segunda-feira, 14 de julho de 2025

Raízes da culinária brasileira, principalmente da Paulistânia


Parte 3

Feijoadis brasillys gosturesensis




Bom... E lá vamos nós com nossa primeira polêmica:
Quem inventou a feijoada?
Os portuguêses ou os escravos?

Antes de tudo, nós temos que saber um fato: 
Na Europa existiam alguns pratos parecidos com a feijoada, mas que na maioria das vezes, eram feitos com feijão branco.
Na França existia o cassoulet.
Na Espanhana o puchero que muitas vezes, usava grão-de-bico em vez de feijão.
E em Portugal, o cozido português, que além de carnes também levava embutidos
Históricamente esses pratos são considerados avós da feijoada.

Então quem inventou a feijoada foram os portugueses!

Calma, gente; vamos fazer uma perguntinha antes:
E na África? Não existe um prato semelhante à feijoada?
Existe!
Em Cabo-verde, existe o cachupa, um prato típico, também conhecido como feijoada africana. A cachupa é feita com feijão, carne, e vegetais.
Em Angola, existe a feijoada Angolana, similar à feijoada brasileira, mas com feijão branco ou castanho e carnes como coxa de frango, carne de porco e carne de vaca, além de chouriço e vegetais.

Pronto! Então, quem inventou a feijoada foram mesmo os escravos africanos.

Ops... aqui temos um problema:
Tanto Cabo-verde, quanto Angola, eram colônias de Portugal, e não há registros desses pratos, antes da chegada dos portugueses. 


Ixi... Então quem inventou a feijoada foram os portugueses mesmo...

Calma de novo!
Ainda não temos o veredito... Vocês estão com muita pressa!
A nossa feijoada, como existe hoje, tem ingredientes de várias culturas:
Farinha de mandioca — herança indigena.
Couve — herança portuguesa, mas refogada com alho e gordura — Tem quem diz
que é herança das mamas italianas.
Laranja — herança portuguesa. Misturada com pratos salgados? Coisa de Françês.

Então, agora sim, chegamos agora ao veredito:
Chegamos não! Cheguei. Porque o juiz aqui desse texto sou eu.
Mas se não concordar com a sentença, comente aí nos comentários explicando porquê.

No Brasil colônia, a comida européia não era abundante. 
As pessoas que moravam aqui, tentavam, da melhor forma possível, adaptar os produtos nativos, para "replicarem" aquelas receitas do coração.
As negras que foram trabalhar na "casa grande", aprendiam a cozinhar essas receitas e com o tempo, agregaram a elas seus conhecimentos da cozinha africana.
A mão das negras eram mais carregadas em tempero. Pimentas, ervas e tempos de cozimento.
Tudo foi um "blend" de conhecimento — e, desse "blend", aproveitando produtos de outras cozinhas, (como a couve européia e farinha indígena), nasceu a feijoada brasileira.
Então meu veredito é:
A feijoada não é portuguesa. Não é africana.
A feijoada é um prato típico do Brasil. Criada por brasileiros.
Gente simples, que — como alquimistas — misturaram ingredientes considerados não nobres e transformaram em ouro gastronômico.

E tenho dito!



quinta-feira, 10 de julho de 2025

Raízes da culinária brasileira, principalmente da Paulistânia


Parte 2 

Da senzala à casa grande: Sabores sendo construídos




Vamos continuar com a nossa saga pela origem da culinária brasileira — principalmente da região conhecida como Paulistânia — voltando alguns anos no passado.
Para entender bem nosso registro gastronômico, teremos que ir e vir na história. Mas vai ser fácil de acompanhar. 

