Uma vez eu comecei a escrever uma
série de crônicas disfarçadas de contos, onde um personagem chamado Valfredo
lutava contra monstros, bruxas, duendes, participava bravamente de aventuras
das mais malucas, à mando do rei, e para salvar o reino onde ele era um grande
cavaleiro.
Acontece que nessa época eu estava
com várias batalhas internas e externas na vida, e o Valfredo foi uma válvula
de escape para as situações que estava passando.
Hoje olhando meus guardados eu me
deparei com os contos do Walfredo.
Graças a Deus os tempos mudaram e
hoje a vida está muito mais tranquila.
Mas a título de nostalgia, desse personagem
que foi importante pra mim, vou republicar um dos contos e; se vocês quiserem,
eu posso republicar outros.
Esse foi um dos contos do Valfredo
escritos quando as coisas já estavam entrando nos eixos, por isso tem um final
feliz, “pero no mucho!”
Um ano de
boas guerras
Rufus, o cavalo do nosso herói
Valfredo, vinha cambaleando pela estrada que trazia até a cidade.
Com o corpo arqueado para frente e quase
desmaiando de sono, vinha seu dono, só Deus sabe como, pendurado em cima de
Rufus, que além de também estar exausto, ainda tinha que tomar cuidado e olhar
onde pisava, para não dar nenhum tranco que jogasse seu dono ao chão. O dia era 31 de dezembro, e o cavaleiro,
mesmo absorto em pensamentos confusos, ainda conseguiu avaliar o ano e perceber
que trabalhando juntos, os dois (ele e Rufus), passaram por muitos apuros.
Muitas batalhas, muitas justas e muitos duelos. Os dois se aventuraram por todo
o reino e enfrentaram inimigos de todos os tipos: bruxos, magos, cavaleiros
negros, gnomos malvados, e praticamente um dragão por dia.
O dia estava raiando quando o cavalo
ganhou a praça central da cidade e se encaminhou para a casa de Valfredo.
Eles viajaram a noite toda, porque no
dia anterior haviam libertado a princesa Florinda, das mãos do perverso Rei da Malvitânia.
Teoricamente, o rei a havia capturado e a fazia refém em seu castelo. Valfredo teve que agir como um agente secreto
e se infiltrar entre os cavaleiros de Malvitânia para poder chegar até o
castelo sem ser notado, e assim, poder salvar a princesa.
O problema é que na hora da fuga
eles foram notados, por isso Valfredo teve que enfrentar os soldados da guarda
real em uma batalha mortal. A guarda real da Malvitânia era conhecida por ter
grandes espadachins, e bruxos com línguas mágicas que conjuravam os mais
terríveis encantamentos. Mas, felizmente eles não tinham tanta experiência na
arte da sobrevivência, e um a um foram caindo.
Enquanto isso, Rufus se posicionou
na porta do castelo, para que ele, a princesa e seu dono, saíssem em uma fuga
desenfreada.
Quando chegaram com a princesa Florinda
até as portas de seu reino, o “Reino do Amanhã”, que é conhecido como um reino
onde todos os problemas se resolvem, o trio foi surpreendido em uma emboscada,
e acabaram descobrindo que foi a própria irmã da princesa, que querendo ser a
única herdeira do reino, a havia traído e a entregado ao rei da Malvitânia.
Valfredo apeou de seu cavalo,
colocando-se como escudo entre os bandidos e a princesa, e nervoso falou para
seu companheiro:
—
Rufus! Corra com a princesa e a salve! Leve-a para o castelo de seu pai.
O bom e obediente cavalo, saiu
correndo com a princesa, enquanto Valfredo ficou ali enfrentando com fúria
todos os cavaleiros que fizeram a emboscada. O aço das espadas soltava fagulhas
a cada pancada que davam entre si.
Depois de longos minutos de luta,
Valfredo não aguentou e caiu no chão. Quatro cavaleiros que ainda sobravam de
pé, cercaram Valfredo e quando iriam desferir o golpe de misericórdia, ouviram
o som de uma trombeta e dos cascos dos cavalos da cavalaria real que chegava. Todos correram deixando Valfredo estendido no
chão, mas com vida. À frente da cavalaria, vinha Rufus guiando a guarda real.
Os cavaleiros chegaram e saudaram o
cavaleiro que havia salvado a princesa, dando-lhe os cumprimentos reais.
Já era tarde e Valfredo morto de
cansaço, não quis ir até o castelo participar da confraternização de boas-vindas
pela volta da princesa, por isso se despediu ali mesmo e decidiu voltar para
casa, pois estava com muita saudade de sua esposa e de sua cama.
Valfredo chegou em casa, apeou de
Rufus, desarreou seu amigo, deu-lhe água, milho, e soltou-o no pasto para
descansar. Então, sua esposa, quando percebeu que ele havia chegado, correu ao
seu encontro, lhe deu um beijo de boas-vindas e os dois entraram em casa de
mãos dadas. O brio do cavaleiro depois da demonstração de amor de sua esposa,
até voltou, deixando-o mais animadinho.
— Val, — falou a esposa balançando
um papel. — O mensageiro do rei deixou essa carta pra você.
O cavaleiro abriu a carta, e
correndo os olhos, franziu a testa quando viu que nela havia as seguintes
instruções:
"Cavaleiro Valfredo, se
apresente no castelo real, as sete horas da manhã do dia 1 de janeiro. Você tem
alguns serviços agendados para este mês. Entre eles, deve caçar e matar o
dragão que está assustando o povo do vilarejo dos camponeses plantadores de
figo, depois, tem que enfrentar e encarcerar o cavaleiro negro que tomou o
castelo do príncipe Joselito, e em seguida, se juntar a tropa de cavaleiros da
meia cruzada, para expulsar os bárbaros das terras baixas do bairro da cidade
norte. Depois, se ainda estiver vivo, deve lutar contra as gárgulas vampiras,
que estão atacando os pescadores do rio que contorna as muralhas do nosso reino,
e por fim, caçar a bruxa da floresta, que está amedrontando os caçadores de
raposas, com feitiços e poções mágicas terríveis."
Valfredo olhou para o céu, olhou
para sua esposa que o fitava esperando sua reação, olhou para sua cama, que o
convidava para descansar e com uma lágrima brilhando, que escorria pelo seu
rosto, falou consigo mesmo:
— Puxa vida... Como é bom ter saúde, disposição
e poder começar o ano com tanta coisa para fazer! Assim me sinto cada dia mais
vivo e útil. Triste deve ser aquele que não tem vontade de se virar, e vive só
de sonhos... É, parece que mais um ano feliz vem por aí!
Que bom as coisas começaram a mudar para Valfredo também! Lindo conto! abraços. chica
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