sexta-feira, 31 de agosto de 2012
Resto de festa
Eu estacionava meu carro pela manhã numa rua que fica ao lado do meu serviço e em frente a uma praça. Enquanto manobrava para estacionar eu reparei num senhor que caminhava lentamente atravessando a rua. Ele estava com roupas muito sujas, vestia uma calça clara, uma camiseta dessas de propaganda política e um farrapo de blusa cobria-lhe as costas.
Com uma das mãos ele segurava um saco de pano grosseiro que caía sobre as costas. Na cabeça, além de uma farta cabeleira suja e enrolada, tinha também um boné encardido que em algum dia devia ter sido branco.
Eu acabei de estacionar e segui em direção ao meu serviço. Enquanto andava eu vi o homem pegar uma bituca de cigarros no chão e sentar-se num dos bancos da praça. Depois, como ventava um pouco, ele colocou uma das mãos na frente da bituca e com a outra tentava ascendê-la.
Nesse momento um cidadão que vinha em sentido contrario, olhou pra mim com uma cara de quem contava uma piada muito engraçada e apontando com a cabeça, esticou o beiço para o andarilho, falando:
- Aí... Isso aí é o resto da festa que sobra pra nossa cidade!
Eu não retribuí o sorriso e nem o gracejo que essa pessoa ignorante me fez. Pelo contrário, essa frase infeliz dele, chamando um outro cidadão de “resto de festa”, na verdade mostrou a dureza de coração, a falta de educação e a falta de humanidade que ele carrega dentro de si.
A gente nunca sabe o que leva uma pessoa a sair pelas ruas como andarilho. A gente não sabe se ela tem problemas psíquicos, se ela teve uma dolorosa decepção e não conseguiu se controlar depois disso, se ela teve ou não uma base familiar que o auxiliou durante a vida, se ela é assim por opção, ou seja lá o que for!
Por isso acho que as palavras de sarcásmo e ironia, que esse sujeito usou, chamando o andarilho de “resto de festa”, foram infelizes.
Mesmo que talvez a gente não faça a nossa parte colocando a mão na massa para fazer um mundo e uma sociedade mais justa e igualitária, onde todas as pessoas tenham condição de vida e apoio nas horas difíceis, pelo menos consideração pelo ser humano independentemente do seu aspecto e condição social, é a nossa obrigação!
Fazer graça na desgraça dos outros, não é humor! Nem humor negro, pois o humor negro trabalha em coisas absurdas, mas não reais como a vida desse andarilho...
Pense nisso!
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Bom, Andre, depende do seu ponto de vista.
ResponderExcluirTudo bem que não foi certo o homem chamar o outro de "resto de festa". Mas nada justifica o fato de o cara estar vagando pela rua em plena manhã "fumando".
Beijo,
www.estanteseletiva.com
Hehehehehe tá bom Wanessa!
ExcluirÉ pra pensar mesmo.. Fiquei pensando se o "resto de festa" não seria os bitocos de cigarro e outras latinhas e coisinhas mais que ficam espalhados pelo chão, nas ruas após as festinhas.
ResponderExcluirMas se foi com relação ao andarilho, não tinha nenhuma necessidade. Respeito é preciso!
Ótimo teu olhar! abração,chica e lindo fds!
Infelismente é gente mesmo Chiquinha!
ExcluirOi André, bom dia!
ResponderExcluirSe ele se referiu a esta pessoa dessa maneira, com sarcasmo e total falta de respeito; foi muito triste!
O mínimo que se pode fazer é respeitá-la, como cidadão e filho de Deus!
Uma ótima postagem para reflexão, das coisas que nos acontecem neste nosso cotidiano!
Um abração e um ótimo fds!
Mariangela
Obrigado Mariangela!
ExcluirÉ bem o que vc disse Dé, falta de humanidade.
ResponderExcluirÉ dificil até de comentar esse tipo de ato.
Verdade Camilinha!
Excluiradoro um sarcasmo, mas ele deve ser usado na medida certa e na hora oportuna, não assim banalmente. bom o desabafo;)
ResponderExcluirTudo na medida não magoa ninguém né Kelly!