Antes dos imigrantes europeus desembarcarem no Brasil, os escravos negros de origem africana, foram trazidos pelos portugueses para trabalhar nas fazendas.
Os portugueses compravam ou trocavam esses indivíduos, que, em sua grande maioria, já eram escravos de tribos e povos rivais — grupos que haviam subjugado suas tribos e os escravizado. 
Infelizmente não existe santo nesse mundo. O ser humano é naturalmente malvado — tenha ele a pele da cor que tiver. 
Mas esse assunto é complicadíssimo e muita gente usa mais o coração do que a razão para debater sobre ele. 
Então vamos voltar ao nosso assunto principal, que é a culinária.
Os negros não eram bem tratados. Geralmente comiam as partes menos nobres dos porcos e bois, que eram mortos para a subsistência das pessoas que moravam nas colônias das fazendas. 
O arroz e o milho que era destinado aos negros, eram de grãos quebrados, chamados arroz de segunda e milho quirela.
Abóbora, galinhas e galos velhos, feijão preto, mandioca e frutas nativas como a goiaba, também faziam parte da dieta dos negros.
A mandioca, natural do Brasil, e o milho que era natural das Américas, logo caíram no gosto desses negros, que passaram a cozinhar pratos que até hoje são queridos pelo nosso povo, como a canjica, a "vaca-atolada", a galinhada, o cuscuz de milho, o bolo de fubá e doces como Mané-pelado, goiabada, pamonha e cural.
Nessa época, grandes cozinheiras negras, trabalhavam na sede das fazendas e cozinhavam para seus "patrões", que lhes ensinavam a culinária de origem européia e essas negras adaptavam esses pratos, aos produtos que existiam no Brasil.
O trigo, era um alimento imprescindível para os portugueses que moravam na Europa, mas, por aqui, era escasso. Por isso, o fubá e o polvilho entraram na dieta, tanto da casa-grande, quanto da senzala.
Agora a gente iria viajar um pouco mais para o passado, para entender o futuro, e iríamos falar dos indigenas na próxima postagem.
Mas eu resolvi colocar um pouco de pimenta, ainda dentro do tema dos escravos, e suas cozinheiras maravilhosas e fazer a primeira provocação da nossa viagem: a feijoada!
A primeira grande divergência histórica de uma receita símbolo do Brasil.
Por isso, — os indígenas que nos perdoem — na próxima postagem vamos falar de feijoada.
Se eu conseguir, é lógico... porque com essa minha boca grande, acabo falando de várias outras coisas paralelas!

Espero que estejam gostando e se preparem, porque muita água ainda vai passar debaixo dessa ponte.



Ao lado estão as imagens das capas dos meus dois livros.
Se quiser adquirir algum deles, é só clicar na imagem, e será direcionado para a loja.
Também tem o link na aba: Onde me encontrar, para adquirir o segundo livro na versão e-book, na Amazon.
 


segunda-feira, 7 de julho de 2025

Raízes da culinária brasileira, principalmente da Paulistânia

 

Parte 1  

Os imigrantes e a formação de um novo paladar



Amigos, eu vou fazer uma grande postagem sobre as origens da culinária brasileira.
Principalmente da região chamada por historiadores gatronômicos de: Paulistânia.
Sei que na blogosfera muita gente não curte postagens longas, então vou dividir em algumas partes, mas vou fazer de forma, que cada uma delas seja fechada em uma leitura bacana.

Um pouco antes da Primeira Guerra Mundial, os europeus já viviam sob grande tensão.
Pequenas guerras e conflitos já pipocavam aqui e ali, e o povo sabia que, a qualquer momento, uma guerra de dimensão continental poderia acontecer.
Foi nesse clima quase insustentável que muitos imigrantes vieram para o Brasil. Descobriram, por meio de "facilitadores", que havia grande demanda de mão de obra nas grandes fazendas. Principalmente nas plantações de café, fumo, cana-de-açúcar e nas fazendas de gado leiteiro.
Nessa época o Brasil estava abandonando gradualmente a mão de obra escrava. Apesar da abolição ter ocorrido oficialmente em 1888, em alguns lugares, até por volta de 1910, ainda se praticava essa barbaridade.
Falando nisso; ano passado encontraram fazendas no Rio Grande do Sul, onde pessoas trabalhavam quase como escravos — mas essa é uma outra história, que qualquer dia nós podemos debater por aqui.
Voltando à conversa de hoje, esses europeus vieram para o Brasil, com o sonho de trabalhar, crescer e prosperar. 
Eles desembarcavam principalmente no porto de Santos, onde agenciadores levavam os que não tinham dinheiro para trabalharem nas fazendas de São Paulo, Minas Gerais, Norte do Paraná, sul de Mato-grosso e de Goiás. 
Já os que tinham melhores condições financeiras, eram quase que engambelados pelos mesmos agenciadores, que os vendiam terras em lugares de mata fechada e de difícil acesso, como foi o caso, dos italianos e alemães na serra Gaúcha.
Calma, gente! 
Eu prometi que essa postagem seria sobre "as raízes da culinária brasileira", e a gente ainda vai chegar lá. Mas o "trem", como diz o mineiro, que será personagem importante na nossa história, não é tão simples assim. 

Mas por hoje paramos por aqui.


