domingo, 27 de abril de 2025

Lobão, 50 anos a mil!




Atenção! O texto contém spoilers, porém, são leves e o próprio Lobão já deu esses mesmos spoilers em várias entrevistas, aqui, alí e acolá!


Imagine a cena: Lobão e Cazuza, no velório do Júlio Barroso — que devia estar morrendo de rir lá no além —, aproveitando que todos estavam sonolentos pelos cantos, resolvem homenagear o amigo cheirando uma carreira de cocaína em cima do caixão. Essa história quase inverossímil aparece logo nas primeiras páginas do divertidíssimo livro: Lobão, 50 Anos a Mil.

João Luiz Woerdenbag Filho — Lobão — escreveu sua, até então, biografia, e na minha opinião, foi honesto em sua escrita! Não teve pena de si mesmo. Não procurou desculpas em outras pessoas, assumiu seus erros, não camuflou suas atitudes, confessou e não tentou se defender usando de falso moralismo — não!

Ele também não se condenou a nada além do que a vida já não o havia condenado, e aqui está a sacada do livro. Apenas contou suas aventuras, sem julgamento, e isso é delicioso!

Desde criança ele já se mostrava um menino que poderia ter um futuro brilhante. Suas brincadeiras, o afeto pelos pais e tios, o afeto por seus animais e a criatividade com que ele colocava tudo isso dentro do balaio da vida é bem interessante.

O começo do livro narra os primórdios da escola, os amigos que cultivou durante toda a vida, a música desde sempre fazendo parte de sua formação e os problemas internos e familiares. Sua infância foi abastada e recheada de ternura, religião (das mais variadas), filosofia, cultura, poesia e pitadas de realidade!

Se você conhece um pouco da vida do cantor, pode assim como eu pensar: "Caramba! Eu não quero saber da infância. Já queria começar nas doideiras!"

Mas não, a parte da infância é igualmente prazerosa de ler e te faz entender o adulto em que o João Luiz se tornaria.

Na adolescência ele já era um baterista habilidoso e uma pessoa agregadora, que formou várias bandas, com muitos amigos e com muitos desconhecidos.

Com 17 anos, quando a escola já lhe parecia um brinquedo muito chato, ele, mesmo sem querer muito, foi aceito como baterista da banda Vínama, que tinha em sua formação o Lulu Santos e o Ritchie, pessoas que se tornariam astros do primeiro time do rock nacional.

O Vínama trouxe para seu staff o ex-tecladista Patrick Moraz, da banda Yes, o que acabou a implodindo. Patrick se julgou maior que o Vínama e acabou saindo e trazendo com ele alguns integrantes, incluindo Lobão.

A mulher do Patrick foi a primeira mulher que realmente mexeu com Lobão e foi a primeira pessoa com quem ele tentou formar um lar.

Mas os dias eram malucos, e logo o Lobão conheceria Júlio Barroso e começaria a tocar em sua banda Gang 90 e as Absurdetes, e excursionar pelo país.

Lobão se apaixonou perdidamente por Alice Pink Punk, uma linda menina que fazia backing vocal na banda do Júlio Barroso, e que era namorada do dono da banda. Mais uma vez ele não aguentou e roubou a namorada do amiguinho.

Engraçado é que ele fala isso de forma tão natural e singela, que você até perde a vontade de falar: “Mas é um filho da puta esse João Luiz!”

Com a saída da Gang 90, Lobão, na dureza, começou a tocar e vadiar pelo Rio de Janeiro, participando de gravações de vários artistas e de várias músicas que virariam hits nos anos 80, até que encontrou Evandro Mesquita e o pessoal da companhia de teatro “Asdrubal Trouxe o Trombone”, e formou com eles e mais alguns amigos a banda Blitz.

Lobão gravou todas as músicas da Blitz, ajudou a compor algumas, e secretamente gravou um disco ajudado por muitos amigos. Ele percebia que a Blitz estava indo por um caminho musical quase infantil, coisa que não o agradava.

Então, depois de uma sessão de fotos e entrevista na revista IstoÉ, onde se posicionou maquiavelicamente em destaque em todas as fotos e falou mais que o homem da cobra, ele disse aos integrantes da Blitz que iria sair em carreira solo.

Munido da revista, onde era o destaque da capa, e com a fita master de seu disco debaixo do braço, Lobão encontrou facilmente uma gravadora. Acontece que a gravadora era especializada em samba, e não trabalhou o disco dele. Foi um fiasco.

Daí em diante, a vida do Lobão foi uma montanha-russa, hits e ótimas vendas em alguns discos, e fracassos retumbantes em outros.

Ele agregou um milhão de amigos durante sua vida e um milhão de desafetos também. O problema é que alguns desafetos eram pessoas importantes nas gravadoras, na justiça, na polícia, na política, e isso, com o tempo, cobrou seu preço.

Lobão e seus fãs foram perseguidos. Revistas que mais pareciam exames ginecológicos, eram feitos nas meninas que iam até seus shows. A polícia, "pau mandadamente", pegava muito no seu pé, mas ele, como sempre, combativo, não desistiu de fazer show e nem de denunciar esses abusos.

Lobão narra de forma hilária o episódio de sua prisão “arranjada”, por uma quantidade quase inexistente de cocaína e maconha em seu bolso. A cena do juiz corrupto foi muito engraçada, e a história toda da sua vivência entre os presos também foi muito divertida.

O livro continua contando a trajetória do cantor e compositor, disco após disco.

Conta sua entrada na bateria da Mangueira, conta de seus acidentes de moto, das suas quase overdoses, da morte de sua mãe e de seu pai. Conta seu rompimento com as gravadoras tradicionais e a sua luta para a numeração dos CDs.

Conta também a trairagem que o Caetano e o Gil fizeram nesse episódio da numeração dos CDs e como isso impulsionou Lobão a fazer seu próprio selo de música, onde ele gravava seus discos e distribuía gratuitamente para quem comprasse uma revista de sua autoria chamada Outra Coisa.

No final do livro, a gente chega à conclusão de que o Lobão sempre fez a coisa certa. Muitas vezes do jeito errado, mas o certo para as situações que apareceram em sua frente.

Ele parece ser daqueles amigos para todas as horas. Nunca abandonou uma causa em que acreditava, mesmo que isso o ferrasse lá na frente.

