quarta-feira, 26 de março de 2025

Procura-se o perdão! Reflexão sobre pais e filhos.





Faz um tempo que eu tenho pensado sobre a parábola do filho pródigo, mas com uma interpretação diferente do que todo mundo geralmente interpreta.
Eu sei que teologicamente o pai do texto significa Deus e que os filhos perdidos são os pecadores do mundo; mas eu resolvi analisar o texto literalmente sem interferência teologica e cheguei numa conclusão que vou apresentar depois desse mini-conto:

Rodrigo um adolescente filho de Lucas, estava desaparecido há três dias. Três penosos dias, onde Lucas procurou por todos os lugares possíveis em que Rodrigo poderia estar e não encontrou nem pistas sobre seu paradeiro. 
Procurou nos arredores da escola, procurou nas praças vizinhas, procurou nas casas dos amigos, colocou no jornal, deu queixa de desaparecimento na polícia, foi a hospitais, colocou um comunicado na rádio e nada.
Durante essa busca, um filme passava na cabeça de Lucas. Um filme sem diálogos onde ele via seu filhinho desde bebê, crescendo, engatinhando, ficando menino e virando um adolescente. O curioso é que Lucas só via imagens do filho nesse seu filme. Ele não se lembrava de situações onde os dois estavam juntos. Ele não se lembrava de uma brincadeira entre os dois, de uma conversa de pai pra filho, de um abraço ou um beijo. Ele não se lembrava de nada disso.
No seu filme Lucas apenas se lembrava das vezes que deixou Rodrigo cedo na escola e de vê-lo trancado no quarto à noite. Dos domingos, Lucas não tinha lembrança de passeios, companheirismo, de amizade. 
Esse filme começou a lhe incomodar.
Finalmente apareceu a informação de que Rodrigo estaria na casa de um traficante. Lucas foi até lá buscar o filho e quando entrou pela porta da "boca", sentiu seu estômago embrulhar, o lugar era sujo, fedia a urina. Pessoas sentadas nos cantos dos cômodos usavam crack, enquanto outras dançavam uma música inaudível, sorrindo sem motivo, e outras dormiam amontoadas, parecendo cadáveres em uma guerra.
Lucas reconheceu o seu menino deitado no chão, todo sujo, com a roupa mijada e cheirando muito mal. Sua camiseta estava dura de vômito e seus olhos pareciam transe profundo.
— O que você quer aqui? — perguntou o traficante.
— Vim buscar meu filho, aquele ali de camiseta amarela.
— Ele me deve 150 reais.
Lucas abriu a carteira, tirou os 150 reais e deu ao traficante, que os pegou e colocando no bolso e disse: 
— Agora vai lá e pergunta pra ele se ele quer ir embora, — falou o traficante com um meio sorriso, apontando para o menino no chão. — Eu acho que ele gosta mais daqui do que de casa.
Lucas olhou assustado para o traficante, essas palavras caíram como uma bomba em sua cabeça! Foi só então que ele conseguiu entender por que o filme que há três dias passava em sua cabeça não tinha diálogos entre ele e o filho.
— Meu filho — choramingou Lucas se aproximando de Rodrigo — eu não estou nervoso com você. Eu tenho consciência de que eu sou o maior errado entre nós. Eu nunca fui seu amigo porque achava que só trabalhando eu já estava fazendo minha parte; mas na verdade eu estava errado. Não vi você crescer, não vi você começar a ler, a andar, a namorar, não vi nada. Por favor, vem embora comigo pra casa que eu te prometo ser um pai de verdade de hoje em diante...
Rodrigo levantou os olhos marejados de lágrimas, pegou na mão que seu pai lhe estendia, se levantou e abraçados os dois foram para casa.

Entenderam onde eu quero chegar na interpretação da parábola do filho pródigo?
Um dos filhos era infeliz na casa do pai, pegou sua parte da herança e saiu pelo mundo, e o outro diz textualmente que se sentia um empregado e que nunca tinha matado uma novilha para fazer um churrasco com os amigos, e só nesse ponto é que o pai diz ao menino que ele era tão dono de tudo quanto ele.
O pai do texto bíblico talvez tenha sido como o pai do mini-conto, um pai que não participou dos momentos que fazem a amizade crescer. Não brincou, não sorriu, não fez nada para os filhos se sentirem amados. A herança na minha interpretação, não é a questão principal, mas sim o amor de pai para os filhos, para fazê-los se sentirem filhos e reconhecerem a figura do pai.
Esse é um texto para os pais e para a mães pensarem:
Será que nós estamos fazendo a nossa parte, ou só o básico?



