segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Kaiser

Mais uma história de meu irmão da série: Quando eu morava com minha avó em  Barretos.



No ano de 1972 eu tinha 9 anos de idade e morava com minha avó Lourdes em Barretos numa casinha branca tão pequena e distante da cidade que parecia ter o silencio eterno. Só perturbado pela passagem dos trens na linha férrea há alguns 100 metros de nossa casa, e pelos cavalos do jóquei quando relinchavam em seu palco de corridas pertinho dali. A água de poço era tão cristalina quanto difícil de se retirar, “teimosa que só ela”. Energia... Apenas dos nossos corpos e de todos aqueles amigos bichos, não tinha nada que pudesse significar algum conforto, mas tudo nos dava muita alegria e movimentava nossos corpos e mentes além de ser muito divertido!
Minha avó era muito rígida comigo (á moda das pessoas rústicas e honestas como antigamente), também uma polivalente pois cuidava da casa, cuidava de um mercadinho, criava galinhas e o melhor de tudo... Era a única parteira da cidade, além de fazer caridade em trabalho social para sua Igreja. Não preciso nem dizer que eu participava de tudo isto de forma direta ou indireta.
É nesse cenário e contexto que vem a história a seguir:
Um dos meus melhores amigos era um amigo bicho cão chamado Kaiser (nada a ver com a cerveja), minha Avó era fã de um general que tinha esse nome, daí ela achou que homenagearia o coitado do amigo cão... Valeu a intenção.
Se Kaiser fosse gente com certeza seria meu irmão, pois quantas vezes nos dias de frio eu o colocava debaixo do cobertor sem minha Avó perceber e ali ele ficava por muito tempo pela manhã. mas algumas vezes não era assim que funcionava.
Como já disse em outras historias, minha Avó era uma exímia criadora de galinhas, acho que devíamos por volta de umas 50 galinhas, fazendo dupla, de criador, com ela estava o fiel... Kaiser! Um exímio cão pegador de galinhas, acho que estava cursando ultimo ano da faculdade de pegar galinhas... Então, aos domingos pela manhã sempre as sete horas em ponto... Oh senhor! Maldita pontualidade! Quando as galinhas se ajuntavam para comer, era “o circo no seu ápice do espetáculo” .
Minha Avó como uma sirene de bombeiro. chamava o Kaiser, eu já acordava me lembrando de que pelo barulho e estardalhaço deveria ser domingo! Eu torcia para que ela não chamasse o Kaiser por mais de 3 vezes porque se isso acontecesse era a fatídica comprovação de que ele tinha se mandado pra dar umas voltas, (acho que ele usava relógio), se isso acontecesse, minha avó carinhosamente me acordava aos solavancos dizendo: “Aquele cão mardito sumiu de novo! Vamo! Levanta que tem umas 10 galinha pa pegá depois oçê dorme dinovo!” Realmente, acho que o Kaiser usava relógio, aquilo pra mim era o mais indesejado desjejum matinal , mas como sempre eu obedecia e lá ia eu correndo feito louco em campo aberto, ás vezes me embrenhando pelo mato, subindo até em árvores, e ai de mim se não pegasse todas as galinha que minha avó apontasse... Já nas últimas galinhas, eu já exausto recebia o elogio fatal da adorável vovó: “Vai muleque lerdo, larga de ser mole, vo cuspir no chão, antes de secar quero essas galinha na minha mão senão çe sabe, te dou uma surra.”
Depois destas doces palavras como não ia me reanimar? Minha avó deveria ser psicóloga! Ela mexia com minha cabeça... Eu pensava: Hehhhh Kaiser, eu pego as galinhas, mas eu também vou te pegar!
Mas como sempre, eu tinha um plano!
Resolvi que aos sábados á noite eu iria prender o Kaiser, e no domingo lá pelas 6:30 hs antes do horário fatídico que era as 7:00 horas eu o soltaria e voltaria a dormir, perfeito não?
Sabe que isso funcionou bem. Mas como tudo tem um fim isso foi apenas por um tempo, pois eu comecei a não acordar em tempo de soltar o Kaiser.
Resultado? Uma surra fatal.
Daí então eu desisti desse plano e parti para outra estratégia, levantava as 6:00 horas procurava o Kaiser colocava-o debaixo do cobertor para depois soltá-lo logo que minha Avó acordasse!
Outro plano perfeito que resultou em outra surra (acho que eu fazia coleção de surras!), pois muitas vezes eu esquecia de colocá-lo para fora do cobertor.
Só me restou me conformar com aquela vida de corredor, pegador, sei lá como se chamava aquilo, só sei que com tudo isto eu era bem magrinho, ágil e bem esperto!
Terminado estes shows de domingo, o Kaiser chegava com aquela cara de “não sei de nada” e eu bem cansado mas bem mais faminto o perdoava como sempre e ia com o Kaiser para o pomar, e lá eu colhia algumas frutas, pouca coisa como 20 laranjas, pitangas, uns maracujás do mato, seriguelas e tudo que visse já maduro e levava para cima da árvore e em seguida içava o Kaiser lá pra cima com um invento que meu Avô arrumou e ficávamos por horas lá em cima. Sabe que o bichinho danado até gostava da árvore? Malandro...
Apenas por momentos eu tentava descobrir o porque de tudo aquilo, talvez aquilo fosse um acordo entre o Kaiser e as galinhas? Uma trama dos vizinhos se vingando dos pães amassados? (Isso é uma outra história), talvez uma louca experiência da minha Avó ? Ou então seria o meu dia a dia mesmo...
Eu logo esquecia de tudo porque desde esses dias eu aprendia que Deus sabia de tudo e se Ele sabia então estava tudo bem. Aprendi que em tudo ele me amava.
Assim eu seguia cumprindo os meus dias repletos de muita emoção, mas de pensamentos simples e na beleza da inocência de menino.
Abraços a todos vocês