Lobão enfrentaria um leão por sua família, e estava pronto a abandonar qualquer coisa que estivesse envolvido, se alguém que amava precisasse dele.

Um baita livro.

Diversão garantida.

Risadas e filosofias meditativas garantidas também.

Parabéns, Lobão. Lindo livro e linda vida, louca vida!




terça-feira, 15 de abril de 2025

Entre Karmas e decisões





Já aconteceu com vocês de encontrarem alguém que nunca haviam visto e o "santo não bater"? Do nada, dar vontade de sair de perto, falar mal, ou dar uns tabefes?

Que coisa de maluco isso, né?

Logicamente que não vamos maltratar esse indivíduo, até porque nunca havíamos visto a fuça dele anteriormente.

E outra; pega essa visão, que essa é pior que a outra: já aconteceu de vocês terem um parente, um amigo ou alguém que você gosta muito, mas ele é um ser desprezível, que só arruma problemas, se mete em confusões e, por mais que você avise, a pessoa não melhora? Esse sim a gente deveria dar uns tabefes, mas a gente, inexplicavelmente, gosta muito dessa pessoa e sofre por ela ser tão ruim para ela mesma.

Esses dias eu andei pesquisando e descobri que várias religiões e filosofias explicam essas coisas inexplicáveis, cada uma do seu modo, mas que no final, tudo vai girar mais ou menos em torno da lei do retorno.

Saca a lei do retorno? Aquela que diz que toda ação gera uma reação, ou, mais popularmente falando — tudo que se planta, se colhe.

Os orientais acreditam em Karma, que tanto a pessoa que só faz coisas erradas está pagando, quanto a gente que está sofrendo também está pagando, e, sobre a pessoa que não conhecemos e já não gostamos de cara, pode também ser um Karma de vidas passadas, uma dívida que temos com essa pessoa ou que ela tem conosco.

As religiões de origem africana dizem que forças da natureza, ou dos orixás, ou algumas entidades, estão aí cobrando e influenciando essas pessoas.

Por isso elas são induzidas a fazerem suas cagadinhas e a gente, de tabela, sofre, porque nossos guias são de luz e amor — e bonzinhos — fazem a gente ter dó e querer ajudar.

Os cristãos falam que as pessoas são pecadoras por natureza, e que o mal está ao redor, rugindo como leão e pronto para atacar.

Os demônios detestam quem ama a Deus, por isso eles só querem destruir. Então, como ensinou Jesus, nós devemos amar ao próximo, mesmo os inimigos, e tentar demovê-los do caminho da perdição.

E aqueles a quem não gostamos logo de cara? Segundo a teologia cristã, isso pode ser um toque do Espírito Santo que habita nos convertidos dizendo: cuidado que esse aí é tranqueirão!

Moral da história? Os bons de coração e de cabeça boa sofrem pelos despirocados — mas não deveriam!

A gente deveria ter um limite para ajudar os que querem se destruir. Deveríamos estabelecer uma barreira sã, que seria uma proteção para o nosso bem-estar.

Posso ajudar desde que essa ajuda não me machuque, pessoal, emocional e financeiramente.

Nós teríamos, ou melhor — nós temos, que aprender isso para podermos viver melhor. Tanto com os outros, quanto com nós mesmos.

E o fato da pessoa que não gostamos logo de cara?

Esse é um problema sério, onde temos que agir mais com a razão do que com a emoção. Podemos sim nos aproximar dessas pessoas e conhecê-las sem entregarmos as "fichas" para elas. Sem nos desnudarmos. Ir conhecendo aos poucos e quem sabe, depois de um tempo, perceber que nossa primeira impressão era bobagem, ou perceber que realmente nossa primeira impressão estava certa.

Agir assim é melhor que ter preconceito.

É gente... a vida não é fácil, mas a gente tem que ir aprendendo se a gente quiser ser feliz.

 


sexta-feira, 11 de abril de 2025

Se nem do brejo a gente sabe — imagina do Josefo...



 Eu escutei um pastor muito querido, falando:

Historicamente, não bíblicamente, Flávio Josefo escreveu que Jesus ressuscitou no terceiro dia!

"Como?" — eu pensei, vasculhando lá no fundo da minha cachola. — "Flávio Josefo falou isso?"

Me desculpem começar o texto assim, afobado e sem dar explicações, isso é porque esse assunto na minha humilde (pero no mucho), opinião, é muito interessante.

Antes de tudo tenho que te explicar (se você já não souber), que Flávio Josefo era um cronista quase contemporâneo a Jesus. Se não foi exatamente contemporâneo, esteve ali bem perto. 

Hoje ele seria um tipo de repórter que escreve nos jornais, TVs e sites. 

Seus escritos acabaram virando os documentos de uma época e servem como fonte de pesquisa para estudos nos tempos atuais.

Encucado com essa afirmação do pastor eu fui pesquisar e descobri umas coisas interessantes: 

Uma delas é que o exemplar mais antigo que temos hoje desse artigo onde Flávio Josefo fala sobre Jesus é do século XI. Mas o original onde ele teria escrito, seria mais ou menos de 90 d.C., ou seja, mil anos antes.

Como sabemos — porque não somos orelhudos — na Antiguidade não existia internet, nem jornal, nem revista e muito menos livros impressos. Tudo era passado para a posteridade pela tradição oral, (de boca a boca), ou copiado de um pergaminho para outro, e para outro e para outro... geralmente pelos monges copistas.

Os monges copistas, apesar de sua fé, trabalhavam para a igreja, e por isso, existem indícios fortíssimos que Josefo não escreveu sobre ressurreição, mas apenas escreveu sobre a pessoa de Jesus e de seus feitos em vida.  

Mas estudar o passado pode ser um problema.

Aqui do lado de onde eu trabalho, a três quarteirões, existe um terreno que estava há muito tempo para a venda e ninguém comprava. Até que um homem que veio de outra cidade comprou e começou uma construção.

Acontece que com 2 metros de fundação já brotou água nas colunas, e por isso o homem teve que fazer brocas de 28 metros, até alcançar a rocha, abaixo da água. Isso deu o maior bafafá, porque o homem se sentiu enganado.

Eu, curioso, comecei a perguntar para os velhinhos que conheço sobre aquele terreno e obtive respostas que não batem umas com as outras.

