sexta-feira, 25 de maio de 2012

Amigos de rua

Ele acordou, suas costas estavam doendo pelo mal jeito que foi dormir naquele banco. Por mais que forrasse o banco com jornal e papelão para improvisar um colchão, as suas costas estavam lhe matando.
Seus dois cachorros, acostumados a dormir ao seu lado, estavam de guarda nos seus pés, esperando que ele acordasse. O sol já vinha nascendo e os primeiros raios ajudavam a esquentar seu corpo franzinho e debilitado.
" Puxa vida... Como esfria no nascer do dia..." - Pensou ele se sentando e esfregando os olhos com as costas das mãos.
Depois de dar uma espreguiçada, dobrou seus trapos que servem de cobertor e guardou junto com os jornais, colocando-os dentro da carrocinha que usa para catar latinhas e plásticos recicláveis pela cidade. "Vou guardar esses jornais aqui, porque eles quebram um galhão à noite."
Seus dois companheiros desceram do banco e ficaram em sua frente balançando o rabinho a espera de um afago. Depois desse bom dia canino, ele sorriu e foi até a fonte da praça dar uma lavada no rosto e nas mãos para depois voltar ao banco e abrir seu saco de pão com mortadela que cuidadosamente havia guardado debaixo de seu travesseiro para que no outro dia cedo servisse de café da manhã.
- Pitoco, Juquinha, vem aqui! - Falou ele chamando seus dois amigos. - Olha, hoje só tem esses dois pães aqui, então eu vou dividir um entre vocês dois que são pequenos e vou comer um inteiro. Vocês sabem que eu tô uma tosse dos infernos e tenho que comer um pouco mais senão não num guento!
Os dois cachorros pararam em sua frente novamente e ficaram esperando o café da manhã. Então ele dividiu um dos pães com os dois e começou a comer o outro. Dalí um pouco ele separou mais um pedaço agora de seu pão e falou novamente:
- Toma vai seus dois gulosos, ficam aí me olhando com essa cara de pidão...
Depois do pão ele pegou um resto de guaraná que estava no fundo de uma latinha, colocou na boca, fez uns gargarejos e engoliu. Aí ajeitou sua roupa, passou seu pente banguela no cabelo e colocou seu boné de propaganda eleitoral da eleição passada.
Em seguida saíram os três, andando juntos pelas ruas da cidade.
Ele tinha que procurar nas latas de lixo do calçadão e ver se coletava alguma coisa que lhes garantisse o almoço.
Pra ele era assim, ele tinha que ganhar o próximo pão todos os dias... Pra ele e para os seus amigos...

29 comentários:

  1. Fala, André, beleza?

    Pois é, amigo, a vida é dura para quem vive e sobrevive nas ruas. Pelo menos esse aí tem o "calor humano" dos seus amigos caninos.

    Grande Plebe Rude!!!!!!!!



    p.s. esta semana estou publicando no veredasdopensamento.blogspot.com (caso queira aparecer)


    abraços e grande fimdise (fim de semana...rsss)

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  2. Dedé, amigão!
    Pois é... é a realidade de muita gente mundo à fora, não só aqui no Brasil, tem mendigo até em Paris, amigo, a diferença é que eles falam francês. O que comprova que o sistema econômico chamado capitalismo está em bancarrota e levando todo mundo junto, sem contar toda a realidade do descaso, da marginalização por diversos fatores (drogas, etc...).

    Plebe Rude! Esse foi uma das minhas bandas favoritas nos anos 80! Tudo que eles cantavam tinha esse tom de protesto pós-ditadura, foi a tal da "abertura" nas letras do rock também. Nessa linha também tinha o Ojeriza, o Ira. Adoro esse vocalista, gente boa! E fiquei feliz, pois vi que esse DVD é de 2011! Eles voltaram ou foi só um show específico para DVD?

    Ótimo fim de semana para vocês três! Beijos no Samuelzinho lindo!

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    1. É Cissa, essa situação de povo de rua é terrível mesmo.

      A Plebe nunca acabou Cissa, esse cantor nrgro é o Clemente dos Inocentes que canta nas duas bandas. Se você puder compre esse DVD que é maravilhoso.

      Valeu, amiga!

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  3. É incrível.Deu pra ver a cena!!Acontece tantas e tantas vezes.Lindo o modo como a trouxeste!!abração,chica

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    1. Obrigado Chiquinha... Estou aprendendo com seus textos, hahahhaahhahaha.

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  4. Nossa, se eu fosse político e tivesse consciência estaria indo ao médico cuidar desta lambada que vc deu....rsrsrsr

    Mas creio que o SUS receberá é a visita do teu personagem ....rs...neh?

    Abçs

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    1. Pena que eles não lêem...

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    2. Talvez algum assessor ou um puxa saco...rs

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  5. André..Muito bom te ler..
    Você é que esta escrevendo cada vez melhor...
    Amei!
    Bjinhos

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  6. André o/
    Como vc tá? Como tá o Samuquinha, sua esposa e a Frida?
    Olha que conto ficticio sobre uma realidade comum vc escreveu! Fiquei sensibilizada! Mas é assim mesmo..ás vezes reclamamos da nossa vida e existe pessoas em uma situação realmente dificil.
    Eu não sou velha! ahshashashahs não importa se tenho dois fios rebeldes de cableo branco que teimam em nascer, eu ainda sou jovem \o/. Mas em termos musicais..eu gosto mesmo dos clássicos..faltou muita banda boa que eu aprecio.;mas agora to com projeto para uma nova sessão do blog que tratará de som! Espero conseguir fazer @_@.
    bjs

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    1. Pena que a gente "incluindo eu" só nos sensibilizamos mas não fazemos nada né Tsu... E os políticos menos ainda...