Crisógono Júnior.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Mais um na multidão




Eu queria ser um gigante!
Queria ser jogador de futebol.
Queria ser o melhor dos amantes... Saber dançar tango e cantar as musicas de Carlos Gardel.
Eu queria ser empresário, engenheiro, arquiteto e astronauta! Trabalhar na Nasa e projetar Ferraris, projetar Lamborguinis e ser piloto de fórmula 1.
Eu queria ser fazendeiro! Ter bastante gado nas pastagens de minha fazenda. Queria plantar arroz, soja, milho e laranja. Queria criar galinhas. Ter um grande chiqueiro de porcos e talvez criar ovelhas também!
Eu queria ser piloto de avião. Conhecer o mundo. Conhecer a Europa, a Ásia, a Oceania. Queria ser capitão de navio.
Navio mercante, navio cargueiro, navio... Navio.
Eu queria ser cozinheiro de um restaurante na Grécia ou na Itália ou na Espanha e talvez em Portugal... Isso!
Eu queria fabricar vinho em Portugal! Fabricar vinho, azeite e queijos, muitos tipos de queijos.
Eu queria ser holandês! Plantar flores na Holanda... Plantar bambu na China e plantar macaxeira na Paraíba...
Eu queria ser maestro! Reger orquestras pelo mundo, queria também saber tocar violão... No barzinho alí da esquina.
Eu queria ser jogador de futebol, artista de novela, ator de cinema, escritor de livros, desenhista de história em quadrinhos. Eu queria ser o Homem-aranha!
Eu queria ser veterinário, tratar de cachorro, gato, boi, macaco e onça! Eu queria ser biólogo! Queria ser astrônomo e arqueólogo também. Queria ser o Indiana Jones.
Queria ser um mercador do deserto, Um beduíno. Andar de tapete voador. Comer coalhada seca com pão sírio todos os dias. Mergulhar no lago de um oásis debaixo da sombra das tamareiras.
Eu queria!
Infelizmente não sou nada disso...
Ainda!