Um me disse que ali, onde é o terreno, era uma mina d'agua que jorrava sem parar. Era até a nascente de um córrego, e ele se lembra de ir buscar água ali para sua mãe.

Outro me disse que ali era uma lagoa, e que nadou muito e pescou muito naquele lugar.

Outro me disse que a lagoa era no quarteirão de cima, e que dessa lagoa saía um rego d'agua que passava naquele terreno.

Outro me disse que ali era um brejo e que ele ia nos finais de semana caçar rãs nesse brejo junto com seu pai.

Todos eles juram que lembram de tudo claramente e que estão falando com toda certeza.

Então... E o Flávio Josefo? Se a gente não consegue ter certeza, entrevistando pessoas vivas que conheceram o terreno que brotou água, como é que vamos saber se algum monge, a pedido de algum padre, ou cardeal, ou até do Papa, não acrescentou o episódio da ressurreição no documento do cronista?

Aqui, a resposta só pode ser uma: Se para a sua fé, é importante que o Josefo tenha escrito sobre a ressurreição, então acredite que ele escreveu. 

Mas, se sua fé em Cristo for a mesma independentemente do que Josefo tenha escrito, então esqueça esse assunto — porque parece que ele não escreveu mesmo... 



sábado, 5 de abril de 2025

Fã de direita não é bem vindo? Então vou lá vaiar um pouquinho...

 


Me desculpem por voltar ao assunto que tratei aqui no blogue numa postagem recente: Artistas que usam seus shows para fazer propaganda de suas ideologias políticas.

Eu tinha que voltar ao assunto, porque a notícia do momento é que o vocalista Nasi, da banda Ira! (que eu citei na minha postagem), mandou as pessoas de direita irem embora de seu show.

Ele disse que as pessoas que são de direita não entenderam a banda, que não deveriam mais ir aos shows, nem comprar seus discos; e que fã de direita ele não quer, pois, segundo ele, esses não fazem falta.

Esse fato mostra duas coisas:

Primeiro, é que o blogue está antenado com o que está prestes a acontecer. Parece que estou sabendo “ler” a aura dos dias em que vivemos.

Segundo, é que infelizmente o Brasil está chato mesmo.

As pessoas não podem mais nem ir a um show desopilar dos problemas do dia a dia, que são bombardeados com mais problemas.

O cara sai de casa para curtir a arte de alguém que admira, e acaba ouvindo um discurso político, que muitas vezes nem concorda, e ainda é maltratado.

Será que não dava para colocar no ingresso do show uma nota explicativa, tipo: Venda proibida para pessoas de direita.

Se o ingresso viesse assim vários problemas seriam resolvidos. O vocalista não seria vaiado, o público teria mais espaço para dançar, pois pelo menos metade do público não iria, e os shows seriam mais espaçados, pois muitos contratantes deixariam de contratar a banda, assim os integrantes teriam mais tempo de descanso entre um show e outro e não ficariam tão irritados.

Eu não ri com o episódio, apesar de parecer uma cena de comédia. Não ri, porque gosto da banda. Gosto realmente. Já fui a vários shows e escuto as músicas sempre. Conheço todas as músicas e sei cantar todas as letras. Mas infelizmente o vocalista disse que eu não faço falta e disse que pessoas como eu não deveriam ir mais a seus shows.

Bom... Como o rock é antes de tudo uma atitude rebelde; ele que se dane! Eu vou aos shows, vou cantar, e se ele fizer propaganda política eu vou vaiar! Talvez até leve um tomate podre para jogar nele.

Jogar bem no meio da testa... mas com muito carinho! Afinal, eu sou fã do Ira!

Já que ele tratou os fãs de direita como persona non grata, pelo menos essa minha ironia do tomate lava minha alma no texto, já que pessoalmente eu não teria coragem de maltratá-lo, pois minha mãe não me ensinou essas coisas feias.

 


quarta-feira, 26 de março de 2025

Procura-se o perdão! Reflexão sobre pais e filhos.





Faz um tempo que eu tenho pensado sobre a parábola do filho pródigo, mas com uma interpretação diferente do que todo mundo geralmente interpreta.
Eu sei que teologicamente o pai do texto significa Deus e que os filhos perdidos são os pecadores do mundo; mas eu resolvi analisar o texto literalmente sem interferência teologica e cheguei numa conclusão que vou apresentar depois desse mini-conto:

Rodrigo um adolescente filho de Lucas, estava desaparecido há três dias. Três penosos dias, onde Lucas procurou por todos os lugares possíveis em que Rodrigo poderia estar e não encontrou nem pistas sobre seu paradeiro. 
Procurou nos arredores da escola, procurou nas praças vizinhas, procurou nas casas dos amigos, colocou no jornal, deu queixa de desaparecimento na polícia, foi a hospitais, colocou um comunicado na rádio e nada.
Durante essa busca, um filme passava na cabeça de Lucas. Um filme sem diálogos onde ele via seu filhinho desde bebê, crescendo, engatinhando, ficando menino e virando um adolescente. O curioso é que Lucas só via imagens do filho nesse seu filme. Ele não se lembrava de situações onde os dois estavam juntos. Ele não se lembrava de uma brincadeira entre os dois, de uma conversa de pai pra filho, de um abraço ou um beijo. Ele não se lembrava de nada disso.
No seu filme Lucas apenas se lembrava das vezes que deixou Rodrigo cedo na escola e de vê-lo trancado no quarto à noite. Dos domingos, Lucas não tinha lembrança de passeios, companheirismo, de amizade. 
Esse filme começou a lhe incomodar.
Finalmente apareceu a informação de que Rodrigo estaria na casa de um traficante. Lucas foi até lá buscar o filho e quando entrou pela porta da "boca", sentiu seu estômago embrulhar, o lugar era sujo, fedia a urina. Pessoas sentadas nos cantos dos cômodos usavam crack, enquanto outras dançavam uma música inaudível, sorrindo sem motivo, e outras dormiam amontoadas, parecendo cadáveres em uma guerra.
Lucas reconheceu o seu menino deitado no chão, todo sujo, com a roupa mijada e cheirando muito mal. Sua camiseta estava dura de vômito e seus olhos pareciam transe profundo.
— O que você quer aqui? — perguntou o traficante.
— Vim buscar meu filho, aquele ali de camiseta amarela.
— Ele me deve 150 reais.
Lucas abriu a carteira, tirou os 150 reais e deu ao traficante, que os pegou e colocando no bolso e disse: 
— Agora vai lá e pergunta pra ele se ele quer ir embora, — falou o traficante com um meio sorriso, apontando para o menino no chão. — Eu acho que ele gosta mais daqui do que de casa.
Lucas olhou assustado para o traficante, essas palavras caíram como uma bomba em sua cabeça! Foi só então que ele conseguiu entender por que o filme que há três dias passava em sua cabeça não tinha diálogos entre ele e o filho.
— Meu filho — choramingou Lucas se aproximando de Rodrigo — eu não estou nervoso com você. Eu tenho consciência de que eu sou o maior errado entre nós. Eu nunca fui seu amigo porque achava que só trabalhando eu já estava fazendo minha parte; mas na verdade eu estava errado. Não vi você crescer, não vi você começar a ler, a andar, a namorar, não vi nada. Por favor, vem embora comigo pra casa que eu te prometo ser um pai de verdade de hoje em diante...
Rodrigo levantou os olhos marejados de lágrimas, pegou na mão que seu pai lhe estendia, se levantou e abraçados os dois foram para casa.

