Atenção! O texto contém spoilers, porém, são leves e o próprio Lobão já deu esses mesmos spoilers em várias entrevistas, aqui, alí e acolá!
Imagine a cena: Lobão e Cazuza, no velório do Júlio Barroso — que devia estar morrendo de rir lá no além —, aproveitando que todos estavam sonolentos pelos cantos, resolvem homenagear o amigo cheirando uma carreira de cocaína em cima do caixão. Essa história quase inverossímil aparece logo nas primeiras páginas do divertidíssimo livro: Lobão, 50 Anos a Mil.
João Luiz Woerdenbag Filho — Lobão — escreveu sua, até então, biografia, e na minha opinião, foi honesto em sua escrita! Não teve pena de si mesmo. Não procurou desculpas em outras pessoas, assumiu seus erros, não camuflou suas atitudes, confessou e não tentou se defender usando de falso moralismo — não!
Ele também não se condenou a nada além do que a vida já não o havia condenado, e aqui está a sacada do livro. Apenas contou suas aventuras, sem julgamento, e isso é delicioso!
Desde criança ele já se mostrava um menino que poderia ter um futuro brilhante. Suas brincadeiras, o afeto pelos pais e tios, o afeto por seus animais e a criatividade com que ele colocava tudo isso dentro do balaio da vida é bem interessante.
O começo do livro narra os primórdios da escola, os amigos que cultivou durante toda a vida, a música desde sempre fazendo parte de sua formação e os problemas internos e familiares. Sua infância foi abastada e recheada de ternura, religião (das mais variadas), filosofia, cultura, poesia e pitadas de realidade!
Se você conhece um pouco da vida do cantor, pode assim como eu pensar: "Caramba! Eu não quero saber da infância. Já queria começar nas doideiras!"
Mas não, a parte da infância é igualmente prazerosa de ler e te faz entender o adulto em que o João Luiz se tornaria.
Na adolescência ele já era um baterista habilidoso e uma pessoa agregadora, que formou várias bandas, com muitos amigos e com muitos desconhecidos.
Com 17 anos, quando a escola já lhe parecia um brinquedo muito chato, ele, mesmo sem querer muito, foi aceito como baterista da banda Vínama, que tinha em sua formação o Lulu Santos e o Ritchie, pessoas que se tornariam astros do primeiro time do rock nacional.
O Vínama trouxe para seu staff o ex-tecladista Patrick Moraz, da banda Yes, o que acabou a implodindo. Patrick se julgou maior que o Vínama e acabou saindo e trazendo com ele alguns integrantes, incluindo Lobão.
A mulher do Patrick foi a primeira mulher que realmente mexeu com Lobão e foi a primeira pessoa com quem ele tentou formar um lar.
Mas os dias eram malucos, e logo o Lobão conheceria Júlio Barroso e começaria a tocar em sua banda Gang 90 e as Absurdetes, e excursionar pelo país.
Lobão se apaixonou perdidamente por Alice Pink Punk, uma linda menina que fazia backing vocal na banda do Júlio Barroso, e que era namorada do dono da banda. Mais uma vez ele não aguentou e roubou a namorada do amiguinho.
Engraçado é que ele fala isso de forma tão natural e singela, que você até perde a vontade de falar: “Mas é um filho da puta esse João Luiz!”
Com a saída da Gang 90, Lobão, na dureza, começou a tocar e vadiar pelo Rio de Janeiro, participando de gravações de vários artistas e de várias músicas que virariam hits nos anos 80, até que encontrou Evandro Mesquita e o pessoal da companhia de teatro “Asdrubal Trouxe o Trombone”, e formou com eles e mais alguns amigos a banda Blitz.
Lobão gravou todas as músicas da Blitz, ajudou a compor algumas, e secretamente gravou um disco ajudado por muitos amigos. Ele percebia que a Blitz estava indo por um caminho musical quase infantil, coisa que não o agradava.
Então, depois de uma sessão de fotos e entrevista na revista IstoÉ, onde se posicionou maquiavelicamente em destaque em todas as fotos e falou mais que o homem da cobra, ele disse aos integrantes da Blitz que iria sair em carreira solo.
Munido da revista, onde era o destaque da capa, e com a fita master de seu disco debaixo do braço, Lobão encontrou facilmente uma gravadora. Acontece que a gravadora era especializada em samba, e não trabalhou o disco dele. Foi um fiasco.
