5:00
da manhã; José Quispe sai de sua casa no alto de uma colina, aos pés da majestosa
Huascaràn, uma das 5 montanhas mais altas da cordilheira dos Andes. Durante a
noite a temperatura chegou a - 8 graus, mas nesse momento ela estava apenas 2
graus negativos. José nem colocou o terceiro casaco.
Ele
abriu a porta, olhou para o horizonte e viu um condor planando ao longe! Isso
era um bom presságio, certamente Pachamama; a deusa da terra, da fertilidade e
da abundância estava feliz.
Sorrindo
e deixando à mostra seus 4 dentes, José pegou um balde e caminhou por entre a
estradinha de pedras, que seus ancestrais fizeram há milhares de anos, e foi
até a neve que cobria a vegetação rasteira ao lado de onde as lhamas estavam
fechadas em um curral. Ele encheu o balde de neve e trouxe até sua casa, para
aquecê-la em uma panela de pedra no fogão à lenha, para fazer a água, que ele
misturaria com quinoa, gordura de lhama, leite de cabra e ovos, para assar e
fazer seu pão, antes de sair com seus filhos para levar as cabras e as lhamas
para pastar.
5:00
da manhã; Patricio Pereira colocava mais uma leva de pães no forno. O dia em
Lisboa estava começando movimentado. As pessoas corriam de ônibus, metrô,
carros e motos, indo para seus trabalhos bater seus cartões, mas antes,
passariam na padaria Nossa Senhora de Fátima, e não poderiam demorar. Pães,
bolos, pasteizinhos de Belém, broas, leite, café e chá. Tudo deveria estar
pronto, para as 6 horas em ponto, quando as portas da padaria fossem abertas, e
a enxurrada de clientes se acotovelassem no balcão.
5:00
da manhã; e Xiao Luaoling deixava seu turno na fábrica em que trabalhava e
seguia para sua casa que ficava no conjunto residencial número 17. Seu andar
era o nono e seu apartamento era o 153.
Ele
agradecia todos os dias ao presidente Xi Jinping, porque tinha um trabalho
indicado pelo governo, tinha moradia cedida pelo governo, seus filhos poderiam
estudar em uma escola indicada pelo governo.
Sorridente,
ele pegava o café da manhã na cantina da fábrica e agradecido levava para casa,
onde daqui há pouco todos estariam em volta da mesa, agradecendo ao presidente
pela primeira refeição.
5:00
da manhã; Omar El Kadri caminha pelos destroços do último ataque. Ontem a
escola onde ele e a família estavam abrigados veio abaixo. Um míssil de Israel
atingiu o telhado e a estrutura de madeira caiu. Graças a Alah, (ele pensou),
nenhuma telha ou viga caiu em ninguém de sua família. Depois do ataque eles se
mudaram e agora estavam amontoados no quartinho que restava do antigo posto de
saúde. Eles dividiam o espaço minúsculo com outras nove famílias, se revezando
entre quem vigiava os ataques e quem dormia.
Omar
entrou na fila do pão. Os médicos sem fronteira e a ONU, distribuíam
diariamente uma porção de pão sem fermento e um litro de leite para cada quatro
membros de cada família. Se a família tivesse mais membros, eles poderiam pegar
a porção dobrada.
A
cada 15 dias, todos deveriam comparecer à contagem, para atualizar o número de
membros, pois a guerra era cruel, e as famílias diminuíam todos os dias.
5:00
da manhã; o forno elétrico de Theodore Maxwel apitava três vezes: Piiiii...
piiii... piiii...., indicando que o pão estava pronto.
Theodore
gostava de programar seu forno para que seu pão ficasse pronto 2 horas antes
dele acordar, porque assim dava tempo de a farinha sem glúten descansar e
absorver melhor o sabor das castanhas, da gordura de coco, dos grãos integrais
e do açúcar mascavo.
Theodore
era um homem fitness e exigente com sua dieta. Diminuíra muito a carne vermelha
e os açucares. Diminuíra também as farinhas e grãos processados. Ele só
almoçava em restaurantes da chamada “comida saudável”, que era uma organização
que determinava o cardápio semanal das pessoas amigas da boa forma e da
natureza.
Theodore
sabia que seus investimentos na bolsa de valores lhe davam essa mordomia, e ele
não agradecia ninguém por isso, pois tudo o que ele tinha ou era, se devia a
seu esforço pessoal.
Uma
coisa que deixava Theodore feliz, era que uma parte do dinheiro que gastava nos
restaurantes da comida saudável, era revertido para o fundo de solidariedade
aos pandas gigantes da Indonésia, que estavam em risco de extinção.
A
próxima campanha seria pelas girafas da Amazônia, e Theodore estava ansioso em
poder ajudar.
5:00
da manhã do dia dezenove de fevereiro de 2025!
Todos
acordaram para mais um dia! Todos no mesmo planeta, mas vivendo em épocas
históricas diferentes.
Alguns
indígenas acordaram para caçar o pão, alguns filhos de imigrantes italianos na
serra gaúcha fizeram polenta com fubá moído no moinho de pedra, alguns
nordestinos dividiram uma porção de cuscuz entre nove irmãos, alguns irlandeses
esperaram a entrega do café pelo iFood, alguns americanos do Alaska comeram
bacon de alce, que estavam enterrados no gelo atrás da casa.
Idade
Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea se misturando na mesma volta do
relógio...
ADOREI esse passeio pelo tempo,lugares, hábitos e vivências...
ResponderExcluirMuito lindo e tive que rir com teu comentário lá no Canteiros...
E Toninho até de jegue, queria vir,rs
abração,chica