Entenderam onde eu quero chegar na interpretação da parábola do filho pródigo?
Um dos filhos era infeliz na casa do pai, pegou sua parte da herança e saiu pelo mundo, e o outro diz textualmente que se sentia um empregado e que nunca tinha matado uma novilha para fazer um churrasco com os amigos, e só nesse ponto é que o pai diz ao menino que ele era tão dono de tudo quanto ele.
O pai do texto bíblico talvez tenha sido como o pai do mini-conto, um pai que não participou dos momentos que fazem a amizade crescer. Não brincou, não sorriu, não fez nada para os filhos se sentirem amados. A herança na minha interpretação, não é a questão principal, mas sim o amor de pai para os filhos, para fazê-los se sentirem filhos e reconhecerem a figura do pai.
Esse é um texto para os pais e para a mães pensarem:
Será que nós estamos fazendo a nossa parte, ou só o básico?



sábado, 22 de março de 2025

Cabo de guerra




A nossa sociedade está vivendo um momento tenso. Poucas pessoas extremadas, mas que fazem muito barulho, jogando um cabo de guerra e puxando para lados opostos, enquanto a maioria é levada para cá e para lá, sem saber que está sendo manobrada.

Esses dias eu assisti um podcast onde o Roger Moreira, cantor, compositor e fundador da banda Ultraje a Rigor foi entrevistado e praticamente concordei com tudo o que ele disse.

A ideia que nós dois temos de mundo é uma visão mais conservadora e mesmo assim, moderada em vários aspectos.

Eu olho para algumas pessoas que idolatram o Bolsonaro e percebo que, assim como os que idolatram o Lula, são pessoas iludidas ou carentes, que veem os políticos como se fossem um time de futebol para torcer, e não como um representante do povo, que deve explicações ao povo, que têm seus salários muito bem pagos e que tem obrigações a cumprir. 

Outro dia assisti a outro podcast, dessa vez  uma entrevista do Edgard Scandurra, que é um dos melhores guitarristas do Brasil na minha opinião. Grande compositor de muitas músicas que marcam a minha vida inteira. Pessoa que gosto muito e que assisti ao vivo a nove shows da sua banda, Ira! aqui na minha cidade e em toda a região; mas que quando fala de politica e ideologia fica difícil de escutar. 

Eu fico chateado quando vejo um ídolo que poderia ser um livre pensador, falando com tanta ideologia instalada em suas ideias, que não o deixam olhar além de sua bolha, mas o que me consola é que eu acho que não é culpa dele. Parece que a narrativa da esquerda é implantada como um mantra na cabeça desses caras e a ordem é ficar batendo numa tecla só!

Racismo, feminismo, meio ambiente, LGBTQIA+, vitima da sociedade e do capitalismo e pronto! Acabou o assunto. 

Ops! Quer dizer, acabou, não! Porque eles falam, falam, falam e falam esses mesmos assuntos sem parar! 

Olha que eu não estou dizendo que essas pautas não sejam importantes. O que estou dizendo é que ficar batendo insistentemente nessas teclas, sem trazer uma solução e ficar focado na ideia de nós contra eles, só vai gerar atrito e raiva em uma população, que como falei acima, é manobrada para cá e para lá.

Os direitistas radicais também vivem repetindo palavras de ordem, preocupados com ataques comunistas e outras tantas coisas que não estão acontecendo na verdade. Pode até ser que com algum tempo e com a ideologização da sociedade, isso venha a acontecer, mas por enquanto não estamos nem perto.

Mas o povo não quer mais saber dessas divagações!

O povo quer trabalhar, quer menos impostos, quer empreender, quer estudar os filhos, quer menos criminalidade, quer segurança, quer atendimento médico, quer comida na mesa. O povo quer saúde! Quer escola de qualidade. O povo quer ter condições de tirar férias com a família! O povo quer ter uma família! A maioria das mulheres querem ser mães e ter um marido e a maioria dos homens querem ser pais e ter uma esposa. 

Estão fazendo das minorias uma pseudo-maioria, porque é voz que mais grita! E como grita! 

E mesmo que você se enquadre na visão da esquerda, em um desses nichos menores e não compactue com a ideia deles, você também é excluído e aloprado por eles.

Eu estou selecionando meus interlocutores. Pessoas que gosto e por quem nutro carinho e amizade, mas que se tornaram chatos extremistas, batedores de uma tecla só, infelizmente estão riscados da minha agenda.

Não sou melhor que ninguém, mas não consigo mais participar de fogo cruzado.

No campo das artes eu consigo separar a obra do CPF. Ainda bem, né?

Eu acho que nós devemos fazer um exame em nossa consciência! Vamos acordar para a vida e encarar os problemas que realmente afetam a grande maioria da população. 

Briguinhas e polarização não vão levar a lugar algum... Nunca levaram.



segunda-feira, 17 de março de 2025

Seja platéia



Outro dia eu estava conversando com uma pessoa que entendia de tudo: política, história, matemática, religião, filosofia, futebol, automobilismo, mecânica, viagens espaciais, química, biologia, agronegócio, zootecnia, advocacia, veterinária, gastronomia, crime organizado, cinema, física quântica, engenharia molecular, arqueologia, cutelaria, churrasco, vinho, artes plásticas, música e gestão de pessoas.