Daí em diante, a vida do Lobão foi uma montanha-russa, hits e ótimas vendas em alguns discos, e fracassos retumbantes em outros.
Ele agregou um milhão de amigos durante sua vida e um milhão de desafetos também. O problema é que alguns desafetos eram pessoas importantes nas gravadoras, na justiça, na polícia, na política, e isso, com o tempo, cobrou seu preço.
Lobão e seus fãs foram perseguidos. Revistas que mais pareciam exames ginecológicos, eram feitos nas meninas que iam até seus shows. A polícia, "pau mandadamente", pegava muito no seu pé, mas ele, como sempre, combativo, não desistiu de fazer show e nem de denunciar esses abusos.
Lobão narra de forma hilária o episódio de sua prisão “arranjada”, por uma quantidade quase inexistente de cocaína e maconha em seu bolso. A cena do juiz corrupto foi muito engraçada, e a história toda da sua vivência entre os presos também foi muito divertida.
O livro continua contando a trajetória do cantor e compositor, disco após disco.
Conta sua entrada na bateria da Mangueira, conta de seus acidentes de moto, das suas quase overdoses, da morte de sua mãe e de seu pai. Conta seu rompimento com as gravadoras tradicionais e a sua luta para a numeração dos CDs.
Conta também a trairagem que o Caetano e o Gil fizeram nesse episódio da numeração dos CDs e como isso impulsionou Lobão a fazer seu próprio selo de música, onde ele gravava seus discos e distribuía gratuitamente para quem comprasse uma revista de sua autoria chamada Outra Coisa.
No final do livro, a gente chega à conclusão de que o Lobão sempre fez a coisa certa. Muitas vezes do jeito errado, mas o certo para as situações que apareceram em sua frente.
Ele parece ser daqueles amigos para todas as horas. Nunca abandonou uma causa em que acreditava, mesmo que isso o ferrasse lá na frente.
Lobão enfrentaria um leão por sua família, e estava pronto a abandonar
qualquer coisa que estivesse envolvido, se alguém que amava precisasse dele.
Um baita livro.
Diversão garantida.
Risadas e filosofias meditativas garantidas também.
Parabéns, Lobão. Lindo livro e linda vida, louca vida!
Olha, bastante legal a dica. O rock dos anos 80, acho meio fabricado por encomenda, Lobão foi( e é) um dos verdadeiros roqueiros (na essência) daquela geração, 90% ficou pelo caminho, e roqueiro de verdade, morre roqueiro.
ResponderExcluirBom dia Carlos!
ExcluirVerdade, roqueiro é roqueiro.
Um abraço!
É o modo dele, que optou para levar e viver a vida. Deve ser lega o livro! abração, chica
ResponderExcluirÉ legal sim Chica!
ExcluirUm abraço minha amiga!
Oi, André! Grande Lobão! Viva o rock nacional sempre. Abraço!
ResponderExcluirOlá Luciano!
ResponderExcluirObrigado pela visita!
Que figura e que história bacana! O cara veio de uma verdadeira geração rock'n rool , uma pena que muitos de lá pra cá se venderam a um sistema que juravam combater em suas músicas
ResponderExcluirOi, Claudinei!
ExcluirEsse é um problema amigo!
Muitos se venderam mesmo. Esqueceram o que é Rock!
Um abraço.
Obrigado pela visita!
Li esse livro assim que saiu. Gosto do Lobão e gosto da sua biografia louca vida louca...talvez porque as "loucuras" que eu fiz em 50 anos de vida sejam brincadeiras infantis diante da vida do Lobão... O livro é legal porque também traz a história do rock brasileiro, com variadas citações de grupos, cantores, alguns nomes que eu nem conhecia. Ela já publicou o "¨60 anos a mil" e eu, claro, já tenho, só que ainda não li. Li os outros livros que ele publicou também, o "Manifesto do Nada na Terra do Nunca" e o "Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 Pelo Rock"
ResponderExcluirEu também lí outros livros dele.
ExcluirEle escreve bem.
Um abraço Dudu.
Li esse livro, também. O que mais me impressiona no Lobão é a riqueza de detalhes com que ele se lembra de tudo, uma memória praticamente fotográfica, o que é de se estranhar, uma vez que o cara vivia chapado. Um bom livro, na certa.
ResponderExcluirSabe que eu pensei nisso também...
ExcluirAcho que um pouco é floreio da parte dele.
Um abraço!!
Também acho que ele deve tomar algumas "liberdades poéticas" para preencher certos momentos de "apagão".
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