Entregava marmita, Ifood, pagava boleto nos banco e fazia uns bico de moto-taxi.
Ele já não era mais moleque. Tinha trinta e pouco.
Mas depois que a firma faliu ele teve que se virá, porque tinha que pagá a pensão da menina e ajudá cas conta da casa da ex-mulher.
Ele tentô otros trampo, mas ninguém tava contratâno.
Mandô currículo, conversô, mas as porta tava fechada.
No começo ele estranhô.
A vida nas rua é diferente.
Conheceu uns mano do corre.
Uns só trabalhava mêmo.
Otros fumava uns baseado pra passá o tempo, enquanto esperava as corrida dos aplicativo.
Outros fazia uns aviãozinho pro tráfico.
Isso ele nunca fez.
Ele começô a comer marmita entre um corre e outro.
Depois ele começô, — quando dava — comer uns salgado.
Depois só tomava café e fumava um baseado junto com os mano.
Mas ele não era desse tipo.
Não era bruto.
Não precisava entrá na onda dos irmão errado.
De vez em quando ele lembrava que tava com fome.
Trabalhava desde cedo até as onze da noite.
A moto de vez em quando furava o pneu e ele de vez em quando passava mal.
De vez em quando ele vomitava.
Um dia vomitô sangue.
Sentia tontura.
Quando sentia tontura ele comia um doce ou tomava café.
Os dia foram ficano ruim pra ele.
Pediu dinheiro emprestado pruns cara errado.
Pagô, mas levou um pau uns dia antes, porque tava atrasado.
O médico disse que a pressão dele tava muito alta.
Disse que tava desnutrido e com falta de várias vitamina.
O médico disse que ele tava com infecção na urina. Acho que é assim que fala.
Disse que era magro demais, e que mesmo assim a diabete tava quase pegano ele.
Acho que era um lance de hormônio e falta de dá umas dormida.
Ele só pensava no corre.
Parece que a rua engoliu ele.
As rua não é fácil...
Eu até acho que ele tava com pobrema de cabeça.
Podia sê a canceira.
De vez em quando ele falava do trabalho antigo.
Da ex-mulher.
Da filha...
Chorava.
Mas não podia pará de fazê as coisa.
Os corre loco das rua.
Ele tinha que pagá a pensão em dia, senão a Maria mandava os home atrás dele.
Um mês ele atrasô.
Dormiu na cadeia três dia.
Até os mano do corre se juntá e ir lá tirá ele.
Pagaro a pensão e ele foi liberado.
Hoje ele tava locão! Foi entregá quatro café da manhã, foi pagá boleto em cinco banco, depois foi entregá várias marmita, e quando encostô pra trocá ideia co's mano do corre, as três da tarde, ele disse que tudo tava ficano preto.
Deu tontura.
Uma sede que ele não aguentava.
Bebeu quase um litro d'agua.
Caiu duro no farol.
Um cara chamou o SAMU.
Mas não deu mais tempo.
Agora ele não tá mais no corre.
Acabô.
Foi conhecê Jesuis...

Poesia baseada na vida de tantos que correm, vão em busca, mas epois tomam oiutros caminhos ... Pena! Linda! E o coitado, abreviou a vida, não mais sofre! abraços praianos, chica
ResponderExcluirE são tantos nessa situação, né Chiquinha?
ExcluirUm abraço!
Olá, amigo André!
ResponderExcluirUma história que muitos vivem...
Muito bem contada na linguagem deles, inclusive.
Pena que o final nunca é feliz...
Tenha dias abençoados!
Abraços faternos
Oi Rosélia.
ExcluirEntão menina.
Tanta gente vivendo como figurantes nessa vida, né?
Pessoas que não damos valor.
Tipo fantasmas que sobrevivem, sem viver.
Um abração!
Boa tarde!
ResponderExcluirQuerido amigão,
O texto me atravessou! Que texto forte!!!
Desses que a gente lê e fica quieta depois, olhando pro nada. Ele, não era um herói, nem um coitado era só um homem tentando sobreviver num país que costuma engolir quem não tem tempo de descansar.
O “corre” que ele fazia é o retrato cru de muita gente. Gente que trabalha até o corpo desistir, que engole fome, dor, cansaço, humilhação. Gente que morre de tanto tentar viver. E escolheu do jeito que deu, entendeu...
Enquanto lia, senti vontade de parar o tempo. De colocar um prato de comida quente na frente dele, um copo de suco, e dizer: “senta um pouco, moço Respira.”
Enfim, há muito destes nos "corres".
Mas o texto termina como termina a vida de muitos exaustos, invisíveis, sem nem manchete. Só o silêncio, e talvez um céu mais leve para quem tanto correu aqui embaixo do jeito certo ou" errado".
Fernanda
Olá Fernanda.
ExcluirEntão menina.
Essas pessoas existem. Talvez não façam parte do nosso dia a dia.
Talvez a gente não entenda quando eles passam feito malucos com seus bags, entregando Ifood.
A gente até fala mal.
Mas a gente não está na pele deles.
Lógico que em todas as profissões e em todos os lugares existem os bons de coração e os maus. Só que a gente generaliza.
Esse do texto acabou sucumbindo.
Um abraço minha amiga.