domingo, 18 de maio de 2025

Paixão de maluco


                                           

Chegou o derradeiro dia para o futebol brasileiro deste ano, o Maracanã; maior estádio do país, se divide em quatro cores! De um lado a torcida verde e laranja do Clube de regatas Intergalácticos, do outro, a torcida vermelho e azul do Brasilina futebol clube.

Os dois times entram lado a lado, com seus jogadores em fila indiana.

Foi impossível para os atletas conterem a emoção diante de um Maracanã abarrotado, muito além de sua capacidade máxima. A vibração e a adrenalina que as arquibancadas mandavam para dentro do campo, faziam atropelar o batimento cardíaco do mais frio dos jogadores.

João Pedro madrugou e chamou a família para uma conversa durante o café da manhã:

— Mãe, pai, eu e o Irineu compramos o ingresso para a final do campeonato brasileiro.

— Ingresso? — estranhou o pai de João. — Tá maluco? O jogo vai ser no Rio de Janeiro.

— Eu sei pai! Mas a gente foi em quase todos os jogos do campeonato e não podemos perder a final de jeito nenhum!

— Mas meu filho; é muito perigoso! — falou a mãe de João colocando o pote de manteiga na mesa.

— Eu sei mãe! Mas muita gente daqui vai pra lá! Vamos invadir o Maracanã... Pode ficar tranquila!

— Pedrinho, e... eu n... não estou feliz com e... esse negócio não!

— Calma pai; está até gaguejando! Eu já tenho trinta e dois anos, e senhor sabe que eu sei me cuidar! Eu e o Irineu não vamos sozinhos. Nossa torcida vai em peso.

— Olha, se você me prometer que não vai beber e que vai correr de confusão eu até deixo você ir!

— Eu prometo! Vocês me conhecem bem, e sabem que eu não entro em briga. Aliás, eu sou tão legal, que com trinta anos, eu nem precisava pedir pra vocês deixarem eu ir, e olha eu aqui pedindo!

— Não precisa pedir!? — rebateu a mãe de João Pedro. — Olha só que cara de pau! Fique sabendo que pra gente você sempre vai ter dez anos; seu moleque!

Japuíra acordou mais cedo neste domingo, nesse bairro ficava a sede do Clube de regatas Intergaláctico, o time favorito na disputa dessa tarde contra o Brasilina.

O Intergaláctico tinha a seu favor o empate, por isso, se o jogo acabasse com igualdade no placar, eles levariam mais uma taça para o seu abarrotado museu, de tantas glórias e conquistas.

Os jogadores estavam concentrados há dois dias. Todos no elenco, juraram fazer deste jogo final, “a batalha de suas vidas”. Eles estavam motivados, por uma fatalidade que aconteceu na antevéspera do jogo com o amigo e massagista do time a vinte anos, Biribinha, que fora atropelado por um mototaxista.

Ele não corria risco de vida, mas estava internado na Santa Casa de São João do Meriti, todo enfaixado, com duas costelas e a clavícula quebrada.

No dia anterior o time todo o havia visitado e prometido ganhar o campeonato para o amigo querido.

Biribinha, era considerado por todos como um segundo pai. Sempre pronto a ajudar e dar conselhos aos jogadores, e devido à toda essa dedicação, era muito querido por todos.

A batalha era intensa: jogadores de ambos os lados disputavam cada centímetro do gramado como se suas vidas dependessem disso. O primeiro tempo terminou num zero a zero nervoso, com poucas chances de gol de cada lado. A partida era quase toda disputada no meio de campo, quando um lance de perigo acontecia, as defesas levavam vantagem sobre os ataques.

O segundo tempo continuou truncado e o árbitro deu 6 minutos de acréscimo.

Aos 46 minutos, Armando pegou a bola na intermediária e enfileirou os adversários. Driblou Eduardo, Paulinho, Cáceres, Luizão, entrou na área e passou a bola para Chicão, que de cara pro gol, quando ajeitava o corpo para chutar, foi tocado no calcanhar por Emiliano, se desequilibrando e caindo ao chão.

