segunda-feira, 10 de março de 2025

Torto Arado

 



Torto Arado é o maior sucesso literário nacional dos últimos tempos. Ganhou o prêmio Jabuti e vendeu mais de 800 mil exemplares.

A história é simples e não se complica na hora de passar sua mensagem.

Talvez o diferencial que o fez ser considerado um bom livro, seja a estrutura sem diálogos e os parágrafos enormes, narrados por 3 pessoas diferentes. Bibiana e Belonisia; meninas que cresceram durante a história e que contam em primeira pessoas as suas memórias; e santa Rita Pescadora, uma entidade que vive pelas redondezas da cidade, vendo, ouvindo e participando dos acontecimentos, desde tempos antigos onde era influente nos terreiros, até os dias de hoje, onde está um pouco esquecida.

O livro tem um tom místico e aborda muito uma vertente do candomblé chamada Jarê, que tem muita importância para a vida dos personagens e os acontecimentos ao longo da história.

A narrativa é totalmente focada nas mulheres. Todos os personagens principais são mulheres. Todos os acontecimentos são revelados sob o olhar das mulheres. As mulheres da trama são destemidas, fortes, determinadas, inteligentes, resilientes e sabem lidar com os problemas, resolvendo-os muitas vezes de forma violenta, mas com um pano de fundo que as faz ter razão em seus atos. 

Os homens do livro servem para fazer a parte má, ou são coadjuvantes sem tanta importância, a não ser o pai das narradoras, que é o líder religioso do Jarê, mas que quando incorpora sua entidade, ela também é mulher e veste roupas de mulher.

A gente entende porque esse livro chegou tão longe, se formos analisar o viés feminista que está tão em moda no momento. Isso o torna nos dias atuais, uma obra "politicamente correta." Pena que alguns autores e a própria editora Todavia, foram desmascarados, mostrando que tudo não passava de fachada. Muitos deles escreviam textos e narrativas feministas e progressistas, mas intra-muros, não passavam de picaretas, machistas e enganadores. O que prova, que mal-caratismo existe tanto na direita, quanto na esquerda.

Agora, falando tecnicamente, eu achei um absurdo esse livro ter ganhado o prêmio Jabuti. Absurdo de proporções estratosféricas.

Os personagens são pessimamente desenvolvidos. As meninas que narram a história são quilombolas, vivem em condições precárias, vivem com pessoas sem instrução e sem estudo, mas elas narram de forma culta, usando palavras de um vocabulário que elas não tem. Falam de coisas que elas não conhecem e até de acontecimentos que elas não participaram. Isso é um furo enorme. Você olha para a situação narrada e a forma como elas narraram e não vê um personagem verdadeiro. Na verdade, o que a gente vê é a narração do autor, palavras do autor e não palavras da personagem. Eu particularmente achei que o autor desrespeitou a origem das personagens, o que, em uma análise mais delicada, pode deixar a impressão de que o próprio autor não dá o devido valor às pessoas daquela realidade, pobre e inculta.

O livro é dividido em três partes, cada narradora, conta uma das partes da história sob a sua ótica, mas todas elas usam a mesma linguagem, e se elas não avisassem a nós leitores, que elas é que iriam contar a história à partir daquele ponto, a gente nem saberia que mudou. Todas são idênticas, inclusive a entidade santa Rita Pescadora.

Como história, como contexto e como denúncia, o livro é correto. A narrativa das condições precárias, que os empregados, negros, quilombolas, mulheres e meeiros passavam nos anos 1970, até meados dos anos 80, é importante. Como obra literária e desenvolvimento de personagens, o livro é ruim.

Na média, a nota para Torto Arado é 6, mas como viés feminista e ideológico ele entrega o que se propõe com louvor.

Um livro para ficar para história, e servir de exemplo de uma época onde o viés político valeu mais do que a técnia lierária, em um prêmio tão decantado, como é o prêmio Jabuti.



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