ExcluirUm texto muito triste André. Infelizmente à gente, que parece que só se sente feliz com a infelicidade dos outros.E sempre põem a pata em cima do coitado que está caído, em vez de lhe estender a mão para o levantar.
ResponderExcluirUm abraço e bom fim de semana
Infelismente triste Elvira! Obrigado por aparecer!
ExcluirAndré, concordo absolutamente com seu raciocínio em relação a infeliz declaração do rapaz sobre o andarilho. André, nada tenho a acrescentar a sua brilhante e respeitosa colocação, apenas desejar que tantos outros não tenham o mesmo pensamento da pessoa que fez a tão infeliz declaração, mas sim, desejar que muitos outros possam ter essa visão humana e respeitosa sobre o seu semelhante, como você muito bem aqui demonstrou. Um grande abraço.
ResponderExcluirHahahahhaha obrigado PCzão!
ExcluirVocê está certíssimo, André. Há muita falta de respeito para com aqueles que estão "jogados" nas ruas. Sempre fico imaginando o que os colocou ali, quando os vejo. Sabemos que não é opção e, excluindo as questões mentais (que também deveriam merecer auxílio por parte da família e/ou do Estado), há inúmeras outras razões a levá-los para esse caminho e abandono. Bjs.
ResponderExcluirEles devem ter suas razões não é Mary?
ExcluirDedé,
ResponderExcluirpois é... complicado isso.
E uma situação recorrente, tanto pelo fato de ter tantas pessoas andarilhas, como de pessoas preconceituosas. Lamentável. E creio que você fez muito bem em escrever esse texto e postar, para a reflexão de quem ler por aqui, infelizmente, creio que o cara em questão, o que foi preconceituoso, não vai ler, né?
Abração ao povo daí, e um beijinho especial no Samuel!
Obrigado Cissa, sua opinião é muito importante!
Excluir
ResponderExcluirOlá André,
Triste como alguns corações humanos encontram-se embrutecidos, a ponto de fazer graça com a desgraça alheia. Muito válida a reflexão. Se não podemos fazer nada para ajudar, pelo menos respeitemos a situação do nosso próximo.
Ótimo final de semana.
Grande abraço.
Triste mesmo Vera!
ExcluirMuitas situações levam a uma pessoa estar nessas condições, seja a perda da família, bebida, drogas, decepção amorosa, enfim, também o descaso do governo, mas é uma vida sofrida danada, são os seres humanos invisíveis, passamos pelas ruas, nos deparamos com essas pessoas e fingimos que não estamos vendo, e como bem frisei no meu último texto, achamos que os nossos probleminhas do dia dia são maiores do que os que essas pessoas têm.
ResponderExcluirQuase que a gente fez um texto semelhante, mas gostei da tua reflexão. Abração pra ti mano.
É Chengão, pensamos juntos!
ExcluirResta saber: que festa?
ResponderExcluirAs pessoas que mais admiro são pessoas como esse cara andarilho.
Coragem dele, de muitas coisas, a luta básica pra viver de outra forma no meio dessa festa triste comum.
Um dia chego lá.
É a festa do peão!
ExcluirOlá, querido Mansim!
ResponderExcluirPois, muitas pessoas pensam que a solução para uma cidade melhor é 'limpeza' étnica. Sabemos de muitas histórias... Das mais 'leves', como a NYC [essa mesmo, linda, 'segura' e tudo de bom] que expulsou todos os 'mendigos' para as periferias, até a limpeza que ocorreu na Sérvia. Qual a diferença entre esse cara e um Slobodan Milošević da vida? Só que esse primeiro não é presidente para poder fazer acontecer um tipo de tragédia dessas no país. É gente como essa que ensina seus filhos a cometerem todos os tipos de violência contra os mais fracos. Essas pessoas preconceituosas e ignorantes deveriam ser colocadas de molho em água sanitária até suas almas saírem brancas como uma nuvem.
T.S. Frank
Hahahahahahaha Tici, gostei da agua sanitaria.