O juiz Oscar de Moura não titubeou um segundo e príííííííííííííííí!!!!! Apitou, apontando a marca da cal.

— PÊÊÊÊÊNALTIIIIIIIIIIIII! — gritaram todos os locutores que transmitiam aquela final.       

Armando estava no final da sua carreira, quando chegou ao Brasilina. Muita gente foi contra, e falou que o presidente do clube estava maluco por ter contratado alguém tão rodado e que até agora, aos 36 anos, nunca havia sido campeão de nada importante.

O meia já havia jogado — sem grande destaque — em alguns clubes médios do futebol brasileiro, mas depois acabou indo jogar no leste europeu, em pequenos times, que disputavam campeonatos sem muita expressão. Há dois anos, havia voltado para o Brasil e estava jogando na segunda divisão, quando o presidente do Brasilina resolveu contratá-lo para compor o elenco.

O problema aconteceu, quando Babá, o meia titular do Brasilina, rompeu os ligamentos do joelho esquerdo e teve que operar. O tratamento e o período de recuperação, levaria o restante do ano e talvez, até o primeiro trimestre da próxima temporada.

Como poderia Armando, um jogador velho, rodado e vindo da segunda divisão, assumir o papel de maestro do meio campo da equipe e ainda levá-la ao tão sonhado título?

Mas Armando, jogo a jogo, calava a boca de todos. Com atuações impecáveis, acabou adquirindo o status, tanto pelos torcedores, quanto pela crítica especializada, de melhor jogador do campeonato.

Benedito, era torcedor fanático do Brasilina desde os 15 anos de idade, quando assistiu o time do seu coração despachar o grande Santos de Pelé, com uma acachapante goleada de 6 x 3. Desse dia em diante, resolveu que iria ser brasilinense, e assim o fez.

Todos os oito filhos de seu Benedito seguiram o pai.

Hoje, em todos os dias de jogo a família se reúne para torcer, gritar, sorrir e chorar pela paixão da família. Mas o netinho do seu Benedito, de repente apareceu com “tendências intergalácticas”, o menino só fala no time laranja e verde, e isso está tirando o sono de seu Benedito, que como última cartada, fez um acordo com o netinho: se o Intergaláctico ganhar do Brasilina nessa final, o neto está liberado pra torcer por quem quiser, mas se o Brasilina ganhar, o neto terá que seguir a tradição da família, e se tornar mais um brasilinense de coração.

Chicão pegou a bola, colocou-a debaixo do braço, e se dirigiu para a marca do pênalti. Ele era o artilheiro do campeonato com 22 gols, mas em nenhum momento de sua carreira, havia encarado um momento tão tenso e importante como esse.

Claudinha, era fanática pelo Intergalácticos. Era ela, quem cuidava das bandeiras e das faixas, da torcida "Leões fiéis", que era a maior e mais apaixonada que o time laranja e verde tinha. Claudinha iria se casar justamente neste domingo, data da grande final.

Quando ela e o noivo escolheram essa data, o time não estava tão bem no campeonato, mas do começo do segundo turno em diante, o Intergalácticos atropelou os adversários e acabou chegando ao derradeiro embate.

Foi uma briga homérica entre Claudinha e seu noivo, que ameaçou até largá-la de vez.

— Cláudia, — insistia ele, numa de suas últimas tentativas. — A gente já pagou tudo! Festa, buffet, viagem! Alugamos seu vestido, meu terno, e...

— No dia da final eu não me caso! — interrompeu ela sem deixar seu noivo terminar sua frase.

— ..., mas, Claudia... você não está agindo com a razão!

— Lógico que não! Pelo Intergalácticos eu só consigo agir com o coração.

Quando o noivo de Claudinha percebeu que não teria mesmo jeito, ele resolveu adiar o casamento. A disputa dele contra o time laranja e verde pelo amor de sua noiva, chegava a ser desleal.