domingo, 21 de outubro de 2012

Anjos

De tempos em tempos eu posto esse texto. Já faz quase um ano que eu o postei a última vez foi dia 25/12/2011 e infelismente ele continua atual. Acho que meu trabalho e o de todo mundo que se sensibiliza com essa situação é falar, falar e falar sem parar. Quem sabe assim as autoridades um dia tomarão alguma atitude. Então tá aí. Pra quem já leu pode se lembrar e pra quem não leu, tomara que o texto lhe diga algo de bom, mesmo que esse bom venha junto com uma dose de revolta.


 
Zezé era menino.
Menino que não sabia.
Menino que não conhecia.
Zezé era um menino que não sabia de onde veio.
Não conhecia seu pai, era filho de pai sem mãe...
Não conhecia sua mãe, era filho de mãe sem pai ...
Zezé foi criado por uma irmã mais velha. Um ano mais velha. Marcia era o nome dela.
Comiam os restos das latas de lixo, dormiam debaixo da ponte, se cobriam com jornal, cheiravam cola e fumavam bitucas de cigarro.
Um dia acharam o corpo de Marcia num matagal, comida pelos vermes e pelos humanos.
A policia achou normal, afinal, era só uma menina de rua mesmo...
Zezé prosseguiu sozinho. Já tinha quatorze anos e uma mulher! Carol.
Carol, que já tinha treze anos. A oito meses grávida...
- Que legal, eu vou ser pai!
E foi!
Comiam os três restos de lixo, comida roubada ou ganhada, o mercadão jogava muitas verduras fóra.
Carol, desnutrida, não tinha muito leite, e quem tinha não dava. Afinal um centavo valia muito falou o presidente!
Um dia a polícia entrou no cafofo. Cafofo era a casa de Zezé, e de Jão, Zé, Cráudia, Alê, Xixa, Carol e mais um monte de moleque de rua.
Cheirador de cola!
- E esse nenem? - Falou o policial - vamos levar pro juizado!
- Meu filho não! - Falou Carol.
- Vai ele e você!
Carol se atracou com o policial que queria tirar o nenem do seu colo, e os outros moleques entraram na briga, foi uma confusão. De repente um dos policiais puxa a arma e atira!
Legítima defesa ele afirmaria no processo.
Zezé que já tinha visto muita coisa nessa vida, viu sua mulher e seu filhinho cairem no chão...
O tiro atravessou os dois.
Zezé matou um dos policiais a pauladas!
Mais polícia chegou, a televisão chegou, as pessoas chegaram... Mais policia chegou, mais televisão chegou, Os moleques foram presos!
Hoje Zezé está preso... Deflorado, surrado, usado, pisado...
Ele sonha com o dia em que vai sair da cadeia para menores infratores...
Legal né?
Ele sonha...
Afinal ele é criança, que sonha antes de dormir, afinal ele é criança e sonha com fantasias de criança... Criança de quinze anos...
Que sonha acordado!
E sonha com dias melhores... E sonha com os Anjos!