Ele não deixava a gente falar e cortava todos a todo instante, colocando sua explicação para todos os problemas da vida.

Nós que estávamos conversando trocamos olhares que diziam: "Meu Deus, que cara chato do cacete!" Mas o sabichão, no alto de sua majestade, nem percebeu que estava sendo inconveniente.

Era como se ele vivesse em uma bolha onde fosse o único ser com direito a pensar e transmitir seus pensamentos e sentimentos.

Outro dia, eu conversei com outro amigo que gosta de viajar. E o assunto perto dele acaba sendo direcionado para suas viagens. Ele sabe tudo sobre os lugares que visitou. Tipo: se ele for em uma viagem de um final de semana na Argentina, na volta ele sabe fazer um relatório de todo o povo argentino! Suas crenças, pensamentos políticos, seus costumes, o que comem, o que gostariam de comer, como é o dia a dia, como funcionam suas leis, o que pensam os patrões, os empregados, os estudantes, os velhos, as mulheres e até o que pensam os pombos que dormem na praça central de Buenos Aires.

Ele já falou isso sobre os Estados Unidos, Chile, Canadá, Turquia, Itália, Peru, Nova Zelândia, Austrália, Amazonas, Sergipe, Serra Gaúcha, Florianópolis e Inglaterra... Deve faltar mais algum país ou estado, mas não me lembro agora.

Será que essas pessoas são mais dotadas de inteligência que a gente? Ou são mais dotadas de egocentrismo? Eu, que gosto de ver até onde a vaidade dessas pessoas vai, acabo inflando o ego delas, fingindo que estou acreditando, concordando e interessado nas balelas que elas dizem. E às vezes estou mesmo. Não porque concorde, mas porque gosto de conversar e ver até onde as coisas vão.

Meus amigos "mais normaizinhos" me chamam de cínico, mas não é verdade! Eu acabo me divertindo com esse tipo de gente boca-aberta, que se acha a última bolacha do pacote. Gosto de ver que eles realmente acreditam no que dizem.

Seria engraçado, se não fosse trágico, perceber que essas pessoas, apesar de se acharem tão importantes, na verdade são carentes. São amargas e necessitam de aceitação.

Ao longo da vida, eu percebi que muitas pessoas que se comportam assim podem até parecer descoladas, antenadas e alegres, mas, no fundo, são sérios candidatos a ter depressão e a cometer suicídio.

Muitas dessas pessoas imaginam que estão em um palco e que a plateia está ali para aplaudi-las.

Eu já vi isso até em pastores. O cidadão se acha mais importante que Jesus Cristo, e alguns fiéis também idolatram o cara, como se o motivo da reunião fosse ele, e não um culto a Deus.

A queda pode ser dura!

Logicamente, todos nós temos uma área da vida, um hobby ou um assunto que realmente conhecemos de verdade e sobre o qual podemos conversar e até ensinar. Mas nunca sabemos de tudo sobre nada! Não sabemos tudo nem sobre nós mesmos.

Mesmo os doutorados e PhDs não sabem tudo sobre suas especialidades.

Eu acho que, quando nos deparamos com pessoas como as que citei acima, não devemos isolá-las por completo. Devemos entender que elas são carentes. Entender que, apesar de serem "um pé no saco", elas precisam do palco e de espectadores.

Nem que seja para depois virmos ao blog e escrever um texto desses falando mal, mas a gente tem que aprender a conviver com eles.

Pense nisso.



segunda-feira, 10 de março de 2025

Torto Arado

 



Torto Arado é o maior sucesso literário nacional dos últimos tempos. Ganhou o prêmio Jabuti e vendeu mais de 800 mil exemplares.

A história é simples e não se complica na hora de passar sua mensagem.

Talvez o diferencial que o fez ser considerado um bom livro, seja a estrutura sem diálogos e os parágrafos enormes, narrados por 3 pessoas diferentes. Bibiana e Belonisia; meninas que cresceram durante a história e que contam em primeira pessoas as suas memórias; e santa Rita Pescadora, uma entidade que vive pelas redondezas da cidade, vendo, ouvindo e participando dos acontecimentos, desde tempos antigos onde era influente nos terreiros, até os dias de hoje, onde está um pouco esquecida.

O livro tem um tom místico e aborda muito uma vertente do candomblé chamada Jarê, que tem muita importância para a vida dos personagens e os acontecimentos ao longo da história.

A narrativa é totalmente focada nas mulheres. Todos os personagens principais são mulheres. Todos os acontecimentos são revelados sob o olhar das mulheres. As mulheres da trama são destemidas, fortes, determinadas, inteligentes, resilientes e sabem lidar com os problemas, resolvendo-os muitas vezes de forma violenta, mas com um pano de fundo que as faz ter razão em seus atos. 

Os homens do livro servem para fazer a parte má, ou são coadjuvantes sem tanta importância, a não ser o pai das narradoras, que é o líder religioso do Jarê, mas que quando incorpora sua entidade, ela também é mulher e veste roupas de mulher.

A gente entende porque esse livro chegou tão longe, se formos analisar o viés feminista que está tão em moda no momento. Isso o torna nos dias atuais, uma obra "politicamente correta." Pena que alguns autores e a própria editora Todavia, foram desmascarados, mostrando que tudo não passava de fachada. Muitos deles escreviam textos e narrativas feministas e progressistas, mas intra-muros, não passavam de picaretas, machistas e enganadores. O que prova, que mal-caratismo existe tanto na direita, quanto na esquerda.

Agora, falando tecnicamente, eu achei um absurdo esse livro ter ganhado o prêmio Jabuti. Absurdo de proporções estratosféricas.

Os personagens são pessimamente desenvolvidos. As meninas que narram a história são quilombolas, vivem em condições precárias, vivem com pessoas sem instrução e sem estudo, mas elas narram de forma culta, usando palavras de um vocabulário que elas não tem. Falam de coisas que elas não conhecem e até de acontecimentos que elas não participaram. Isso é um furo enorme. Você olha para a situação narrada e a forma como elas narraram e não vê um personagem verdadeiro. Na verdade, o que a gente vê é a narração do autor, palavras do autor e não palavras da personagem. Eu particularmente achei que o autor desrespeitou a origem das personagens, o que, em uma análise mais delicada, pode deixar a impressão de que o próprio autor não dá o devido valor às pessoas daquela realidade, pobre e inculta.