Os jornalistas falaram na beira do campo para o juiz Oscar de Moura, que as TVs mostravam claramente que Chicão havia se jogado, e que não foi pênalti. Oscar de Moura, que estava a um passo de ser escolhido o arbitro representante do Brasil para a próxima copa do mundo, ficou muito triste, porque tinha tanta convicção de que tinha marcado corretamente, que falou para o juiz do VAR, que nem queria ver as imagens e que chamava para ele a responsabilidade.

— Oscar! — falou um dos juízes do VAR. — Na verdade, o lance é interpretativo. Pois existe mesmo um toque no calcanhar do Chicão. O que não dá pra saber é se esse toque foi suficiente para derrubá-lo.

— Eu acho que foi! — respondeu Oscar de Moura.

— Como você tem tanta certeza?

— O atacante estava de frente para o gol! Não tinha porque se jogar...

— Bom, — falou o juiz do VAR — estamos com você então! 

“Puxa vida! — pensou o juiz, nervoso consigo mesmo. — Eu não posso voltar atrás em uma coisa que tenho certeza. Agora que já marquei o pênalti..., seja o que Deus quiser! O jeito é torcer para o Fernando Inácio defender.”

Se o goleiro Fernando Inácio defendesse, o Intergaláctico seria campeão, mas se Chicão convertesse o pênalti, aí o Brasilina é que levaria o caneco.

O público dentro do estádio permanecia estático! A tensão era enorme! Uns oravam, outros choravam, outros viraram de costas, outros se ajoelharam, outros sentiram tontura, e alguns poucos, até tiveram que ser socorridos.

Mais de 120 mil pessoas se acotovelavam, espremidos, com olhos fixos no gramado. Silenciosos e imóveis, eram tomados tensão que castigava seus corações.  

Espalhados pelo país, milhares de telespectadores acompanhavam e sofriam, vidrados em suas TVs, nas telas de seus celulares, pela internet, ou, os mais tradicionais, com o radinho de pilhas colados ao ouvido.

Seu Jorge estava com batedeira, dona Rute estava trêmula, dona Dirce xingava o juiz, Juvenal levava a cerveja até a boca e a abaixava sem beber, Raimundo rezava o terço — sem saber em que oração estava, Aristides acendeu uma vela azul e vermelha, Mariana se debruçava em lágrimas.

Chicão colocou a bola na marca do pênalti, olhou para Fernando Inácio, que apontava o lado esquerdo e gritava:

— Chuta aqui que eu vou pegar, chuta aqui que eu vou pegar!

Biribinha assistia a tudo do seu quarto no hospital. Do seu lado, um torcedor adversário falava que seria gol, os enfermeiros pararam de atender pra assistir ao pênalti.

Chicão correu pra bola.

Enquanto corria, o atacante olhava pra ver se Fernando Inácio dava pinta se pularia antecipadamente para algum lado.

Chicão correu, parou com seu pé de apoio ao lado da bola e chutou.

Enquanto a bola viajava, vários corações viajaram junto. O momento seguinte certamente ficaria marcado na vida de muita gente, de tantas Claudinhas, Beneditos, Armandos, Antônios, Rodolfos, Juvenais, Irineus, torcedores e torcedoras, contra e a favor, que amam essa paixão de maluco, chamada — futebol.

 

 

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Um dia perfeito

 

Finalmente ele começava um dia feliz!

Era dia de assumir seu novo cargo na empresa. Depois de 8 anos dando duro, estudando e participando de treinamentos, ele foi reconhecido pela gerência e hoje começaria essa nova etapa.

Além do reconhecimento profissional, coisa que o agradava demais, ele ainda teria um gordo reconhecimento financeiro.

Em seus sonhos, esse reconhecimento financeiro daria condições de melhorar — e muito — a sua vida. Ele até tinha uma tabela mental das prioridades e de onde mais deveria usar esse dinheiro.

"Que bom — pensava, imaginando seu salário no bolso — agora tudo vai ser mais fácil."

Tudo bem que seu novo cargo trazia novas responsabilidades e que um setor inteiro da fábrica agora estava sob sua supervisão. Mas isso seria fácil. Ele já estava escolado e se sentia preparado para essa nova empreitada.

