Ontem eu saí para ir até o mercado, mas antes, perguntei
para o Samuel meu filho de quatro anos, se ele queria que eu comprasse algo pra
ele.
“Papai, - ele disse pensando em qualquer coisa – compra água
de côco, porque eu nunca tomei água de côco.”
Eu achei graça da escolha dele, ainda mais, porque da última
vez que ele tomou água de côco, (que ao que parece, nem se lembra), ele achou
amargo, fez careta e disse que era “horrivu”.
Eu demorei um pouco, porque além do mercado estar lotado, eu
ainda sou meio lerdo fazendo compras, porque fico entretido olhando os rótulos
das coisas, escolhendo os temperos, analisando as frutas e os legumes, vendo de
onde vem o azeite, se ele é envasilhado aqui ou no país de origem, escolhendo
alho a granel e vendo se não tem algum dente podre, comprando vinho, e escolhendo as uvas, como
se eu entendesse alguma coisa. Minha esposa fala que supermercado pra mim é um
parque de diversões... Exagerada!
Quando eu cheguei em casa, minha esposa viu a água de côco e
falou para o Samuel que estava na sala assistindo desenho:
- Sabe o que o papai trouxe pra você?
- Sei, água de côco, - respondeu ele, deixando a cara de
surpresa que ela estava fazendo meio sem graça.
- Como você sabe?
- Eu sei porque eu pedi pra ele, e ele disse que ia trazer.
- Mas e se ele não trouxesse?
- Não mamãe, quando o papai promete, ele sempre trás.
Eu escutei essa conversa dos dois, e posso afirmar pra
vocês, que me senti feliz pela confiança que meu filho tem em mim. Na cabecinha
dele era impossível eu esquecer de trazer a água de côco, porque eu sou o
papai, e o papai nunca esquece.
Depois, refletindo sobre esse fato, eu me peguei divagando
em pensamentos ruins, onde alguns pais esquecem seus filhos. Abandonam suas esposas,
namoradas, e nunca mais aparecem.
Crianças, que deveriam ter um pai para confiar, que deveriam
ter a figura paterna para formar seu caráter... Estão abandonadas.
Eu abri a água de côco, coloquei o canudinho e dei pro
Samuel, que ao primeiro gole, fez uma careta feia e me disse: - Crédo papai, é
horrível!
Eu soltei uma gargalhada, o Samuca teve mais uma experiência
com água de côco, e já está falando horrível corretamente. Esses pais
desnaturados não sabem o que estão perdendo. Não sabem como é bom viver e fazer
parte da vida de seus filhos.
Na verdade, nessa irresponsabilidade paterna, os
filhos perdem muito, mas os pais perdem mais. Perdem a grande oportunidade de
encontrar felicidade e amor na forma mais primitiva da história. Amor de pai e
filho.