sábado, 2 de abril de 2016

Virgem Maria - parte 1






Olá amigos! Bom, retornando as atividades blogueiras, eu resolvi postar um grande conto que escrevi a algum tempo, e que até já postei aqui. Da outra vez eu postei esse conto inteiro, todo de uma vez, e por isso, pouca gente leu. Agora resolvi postá-lo em capítulos e assim facilitar a vida de todo mundo.
Esse conto já foi publicado em uma antologia de contos da editora Big Time, e quando publicado no facebook, me rendeu bons comentários. Espero que gostem!


Virgem Maria                        
                                                               

O sol raiava no horizonte, e o vilarejo acordava, com suas ruas ainda vazias.
A fumaça saia lentamente pelas chaminés dos fogões à lenha e os bolos e pães começavam a ficar prontos, enquanto a agua para o café era fervida.
Era início de inverno. A neve caíra a noite toda de uma forma branda, e agora, aos primeiros raios de sol, ela começou a derreter, e isso a fez misturar com a terra das ruelas formando um barro espesso, que grudava nas rodas da carruagem que trazia o Monsenhor Fernando e o alcaide Carlos Arguiles.
Junto com eles vinham mais quatro guardas da brigada da santíssima corte da igreja e da cidade de Manzaneda, armados com suas espadas, armaduras e escudos, como se fossem a uma guerra. Na verdade iriam mesmo, mas não sabiam ainda quem era o inimigo. Sabiam apenas, que era um inimigo de Deus e dos homens de bem, católicos e defensores dos bons costumes.
O barulho do estanque da carruagem e das ordens para os cavalos pararem entrou pela casa adentro, dona Matildes cutucou seu marido Armando sussurrando:
- Tem alguém na nossa porta!
-  Deixem que chamem, uma hora dessas da madrugada e ainda no domingo, talvez nem seja aqui.
A porta da carruagem rangeu e duas pessoas desceram, deu pra ouvir os passos das botas de couro de coelho com salto de madeira chegarem até bem perto da porta, quando alguém bateu com batidas firmes e anunciou em voz alta:
- Ô de casa! Monsenhor Fernando e o alcaide Arguiles estão aqui para falar com o senhor Juan de Castro!
Dona Matildes olhou para seu marido assustada e perguntou: - O prefeito e o chefe da igreja querendo falar com o Juanito? Deve ser um engano.
 - Calma mulher que vou abrir a porta - falou Armando de um salto só até a fechadura. - Olá senhor alcaide, a benção Monsenhor Fernando, (Armando disse isso se inclinando e beijando a mão do líder da igreja), o que está acontecendo?
- Senhor Juan de Castro?
- Não Monsenhor, eu sou Armando de Castro, pai de Juan, o que está acontecendo?
- Queremos ver o senhor Juan de Castro!
- Matildes, - falou Armando virando para sua esposa - chame o Juanito por favor, depressa! – depois virando-se novamente para o chefe da igreja, perguntou: - Posso saber o que está acontecendo Monsenhor? - Falou Armando voltando-se para o “santo homem”. 
- O frei Augusto do convento de Manzaneda pegou esse escrito mal intencionado no meio das coisas do seu filho Sr. Juan de Castro - falou o Monsenhor balançando um pedaço de papel - esse escrito fala de um amor carnal de um homem por uma mulher, e como o senhor bem sabe, não são permitidos os poemas escandalosos no nosso reino. O papa proibiu todos os poemas carnais subversivos e só é permitido escrever sobre a vida ou a história dos santos homens da igreja e obras sacras!  
-  Mas o que está escrito de tão grave nesse papel? - Perguntou Armando aflito.
- Um poema carnal e isso só pode vir de uma mente suja e influenciada pelo demônio - falou Monsenhor Fernando dobrando e colocando o papel no bolso -  posso falar agora com seu filho?
Foi então que dona Matildes apareceu com um garotinho de 14 anos, trazendo-o pela mão até a porta.
- Quem é esse menino? - Perguntou o Monsenhor.
- Esse é meu filho Juan de Castro - disse dona Matildes abraçando Juanito como uma galinha protege seus pintinhos debaixo das azas. - Como o senhor pode ver ele é apenas uma criança!
Foi então que o alcaide Sr. Arguiles se aproximou do casal aflito e examinando Juanito de cima abaixo, fez uma careta entortando a boca e franzindo a testa para depois de um longo momento falar:
- É monsenhor Fernando, isso é pior do que a gente estava esperando... Um garotinho desses escrevendo uma coisa daquelas só pode mesmo ser um bruxo encarnado!
          - Realmente Arguiles; guardas! - falou monsenhor Fernando bradando autoritariamente. - Vamos levá-lo para a masmorra enquanto espera o julgamento para o dia da fogueira santa.
          Acordando com o dia e com o barulho na rua, várias pessoas saíram de suas casas e começaram a se aproximar daquela triste expedição matinal. As pessoas tentavam entender o que estava acontecendo e alguns até se revoltaram, mas eles sabiam que a palavra do Monsenhor Fernando era a última a ser dita e nem pensavam em questioná-lo.
          Seu Armando entrou na frente de Juanito, como se fosse um escudo, protegendo-o, e desesperadamente gritou suplicando: - Como vocês vão querer fazer isso com uma criança, vocês não veem que ele é inocente? Não vou deixar que levem meu filhinho.  Quero saber o que foi que ele escreveu de tão grave!
            Dona Matildes agarrava ainda mais forte seu filho que ainda bêbedo de sono não conseguia entender nada do que estava acontecendo, sabia apenas que aquelas pessoas estavam falando dele e que seus pais estavam aflitos.
          - Guardas, peguem o Sr. Juan de Castro à força se for preciso. - ordenou o alcaide Arguiles.
           Um dos guardas, homem forte, forjado para a guerra, com uma armadura que brilhava com o reflexo dos primeiros raios de sol, empunhando uma espada de lâmina tão larga e afiada que cortaria uma pessoa ao meio facilmente, se aproximou de Armando e sem fazer nenhum esforço deu com o cabo da espada em sua cabeça fazendo-o desmaiar. Armando ainda teve tempo de olhar fixamente para os olhos do guarda e conseguiu enxergar que ele não estava feliz em cumprir essa ordem, depois disso, o mundo se apagou...