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Incêndios



Eu apago fogo.
Virei bombeiro.
Apagador de incêndio...
As vezes apago com a água da apaziguação.
As vezes apago com gasolina.
Isso acontece quando meu sangue está envenenado.
Quando meu humor está infectado.
Quando meu dia está inflamável...
Mas... Eu apago fogo.
Fogo e incêndio alheio.
De pessoas que tem muita lenha pra queimar.
De pessoas que tem prazer em incendiar.
A vida, os dias, as pessoas...
Pessoas que botam fogo ao redor de nossas vidas.
Ao redor dos sentimentos.
Ao redor dos nossos sonhos.
Dos nossos lares.
Pessoas que botam fogo descontroladamente.
Descontrolando, descontroladoras, descontroladas...
Ateiam fogo.
Ateiam fogo!
E eu?
Enquanto isso...
Eu apago fogo!
Socorro um foco de incêndio aqui...
Socorro um foco de incêndio acolá!
Virei bombeiro apagador de incêndio.
Virei bombeiro apagador de incêndio.
Assim estou.
Apagando incêndios alheios...
Por enquanto. Enquanto consigo correr. Enquanto tenho fôlego. Enquanto tenho vontade...
Enquanto tenho fé...
Mas meu cantil está esvaziando.
Minha água está secando.
Meu extintor está se extinguindo.
Minha vontade de correr atrás do fogo está se acabando!
Eu tenho vontade de deixar queimar, mas não posso.
Tenho vontade de deixar que se queimem, mas não posso.
Virei bombeiro apagador de fogo.
Enquanto elas queimam, eu socorro!
Enquanto elas incendeiam , eu socorro.
Eu socorro...
Eu socorro!
Eu, socorro...

domingo, 14 de outubro de 2012

Ira! - Parte da minha herança

O primeiro contato que eu tive com o som de uma banda de rock foi com o disco "Vivendo e não aprendendo" da banda Ira!
Foi amor a primeira "ouvida". Daí em diante eu descobri que seria roqueiro e que essa banda iria me acompanhar pra sempre, nem que ela não lançasse mais nenhum disco... Só esse já estava bom pra mim...
Mas para minha alegria, essa banda prosperou e lançou muitos discos ao longo de vários anos. Até hoje me lembro que eu esperava o lançamento dos discos novos, e acompanhava tudo pela revista Bizz, que era a revista que trazia as novidades de cada mês que saiam nas lojas de discos. O próximo disco do Ira, foi Psicoacústica, e a crítica da revista não falou muito bem desse disco. Isso foi um erro cruel! Hoje esse disco é considerado pela crítica especializada como o melhor e mais influente disco do rock nacional juntamente com Cabeça Dinossauro dos Titãs... Mas esse disco não fez tanto sucesso. Suas musicas realmente não eram apaixonantes e fáceis de engolir numa primeira audição. Mas aos poucos os ouvidos mais atentos poderiam notar a qualidade das musicas e das gravações. 
Clandestino foi o próximo disco do Ira, novamente a revista Bizz não falou bem... Mas eu não ligava, era o primeiro a comprar na loja e botava na minha vitrola pra tocar. Realmente não eram todas as musicas boas. Uma pessoa que não fosse fã gostaria apenas de duas ou três musicas do disco todo. Eu acabei gostando de todas, mas depois de algum tempo.