O livro é dividido em três partes, cada narradora, conta uma das partes da história sob a sua ótica, mas todas elas usam a mesma linguagem, e se elas não avisassem a nós leitores, que elas é que iriam contar a história à partir daquele ponto, a gente nem saberia que mudou. Todas são idênticas, inclusive a entidade santa Rita Pescadora.

Como história, como contexto e como denúncia, o livro é correto. A narrativa das condições precárias, que os empregados, negros, quilombolas, mulheres e meeiros passavam nos anos 1970, até meados dos anos 80, é importante. Como obra literária e desenvolvimento de personagens, o livro é ruim.

Na média, a nota para Torto Arado é 6, mas como viés feminista e ideológico ele entrega o que se propõe com louvor.

Um livro para ficar para história, e servir de exemplo de uma época onde o viés político valeu mais do que a técnia lierária, em um prêmio tão decantado, como é o prêmio Jabuti.



sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Mais um bate papo




    Eu estou numa ressaca escrevística, por isso vou agora apenas fazer um bate papo bloguístico com vocês, amigos do blogue.

    O word fala que escrevística e bloguístico não existem, mas ele não sacou ainda que quem manda sou eu.

    Esses dias eu li o original de uma escritora. Eu faço esse serviço de ler originais e orientar o escritor sobre as incoerências, inconstâncias, falta de ritmo, falhas de continuidade, erros graves de ortografia. Erros cometidos pelo narrador (tem muito isso), e erros no tempo em que os acontecimentos se passam.

    Acontece que essa escritora ainda estava um pouco crua. Ela errava coisas muito básicas.

    A história dela era muito interessante, mas as coisas aconteciam aos montes, sem muita explicação, sem pé nem cabeça.

    O word quer que em vez de “sem pé nem cabeça”, eu escreva: “sem fundamento.” Ele é chato pra caramba!

    Bom voltando ao que estávamos conversando antes de sermos interrompidos; eu aconselhei a moça a ler alguns clássicos, a ler alguns bons e bem escritos livros policiais, que é o estilo dela, a ler alguns livros voltados exclusivamente para escritores e a aconselhei a ir com calma nos acontecimentos da história dela.    

  Mostrei pra ela como os personagens apareciam do nada, e até como uma personagem principal, não tinha passado, presente e apenas existia.

    Ela não gostou e me apresentou toda uma história daquela personagem, e eu gostei muito, mas tinha um problema: tudo estava apenas na cabeça dela.

    Quando eu disse: — Muito bom! Parabéns! Mas reparou que é só você que sabe disso tudo, e o seu leitor não?

    Putz! Isso caiu como uma bomba pra ela, que não tinha percebido até então que o livro era apenas um rascunho da grande ideia, cheia de pormenores, que ela tinha na cabeça.

    Ela parou de escrever o livro por enquanto, e disse que era para pensar melhor.

    Ficou chateada consigo mesma, (e talvez comigo, apesar de jurar de pé junto que não), mas resolveu parar o livro.

  Isso é muito mais comum do que a gente imagina. As pessoas têm ideias maravilhosas, mas não colocam tudo no papel. Por isso, vemos hoje alguns livros que seriam maravilhosos com 50 ou 100 páginas a mais.

    Uma outra escritora, que escreve histórias da época dos barões do café, entendeu o que eu estava dizendo e ajustou o seu livro, que também estava corrido e fora de ritmo, no final o livro ficou muito bom.

    Eu entendo que talvez bata uma preguicinha na hora de escrever, e o autor fica sem coragem de colocar tudo que está em sua cabeça, tintim por tintim, no seu livro. Mas essa preguiça estraga o produto final.

    Por isso que eu sempre digo: Vamos ler os clássicos, vamos ler livros bons do gênero que escrevemos, vamos estudar gramática!

    Escrever não é fácil!

    Até escrever um blogue não é fácil.

    Esse livro que coloquei a capa acima, é sensacional para quem quer se aventurar nessa maluquice, que é, escrever.

    

                   

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Show


 


 

E o show vai começar!

Abrem-se as cortinas.

O público está ali; esperando.

As luzes?

Ok!

O som?

Ok!

Um, dois, três, testando...

Um... Dois, três, testando.

Um... Dois...

As luzes? O som?

Ok!

Respeitável público. E agora com vocês, o mais espetacular show da terra!

Os risos, os olhares... Os dentes à mostra!

Alegria, alegria!

Vamos sorrir.

Respeitável público! E agora com vocês: O show!

O show da vida.

O palco é a sua vida, o público é você, a bilheteria é a sua sorte ou o seu azar, o roteiro é você que escreve, baseado num enredo sugerido por Deus.

Atores convidados: Seu pai, sua mãe, seus amigos, seus inimigos, e mais alguns figurantes contratados de última hora.

E o show vai começar...

Ela aflita, ansiosa, se contorce de dor. O homem de branco repete insistentemente:

— Força! Força! Vamos você pode, força!

E o show vai começar...

Ela se contorce de dor, e o show está começando, está dilatando, está despontando, está sangrando, está... Está...

Luzes?

Ok!

Som?

Ok!

Umas palmadas na bunda!

Um choro anuncia.

Um choro anuncia.

Um choro anuncia o começo de mais um show!

O show começou!

Ela sorri; ela é a mãe!

Ele sorri; ele é o pai!

Todos batem palmas... É o show.

O show da vida.

Respeitável público, aqui agora, tem inicio o show mais espetacular da terra... O ator acabou de nascer. O ator principal de seu show, mas o ator coadjuvante do show do seu pai, da sua mãe, do seu médico, e da enfermeira.

Enfim; nós todos somos um emaranhado de shows, que vem e que vão, com público ou não.

Você é o ator e ao mesmo tempo o “videspectador”.

Luzes?

Ok!

Som?

Ok!

Um, dois, três... Começou !!!!!

  


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Bate papo bloguístico

 



    Esse ano eu estou marcando minhas leituras. Em janeiro eu li três álbuns de histórias em quadrinhos e um livro.

    Na verdade verdadeira, o livro eu havia começado a ler em dezembro, mas como ele tem 1022 páginas eu considero uma leitura de janeiro.