27 comentários:

  1. Amigo André, era mesmo assim em tempos que se vão longe, mas olhe que despertou minha curiosidade em saber o desenrolar desse conto, eu não tenho preguiça de ler, portanto publique logo a sequência...
    Bem escrito, nossa, amei!Parabéns!!!
    Abraços apertados!

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    1. Oi Ivone!
      Que bom que gostou.
      Estou pensando em colocar um capítulo a cada 3 ou 4 dias.

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  2. Falam Mansim, não lembro desse conto, e estava lendo agora, e quando estava esquentando acabou,rs, era pra ter postado ele todo, mas vou acompanhar, muito bacana, parabéns.

    Abração do Cheng

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  3. Eu fui das que leu o conto todo. Mas uma boa leitura relê-se sempre com prazer.
    Um abraço e bom Domingo.

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  4. Lindo,André e vale ler e reler sem dúvida! Adorei teu pedacinho por lá! abraços,chica

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  5. OI ANDRÉ!
    AINDA BEM QUE CHEGUEI AQUI NO PRIMEIRO CAPÍTULO, VOU VOLTAR PARA CONTINUAR LENDO, FIQUEI CURIOSA.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  6. Oi André, iria gostar de ler até o final, mas não estou bem: vou operar os dois pés.Tudo veio a cavalar, acho que é feitiço dos bravos.
    Agora estou nas mãos de especialistas vamos ver o que vai dar. Se eu soubesse que iria sofrer tanto não tereia 39 anos , teria ido pra zona, mas não é o que você está pensando e seria cuidadora dos filhotes das mademoseles.kkk
    dorlisilva@bol.com.br.
    Beijos
    Lua Singular

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    1. Ore e peça pra Deus te ajudar minha amiga! Tem coisas, que só ele pode!

      Um beijão e melhoras!!!

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  7. Desculpe o erro: é a maldita dor: não teria trabalhado 39 anos.
    Dorli

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  8. Gostei desse conto,
    só não gostei, todavia
    do que aquele tonto
    sem dó nem alma fazia!

    Obrigado pela visita, boa tarde, caro amigo André, um abraço,
    Eduardo.

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    1. Hahahahahahaha, e como fazia.
      Essa época da inquisição deve ter sido pesada demais!!!

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  9. Oh deuses!...Um poema de amor carnal! O rapazinho só poderia estar de facto ter sido possuído pelo demónio ou ter encarnado um bruxo! Só poderia de acordo com a visão altíssima das Eminências ser atirado para a "Santa" fogueira!...
    Excelente narrativa, e fiquei com muita curiosidade em relação à continuação do conto. Parabéns.
    Obrigada pela visita ao meu blog.
    xx

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  10. Olá Andre! Passando para agradecer a tua visita e amável comentário, assim como me deliciar com a leitura do Virgem Maria, que promete ser um ótimo conto. Será que o poema do Juanito fala da mãe do alcaide?

    Abraços,

    Furtado.

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  11. Parece a inquisição...
    Até aqui o conto é muito bom. Fico à espera da parte 2.
    Gostei da narrativa, que prende o leitor da primeira à última linha.
    Bom fim de semana, caro amigo André.
    Abraço.

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  12. Senti o cheiro do café daquela manhã fria he he he e a cada frase sinto confirmar que a humanidade só pode evoluir com a liberdade de expressão, todos os tiranos se pudessem calariam a boca daqueles que sabem lidar com as palavras ou seja os homens que pensam e se expressam livremente em qualquer tipo de assunto.Uma das colunas principais de uma sociedade mais justa é o contraditório porque a verdade de uns colide com os anseios de outros.
    A sociedade que se preza deve sempre defender a mídia. E como disse Evelyn Beatrice Hall.
    Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.
    Abraço meu sobrinho pensador.

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  13. Muito talento por aqui..sempre!
    abraços meus de boa noite de Domingo pra ti.

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