Ví na televisão que o novo disco do Ira acabara de sair: Meninos da Rua Paulo! Corri na loja e comprei na hora... Nem quiz saber a opinião da revista Bizz, na verdade nunca mais comprei "aquilo". Botei na vitrola e sorri. Esse disco era melhor, tinha muitas musicas legais, e certamente traria o Ira para as paradas de sucesso novamente... Não foi bem o que aconteceu! Só uma musica do disco tocou bem e ainda por cima era uma regravação de um velho rock dos Beatles que Raul Seixas havia feito uma versão "Você ainda pode sonhar". Fiquei com medo da banda terminar alí.
Pra  minha alegria os caras da banda eram teimosos assim como eu, e lançaram "Musica calma para pessoas nervosas", que bom! Corri comprei e coloquei na vitrola... Que disco horrível! O pior de todos até aqui... Salvavam-se à primeira vista, a musica Arrastão e Campos praias e paixões. Eu acabei gostando do disco com o passar dos anos... Mas a crítica e o público não aprovou... O Ira acabou sumindo da TV e do rádio.
Alguns anos depois, se não me engano três anos, o Ira apareceu com um novo disco, de nome 7. Apenas isso. Comprei e coloquei agora no meu toca cd! Hehehehehe, eu tinha um toca cd! O disco era bom demais! Praticamente todas as musicas eram boas demais... Ufa! Finalmente um disco bom de verdade dos meus camaradas. E agora o nome da banda ganhava um ! e começou a se chamar Ira!
O legal é que eles imendaram com discos legais, "Você não sabe quem eu sou", "Isso é o amor", "Ao vivo na MTV", "Entre seus rins" e o acústico MTV, que vendeu mais de 350 mil cópias. Depois desse sucesso meteórico que o acústico teve, a banda desandou... Infelismente o Nasi se desentendeu com o irmão dele que era o empresário da banda, e se desentendeu também com o Edgard Sacandurra e acabou saindo da banda... Antes da saída eles ainda gravaram "Invisivel Dj", um belissimo disco que certamente se bem trabalhado também seria um sucesso. 
Hoje eu como fã, vivo dos discos antigos e dos discos solo que os ex-Ira! lançam quase todo ano. O Samuquinha meu nenêm já está entrando em contato com esse povo, pois eu comprei pra ele um cd e dvd da banda Pequeno Cidadão, que é uma banda onde o Edgard Sacandurra, junto com  Arnaldo Antunes e Taciana Barros e mais alguns bons musicos fizeram musicas só para crianças. Assim é a vida né!?  Nada é pra sempre... Mas as vezes coisas que parecem acabadas podem retornar um dia... Quem sabe.
Desses discos que falei aí em cima, faltou eu falar do primeiro do Ira, que se chama "Mudança de comportamento", que eu só adiquiri depois que havia comprado o segundo disco deles.
Fiquei sabendo numa entrevista do Nasi na revista Playboy, que o Clandestino, o Meninos da Rua Paulo e o Musica calma para pessoas nervosas, não venderam nem dois mil discos!!!!!!! Hahahahaha, mas em casa eu tenho... Isso é o que importa pra mim.
Agora apertem o play aí embaixo e ouçam a musica que o Samuquinha está curtindo do cd Pequeno Cidadão e vejam se esse menino vai ou não ser igual ao pai! 
Ah! Outra coisa... O Samuquinha além de roqueiro, vai ser sãopaulino também... São algumas heranças que deixarei pra ele, além da caréca depois dos trinta, hahahahaha, coitado!




quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Personagens secundários



Eu sempre quis escrever um livro. Sempre tive muitas idéias sobre várias coisas malucas e outras não tão malucas para escrever.
Acontece que sempre que achava uma idéia legal, eu começava a escrever e depois acabava parando pela metade! A única coisa mais consistente que consegui terminar foi esse conto que você pode ler clicando AQUI. De resto eu acabei me especializando em crônicas, e textos mais curtos.
Mas um dia batendo papo com a Camila do blog “Vida complicada”, ela acabou me falando que acontecia com ela exatamente o que acontecia comigo. Ela começava e não terminava seus projetos literários. Então eu fiz uma proposta pra ela: Eu escreveria um tanto do meu livro por dia e mandaria pra ela “redatar” e ela escreveria um tanto do dela pra mim “redatar” daqui!
Legal! Eu pensei. Pois eu já tenho toda a história aqui na minha cabeçona e é só eu escrever e pronto! Belezinha!
Engano meu. O livro ganha vida própria, e personagens próprios, e o enredo ganha caminhos e atalhos próprios, e quando a gente tenta acordar da viagem... Já é tarde demais! A gente tem mesmo a história e tem que seguir um caminho traçado até onde se deve chegar... Mas pra chegar lá muita coisa acontece fora do combinado que você tinha em sua cachola! Aconteceu assim comigo e aconteceu também com a Camila no livro dela.
Um dos exemplos do que eu estou falando, são os personagens secundários e talvez até terciários. Um desses personagens apareceu no meu livro do nada, e acabou ganhando meu coração! O cara é maluco! Doido de pedra. Um dos personagens principais do livro conheceu esse cara quando foi preso numa penitenciária aguardando o término de uma investigação.
Esse maluco, que tem o apelido dentro da cadeia de “Treizoitão”, reza a lenda, que num acesso de fúria e descontrole mental, acabou matando sua família e por isso estava encarcerado.
Ele vive num mundo à parte desse nosso, e transita entre esse seu mundo particular e o nosso, misturando tudo ao mesmo tempo e deixando as pessoas que interagem com ele, as vezes confusas e as vezes alegres de ter um cara tão diferente para eles conviverem dentro da cela.
Acontece que no desenrolar da história o “Treizoitão” entrou numa enrascada e eu me vi forçado a dar um fim para ele. Se eu fosse pensar friamente no resultado que a morte dele traria para o livro eu teria o matado sem dó. Inclusive a minha redatora Camila disse que eu teria que fazer isso mesmo, e que o resultado ficaria legal mais lá na frente do livro. Ela falou também que eu não poderia me apegar ao personagem...
Depois de muuuito pensar, de brigar com minhas idéias e com a Camila eu acabei dando mesmo um fim no “Treizoitão”.
Mas não consegui matá-lo!
Dei um final digno ao cara! Afinal ele não era um assassino maligno... Ele tinha problemas psicológicos.
Engraçado esse negócio de escrever um livro. As pessoas e personagens da história vão entrando no coração da gente e as vezes até tocam-nos de uma forma que a gente se acha responsável por aquela vidinha de papel. Vida de palavras e de linhas escritas numa folha que antes era apenas uma folha em branco...
Os personagens ganham a amizade e a admiração da gente, se tornam criaturas dos nossos sonhos, e quando o livro vai chegando ao fim parece que a gente não quer que ele acabe mais!
Estou acabando de escrever, estou no finalzinho... Acho que fui legal com as pessoinhas de papel que criei, tomara que as pessoas de carne e osso que lerem o livro um dia também gostem e curtam tanto quanto eu estou curtindo, e que os personagens ganhem seus corações assim como ganharam o meu...

