Na minha cidade tem uma família de catadores de papel que são mais conhecidos que o prefeito. No começo eles eram três, o Milão mais velho, o Milão do meio e o Milão mais novo, é que a cidade toda chama eles de Milão.
A uns três anos atrás o Milão do meio morreu, só ficou o Milão mais velho que trabalha catando papelão no calçadão e no centro da cidade e o mais novo que trabalha nos bairros, o mais velho é uma comédia, conhece todo mundo mexe com todo mundo, não pode ver uma mulher bonita que faz gracinha, não pode te ver que pede um real pra tomar um guaraná, e vive dando trabalho e trabalhando nas ruas do centro da cidade.
A uns dez anos eu comecei a chamar o Milão mais novo

Só que essa crônica não é sobre os Milões, eu quero mesmo é falar de três amigos inseparáveis do Quinhentinho, três vira-latas bonitões que vão onde o Quinhentinho for com a maior alegria do mundo, eles adoram aquele cheiro de xulé, adoram andar pela cidade fazendo rolos e catando papelão.
O Quinhentinho vai todos os dias na loja onde eu trabalho tomar café, os três cachorros deitam na frente da loja e ficam esperando ele sair, quando ele sai os cachorros chegam a chorar de alegria, pulam, latem e lambem seu dono porquinho!
Eu vi um monge budista falar que o espírito do cachorro pode vir a ser um espírito de gente e numa encarnação qualquer o homem também pode voltar como animal, vi um espírita falando que cachorro vir a evoluir até virar um espírito humano até pode mas o contrário não. Eu como sou cristão não posso acreditar em nada disso, porque a Bíblia não fala nada sobre reencarnação, apesar de algumas doutrinas forçarem a barra e dizerem que ela fala sim, que é só uma questão de interpretaçã, mas uma coisa eu vou falar, o amor que a Frida tem por mim e pela minha esposa e o jeito que ela nos olha quando estamos tristes ou quando estamos alegres, o jeito que os cachorros do Quinhentinho gostam dele... Puxa vida... Pode ser que eles nunca venham a ser gente porque acho que assim eles “involuiriam”, ou seja voltariam atrás no quesito amar sem se importar com as aparências...
Uma vez o padre Fabio de Melo disse que os cachorros não amam a gente e sim se acostumam com a gente. Ah se todos os homens fossem acostumados uns com os outros assim como a Frida é acostumada comigo...