    Eu quero ver se esse ano consigo ler mais. Pelo menos um livro por mês e no mínimo três quadrinhos.

    Para muitos essa meta parece ousada, mas depois que a gente pega o ritmo até que fica bom. O segredo é não se cobrar se por acaso não conseguir, pois se o negócio virar obrigação ao invés de diversão, aí já não é legal e nem prazeroso.

    Esse livro enorme que eu li se chama: O coração de Nanquim, e apesar de grande, até que não foi cansativo. No final, eu fiquei um pouco insatisfeito com o desenrolar da investigação, mas depois que pensei um pouco, acho que foi uma saída digna para a autora. Se ela fosse resolver o caso como a história merecia, talvez tivesse que escrever pelo menos mais umas 100 páginas.

    Talvez eu escreva a resenha desse livro aqui, mas dessa vez eu estou com ideia de gravar um vídeo com a resenha e publicar no Instagram.

    Falando em Instagram, qual é o Instagram de vocês? Coloquem nos comentários se tiverem. O meu é @andremansim, me procurem lá. A gente já é amigo aqui mesmo... Podemos nos seguir por lá também.

    Resolvi escrever esse bate papo para incentivar vocês a terem uma meta de leitura esse ano também. E quem sabe incentivar a vocês a incentivarem seus amigos, filhos, irmãos, vizinhos... Gente; vamos ler!

    A literatura é a única saída para o nosso povo!

    Falando nisso, eu vou começar a ler um livro que todo mundo (aqui no Brasil), falou bem: Torto arado.

    Vocês sabem que o Brasil está dividido entre direita e esquerda, e esse livro agradou mais as pessoas com inclinação à esquerda, mas; mesmo assim eu vou ler, porque foi presente de um amigo muito querido.

    Depois falo para vocês o que achei!

    Então é isso! Hoje foi só um bate papo! Na verdade, sempre é, né?

    Então tchau e... Vão ler alguma coisa, seus preguiçosos.

 

 

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Um ano de boas guerras

 


                Uma vez eu comecei a escrever uma série de crônicas disfarçadas de contos, onde um personagem chamado Valfredo lutava contra monstros, bruxas, duendes, participava bravamente de aventuras das mais malucas, à mando do rei, e para salvar o reino onde ele era um grande cavaleiro.

            Acontece que nessa época eu estava com várias batalhas internas e externas na vida, e o Valfredo foi uma válvula de escape para as situações que estava passando.

            Hoje olhando meus guardados eu me deparei com os contos do Walfredo.

            Graças a Deus os tempos mudaram e hoje a vida está muito mais tranquila.

            Mas a título de nostalgia, desse personagem que foi importante pra mim, vou republicar um dos contos e; se vocês quiserem, eu posso republicar outros.

            Esse foi um dos contos do Valfredo escritos quando as coisas já estavam entrando nos eixos, por isso tem um final feliz, “pero no mucho!”

 

 

Um ano de boas guerras

 

 

            Rufus, o cavalo do nosso herói Valfredo, vinha cambaleando pela estrada que trazia até a cidade.

            Com o corpo arqueado para frente e quase desmaiando de sono, vinha seu dono, só Deus sabe como, pendurado em cima de Rufus, que além de também estar exausto, ainda tinha que tomar cuidado e olhar onde pisava, para não dar nenhum tranco que jogasse seu dono ao chão.        O dia era 31 de dezembro, e o cavaleiro, mesmo absorto em pensamentos confusos, ainda conseguiu avaliar o ano e perceber que trabalhando juntos, os dois (ele e Rufus), passaram por muitos apuros. Muitas batalhas, muitas justas e muitos duelos. Os dois se aventuraram por todo o reino e enfrentaram inimigos de todos os tipos: bruxos, magos, cavaleiros negros, gnomos malvados, e praticamente um dragão por dia.

            O dia estava raiando quando o cavalo ganhou a praça central da cidade e se encaminhou para a casa de Valfredo.

            Eles viajaram a noite toda, porque no dia anterior haviam libertado a princesa Florinda, das mãos do perverso Rei da Malvitânia. Teoricamente, o rei a havia capturado e a fazia refém em seu castelo.   Valfredo teve que agir como um agente secreto e se infiltrar entre os cavaleiros de Malvitânia para poder chegar até o castelo sem ser notado, e assim, poder salvar a princesa.

            O problema é que na hora da fuga eles foram notados, por isso Valfredo teve que enfrentar os soldados da guarda real em uma batalha mortal. A guarda real da Malvitânia era conhecida por ter grandes espadachins, e bruxos com línguas mágicas que conjuravam os mais terríveis encantamentos. Mas, felizmente eles não tinham tanta experiência na arte da sobrevivência, e um a um foram caindo.

            Enquanto isso, Rufus se posicionou na porta do castelo, para que ele, a princesa e seu dono, saíssem em uma fuga desenfreada.

            Quando chegaram com a princesa Florinda até as portas de seu reino, o “Reino do Amanhã”, que é conhecido como um reino onde todos os problemas se resolvem, o trio foi surpreendido em uma emboscada, e acabaram descobrindo que foi a própria irmã da princesa, que querendo ser a única herdeira do reino, a havia traído e a entregado ao rei da Malvitânia.

            Valfredo apeou de seu cavalo, colocando-se como escudo entre os bandidos e a princesa, e nervoso falou para seu companheiro:

— Rufus! Corra com a princesa e a salve! Leve-a para o castelo de seu pai.

            O bom e obediente cavalo, saiu correndo com a princesa, enquanto Valfredo ficou ali enfrentando com fúria todos os cavaleiros que fizeram a emboscada. O aço das espadas soltava fagulhas a cada pancada que davam entre si.

            Depois de longos minutos de luta, Valfredo não aguentou e caiu no chão. Quatro cavaleiros que ainda sobravam de pé, cercaram Valfredo e quando iriam desferir o golpe de misericórdia, ouviram o som de uma trombeta e dos cascos dos cavalos da cavalaria real que chegava. Todos correram deixando Valfredo estendido no chão, mas com vida. À frente da cavalaria, vinha Rufus guiando a guarda real.

            Os cavaleiros chegaram e saudaram o cavaleiro que havia salvado a princesa, dando-lhe os cumprimentos reais.

