latas, que perambulava pelas ruas, vivendo sem destino. As pulgas, os carrapatos, e as vezes a sarna, eram a sua alegria. Tobias passava horas e horas se coçando.
Nas latas e sacos de lixo, Tobias encontrava restos de comida e migalhas que comia satisfeito. De vez em quando o vira-latas encontrava alguma coisa boa: ossos de galinha com algum naco de carne, resto de macarronada azeda, arroz, feijão, latas de sardinha e pedaços de pão velho.
Tobias adorava rolar em carniça ou em estrume de cavalo, ele costumava dizer que isso dava à ele identidade e pedigree. Tobias era feliz, pois essa vida de viralatear pela cidade, era o que ele conhecia, e era o que ele entendia por vida de cachorro.
Por isso, Tobias não queria mudar! Ele sempre votava nos mesmos políticos e nos mesmos partidos. Mesmo que seu candidato estivesse envolvido em falcatruas e corrupção, Tobias era fiel. Aliás, todo cachorro que se preze é sempre fiel, e isso ninguém tirava dele. A fidelidade dos incautos.
Tobias olhava para os cachorrinhos que desfilavam cheirosinhos nos colos das madames da cidade e sentia asco.  “Esses aí são uns vendidos,” ele pensava. Não era admissível para Tobias, que um cachorro vivesse como gente. Que fosse gastar no shopping, que comesse em restaurantes bons com a sua família, que estudasse em escolas boas, e que fizesse faculdade federal... Não, isso não era coisa de cachorro.
Tobias era convicto, ele nunca se venderia por pouca coisa: ração balanceada, vermífugo, banho e tosa, pelo escovado, passeio com o dono, carinho! Meu Deus... Ele não queria saber dessas coisas. Na escola pública manipulada pelo governo o ensinaram a ser assim, a TV o ensinava a ser assim, os seus amigos eram iguais a ele, e por isso, ele tinha suas convicções. Tobias era um cão de raça pura... Pura ignorância. Mas fazer o quê? Ele era assim, nasceu assim e queria morrer assim, afinal: Tobias era brasileiro e não desistiria nunca! 




Fazia tempo que eu não publicava um cartum... Tomara que gostem.





  

sábado, 23 de janeiro de 2016

Contagem regressiva


Amigos, essa é a sinopse que fiz para a capa do meu novo livro. Eu queria saber de vocês se ela está interessante e se chamou a atenção de vocês a ponto de comprarem um livro com ela.




A pequena Manoela é sequestrada, por experientes bandidos que pedem a seu pai o resgate de um milhão de reais. Uma voz ao celular, avisa ao pai, que ele tem uma semana de prazo para pagar o resgate, ou nunca mais vai ver sua filha novamente, e avisa também, que se a família for à polícia, ou à imprensa; pedaços da garotinha começarão impiedosamente a ser entregues, para afirmar, que eles estão falando a sério, e que não tem escrúpulo algum.
O problema maior: Luiz, o pai de Manoela é um servente de pedreiro, e em toda sua vida, não ganhou nem metade desse dinheiro.
Alberto e Teixeira, os dois investigadores mais conhecidos de São Paulo, são chamados através de uma amiga em comum, por Raquel, a mãe de Manoela, para encontrar sua filha, sem que a polícia e nem a imprensa saibam que eles estão agindo.
A medida em que trabalham no caso, dúvidas saltam aos olhos dos investigadores, assim como saltarão também aos olhos dos leitores mais atentos: Como é possível, que sequestradores experientes tenham sequestrado a filha de um servente de pedreiro? Eles estudaram a família, estudaram o pai e a mãe da menina antes de fazerem o sequestro, e mesmo assim será que não sabiam que seria impossível receber esse resgate? Será que o pai, Luiz, está escondendo alguma coisa dos investigadores e da sua própria esposa? Será que esse sequestro é algum tipo de acerto de contas? O que está escondido na família da pequenina Manoela, que os sequestradores sabem, e que você, leitor, só vai descobrir à medida que for virando as páginas desse suspense policial, que vai te desafiar do começo ao fim.
Alberto e Teixeira, tem pela frente, a investigação mais difícil e desafiadora de suas vidas, e, dessa vez, qualquer passo em falso, pode custar a vida de uma criança inocente.
É nesse clima tenso, e cheio de reviravoltas inacreditáveis, que o autor, André Mansim, lhes convida a embarcar de cabeça, e ajudar os investigadores a resolverem mais esse caso... Antes que seja tarde!




sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Seu Lourenço


Em dez minutos, eu conheci seu Lourenço.
Do nada, após um sorriso simpático, o velhinho de oitenta e cinco anos, me disse que foi criado na roça, sem pai, e quase sem mãe. Aos seis anos já trabalhava “panhando” algodão. Aos dez, já fumava, e fumou até os vinte e cinco anos! Mas um dia ele se levantou da cama e disse pra sí mesmo: “À partir de hoje não fumo mais!”
Não fumou mesmo, e também, nunca mais tomou café. Olha só! Ele disse que só o cheiro do café, até hoje, lhe traz à mente, o “saborzinho” do cigarro.
Seu Lourenço se mudou pra Barretos e começou a trabalhar como pintor de casas. Pintou mais de quarenta casas pela cidade, até que um dia, quando foi comprar pinceis em uma loja, conheceu o gerente de uma fábrica de tintas, chamada “Tintas Universo”. Seu Lourenço conversou muito com esse cidadão, e até saiu para almoçarem juntos.
Um belo dia, o velhinho viu na Folha de São Paulo, que a Tintas Universo estava procurando um representante de vendas.  Com coragem, ele, com pouquíssima escolaridade, trabalhador braçal, sem nunca ter ido a uma cidade grande, saiu de Barretos e foi parar na porta da fábrica de tintas.
Depois de uma tarde inteira de conversas, ele acabou sendo contratado não como vendedor, mas sim, para abrir mercados, demonstrando o produto Brasil afora. E olha que isso foi ideia dele, pois a fábrica não tinha esse cargo de demonstrador.
Seu Lourenço conhece todos os estados do Brasil, conhece tanta cidade que nem sabe a quantidade. Trabalhou vinte anos na Tintas Universo, mas um dia essa fábrica foi vendida para a Luksnova.
Ele trabalhou na Luksnova, e na Tintas Ypiranga por mais de dez anos. Como complemento, vendeu massa plástica Iberê. Chegou a vender em um mês mais de vinte mil latas de massa plástica!
Um dia, comprou um Fusca, e em uma de suas viagens, alguns bandidos tentaram roubar seu carro, parando-o na rodovia. Os caras estavam agressivos e colocaram um revólver em sua cabeça. O velhinho virou-se calmamente para um dos assaltantes e disse: “Pode levar meu carro! Eu comprei ele, sem precisar dele pra compra-lo. E tem mais, eu nasci antes dele, porque eu sou de 1930 e o primeiro carro que chegou ao Brasil foi em 32... Então eu não preciso dele pra nada.”
Os assaltantes foram embora sem roubar o Fusca, mas na primeira cidade que seu Lourenço chegou, logo deu um jeito de vender o carro e nunca mais dirigiu!
Seu Lourenço fez a vida! Voltou pra Barretos, e hoje mora em uma casa muito boa, num bairro chique da cidade. Suas duas filhas moram com ele. Cada uma delas é formada em mais de uma faculdade, e graças a Deus, - ele tirou o chapéu quando disse graças a Deus – hoje ele até parece um velhinho, negro, humilde e com cara de pobre, mas a história de vida que tem, é pra poucos!
Em dez minutos conheci seu Lourenço! Tem gente que acha que perde dez minutos do dia, conversando com gente assim. Eu ganhei! Ganhei a oportunidade de conhecer alguém tão legal!
Ah... Seu Lourenço antes de ir embora olhou bem dentro dos meus olhos, apertou a minha mão, e sorrindo me deu dois conselhos: “Menino, não compre nada que não precisar, não compre porque é bonito, ou porque está na moda, só compre quando tiver dinheiro pra comprar. Se não tiver dinheiro, não compre. – com o sorriso ainda estampado no rosto, tornou a olhar nos meus olhos e disse o segundo. - Quando ficar velho, e estiver perto de parar de trabalhar, seja viciado em palavras cruzadas! Elas não deixam o nosso cérebro enferrujar.”
Dizendo isso, virou-se e foi embora. Talvez nunca mais eu tenha o prazer de ver seu Lourenço, mas com certeza, ele sempre vai estar presente, algum dia, em algum pensamento, em alguma atitude minha, de hoje em diante.








segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Advogado sem causa


Olá amigos! O ano novo já começou e por isso, vamos voltar aos trabalhos aqui nesse blog. Confesso que fiquei meio triste pelo resultado da última postagem, que só porque era meio grandinha, apesar de ter sido visualizada por muita gente, foi lida e comentada por poucos... Mas tá bom, eu entendo...
Prometo que não vou postar mais contos grandes. Por isso, aqui vai um continho, meio crônica, meio conto.





Estávamos eu e a Frida, minha cachorra, voltando de um passeio, quando do outro lado da rua, meus dois vizinhos estavam travando uma batalha digna épica.
- Você é burro! - gritou seu Oscar. - Como é que você quer sombra de árvore sem ter sujeira no chão?
- Eu não quero saber - retrucou Fernando abrindo os braços - minha esposa está cansada de limpar as folhas que as suas árvores jogam na minha calçada!
Eu quando vi e ouvi essa cena, olhei pra Frida, e a gente resolveu passar devagarinho do outro lado da rua, quase rastejando, para que eles não nos enxergassem, mas não deu.
- Olha ali o André - falou seu Oscar apontando pra mim - Andrééééeé, vem aqui um pouquinho pra dar a sua opinião!
- Puxa vida - eu pensei - tínhamos que aparecer aqui bem agora?
Nós atravessamos a rua e a Frida, malandra, já foi logo abanando o rabão pros vizinhos e encostando a cabeça em Fernando pra ganhar um cafuné.
- Olha André - começou Fernando estufando o peito e colocando o dedo em riste em direção a Oscar - eu estou falando aí pro seu vizinho que a árvore dele está sujando toda a minha calçada e toooodos os dias.
- É verdade - falou seu Oscar irritado e em voz alta - mas eu expliquei aqui pra esse seu vizinho que as árvores soltam mesmo folhas, isso é da natureza. Mas também falei que ele não tem nem moral de reclamar porque ele chega antes de mim na hora do almoço e sempre coloca o carro dele na sombra das minhas árvores, enquanto eu tenho que colocar o meu carro no sol.
Eu olhei pra Frida, ela olhou pra mim, nós olhamos pros dois, os dois olharam pra gente, e a Frida, malandra novamente, se escondeu debaixo das minhas pernas.
- Agora me fala uma coisa André - continuou seu Oscar amentando mais a voz, como se fosse um tenor atuando em uma ópera - tem cabimento um cara desse querer vir me encher o saco?
Eu olhei pra Frida de novo e ela se escondeu mais ainda debaixo das minhas pernas...
- Olha gente - eu comecei tentando ser justo comigo e com os dois - essa briga de vocês é tão impossível de resolver, que até a Frida que é burrona, sabe que não tem solução. Se vocês dois só olharem o problema visando somente o seu lado pessoal, então o outro vai estar sempre errado. Cada um tem a sua razão.
Então os dois deram-se o último olhar desafiador do dia, olharam pra Frida que mijou de medo e entraram pra dentro de suas casas batendo seus portões.
- Liga não Frida - falei eu voltando a caminhar com ela - não dou um mês pra esses dois aí estarem fazendo churrasco e bebendo cerveja juntos, é só aparecer um feriadinho prolongado, que tudo volta ao normal.