Ela entrou naquela sala, ficou parada pelo menos cinco minutos, “segundo seus cálculos” e estranhou o fato de que ninguém olhou para ela.
“Estou me sentindo um fantasma!” – pensou, começando a caminhar.
“Essas pessoas devem ser intolerantes! Elas devem estar chocadas com minha 
roupa, ou com o tom da minha pele!”
Na verdade, ela destoava das pessoas na sala e isso a incomodava, pois ela 
sabia do preconceito de que sempre fora vítima. 
Enquanto todos esperavam quietos, sentados em suas cadeiras, que se 
dispunham em forma de um grande círculo, ela andava inquieta, procurando 
arrastar os pés e fazer barulho, para ver se pelo menos alguém a notava, ou se 
dirigia a ela.
Uma mulher, que deveria ser a assistente social, estava sentada no meio do 
círculo, com uma prancheta e alguns papeis nas mãos. Percebendo que alguém  andava e fazia barulho, falou:
- Boa tarde! A senhora vai participar da reunião?
- Ah.., finalmente alguém me notou! – respondeu ela parando, colocando as 
mãos na cintura e fazendo cara de nervosa. – Eu entrei aqui, ninguém olhou pra 
mim. Ninguém teve coragem de falar comigo! Me trataram como se eu não existisse!
- Não, – falou a mulher do meio do círculo – a senhora não está 
entendedo.
- Não estou entendendo? É logico que estou entendendo! E sabe porque? 
Porque eu senti isso a vida toda! Vocês são racistas, preconceituosos.
- Não é isso senhora! Aqui ninguém é racista!
- É sempre a mesma desculpa: Não é isso! Nós não somos racistas!
- Deixa eu te explicar.
- Não tem explicação. Todo mundo olha pra mim com nojo! Só porque meu 
cabelo é vermelho e minha pele é quase trasparente? Só porque meus olhos são 
claros e eu tenho que usar óculos escuros mesmo dentro de casa? Só porque eu 
tenho que andar de camisa de manga comprida mesmo no sol? Eu não tenho culpa de 
ser albina! Isso é um problema genético, e eu estou cansada de me tratarem como 
um ET.
- Senhora, me perdoe, mas a senhora está fazendo confusão.
- Fazendo confusão! – gritou ela com o dedo em riste. – Quem está fazendo 
confusão é você e esse bando de hipócritas dentro dessa sala.
- Senhora, – falou a mulher do meio do círculo em meio a um suspiro – o que 
a senhora veio fazer aqui?
- O que eu vim fazer aqui? Que pergunta idiota! O que é a senhora?
- Eu sou assistente social.
- Então a senhora deveria saber, que eu vim para a reunião de apoio para 
pessoas que se sentem excluídas da sociedade. Mas pra falar a verdade, eu nunca 
me senti mais excluída do que aqui nessa sala!
- Eu entendo sua raiva.
- Ah..., não entende não! Não entende porque não é albina! Você é uma negra 
linda, que pode andar de biquini na praia, e que chama a atenção da maioria dos 
homens... A senhora não me entende nem um pouco.
- Eu entendo porque sou assistente social, e entender esses problemas é a 
minha profissão.
- Então porque vocês, que deveriam me acolher e me tratar bem, se mostraram 
tão indiferenntes?
- Não é que tratamos a senhora com indiferença! O problema, é que a senhora veio no dia errado. O dia para a reunião de pessoas que se sentem excluídas da 
sociedade, mas que são normais, é amanhã.
- Porque? Essas pessoas aqui, por acaso não são normais?
- Não!
- É... Na verdade não devem ser mesmo, porque uma pessoa preconceituosa não 
é mesmo normal.
- Não, senhora, essas pessoas são: cegas, surdas ou mudas. A reunião de 
terça-feira é para tratar com essas pessoas. Por isso que ninguém se dirigiu à 
senhora! Porque, ou eles não a viram, ou não te escutaram ou não tiveram como se 
comunicar com a senhora.
- Nossa! Eu não sabia! Me perdoe.
- Lógico que eu te perdoo, e tenho certeza que algum deles que entendeu o 
que a senhora falou, também vai te perdoar, mas, a primeira pessoa que tem 
que perdoar aqui, é a senhora! Porque a senhora está tão infectada com essa 
história de preconceito, que está se esquecendo de viver.
- Talvez a senhora tenha razão... – respondeu ela, olhando para o chão, sem 
coragem de encarar a assistente social.
- Não precisa ficar chateada. Volte amanhã, com um sorriso no seu lindo 
rosto de pele clara e com esse cabelão fashion ao natural. Te espero as quatro 
horas.
  
 
Bah! Que belo conto e infelizmente o preconceito está tão arraigado que as pessoas o criam ,elas mesmas em suas cabeças, colocando a culpa em outros por vezes. Lindo, atual! abração,chica
ResponderExcluirBah Chiquinha! Que bom que gostou!
ExcluirObrigado pela visita!
Há muitas vítimas de preconceito que também são preconceituosas...
ResponderExcluirUm texto muito bem imaginado, divertido e ao mesmo tempo abordando uma problemática social que teima em não se extinguir.
Continuação de boa semana, caro André.
Um abraço.
Obrigado meu amigo Jaime! Ótimo restante de semana pra você!
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