ExcluirOi André
ResponderExcluirUma vez eu fiz um post falando sobre isso também, como eu passei por momentos muito difíceis o ano passado, tive vontade de sumir, e não é uma metáfora, eu realmente tive essa vontade, quando eu vejo andarilhos, penso: poderia ser eu ali, então, como hoje, com a ajuda da família, estou bem, graças a Deus, eu tenho compaixão dessas pessoas, assim como você teve, mas a maioria tem o mesmo pensamento dessa pessoa que fez o infeliz comentário.
Bjão. amigo. Fique com Deus!
Valeu Lú!
ExcluirExatamente sem mais nenhuma (,) e nenhum (.)
ResponderExcluirAbraço.
Hahahahahahahaha , ... Obrigado!
ExcluirVim agradecer o carinho.Obrigado e ótima tarde de domingo!abração, chica
ResponderExcluirOi amigo,
ResponderExcluirBoa reflexão! Já ouvi essa expressão por aqui e acho ela preconceituosa e deselegante.
Acho que esse rapaz não entende de vida ou não sabe que hoje é meio-dia, mas daqui a pouco será meia-noite, ou seja, a vida roda e não sabemos em que local estaremos amanhã.
Bom domingo e uma semana livre de paradigmas infelizes.
Beijos.
Paradigmas infelizes são realmente terríveis! Hahahahahaha, obrigado amiga!
Excluirpois é, julgar é fácil, é mania nossa. Não sabendo que quando julgamos o outro julgamos também a nós mesmos.
ResponderExcluirvaleu, André
Somos juizes frustrados, hahahahahha e somos errados por isso!
ExcluirOlá!Boa noite!
ResponderExcluirTudo bem por aqui?
André!...Bela reflexão e indignação!
... a pessoa humana, enquanto tal, não perde sua dignidade quer por suas deficiências, quer mesmo pelos desvios que a vida lhe trouxe.Mesmo uma pessoa que não tenha agregado qualidades à sua vida (isso pode ocorrer tanto por falta de oportunidades quanto por desinteresse do próprio sujeito, infelizmente) merece respeito irrestrito, por seu valor intrínseco de ser pessoa. E este infeliz comentário foi uma agressão violenta e um grave desrespeito a uma pessoa na vida social...é o que penso!
Obrigado pelo carinho dedicado ao meu blog!
Boa semana!
Abraços
Obrigado por comentar e aparecer Felisão!
ExcluirAndre..mais uma fez parabens pela sua cronica. Vc disse uma xcoisa super certa na sua escrita: Nunca sabemos o que leva uma pessoa a se tornar isso ou aquilo.Ninguém sabe a dor de ninguém e não tem o direito de julgar.
ResponderExcluirPorque a genter nunca sabe o dua de amanhã.
E quanto a pessoa que desdenhou o pobre..só me resta lamentar a falta de crescimento interior.
Um bj!
Verdade Má! Fazer o que se o cara é pobre de espírito!
ExcluirPois é meu irmãozinho !!
ResponderExcluirInfelizmente o homem não é capaz de entender as razões que levam o "outro "
a nos mostrar que todos possamos amanhã estar no lugar dele.
O que ainda nos assegura em estarmos no nosso lugar é a Misericórdia de Deus !
Parabéns pela sensibilidade ,
Grande abraço
VALEU IRMÃO!
ExcluirNa quinta-feira eu estava conversando com alguns amigos sobre altruísmo e compaixão, durante a conversa eu confessei que já fui mais altruísta que sou hoje. Houve tempos em que eu me sensibilizava mais com a situação alheia e isso era natural, hoje o que eu faça eu faço simplesmente por uma decisão, por saber que é o certo a ser feito e não mais por um sentimento. Daí uma amiga disse que no fundo o amor real não é um sentimento e sim uma decisão (ainda não sei se concordo com isso), uma vez que tornamos menos sensíveis quanto mais nos expomos aquilo que antes nos sensibilizávamos, como se com o tempo aprendêssemos a digerir aquilo que antes era indigesto. Esta última parte faz bastante sentido e talvez explique a falta de compaixão do rapaz que fez a piada infeliz... É muito triste, mas vivemos em um mundo onde os corações parecem estar cada vez mais endurecidos...
ResponderExcluirEU TAMBÉM PECO NESSA PARTE BRUNÃO!
ExcluirE os corações realmente estão cada vez mais endurecidos!