            Já era tarde e Valfredo morto de cansaço, não quis ir até o castelo participar da confraternização de boas-vindas pela volta da princesa, por isso se despediu ali mesmo e decidiu voltar para casa, pois estava com muita saudade de sua esposa e de sua cama.

            Valfredo chegou em casa, apeou de Rufus, desarreou seu amigo, deu-lhe água, milho, e soltou-o no pasto para descansar. Então, sua esposa, quando percebeu que ele havia chegado, correu ao seu encontro, lhe deu um beijo de boas-vindas e os dois entraram em casa de mãos dadas. O brio do cavaleiro depois da demonstração de amor de sua esposa, até voltou, deixando-o mais animadinho.

            — Val, — falou a esposa balançando um papel. — O mensageiro do rei deixou essa carta pra você.

            O cavaleiro abriu a carta, e correndo os olhos, franziu a testa quando viu que nela havia as seguintes instruções:

            "Cavaleiro Valfredo, se apresente no castelo real, as sete horas da manhã do dia 1 de janeiro. Você tem alguns serviços agendados para este mês. Entre eles, deve caçar e matar o dragão que está assustando o povo do vilarejo dos camponeses plantadores de figo, depois, tem que enfrentar e encarcerar o cavaleiro negro que tomou o castelo do príncipe Joselito, e em seguida, se juntar a tropa de cavaleiros da meia cruzada, para expulsar os bárbaros das terras baixas do bairro da cidade norte. Depois, se ainda estiver vivo, deve lutar contra as gárgulas vampiras, que estão atacando os pescadores do rio que contorna as muralhas do nosso reino, e por fim, caçar a bruxa da floresta, que está amedrontando os caçadores de raposas, com feitiços e poções mágicas terríveis."

            Valfredo olhou para o céu, olhou para sua esposa que o fitava esperando sua reação, olhou para sua cama, que o convidava para descansar e com uma lágrima brilhando, que escorria pelo seu rosto, falou consigo mesmo:

             — Puxa vida... Como é bom ter saúde, disposição e poder começar o ano com tanta coisa para fazer! Assim me sinto cada dia mais vivo e útil. Triste deve ser aquele que não tem vontade de se virar, e vive só de sonhos... É, parece que mais um ano feliz vem por aí!

 

 

sábado, 1 de fevereiro de 2025

Yelowstone e a nossa moralzinha insípida

 



            Se você gosta de séries ou se liga no que está acontecendo nos streamings e na vida dos grandes astros de Hollywood, certamente já ouviu falar de Yelowstone.

            Yelowstone é uma série que conta a história da família Dutton, que é uma família que tem uma fazenda enorme no estado americano de Montana há 7 gerações.

            A fazenda é cercada por uma reserva indígena e pela cidade urbana, que parece estar um pouco estacionada no tempo, justamente porque a área rural onde a maior é Yelowstone, trava o avanço da modernidade.

            No seriado vemos que a família dos Dutton, chefiada pelo pai John, é uma família totalmente esfacelada. Os filhos: Beth, Kayce e Jamie, tem problemas uns com os outros e com o mundo. O pai, agora viúvo, se preocupa muito mais com ter poder e mandar na fazenda, na cidade, na lei, na política, do que na sua própria casa.

            Os americanos chamam suas fazendas de rancho, e o rancho Yelowstone tem vários cowboys que moram em um alojamento e que depois de ficarem ali por um tempo e participarem de algumas atrocidades, são marcados como gado pelo capataz Rip, e não podem mais sair do rancho; o que quase sempre eles escolhem fazer por livre e espontânea vontade.

            Na última temporada, o ator Kevin Costner, que interpretava o patriarca John Dutton, alegou problemas com o contrato e com sua agenda e não participou das gravações da série, por isso o seu personagem teve que sumir, deixando os fãs da série revoltados com o ator e com a direção.

            Bom... Vamos lá!

            A série é boa. Prende a gente do início ao fim. Tem reviravoltas absurdas, que fazem a trama ficar cada vez mais interessante.

            A família Dutton, principalmente a Beth, é uma personagem complexa, com incontáveis camadas psicológicas, que fazem dela uma vilã e heroína ao mesmo tempo.

            Na verdade, todos da família e alguns dos empregados são ao mesmo tempo heróis e vilões. E aqui é que está o “X” da questão, pela qual eu resolvi escrever essa crônica.

            Os Dutton fazem qualquer coisa pela sobrevivência de seu rancho, que está ameaçado pela reserva indígena e pela cidade que quer se modernizar, e invadir suas terras. Qualquer coisa mesmo. Matar, torturar, julgar, enforcar, sumir com os corpos, mandar na lei e na justiça com mão de ferro, infiltrar na política da região, interferir em ações na bolsa de valores, destruir carreiras e demitir pessoas sem qualquer motivo e pisar em todos que possam ser empecilho.

            Mas apesar de serem seres desprezíveis, eles são mostrados de uma forma tão humana, desnudados de suas intimidades, com múltiplas fraquesas e questões psicológicas, traumas e carências, que a gente acaba entendendo e até torcendo por eles.

            Mas isso está errado! A série desperta na gente uma sensação de apresso pelo mal. De afeição ao monstro que o ser humano pode ser quando o poder está em jogo.

            Essa série nos mostra e joga na nossa cara, porque os políticos são tão desprezíveis e porque tanta gente apoia isso. Nós, seres humanos sempre tomamos um lado na disputa, e as vezes não olhamos e nem pensamos no que estamos fazendo. Estamos sendo manipulados e torcemos pelo lado ruim sem pestanejar.

            Tem um personagem que nos é apresentado como vilão, que é o presidente da reserva indígena; que a gente pega birra, o vê como inimigo e quer que ele se ferre, mas que na verdade durante as seis temporadas, não fez absolutamente nada de errado ou fora da lei. Inclusive, deu vários conselhos para os Dutton, abrindo-lhes os olhos para as besteiras que eles estavam fazendo.

            Olha que doido isso!

            Se você ainda não assistiu Yelowstone, vale a pena assistir, é um drama familiar psicológico de altíssima qualidade.

            No final, as coisas acabam se encaixando e o pior, nós ficamos chateados porque nossa torcida era para acabar diferente. Como espectadores... Nesse caso, torcemos pela maldade e pela loucura pelo poder. Tudo o que dizemos que mais abominamos na vida.