Para comemorar, ele resolveu que esse seria o dia perfeito! Encomendou um anel de noivado e reservou uma mesa no restaurante preferido de sua namorada. Era dia de mudar de vez!

Sairia do time dos solteiros logo, logo; e o primeiro passo era ficar noivo.

Com quatro anos de namoro, ele recebia indiretas e cobranças sutis de "seu amorzinho" e também de sua sogra, que não via a hora de ver sua filha vestida de noiva.

Ele saiu de casa e foi direto para a fábrica.

O diretor o acompanhou até sua nova sala e os dois tiveram um bate-papo sobre seu novo cargo e sobre como gerir a turma, que a partir daquele momento estaria sob seus comandos.

Depois, desceram para a fábrica, onde ele foi formalmente apresentado ao pessoal, que na verdade já o conhecia. Mas essa apresentação era importante, para que os colaboradores percebessem que ele agora teria um posto mais alto e poder de liderança.

A manhã transcorreu tranquila, e no horário do almoço ele foi até ao ourives buscar o anel de noivado que havia encomendado.

"Lindo — ele pensou, sorrindo com o anel na mão — ela vai ficar muito feliz."

Contente, ele trabalhou até o final do expediente. O sorriso era persistente em seu rosto e todos perceberam como ele estava feliz.

Ele havia marcado de buscar sua noiva às 21 horas, mas antes ele tinha que passar no restaurante e deixar o anel de noivado para o garçom, que era seu amigo de longa data, e combinar que, no momento em que pedissem a sobremesa, o anel seria servido dentro de um cloche e, nesse momento, as caixas de som do restaurante tocariam a música que ela tanto amava — e que dizia ser a música deles.

Ele estacionou seu carro em frente ao restaurante. Seu amigo garçom o esperava sorridente.

Ao sair, ele escutou um barulho de sirene e portas de carro se fechando com força.

No morro em frente, os traficantes atiraram em direção à polícia, que atirou de volta.

Uma bala perdida o atingiu no peito. Bem no coração.

Ele não teve tempo de correr, de entregar o anel ao seu amigo garçom, de dizer o quanto amava sua namorada, de exercer seu novo cargo.

Caiu na calçada, já sem vida.

Numa fração de segundos, seus sonhos acabaram.




domingo, 27 de abril de 2025

Lobão, 50 anos a mil!




Atenção! O texto contém spoilers, porém, são leves e o próprio Lobão já deu esses mesmos spoilers em várias entrevistas, aqui, alí e acolá!


Imagine a cena: Lobão e Cazuza, no velório do Júlio Barroso — que devia estar morrendo de rir lá no além —, aproveitando que todos estavam sonolentos pelos cantos, resolvem homenagear o amigo cheirando uma carreira de cocaína em cima do caixão. Essa história quase inverossímil aparece logo nas primeiras páginas do divertidíssimo livro: Lobão, 50 Anos a Mil.

João Luiz Woerdenbag Filho — Lobão — escreveu sua, até então, biografia, e na minha opinião, foi honesto em sua escrita! Não teve pena de si mesmo. Não procurou desculpas em outras pessoas, assumiu seus erros, não camuflou suas atitudes, confessou e não tentou se defender usando de falso moralismo — não!

Ele também não se condenou a nada além do que a vida já não o havia condenado, e aqui está a sacada do livro. Apenas contou suas aventuras, sem julgamento, e isso é delicioso!

Desde criança ele já se mostrava um menino que poderia ter um futuro brilhante. Suas brincadeiras, o afeto pelos pais e tios, o afeto por seus animais e a criatividade com que ele colocava tudo isso dentro do balaio da vida é bem interessante.

O começo do livro narra os primórdios da escola, os amigos que cultivou durante toda a vida, a música desde sempre fazendo parte de sua formação e os problemas internos e familiares. Sua infância foi abastada e recheada de ternura, religião (das mais variadas), filosofia, cultura, poesia e pitadas de realidade!

Se você conhece um pouco da vida do cantor, pode assim como eu pensar: "Caramba! Eu não quero saber da infância. Já queria começar nas doideiras!"