14 comentários:

  1. Ponto perfeito pra reflexão. Um pai deve assumir a responsabilidade pela formação de caráter de seus filhos e fazer não somente suas obrigações, mas estar presente no desenvolvimento deles, sendo um porto seguro aos seus pequenos. Como sempre, belo texto meu amigo!

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    1. Olá Claudineizim! Apareceu aqui!
      Que bom que o texto serviu para reflexão.
      Um abraço!

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  2. Mandou muito bem com sua interpretação da parábola. Mensagem muito importante para todos os pais. Me sinto um privilegiado nesse aspecto, já que quando o Eduardinho nasceu eu já estava na reserva e acompanhei de perto todo o seu crescimento e fizemos muita coisa juntos nesse período.
    Mas sei também que estar junto, dar bons conselhos, formar o caráter do seu filho, não garante que ele seja como você imagina que ele seria quando ele crescer. Todos nós quando vamos ficando mais velhos, mais independentes, vamos introjetando a nossa própria moral que muitas vezes entra em conflito com a moral herdada dos pais. Todo mundo passa por esse processo. Mas creio que uma boa relação pais-filho, faz a balança pender para o lado certo. Mas nem sempre.

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    1. Eu sei Dudualdo, e esse é um dilema que a gente vive.
      Nós procuramos ser o melhor pai possível, mas realmente isso não é garantia de nada.
      Pode dar o exemplo, mas garantia não temos.

      Um abraço Dudu.

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  3. Bom dia de paz, André!
    Excelente abordagem!
    Muitas vezes, por motivos até aleatórios ou necessários, fizemos apenas o óbvio...
    Ainda bem que Deus nos resgata e os resgata para nós.
    Tenha dias abençoados!
    Abraços fraternos

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    1. Olá Rosélia!
      Que bom que gostou.
      Sim graças a Deus ainda temos esperança.

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  4. Lindo texto, beleza de questionamento que nos faz refletir! ADOREI!: ABRACAO,CHICA

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    1. Abração minha amiga!
      Fico feliz que gostou da reflexão.

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  5. Andre,
    Li seu conto e que a associação
    com o texto biblico é perfeita.
    Todos os domingos que não vou a
    EBD, Eu assisto filme com enredo cristão
    e ao ler sua rica publicação lembrei do
    filme que assistimos aqui
    em casa no domingo passado.
    Vou deixar aqui o nome dele e se já assistiu,
    só ignora: Filme Uma Jornada de Perdão .
    É como sua interpretação: uma outra perpectiva
    sobre esta expressiva parábola.
    Bom final de de domingo
    e excelente nova semana.
    Já já estou voltando a ler seus
    textos de publicados anteriormente
    como estava antes das cirurgias.
    Estou quase pronta para seguir
    vida normal sem restrições.
    Bjins
    CatiahôAlc.

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    1. Olá Catia!
      Legal; vou procurar esse filme. Eu gosto de filnes assim.
      Muito obrigado!

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  6. O seu conto é magnífico.
    Tal com as conclusões.
    Boa semana caro André.
    Um abraço.

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    1. Obrigado poeta!
      Vindo de você, tem o valor dobrado.

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  7. Fiquei com os olhos marejados André, que exposição minuciosa da parábola do filho pródigo que eu nunca tinha visto desta forma tão compreensível para todos nós.
    Você escreveu algo muito importante: os pais se esquecem de fazer parte da vida dos filhos, colocando o trabalho como impedimento. Os filhos crescem distantes dos pais e não criam memórias juntos, não dividem o mesmo espaço, o mesmo aconchego. E por isso, aqueles que são deixados de lado, se afogam em drogas, mágoas e ressentimentos...Sempre há tempo de acolhimento!!
    Grata por isso André, na época da quaresma é uma ótima reflexão.
    Maravilhosa semana!!

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    1. Nossa Adriana! Que bom que gostou.
      Eu fico feliz com isso.
      Obrigado pelas palavras.

      Um abração, minha amiga!

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