sábado, 8 de fevereiro de 2025

Um ano de boas guerras

 


                Uma vez eu comecei a escrever uma série de crônicas disfarçadas de contos, onde um personagem chamado Valfredo lutava contra monstros, bruxas, duendes, participava bravamente de aventuras das mais malucas, à mando do rei, e para salvar o reino onde ele era um grande cavaleiro.

            Acontece que nessa época eu estava com várias batalhas internas e externas na vida, e o Valfredo foi uma válvula de escape para as situações que estava passando.

            Hoje olhando meus guardados eu me deparei com os contos do Walfredo.

            Graças a Deus os tempos mudaram e hoje a vida está muito mais tranquila.

            Mas a título de nostalgia, desse personagem que foi importante pra mim, vou republicar um dos contos e; se vocês quiserem, eu posso republicar outros.

            Esse foi um dos contos do Valfredo escritos quando as coisas já estavam entrando nos eixos, por isso tem um final feliz, “pero no mucho!”

 

 

Um ano de boas guerras

 

 

            Rufus, o cavalo do nosso herói Valfredo, vinha cambaleando pela estrada que trazia até a cidade.

            Com o corpo arqueado para frente e quase desmaiando de sono, vinha seu dono, só Deus sabe como, pendurado em cima de Rufus, que além de também estar exausto, ainda tinha que tomar cuidado e olhar onde pisava, para não dar nenhum tranco que jogasse seu dono ao chão.        O dia era 31 de dezembro, e o cavaleiro, mesmo absorto em pensamentos confusos, ainda conseguiu avaliar o ano e perceber que trabalhando juntos, os dois (ele e Rufus), passaram por muitos apuros. Muitas batalhas, muitas justas e muitos duelos. Os dois se aventuraram por todo o reino e enfrentaram inimigos de todos os tipos: bruxos, magos, cavaleiros negros, gnomos malvados, e praticamente um dragão por dia.

            O dia estava raiando quando o cavalo ganhou a praça central da cidade e se encaminhou para a casa de Valfredo.

            Eles viajaram a noite toda, porque no dia anterior haviam libertado a princesa Florinda, das mãos do perverso Rei da Malvitânia. Teoricamente, o rei a havia capturado e a fazia refém em seu castelo.   Valfredo teve que agir como um agente secreto e se infiltrar entre os cavaleiros de Malvitânia para poder chegar até o castelo sem ser notado, e assim, poder salvar a princesa.

            O problema é que na hora da fuga eles foram notados, por isso Valfredo teve que enfrentar os soldados da guarda real em uma batalha mortal. A guarda real da Malvitânia era conhecida por ter grandes espadachins, e bruxos com línguas mágicas que conjuravam os mais terríveis encantamentos. Mas, felizmente eles não tinham tanta experiência na arte da sobrevivência, e um a um foram caindo.

            Enquanto isso, Rufus se posicionou na porta do castelo, para que ele, a princesa e seu dono, saíssem em uma fuga desenfreada.

            Quando chegaram com a princesa Florinda até as portas de seu reino, o “Reino do Amanhã”, que é conhecido como um reino onde todos os problemas se resolvem, o trio foi surpreendido em uma emboscada, e acabaram descobrindo que foi a própria irmã da princesa, que querendo ser a única herdeira do reino, a havia traído e a entregado ao rei da Malvitânia.

            Valfredo apeou de seu cavalo, colocando-se como escudo entre os bandidos e a princesa, e nervoso falou para seu companheiro:

— Rufus! Corra com a princesa e a salve! Leve-a para o castelo de seu pai.

            O bom e obediente cavalo, saiu correndo com a princesa, enquanto Valfredo ficou ali enfrentando com fúria todos os cavaleiros que fizeram a emboscada. O aço das espadas soltava fagulhas a cada pancada que davam entre si.

            Depois de longos minutos de luta, Valfredo não aguentou e caiu no chão. Quatro cavaleiros que ainda sobravam de pé, cercaram Valfredo e quando iriam desferir o golpe de misericórdia, ouviram o som de uma trombeta e dos cascos dos cavalos da cavalaria real que chegava. Todos correram deixando Valfredo estendido no chão, mas com vida. À frente da cavalaria, vinha Rufus guiando a guarda real.

            Os cavaleiros chegaram e saudaram o cavaleiro que havia salvado a princesa, dando-lhe os cumprimentos reais.

            Já era tarde e Valfredo morto de cansaço, não quis ir até o castelo participar da confraternização de boas-vindas pela volta da princesa, por isso se despediu ali mesmo e decidiu voltar para casa, pois estava com muita saudade de sua esposa e de sua cama.

            Valfredo chegou em casa, apeou de Rufus, desarreou seu amigo, deu-lhe água, milho, e soltou-o no pasto para descansar. Então, sua esposa, quando percebeu que ele havia chegado, correu ao seu encontro, lhe deu um beijo de boas-vindas e os dois entraram em casa de mãos dadas. O brio do cavaleiro depois da demonstração de amor de sua esposa, até voltou, deixando-o mais animadinho.

            — Val, — falou a esposa balançando um papel. — O mensageiro do rei deixou essa carta pra você.

            O cavaleiro abriu a carta, e correndo os olhos, franziu a testa quando viu que nela havia as seguintes instruções:

            "Cavaleiro Valfredo, se apresente no castelo real, as sete horas da manhã do dia 1 de janeiro. Você tem alguns serviços agendados para este mês. Entre eles, deve caçar e matar o dragão que está assustando o povo do vilarejo dos camponeses plantadores de figo, depois, tem que enfrentar e encarcerar o cavaleiro negro que tomou o castelo do príncipe Joselito, e em seguida, se juntar a tropa de cavaleiros da meia cruzada, para expulsar os bárbaros das terras baixas do bairro da cidade norte. Depois, se ainda estiver vivo, deve lutar contra as gárgulas vampiras, que estão atacando os pescadores do rio que contorna as muralhas do nosso reino, e por fim, caçar a bruxa da floresta, que está amedrontando os caçadores de raposas, com feitiços e poções mágicas terríveis."

            Valfredo olhou para o céu, olhou para sua esposa que o fitava esperando sua reação, olhou para sua cama, que o convidava para descansar e com uma lágrima brilhando, que escorria pelo seu rosto, falou consigo mesmo:

             — Puxa vida... Como é bom ter saúde, disposição e poder começar o ano com tanta coisa para fazer! Assim me sinto cada dia mais vivo e útil. Triste deve ser aquele que não tem vontade de se virar, e vive só de sonhos... É, parece que mais um ano feliz vem por aí!

 

 

Um comentário:

  1. Que bom as coisas começaram a mudar para Valfredo também! Lindo conto! abraços. chica

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