sábado, 28 de junho de 2025

Próximo!!!!




Humberto estava na fila há 20 minutos, quando finalmente uma voz anasalada gritou: 
— Próximo!
Ele olhou pra atendente dando um sorriso simpático e disse:
— Bom dia!
— O que você deseja? — respondeu a mulher em meio a um suspiro.
— Eu quero tirar a segunda via do meu...
— Já pagou no banco?
— Como senhora?
— Banco! Já pagou no banco?
— Não entendi...
— Tem que pagar no banco antes de fazer o requerimento. Já pagou no banco?
— M... Mas, pagar o que no banco senhora?
— Tem que pagar a segunda via do RG e trazer o comprovante — rosnou a mulher entre os dentes.
— Mas aqui não é o lugar onde se resolve tudo mais rápido.
— O que não quer dizer que você não tenha que antes fazer o pagamento! — respondeu ela olhando por cima da cabeça de Humberto e gritando. — Próximo!
— Eu não sabia que tinha que...
— Tem que pagar no banco! Próximo!
Humberto correu. O banco ficava dentro do próprio prédio.  Pegou a senha, esperou mais dez minutos, pagou, correu de novo até a outra repartição, entrou na fila novamente, e depois de mais meia hora escutou: 
— Próximo!
— Oi, bom dia mais uma vez! — disse com sorriso meio simpático.
— Pagou no banco?
— Paguei, aqui está o comprovante.
— Cópia do RG antigo, ou CNH e a certidão de nascimento original.
— Como?
— Cópia do RG antigo, ou CNH e a certidão de nascimento original.
— Não entendi. — falou Humberto franzindo a testa.
— Não touxe?
— O quê?
— A cópia do RG antigo, ou CNH e a certidão de nascimento original.
— Precisa?
— Sim!
— Mas... Porque a senhora já não falou isso antes?
Ela olhou para o Humberto com a paciência de quem olha para uma criança arteira; deu uma bufada, ajeitou os óculos, pegou uma caneta e grifou em um papel: 
— Agora tem que trazer a cópia do RG antigo, ou da CNH, e a certidão de nascimento original. 
— M... Mas...
— Próximo!



Coloquei a imagem das capas dos meus dois livros ao lado.
Se quiser adquirir algum deles, é só clicar na imagem, e será direcionado para a loja.
Também tem o link na aba: Onde me encontrar, para adquirir o segundo livro na versão e-book, na Amazon. 


12 comentários:

  1. AFFFFF....Quantas vezes isso acontece!!! Má vontade e preguiça dos atendentes! HAJA!!!
    Linda crônica! abração,chica

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    1. Chiquinha; quando te atendem bem e rápido é que é que a gente estranha.
      Kkkkkkkkkkkk.

      Um abração!

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  2. Andre,
    Nem vou dizer nada além de que:
    Num è assim mesmo? Fico brava, mas fazer o quê?
    Essa semana fui no Posto de Saúde e
    indicada a ir na regulação, lugar de aferir
    pressão e glicemia. O atendimento é rapidinho,
    mas na Sa feira, demorou... a chamar,
    e uma vez lá dentro demorou... porque a enfermeira
    e a assistente consternadas debatiam sobre de quem
    era a responsabilidade de a Moça ter morrido.
    Que Moça? Oras a do Vulcão, enquanto isso eu ficava
    presa com o aparelho de pressão apertando
    meu braço e a fila lá fora... só aumentando.
    Fazer o que? Ficar na minha, porque as duas
    nem olharam na minha cara, só aquele acontecimento
    tinha relevância...
    Sai e esperei um pouco lá
    fora para vconferir se elas iam chamar
    logo ao proximo da fila. Mas que nada!
    Deixei a fila enorme e fui embora.
    Saudade do senhor là no Espelhando, viu?
    Bjins de bom fim de semana.
    CatiahôAlc.

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    1. Olá minha amiga!!
      Verdade, estou devendo visitas há muitos amigos.
      Essas situações que você citou relmente acontecem, e é triste né?
      Um abraço!
      Tenha um lindo domingo.

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  3. Querido André,

    Li sua crônica como quem assiste a um clássico da vida real e não consigo comentar pequeno aqui rsrsrs . Uma tragicomédia administrativa onde Humberto, coitado, só queria um simples pedaço de papel. E me vi. Não como Humberto, veja bem. Eu seria aquela da fila atrás dele, olhos arregalados, tentando prever qual seria o próximo plot twist burocrático. Talvez: “Agora falta o comprovante de que você existe desde 1987 e não foi clonado em 1994”.
    A lógica da repartição pública, como você bem retratou, é uma entidade mística, com seus próprios rituais: pagar antes sem saber o que vai precisar, esperar sem saber se será atendido, e sair de lá com a sensação de que perdeu um jogo cujo tabuleiro nunca foi mostrado. A atendente, claro, cumpre seu papel de Oráculo do Balcão. Só responde o que você não perguntou e só informa o essencial depois que você já fez tudo errado. E tudo isso com aquele tom de voz que mistura tédio secular com um leve desdém por sua existência. Mas confesso: ri alto com o “tem que pagar no banco! Próximo!” a pontuação perfeita entre impaciência institucional e vocação teatral. A fila avança, meu caro, mas a alma retrocede. Agora, entre nós: Humberto errou? Sim. Mas quem nunca tropeçou no abismo entre pagar a taxa e saber por quê? A repartição pública é o escape room da vida adulta. E quem sobrevive, merece medalha. Ou pelo menos a segunda via.
    Com empatia e risos kkkkkkk de desespero,

    Fernanda

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    1. Olá Fernanda!
      Que legal que apareceu aqui.
      Realmente, a gente tem que rir, para não chorar né?
      Eu tenho uma história hilária com repartição pública.
      Hilária, mas no dia fique bravo pra caramba.
      Kkkkkkkkkkkkkk.
      Tenha um lindo domingo.

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  4. Humberto que é um tonto, deveria procurar saber antes de qual documentos precisaria...ah, brasileiros....

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    1. Kkkkkkkkkkkkkk.
      Ele teve culpa também.
      Obrasileiro é assim.

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  5. Que texto misterioso e cheio de potencial! 💙 Adorei a forma como deixas espaço para que cada leitor interprete o "próximo" conforme a sua própria história, entre o enigma e a expectativa. Isso desperta a curiosidade e mantém a mente atenta.

    💜 Desejo-te uma excelente semana!
    Com carinho,
    Daniela Silva
    🔗 https://alma-leveblog.blogspot.com
    🦋 Visita também o meu cantinho 🌸

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    1. Olá Daniela.
      Que bom que gostou.
      Obrigado pela visita.

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  6. Boa noite de paz, André!
    O atendimento público é precário e apressado, muitas vezes.
    Temos que nos informar bem antes de ir a um tal lugar para fazer algo, caso contrário, corremos o risco de dar viagem perdida...
    Sua descrição foi perfeita num atendimento ao público.
    Tenha um julho abençoado!
    Abraços fraternos

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