Lucio voltou da caminhada diária, abriu o portão e fez um carinho
na cabeça de Bóris, seu cachorro, que o esperava balançando o rabo de alegria. Entrou
em casa e foi direto tomar um banho. No banho, ele começou a pensar, que de
três anos pra cá, desde a morte de sua esposa Carmem, como sua vida estava
mudada. Ele nunca havia imaginado, que ao completar setenta anos estaria
morando sozinho, pois os filhos estavam todos casados e cada um trabalhando num
canto do país.
Logo ele, que sempre zelou tanto pela unidade da família, pela
alegria e relacionamento dos filhos com os pais. Mas é assim mesmo, os filhos
crescem e querem voar por conta própria. Eles tem de enfrentar o mundo e a vida
que tem pela frente, a parte dos pais é apenas prepará-los para isso...
Lucio tomou banho, enrolou a toalha na cintura, foi até a cozinha,
pegou um copo de leite e umas torradas, depois foi até o escritório abrir seus
e-mails.
Enquanto o computador iniciava, ele se deliciou com sua torradinha
besuntada de geleia de morango, e seu copo de leite gelado.
Lucio era um idoso pra frente, tinha
Facebook, Instagram e se comunicava por WhatsApp com todos os netos, sobrinhos
e de vez em quando até com um dos quatro filhos. Ele se orgulhava disso, pois
era um velho conectado no novo mundo.
Quando seus e-mails carregaram, Lucio foi abrindo um a um, para
ver do que se tratavam. E-mail de propaganda de lojas virtuais, e-mail de
sacanagem que seu neto João sempre mandava, e-mail com vírus que teimavam em
mandar, falando que era do banco, da receita federal, do SPC e um e-mail do seu
amigão Marcel.
O e-mail do Marcel falava assim: Bem-vindo a minha festa, se você
abrir esse e-mail não poderá mais fechá-lo, até que receba os quatro presentes.
— Lá vem... — pensou Lucio sorrindo. — O Marcel só manda
bobagem... — falou consigo, quando percebeu que era um e-mail daqueles com
correntes religiosas e de “crendices bobas”.
O e-mail do Marcel dizia: A partir de agora, você faz parte da
corrente do bem, da festa do arcanjo Miguel! Quatro coisas vão acontecer com
você:
1- Uma ligação telefônica inesperada.
2- Alguém vai lhe dar uma notícia boa.
3- Você fará uma viajem.
4- Encontrará a pessoa que ama.
Mas como sempre, era preciso enviar a mensagem para toda sua lista
de contatos. Lucio não acreditava nessas correntes, mas resolveu enviar, só pra
participar da brincadeira. Depois disso, ele leu mais alguns e-mails, navegou
um pouquinho pela internet até que o telefone tocou.
— Alô!
— Paaaaaaiiiiiii, me sequestraram paiiiiiiiiiiiii, socorro!
— Quem, sequestraram quem? Jonas? É você?
— Sou eu pai, é o Jonas, me sequestraram, eles querem um resgate!
Pai socooooorrroooo!
— C.. co... como is.. isso f... filho...
— Nós estamos com seu filho, Jonas! — falou uma vós áspera. — Se
você não mandar o dinheiro que vamos pedir, nós vamos matar seu filho!
Ma... mas como? Quem é v... você? — O coração do velho Lúcio não
aguentou o baque, ele sentiu uma enorme dor no peito e cambaleando, foi até a
calçada, onde caiu no chão.
A vizinha chamou a ambulância que o levou até o hospital e
chegando lá foi direto para a UTI.
Algumas horas mais tarde, seu filho Manoel que morava na cidade
vizinha, chegou ao hospital desesperado. Quando chegou perto do pai, Manoel foi
logo acariciando sua cabeça grisalha e falando ao velho.
— Puxa papai... — balbuciou em meio a uma lágrima. — Como é que
isso foi acontecer? Eu amo o senhor e a correria da vida fez a gente ficar tão
distante. Ainda agora eu estava falando isso pro Jonas. Eu já liguei pra ele e
ele vem vindo, vê se aquenta aí...
A mente de seu Lucio estava atenta e apesar dele parecer estar
dormindo, ele ouviu a notícia boa de que seu filho Jonas estava bem.
“Deve ter sido um trote daqueles de presidiários, — pensou ele,
mas sem forças pra acordar e se levantar do coma.”
Nesse momento, quando seu coração se acalmou pela boa notícia,
Lucio viu parado em sua frente, uma pessoa muito bonita com cabelos loiros e
uma roupa branca bem brilhante e iluminada, que chegou perto dele, pegou-o pela
mão e falou:
— Olá senhor Lúcio, tudo bem?
— Tudo bem quem é você?
— Eu sou um anjo!
— Um anjo?
— É... Eu vim buscar o senhor pro senhor fazer uma pequena
viajem...
— Pra onde?
— Por enquanto não posso falar, mas vai ser muito bom, e sabe quem
está te esperando lá?
— Eu sei, a Carmem.
— Como sabe disso?
— Eu li num e-mail... — respondeu Lucio sorrindo.
— O senhor leu em um e-mail? — falou o anjo com cara de
desentendido.
— Li... E olha que eu que pensava que esses e-mails do Marcel eram
tudo besteira...
Fantástico.
ResponderExcluirObrigado! Que bom que gostou!
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