Mas não, a parte da infância é igualmente prazerosa de ler e te faz entender o adulto em que o João Luiz se tornaria.

Na adolescência ele já era um baterista habilidoso e uma pessoa agregadora, que formou várias bandas, com muitos amigos e com muitos desconhecidos.

Com 17 anos, quando a escola já lhe parecia um brinquedo muito chato, ele, mesmo sem querer muito, foi aceito como baterista da banda Vínama, que tinha em sua formação o Lulu Santos e o Ritchie, pessoas que se tornariam astros do primeiro time do rock nacional.

O Vínama trouxe para seu staff o ex-tecladista Patrick Moraz, da banda Yes, o que acabou a implodindo. Patrick se julgou maior que o Vínama e acabou saindo e trazendo com ele alguns integrantes, incluindo Lobão.

A mulher do Patrick foi a primeira mulher que realmente mexeu com Lobão e foi a primeira pessoa com quem ele tentou formar um lar.

Mas os dias eram malucos, e logo o Lobão conheceria Júlio Barroso e começaria a tocar em sua banda Gang 90 e as Absurdetes, e excursionar pelo país.

Lobão se apaixonou perdidamente por Alice Pink Punk, uma linda menina que fazia backing vocal na banda do Júlio Barroso, e que era namorada do dono da banda. Mais uma vez ele não aguentou e roubou a namorada do amiguinho.

Engraçado é que ele fala isso de forma tão natural e singela, que você até perde a vontade de falar: “Mas é um filho da puta esse João Luiz!”

Com a saída da Gang 90, Lobão, na dureza, começou a tocar e vadiar pelo Rio de Janeiro, participando de gravações de vários artistas e de várias músicas que virariam hits nos anos 80, até que encontrou Evandro Mesquita e o pessoal da companhia de teatro “Asdrubal Trouxe o Trombone”, e formou com eles e mais alguns amigos a banda Blitz.

Lobão gravou todas as músicas da Blitz, ajudou a compor algumas, e secretamente gravou um disco ajudado por muitos amigos. Ele percebia que a Blitz estava indo por um caminho musical quase infantil, coisa que não o agradava.

Então, depois de uma sessão de fotos e entrevista na revista IstoÉ, onde se posicionou maquiavelicamente em destaque em todas as fotos e falou mais que o homem da cobra, ele disse aos integrantes da Blitz que iria sair em carreira solo.

Munido da revista, onde era o destaque da capa, e com a fita master de seu disco debaixo do braço, Lobão encontrou facilmente uma gravadora. Acontece que a gravadora era especializada em samba, e não trabalhou o disco dele. Foi um fiasco.

Daí em diante, a vida do Lobão foi uma montanha-russa, hits e ótimas vendas em alguns discos, e fracassos retumbantes em outros.

Ele agregou um milhão de amigos durante sua vida e um milhão de desafetos também. O problema é que alguns desafetos eram pessoas importantes nas gravadoras, na justiça, na polícia, na política, e isso, com o tempo, cobrou seu preço.

Lobão e seus fãs foram perseguidos. Revistas que mais pareciam exames ginecológicos, eram feitos nas meninas que iam até seus shows. A polícia, "pau mandadamente", pegava muito no seu pé, mas ele, como sempre, combativo, não desistiu de fazer show e nem de denunciar esses abusos.

Lobão narra de forma hilária o episódio de sua prisão “arranjada”, por uma quantidade quase inexistente de cocaína e maconha em seu bolso. A cena do juiz corrupto foi muito engraçada, e a história toda da sua vivência entre os presos também foi muito divertida.

O livro continua contando a trajetória do cantor e compositor, disco após disco.

Conta sua entrada na bateria da Mangueira, conta de seus acidentes de moto, das suas quase overdoses, da morte de sua mãe e de seu pai. Conta seu rompimento com as gravadoras tradicionais e a sua luta para a numeração dos CDs.