Coloquei a imagem das capas dos meus dois livros ao lado.
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quarta-feira, 2 de julho de 2025

Tachos Calvino

 


Segundo a religião cristã, haverá um dia em que você, eu, tu, ele, nós, vós e eles, serão, seremos, serei, sereis, julgados!
Depois desse julgamento, se você aceitou a Jesus como seu único e suficiente salvador, você deverá, segundo a Bíblia, ser salvo e ir morar no céu eternamente. 
Mas se você não aceitou Jesus, e torceu pelo lobo mau a vida toda, certamente você vai fritar no tacho do capeta — eternamente — e de vez em quando o capiroto vai te dar umas cutucadas com o tridente, para ver se você já está bem fritinho. 
Mas esse prato, meu amigo,  onde você é o ingrediente principal, nunca vai ficar pronto, afinal, eternamente é muito tempo! 
Quer moleza? Então vira católico, aceita Jesus mais ou menos, e aí talvez, mas apenas talvez, você fique num lugar fedido, chamado purgatório, até pagar seus pecados, e só depois que talvez, mas apenas talvez, você vá morar no suburbio do céu.
E como tudo que é ruim, ainda pode complicar mais um pouco, apareceu um cidadão chamado João Calvino, que formulou uma teologia baseando-se em versículos bíblicos, que diz que as coisas não são bem desse jeito! 
Oras bolas! O meliante escolhe Jesus como seu único e suficiente salvador e será salvo. 
Não! 
O Calvino bolou uma trama teológica, onde a simplicidade da salvação se dá apenas para um grupo de pessoas, que ele chamou de escolhidos, eleitos, ou predestinados. Segundo Calvino, Deus, na marra, fará com que alguns escolham a Jesus e o aceitem, mesmo que não queiram, como seu único e suficiente salvador, irresistivelmente, "fantochemente", e pasmem — livremente!
Segundo ele, a outros, mesmo que queiram, não será dada a chance de escolher a Jesus, mesmo que o cara assista uma pregação, encontre uma Bíblia em uma ilha deserta e se convença de que Deus é o caminho, e queira trilhar esse caminho, Deus vai mexer os pauzinhos para que o coração desse fulano se endureça e ele não aceite Jesus verdadeiramente, porque ele não é um dos eleitos. 
Na cabeça do Calvino, mesmo que Deus tenha interferido pro cara não aceitar a Jesus, a não escolha, é "calvinamente" classificada como livre.
Cês tão entendendo?
Esse Calvino tem milhões de seguidores no mundo, na verdade, entre as igrejas evangélicas tradicionais, esse cidadão é o mais influente teólogo. 
Seus discípulos são combativos, e sua doutrina tem entrado em igrejas que tradicionalmente pensavam diferente disso. Essa questão que eu coloquei aqui, é apenas um agente complicador da teologia calvinista, existem outras tantas, pois sua doutrina é calcada em 5 pontos, e cada ponto é mais polêmico que o outro.
Ainda bem que no dia do julgamento, quem vai julgar é Deus e não, nenhum calvinista, senão, não iria caber tanta gente no tacho do capeta. Na verdade, acho que o capeta teria que abrir uma fábrica de tachos! Imagine o slogan da fábrica: Tachos Calvino, eternamente esperando por você!
Eu hein... Tô fora!



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sábado, 28 de junho de 2025

Próximo!!!!




Humberto estava na fila há 20 minutos, quando finalmente uma voz anasalada gritou: 
— Próximo!
Ele olhou pra atendente dando um sorriso simpático e disse:
— Bom dia!
— O que você deseja? — respondeu a mulher em meio a um suspiro.
— Eu quero tirar a segunda via do meu...
— Já pagou no banco?
— Como senhora?
— Banco! Já pagou no banco?
— Não entendi...
— Tem que pagar no banco antes de fazer o requerimento. Já pagou no banco?
— M... Mas, pagar o que no banco senhora?
— Tem que pagar a segunda via do RG e trazer o comprovante — rosnou a mulher entre os dentes.
— Mas aqui não é o lugar onde se resolve tudo mais rápido.
— O que não quer dizer que você não tenha que antes fazer o pagamento! — respondeu ela olhando por cima da cabeça de Humberto e gritando. — Próximo!
— Eu não sabia que tinha que...
— Tem que pagar no banco! Próximo!
Humberto correu. O banco ficava dentro do próprio prédio.  Pegou a senha, esperou mais dez minutos, pagou, correu de novo até a outra repartição, entrou na fila novamente, e depois de mais meia hora escutou: 
— Próximo!
— Oi, bom dia mais uma vez! — disse com sorriso meio simpático.
— Pagou no banco?
— Paguei, aqui está o comprovante.
— Cópia do RG antigo, ou CNH e a certidão de nascimento original.
— Como?
— Cópia do RG antigo, ou CNH e a certidão de nascimento original.
— Não entendi. — falou Humberto franzindo a testa.
— Não touxe?
— O quê?
— A cópia do RG antigo, ou CNH e a certidão de nascimento original.
— Precisa?
— Sim!
— Mas... Porque a senhora já não falou isso antes?
Ela olhou para o Humberto com a paciência de quem olha para uma criança arteira; deu uma bufada, ajeitou os óculos, pegou uma caneta e grifou em um papel: 
— Agora tem que trazer a cópia do RG antigo, ou da CNH, e a certidão de nascimento original. 
— M... Mas...
— Próximo!



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