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  7. Ola André,
    Sabe, fico com muita pena dessas pessoas quando chega essa época de outono-inverno. Eu na minha bela cama, quentinho envolto em bons cobertores, após uma bela e boa refeição, enquanto isso um ser humano e seus amiguinhos caninos passando um perrengue só. Mesmo ajudando sempre que posso, não tem jeito, fico pensando neles!

    Quando morava na cidade do Rio era impressionante! Tinha gente morando nos bueiros de forma a poder aguentar a noite de frio...

    Vale destacar também o amor incondicional dos cachorros, eles são assim, e nós humanos deveríamos aprender um pouco com eles.

    Belo texto e bom fim de semana!

    Abraços, Flávio.
    --> Blog Telinha Crítica <--

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    1. O brigado Flavito! Valeu por sempre estar aqui.

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  8. Oi André
    É complicado, muitos moradores de rua não são vagabundos, são pessoas que não conseguiram espaço nesse mundo cruel, ou são pessoas que sofrem de alguma doença como depressão e simplesmente desistiram da vida, eu já falei sobre isso no meu blog. Muito bom o texto, é para refletirmos mesmo.
    Bjão padrinho e um ótimo domingo.

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    1. É Lú... As vezes essas pessoas não saem da rua não é porque não querem e sim porque não conseguem... Vivem aprisionadas nesse círculo vicioso...

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  9. Oi amigo,
    Bom dia! Vejo a crônica tao real e sem esperança para milhões de vidas que passam as noite ao relento, ao sabor do tempo e inseguras com o dia de amanhã. As vezes no incomodamos com o que está faltando e esquecemos que para alguns falta tudo, inclusive o banheiro. Penso que o farrapo humano e fruto de uma sociedade cada vez mais desigual, com esforços apenas aumentar o capital de empresas, inclusive, o nosso google, pai do nosso bloger. E a crise se alastra na Europa, nos EUA, aumentando o número de regiões que antes podiam proporcionar o mínimo de qualidade de vida.

    Bom domingo e beijos com carinho para todos por aí.
    Lu

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    1. É Luciana... e as previsões não são de melhoras!

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  10. Olá!Bom dia!
    Tudo bem?
    ...crônica que reflete bem a realidade...
    Penso que fica claro o descaso dos políticos e inclusive da sociedade como um todo, (na prática... me incluo nisso), com os moradores de rua... principalmente no âmbito das campanhas políticas, onde não se vê nenhuma movimentação para acabar com este problema. Sabemos que são várias consequências(frutos de suas condições familiares e sociais)falta de opções que os levam a serem moradores de ruas. Somente que devemos destacar que, conforme a personalidade de cada morador de rua, existem situações em que eles, muitas vezes tem apoio, sociais e governamentais,(sim, pouco) como: albergue, conselho tutelar da criança e do adolescente, casa da criança e outras entidades. Mas não querem, preferem viverem no sofrimento, no maltrato, na sujeira, e tem a rua como completa liberdade...
    Obrigado pelo carinho da visita!
    Bom domingo!
    Abraços!

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    1. É Felisberto as coisas são assim mesmo do jeito que vc falou! E algumas pessoas se acostumasm mesmo em viver miserávelmente... É a vida né...

      Obrigado por aparecer!

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  11. Como comentar sobre algo que vemos acontecer na esquina próxima e não fazemos nada. Eu não faço o melhor de mim nesse sentido, procuro ajudar, mas não da forma certa, confesso que quando ajudo é mais algo para acalmar minha consciência do que para fazer a diferença, assim como a maioria das pessoas .=/
    Muito triste, e ver que as pessoas que vivem nas ruas tem mais coração, mais bondade em dividir com os outros, ou com os animais do que os que tem muito e poderiam fazer mais .
    Beijos
    Viviane
    Razão e Resenhas

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    1. Olá Vívi... O pior é que temos consiência de que não fazemos nada...

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  12. Este texto é legal.
    Este mendigo é mais feliz que muita gente, pois tem amigos verdadeiros que não se importam com status.
    Provavelmente ele não tenha azia, obesidade, colesterol alto, triglicérides, preocupação com segurança e tantos problemas que assolam a sociedade moderna e só pode crescer na vida e não está preocupado com isso.

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  13. Deixando de lado a tristeza dessa situação, viro meu foco para outra direção, a do desperdício. Os lixos são ricos e muito do que contêm poderia ter sido doado.
    Bjs.

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  14. É cara, tem muito mendigo, que valoriza muito mais a amizade de um animal que pessoas ditas "intelectuais", "sábias", "ricas", "inteligente".

    O animal nos ama pelo que somos e não pelo que temos.

    Deveríamos aprender muitoo mais através deles. A natureza nos ensina a cada dia. Pena que fechamos os olhos para isso.

    Abss meu amigo.

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    Site Oficial: JimCarbonera.com
    Rascunhos: PalavraVadia.blogspot.com

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  15. Um texto muito bem escrito. Uma história triste porém bem real. Aqui deste lado cada vez há mais gente dormindo na rua.
    Um abraço

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  16. Oi André,

    Triste, mas real.
    Gostei da parceria dele com os amigos caninos. Ele poderá até sentir fome, mas nunca estará só.

    Grande abraço.

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  17. Dé, essa tua sensibilidade me comove!
    Já vi vários moradores de rua com animais, deve ser mesmo uma companhia né?!
    Lindo conto!

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