Conta também a trairagem que o Caetano e o Gil fizeram nesse episódio da numeração dos CDs e como isso impulsionou Lobão a fazer seu próprio selo de música, onde ele gravava seus discos e distribuía gratuitamente para quem comprasse uma revista de sua autoria chamada Outra Coisa.

No final do livro, a gente chega à conclusão de que o Lobão sempre fez a coisa certa. Muitas vezes do jeito errado, mas o certo para as situações que apareceram em sua frente.

Ele parece ser daqueles amigos para todas as horas. Nunca abandonou uma causa em que acreditava, mesmo que isso o ferrasse lá na frente.

Lobão enfrentaria um leão por sua família, e estava pronto a abandonar qualquer coisa que estivesse envolvido, se alguém que amava precisasse dele.

Um baita livro.

Diversão garantida.

Risadas e filosofias meditativas garantidas também.

Parabéns, Lobão. Lindo livro e linda vida, louca vida!




terça-feira, 15 de abril de 2025

Entre Karmas e decisões





Já aconteceu com vocês de encontrarem alguém que nunca haviam visto e o "santo não bater"? Do nada, dar vontade de sair de perto, falar mal, ou dar uns tabefes?

Que coisa de maluco isso, né?

Logicamente que não vamos maltratar esse indivíduo, até porque nunca havíamos visto a fuça dele anteriormente.

E outra; pega essa visão, que essa é pior que a outra: já aconteceu de vocês terem um parente, um amigo ou alguém que você gosta muito, mas ele é um ser desprezível, que só arruma problemas, se mete em confusões e, por mais que você avise, a pessoa não melhora? Esse sim a gente deveria dar uns tabefes, mas a gente, inexplicavelmente, gosta muito dessa pessoa e sofre por ela ser tão ruim para ela mesma.

Esses dias eu andei pesquisando e descobri que várias religiões e filosofias explicam essas coisas inexplicáveis, cada uma do seu modo, mas que no final, tudo vai girar mais ou menos em torno da lei do retorno.

Saca a lei do retorno? Aquela que diz que toda ação gera uma reação, ou, mais popularmente falando — tudo que se planta, se colhe.

Os orientais acreditam em Karma, que tanto a pessoa que só faz coisas erradas está pagando, quanto a gente que está sofrendo também está pagando, e, sobre a pessoa que não conhecemos e já não gostamos de cara, pode também ser um Karma de vidas passadas, uma dívida que temos com essa pessoa ou que ela tem conosco.

As religiões de origem africana dizem que forças da natureza, ou dos orixás, ou algumas entidades, estão aí cobrando e influenciando essas pessoas.

Por isso elas são induzidas a fazerem suas cagadinhas e a gente, de tabela, sofre, porque nossos guias são de luz e amor — e bonzinhos — fazem a gente ter dó e querer ajudar.

Os cristãos falam que as pessoas são pecadoras por natureza, e que o mal está ao redor, rugindo como leão e pronto para atacar.

Os demônios detestam quem ama a Deus, por isso eles só querem destruir. Então, como ensinou Jesus, nós devemos amar ao próximo, mesmo os inimigos, e tentar demovê-los do caminho da perdição.

E aqueles a quem não gostamos logo de cara? Segundo a teologia cristã, isso pode ser um toque do Espírito Santo que habita nos convertidos dizendo: cuidado que esse aí é tranqueirão!

Moral da história? Os bons de coração e de cabeça boa sofrem pelos despirocados — mas não deveriam!

A gente deveria ter um limite para ajudar os que querem se destruir. Deveríamos estabelecer uma barreira sã, que seria uma proteção para o nosso bem-estar.

Posso ajudar desde que essa ajuda não me machuque, pessoal, emocional e financeiramente.

Nós teríamos, ou melhor — nós temos, que aprender isso para podermos viver melhor. Tanto com os outros, quanto com nós mesmos.

E o fato da pessoa que não gostamos logo de cara?

Esse é um problema sério, onde temos que agir mais com a razão do que com a emoção. Podemos sim nos aproximar dessas pessoas e conhecê-las sem entregarmos as "fichas" para elas. Sem nos desnudarmos. Ir conhecendo aos poucos e quem sabe, depois de um tempo, perceber que nossa primeira impressão era bobagem, ou perceber que realmente nossa primeira impressão estava certa.

