Tipicamente falando...
Pronto!
Como eu disse na última postagem: montamos o cenário!
O Brasil — principalmente na região que interessa para nossa reflexão sobre a gastronomia, que é a Paulistânia — já estava composta por fazendas de café, gado leiteiro, cana-de-açúcar, fumo e outras culturas menores.
O escravo negro não era mais a mão de obra utilizada e os indígenas praticamente haviam voltado para o interior das matas.
Os fazendeiros eram, em sua maioria, descendentes de portugueses: de primeira, segunda e até a terceira geração, nascidos no Brasil.
Isso se refletia na cozinha, onde receitas de doces, pães, bolos, cozidos, assados, e mais um monte de coisas gostosas, sofriam tentativas de reprodução, com os produtos que existiam aqui.
Na maioria das vezes, essa reprodução não conseguia ser fiel, e isso culminava na criação de uma receita nova. Única, e não menos deliciosa.
Muitas mulheres negras, ótimas cozinheiras, ainda trabalhavam nas cozinhas das sedes das fazendas, e agora, seriam acompanhadas pelas "mamas", italianas em sua maioria, que aos poucos chegavam para trabalhar e morar nas colônias dessas fazendas.
Os europeus que não tinham dinheiro, e que vinham para o Brasil na ilusão de uma vida melhor, foram aos poucos sendo contratados primeiramente para trabalhar no interior de São Paulo e Minas Gerais. E daí, aos poucos, se transferiam para o Paraná, Mato Grosso e Goiás.
O milho e a mandioca, produtos que na Europa ainda tinham pouca relevância, aqui era o suprassumo da alimentação da época. Por isso a polenta, feita com galinha e acompanhada com quiabos refogados, se tornou um dos maiores clássicos de Minas e São Paulo.
A dobradinha, que tinha um ancestral português — a dobrada portuguesa — aqui ganhou tempero da roça, com pimentas nativas, caldo de galinha, tomates frescos e feijão branco, tornando-se um dos pratos essenciais do almoço de domingo nas crescentes áreas urbanas e principalmente nas fazendas. Mas isso, com o toque de Midas, que foi o acompanhamento, que poderia ser farinha de mandioca simples ou uma farofa um pouco mais incrementada.
A farofa, que já existia antes da chegada dos imigrantes, feita com farinha de mandioca ou de milho, agora ganhava ar de protagonismo. Mais elaboradas, agora eram feitas de miúdos de galinha ou porco, de ovo, de banana, de cebola caramelizada e de tudo que lembrasse as farofas europeias, feitas geralmente com farinha de rosca, obtidas à partir de pães amanhecidos.
Alguns temperos típicos e regionais, como o Pequi, que é uma herança indígena, foram incorporados aos mesmos pratos, à medida que os imigrantes chegavam nas fazendas de Goiás e Mato Grosso.
Aos poucos, esses pratos começaram a ser difundidos na Paulistânia, ganhando ar de — comida típica local — e se diferenciando de outras regiões do Brasil, como o Nordeste e o Sul.
No próximo capítulo, vamos entrar dentro de uma cozinha da roça e acompanhar uma conversa entre duas mamas italianas e uma cozinheira negra.
Elas vão tentar fazer macarrão, mas como aqui quase não existia farinha de trigo, elas vão inventar — ou adaptar — um produto conhecido que virou um clássico brasileiro, esse sim, não ficou apenas na Paulistânia, mas ganhou o país.
Comente aí, que prato você acha que é esse?
Hmmmm...Fiquei com água na bôca,André! Gosto muito de dobradinha e também de farofas,mas essas, sem frescurites, apenas ela raiz,rs... abração, chica
ResponderExcluirChica! Eu também adoro.
ExcluirTodas essas comidas que falei até agora, pra mim, são as melhores.
Um abração, minha amiga!!!
Vou comentar, hein? Tô com medo, mas vou com medo mesmo kkkkk.
ResponderExcluirHá um tipo de texto que se lê com os olhos e se saboreia com a memória. Foi assim que recebi essas palavras de André: como quem abre uma panela no fogão da infância e sente um cheiro que vem de longe não só no tempo, mas na alma. O que mais me tocou nesse trecho foi a maneira como ele consegue compor o cenário da cozinha brasileira como um lugar onde tantas vozes se cruzaram, mesmo que nem todas fossem ouvidas. As mulheres negras, por exemplo, não são tratadas aqui como figuras apenas pelo contrário. Elas estão no centro da cena, como sempre estiveram, transformando escassez em sabor, dor em criação, rotina em alquimia. Gosto de como o texto evita idealizações: ele mostra que essas cozinhas nasceram também de desencontros, de receitas que não saíam “fiéis”, de ingredientes que não existiam por aqui e, mesmo assim, o resultado era novo, único, e não menos delicioso. Existe algo de profundamente brasileiro nesse tropeço criativo que vira identidade. Essa comida que não é cópia, mas invenção. As “mamas” italianas chegam com suas memórias e são recebidas por outras mãos já calejadas pelo tempo. O texto anuncia esse encontro como quem prepara a mesa para algo maior do que um almoço: um momento em que mundos distintos cozinham juntos, ainda que em silêncio, ainda que com dificuldade. E talvez aí esteja a mágica: na farofa que ganha o toque da cebola caramelizada, na dobradinha que se mistura com o feijão branco da roça, na polenta que acolhe o quiabo sem cerimônia.
