segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Mariana viajou, e Graziela se casou...

 

Rodolfo namorou com Graziela desde a adolescência. Com o passar do tempo, ele que sempre fora um doce de pessoa, se transformou em um rapaz ciumento e obsessivo, que não suportava a inteligência e a beleza de Graziela, que era uma menina que chamava atenção por onde passasse. Ele se julgava menor perto dela e apesar de amá-la perdidamente, sentia-se inseguro e acuado perto dela.

Luiz e Mariana namoravam a oito anos. No quarto ano de namoro eles decidiram morar juntos, a vida era perfeita, eles realmente se amavam, se respeitavam e viviam bem.

Chegou um dia que a Graziela não aguentou mais as crises de ciúme de Rodolfo, e decidiu terminar o relacionamento. Rodolfo não aceitou e chegou até a bater em Graziela. Foi uma briga enorme, que mobilizou os vizinhos e até a polícia. Rodolfo acabou preso naquela noite, e depois de dormir na cadeia, logo cedo, pagou a fiança e foi liberado.

Mariana era bióloga e recebeu uma oferta de emprego irrecusável no Canadá, pois além de independência financeira, ainda poderia fazer o que mais gostava na vida, só que Luiz era promotor, e tinha uma carreira brilhante pela frente.

Graziela começou a namorar com Ricardo seis meses depois da separação com Rodolfo, apesar de que já havia passado dois anos desde que eles se separaram, quando Rodolfo soube que sua ex-namorada iria se casar, passou a ameaçá-la e dizer que mataria Ricardo ou ela. Rodolfo ligava pra ela todos os dias, mandava áudios nervosos no watsapp e quando ela o bloqueou começou a madar mensagens através do Facebook, dizendo que não aceitava esse casamento. Rodolfo fazia da vida de Graziela um verdadeiro inferno.

 Mariana e Luiz estavam num beco sem saída, ela tinha a maior proposta que um biólogo poderia ter, e ele tinha uma vida pela frente num ramo em que havia lutado muito para conseguir. Essa situação começou a martelar na cabeça deles, até que no calor de uma discussão, Luiz pediu para Mariana ir pro Canadá sem ele.

Rodolfo resolveu que não iria abrir mão de Graziela e não a deixaria se casar com Ricardo, o casamento estava marcado pro próximo sábado as 20 horas.

Sábado, as 20 horas, sairia o vôo que levaria Mariana ao Canadá. Numa última conversa, ela deixou claro para Luiz que se ele aceitasse, ela abandonaria o convite de emprego e ficaria no Brasil, mas Luiz não achou justo atrapalhar o sonho de Mariana, mesmo amando-a como a amava.  

Rodolfo foi até uma favela e comprou um revólver.

Mariana se despediu de Luiz e foi de taxi para o aeroporto.

Graziela estava se preparando para ir pra igreja.

Rodolfo bebeu a tarde inteira pra tomar coragem de executar sua vontade.

Quinze para as oito, Luiz se arrependeu, correu até a garagem e saiu em disparada com seu carro para tentar impedir Mariana de viajar.

Quinze para as oito, Rodolfo tomou coragem, pegou a arma, carregou-a, e partiu com seu carro pra matar Graziela e Ricardo na porta da igreja.

Luiz corria a 120 por hora, apodando todos os carros, desviando dos motoqueiros e dos caminhões, enquanto Rodolfo vinha em sentido contrario, ziguezagueando e correndo o máximo que seu carro podia dar, os dois, cada um movido por um tipo de sentimento, vinham fazendo loucuras no trânsito, correndo riscos, e pondo todas as vidas que passassem por eles em risco também.

Foi então que num cruzamento dois carros colidiram de frente, outros carros que vinham atrás foram batendo, batendo, batendo, e isso se transformou no maior engavetamento que aquela cidade já havia visto. Os dois motoristas morreram na hora, e pedaços de peças de carro se espalharam por quarteirões inteiros.

A polícia chegou, os bombeiros chegaram, as pessoas foram parando seus carros no engavetamento.

As oito horas em ponto de um lado do engavetamento Rodolfo olhou no relógio e pensou: “Isso deve ser um sinal de Deus... Eu ia fazer uma cagada e ia me ferrar pro resto da vida...”

Do outro lado, Luiz sentou-se no capô do seu carro, e olhando para o caos a sua frente, franziu a testa e pensou: “É, eu tive muitas oportunidades para não deixar Mariana viajar, mas talvez seja melhor assim.”