sábado, 6 de fevereiro de 2021

Borracharia Brás Cubas



  

- Interessante o nome da borracharia do senhor.

- Brigado! – respondeu o borracheiro sem olhar pra mim.

- Borracharia Brás Cubas, - continuei intrigado – como foi que o senhor chegou nesse nome?

O borracheiro retirou o pneu furado e colocou-o no chão, depois começou a desmontá-lo e ainda sem olhar pra mim, respondeu:

- É que eu sou comunista.

- Comunista? Como assim? Não entendi...

- Uai, comunista! O doutor não sabe o que é comunista?

Pelo tom áspero de sua voz, pareceu que o borracheiro não gostou muito do meu interrogatório, mesmo assim, resolvi continuar perguntando:

- Eu sei o que é comunista, mas o que tem a ver o nome Brás Cubas e o comunismo?

- Me desculpe doutor, - falou o borracheiro se levantando com a câmara de ar na mão e se dirigindo até uma bancada – mas é só o senhor pensar um pouquinho. Brás Cubas é o ajuntamento de Brasil e Cuba.

“Meu Deus! – pensei surpreso – Eu aqui achando que o borracheiro era uma pessoa culta e ele me vem com uma frase dessas!”

- O senhor é doutor mais não sabe de algumas coisas que nós aqui da periferia sabemos. – falou o borracheiro, agora parecendo empolgado com o assunto.

- Ah é? E o que o senhor entende de comunismo?

- Entendo muito mais do que o senhor acha que eu entendo! Sigo as ideias de Raul. Saiba o senhor que o Raul foi um grande pensador comunista.

- Raul? Que Raul? – perguntei cada vez mais surpreso. – O Raul Castro, irmão do Fidel Castro?

- Não meu amigo, - respondeu o borracheiro com um sorriso expressando desdém pela minha pessoa – o Raul Seixas!

- Raul Seixas?

- Isso mesmo doutor! Raul Seixas! Da sociedade alternativa, do novo Aeon, quem não tem colírio usa óculos escuros! O senhor não entende as mensagens? O Zé entendeu...

- Zé? Que Zé? O Zé Dirceu?

- Não doutor... O Zé Ramalho!

- Zé Ramalho?

- Isso doutor! Nós vivemos uma vida de gado! – falou o borracheiro olhando para o além como se fizesse um discurso para uma multidão. -  Zé toca Raul! Um dia a sociedade alternativa vai descer no nosso planeta e a gente vai pra outra galáxia.

- A gente quem? Eu e você?

- Não doutor. – respondeu o borracheiro balançando a cabeça. - Tá na Bíblia! O senhor lê a Bíblia? Pessoas assim como o senhor, que acha que sabe de tudo não vão! Só nós... Os puros de coração é que vamos ser arrebatados! Pessoas que acham que sabem tudo são arrogantes.

- Arrogantes não vão ser arrebatados? – perguntei maliciosamente.

- Não doutor! – respondeu o borracheiro apontando o dedo para mim. - Mas tem uma salvação pro senhor.

- Ah é... Ufa! E qual é a minha salvação?

- A metamorfose ambulante.

- O que?

- A metamorfose ambulante! Se o senhor preferir ser a metamorfose ambulante, ao invés de ter essa sua velha opinião formada sobre tudo; quem sabe o senhor não vai também.

Não sei como e nem por quê, mas essa última resposta do borracheiro me acertou feito um soco no estômago! Tanto, que depois dela eu resolvi me calar e saí de lado, fingindo que falava ao telefone, esperando ele terminar o serviço.

Eu saí da borracharia Brás Cubas diferente. Meu intelecto me dizia que as coisas que o borracheiro falou, eram coisas malucas e sem nexo, que só poderiam existir na cabeça de um lunático, mesmo assim, uma pulga ficou atrás da minha orelha. Será que querer sempre dar uma de intelectual, e brigar para ter razão em tudo, não nos transforma em pessoas arrogantes? Aquele maluco me deu uma lição. Acho que vou preferir a metamorfose ambulante, a partir de hoje. Vai que a nave me esquece no dia do arrebatamento...



 

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Fauda




 Estamos assistindo um seriado chamado Fauda, que fala sobre a eterna guerra entre Palestina e Israel.

O mais interessante é que apesar do seriado ser israelense ele não puxa a sardinha para o lado de Israel, e mostra igualmente, absurdos cometidos pelos dois lados.

Basicamente a história gira em torno de um agente israelense que pensava ter matado um líder terrorista palestino até que esse terrorista reaparece. À partir daí, o conflito, os planos, os atentados, a guerra nas ruas e entre as famílias começam de uma forma que parece não ter fim.

As cenas são fortes, os diálogos são fortes, as desculpas que os dois lados dão para explicar suas atitudes também são fortes.

 Definitivamente, depois de começar a assistir esse seriado eu passei a entender um pouco mais os motivos desses povos que são inimigos a milênios, e entendi que os dois estão errados.

Não dá para tomar partido de um lado ou de outro, a não ser que você esteja inserido no contexto político, social e religioso de algum desses povos.

O cenário é praticamente o território da faixa de Gaza, um pouco da Palestina pacificada e um pouco de Israel também pacificado. Mas gente! A paz que aparece em alguns lugares, parece tão frágil, que a gente pensa que pode acabar de um segundo para o outro e sem motivo algum.

Vale muito a pena assistir esse seriado. Mas como eu disse: Tudo nele é chocante, e talvez perturbador para pessoas influenciáveis.

Recomendo, mas vá com calma.