E quando André escreve que aos poucos esses pratos foram ganhando ares de “comida típica local”, o que ele está dizendo, sem dizer, é que o Brasil foi se cozinhando aos poucos, no fogo baixo da convivência forçada, sim, mas também do afeto possível.
Esse texto, que começa falando de cenários, termina abrindo uma porta para dentro da casa, da cozinha, do coração. E eu, que leio e escuto com a alma, mal posso esperar pela cena seguinte: uma conversa entre uma cozinheira negra e duas mamas italianas. Três mulheres, três histórias, três formas de amar através da comida. Que venha o próximo capítulo que venha quente.
Fernanda
Que legal o seu comentário Fernanda!
ExcluirÉ isso mesmo que eu queria passar para quem o lê-se.
E você, já falei, tem carta branca pra comentar, resenhar, escrever um conto nos cometários... O que quiser fazer!!
Esse negócio de receio de comentar, eu nnão entendi porque!
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
Um abração e esqueceu de votar, qual será o prato que as cozinheiras vão inventar.
Kkkkkkkkkkkk.
Andre, querido,
Excluireu ri tanto com os “cometários” que quase fui parar em um deles! 😂
Mas olha… receio de comentar é coisa de quem ainda não entendeu a bagunça boa que a gente faz por aqui já me rendi à sua carta branca, agora é tarde demais! E sobre esquecer de votar… a verdade é que fiquei tonta só de imaginar o que aquelas cozinheiras vão aprontar. Tô entre o “susto gourmet” e o “mistério com alho e poesia”. Aceitam prato com nome inventado também?
Beijo com riso, rsrs
Fernanda
Amigo, não tem como comentar sem resenha .Desculpa!
ResponderExcluirPode escrever à vontade.
ExcluirTambém faço isso no seu blog, no do Dudualdo e no do Azarildo.
E de vez em quando em outros por aí...
Risos... Um segredo, Andre: adoro ler os comentários lá. É como se eu sentasse com cada um, pegasse uma xícara de café e colocasse o papo em dia, rindo, ouvindo, sentindo perto. É meu momento de aconchego mesmo quando estou com sono e cansada. Adoro!🥰
ResponderExcluirFernanda
Kkkkkkkkkkk mas é isso mesmo!!!
ExcluirBoa noite de Paz, André!
ResponderExcluirSuas postagens estão abrindo o apetite do leitor...
Até a dobradinha (o bucho enfeitado) que comentei no outro post saiu hoje.
Deve ser o rondelli que gosto muito.
Tudo que apareceu até agora eu gosto.
Estou prestes a experimentar qualquer dia a tal moela à milanesa... acredita?
Tenha dias abençoados!
Abraços fraternos
Cê viu! A dobradinha apareceu!!!
ExcluirMenina, moela a milanesa eu nunca vi.
Depois me fala se é bom.
Imagina só esse encontro de uma mama preta e uma mama italiana!!! Tinha que sair coisa boa daí.
ResponderExcluirTeu texto me fez lembrar que faz tempo que não como uma dobradinha com feijão branco. Delícia! Mas sem farofa, por favor.
Não vou arriscar dar palpite que prato será esse revelado na próxima postagem.
Mas já quero a receita.
Esse encontro existiu e muito.
ExcluirAcho que nas cozinhas das fazendas antigas era até corriqueiro.
Sabe que eu também tive vontade de comer dobradinha. Mas anntes tenho que dobrar minha esposa.
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
ora, ninguém é obrigado. A minha também não gosta, diz que não gosta da textura molenga da dobradinha na boca....e sim, eu fiz piadinha maldosa quando ela me disse isso...a última vez que comi eu fiz. Meu sogro adorou.
ExcluirOlá André , vim agradecer sua visita lá no meu kantinho e me deparo com essa misturança boa de culinária italiana com culinária negra aqui do Braisl . Somos uma mistura boa mesmo não só de raça e de cor , mas também de culinária e outros aspectos . Deu até fome , agora em hora de almoço . Gosto muito dessa farofa com miúdos de frango e sem muito riquefu. Aqui tem uma casa de carnes que faz um frango cheio coma farofa úmida de comer de joelhos . Abraços e curiosa prá saber que macarrão será esse com outro ingrediente que não seja farinha .Mistério ....rsss
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