Agir assim é melhor que ter preconceito.

É gente... a vida não é fácil, mas a gente tem que ir aprendendo se a gente quiser ser feliz.

 


sexta-feira, 11 de abril de 2025

Se nem do brejo a gente sabe — imagina do Josefo...



 Eu escutei um pastor muito querido, falando:

Historicamente, não bíblicamente, Flávio Josefo escreveu que Jesus ressuscitou no terceiro dia!

"Como?" — eu pensei, vasculhando lá no fundo da minha cachola. — "Flávio Josefo falou isso?"

Me desculpem começar o texto assim, afobado e sem dar explicações, isso é porque esse assunto na minha humilde (pero no mucho), opinião, é muito interessante.

Antes de tudo tenho que te explicar (se você já não souber), que Flávio Josefo era um cronista quase contemporâneo a Jesus. Se não foi exatamente contemporâneo, esteve ali bem perto. 

Hoje ele seria um tipo de repórter que escreve nos jornais, TVs e sites. 

Seus escritos acabaram virando os documentos de uma época e servem como fonte de pesquisa para estudos nos tempos atuais.

Encucado com essa afirmação do pastor eu fui pesquisar e descobri umas coisas interessantes: 

Uma delas é que o exemplar mais antigo que temos hoje desse artigo onde Flávio Josefo fala sobre Jesus é do século XI. Mas o original onde ele teria escrito, seria mais ou menos de 90 d.C., ou seja, mil anos antes.

Como sabemos — porque não somos orelhudos — na Antiguidade não existia internet, nem jornal, nem revista e muito menos livros impressos. Tudo era passado para a posteridade pela tradição oral, (de boca a boca), ou copiado de um pergaminho para outro, e para outro e para outro... geralmente pelos monges copistas.

Os monges copistas, apesar de sua fé, trabalhavam para a igreja, e por isso, existem indícios fortíssimos que Josefo não escreveu sobre ressurreição, mas apenas escreveu sobre a pessoa de Jesus e de seus feitos em vida.  

Mas estudar o passado pode ser um problema.

Aqui do lado de onde eu trabalho, a três quarteirões, existe um terreno que estava há muito tempo para a venda e ninguém comprava. Até que um homem que veio de outra cidade comprou e começou uma construção.

Acontece que com 2 metros de fundação já brotou água nas colunas, e por isso o homem teve que fazer brocas de 28 metros, até alcançar a rocha, abaixo da água. Isso deu o maior bafafá, porque o homem se sentiu enganado.

Eu, curioso, comecei a perguntar para os velhinhos que conheço sobre aquele terreno e obtive respostas que não batem umas com as outras.

Um me disse que ali, onde é o terreno, era uma mina d'agua que jorrava sem parar. Era até a nascente de um córrego, e ele se lembra de ir buscar água ali para sua mãe.

Outro me disse que ali era uma lagoa, e que nadou muito e pescou muito naquele lugar.

Outro me disse que a lagoa era no quarteirão de cima, e que dessa lagoa saía um rego d'agua que passava naquele terreno.

Outro me disse que ali era um brejo e que ele ia nos finais de semana caçar rãs nesse brejo junto com seu pai.

Todos eles juram que lembram de tudo claramente e que estão falando com toda certeza.

Então... E o Flávio Josefo? Se a gente não consegue ter certeza, entrevistando pessoas vivas que conheceram o terreno que brotou água, como é que vamos saber se algum monge, a pedido de algum padre, ou cardeal, ou até do Papa, não acrescentou o episódio da ressurreição no documento do cronista?

Aqui, a resposta só pode ser uma: Se para a sua fé, é importante que o Josefo tenha escrito sobre a ressurreição, então acredite que ele escreveu. 

Mas, se sua fé em Cristo for a mesma independentemente do que Josefo tenha escrito, então esqueça esse assunto — porque parece que ele não escreveu mesmo...