sábado, 6 de outubro de 2012

Fashion

Essa é mais uma historia onde meu imão Juninho conta pra vocês mais um causo da série: Quando eu morava com minha avó! Espero que se divirtam.



Os anos de 1972 e 1973 foram marcantes na minha vida. Não me recordo bem a época certa de cada “causo e acontecimento”, mas muitas dessas histórias e seus detalhes são bem nítidos e inesquecíveis e jamais deixarão de ser engraçados.
Ainda jovenzinho ou como se diz hoje um pré-adolescente, dos 10 a 12 anos, a inocência ia se escondendo e libertando os primeiros gestos da infinita metamorfose humana.
É bem nessa fase que os olhares para as amigas se tornam diferentes, e um deslize qualquer pode por tudo a perder, especialmente no meu caso, era uma fantástica e literal ginástica para me manter notado e normal como todo menino de olhos brilhantes.
Saibam que minha Avó era uma mulher fantástica, cuidava da casa, tinha um mercadinho onde cuidava juntamente com meu santo avô, criava galinhas, era parteira e entre outras muitas outras coisas para o meu azar ela achava que era costureira...
No cenário daquele ano eu estava na 5ª série do ginasial, hoje seria o sexto ano do ensino fundamental.
Seguindo a moda da época, os meus amigos usavam um tipo de shorts um tanto pequenos. Eu via aquilo e queria um também, foi então que eu muito linguarudo, disse que queria COMPRAR um short igual aos de meus amigos. Pra que fui falar aquilo!
Minha avó se empolgou... Foi na loja comprou um pano parecido com jeans. Podem acreditar, mas acho que não existe nada no mundo mais quente que aquilo!
Ela ficou costurando aquela peça por uma semana, parecia um ciclista naquele pedal da maquina, “pedalava numa velocidade tremenda”, parecia que ia voar. Sim, para ela aquele short seria a sua obra prima, de certa forma, no começo eu também estava bem esperançoso. Quando finalmente ela terminou, era numa terça e a aula de educação física seria na quarta de manhã.
Foi quando ela me apresentou o “short “, por segundos tinha certeza que aquilo era a bermuda que ela tinha feito para meu avô, e o meu short estava por terminar, mas infelizmente não, aquele era o meu short mesmo...
Quando ela disse: - Pronto olha que lindo que ficou o shortinho a Vó fez!
Olhando aquilo eu fiquei tão desesperado que minha voz sumiu, meu coração disparou e transpirava como um gambá...
Vou descrever para que vocês avaliem:
O “short” começava no joelho, passava pelas partes onde fazia um papo enorme, o fecho-eclair começava lá em baixo e ia até o umbigo onde acabava o short, até parecia que meu quadril era feminino... O cordão que tinha que amarrar parecia uma corda, ideal para quem quisesse se enforcar. Não tinha como definir aquilo.
Então após a fatídica frase: - Olha o que a vó fez!
Momentos tensos que se seguiram... Alguns segundos de silêncio que pareciam infinitos foram a única reação que consegui expressar... Minha amada avó sabendo que não gostei não só se decepcionou como também se irou de uma forma nunca vista. Aquilo para ela foi uma afronta e daí em diante ela me declarou guerra e disse furiosa: - Ah você vai usar sim... Ah se vai!
Manchar a minha reputação diante das paquerinhas doeria em mim mais que todas as surras que levei, então nos dias seguintes surgiriam na minha mente brilhante os incríveis planos! Eu era um menino que tinha planos muuuitos planos!
Vesti aquela coisa horrível em alguns dias que não sairia para lugar algum, somente para amenizar a situação, e pensei em manchar aquilo com algo que não podia sair.
Manchei de manga e minha avó tirou, manchei de leite de seringueira e ela tirou de novo, manchei de amora e ela tirou, então apelei... Rasguei de propósito! E não é que ela costurou? Eu acho que ela tinha feito curso pra aquilo, não era possível existir aquela eficiência! Mas não me dei por vencido e procurei um plano que fosse brilhante e é lógico que consegui pois o que não me faltava eram planos para me safar de algo! Então... Quando ajudava a estender a roupa no varal, deixei “aquilo “ bem perto da boca da cisterna sem prendedor. Quando fui recolher as roupas junto com ela, imagina! Hehehe, o vento derrubou meu lindo shortinho dentro da cisterna, oh!!! Que dó... Foi ai que lancei aquele olhar extremamente triste e comecei a chorar, (essa foi a primeira cena de teatro que fiz), mas ai veio o castigo pelo exagero.
Imediatamente minha Avó falou: Pode deixar meu netinho que amanhã mesmo começo a fazer outro. Sagazmente eu disse: - Não vó, eu gostava era desse!
Felizmente não houve mais costuras naquela casa e tudo voltou ao normal, embora aquela maquina de costura de vez em quando me assombrasse.
Com tudo isto eu aprendi que muitas vezes devemos procurar sempre que possível maneiras de demonstrar nossas insatisfações, sem ferir as pessoas que muitas vezes querem apenas demonstrar carinho.
É um exercício de amor e perseverança
Espero que tenham se divertido !
Grande abraço

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Novos ricos



Assisti a uma palestra no programa café filosófico ontem na TV Cultura com o filósofo Renato Janine Ribeiro, onde o palestrante discorria sobre etiqueta e boa educação.
Ele falou sobre coisas básicas que hoje em dia não são levadas mais em conta, coisas do tipo abrir a porta do carro para a mulher entrar, ceder o lugar no ônibus para os mais velhos ou gestantes, tirar o chapéu ou boné quando entrar num recinto fechado e coisas desse tipo.
Lá pelo meio da palestra ele soltou uma informação que eu achei muito interessante.
Ele falou que a sociedade brasileira teve um ascensão e que as classes B e C deram um salto de qualidade de vida e de poder aquisitivo, mas que a educação para se enxergarem "ricos ou quase ricos" não acompanhou essa transição. Por isso é que muitas dessas pessoas se vêem as vezes inseguros e com a auto-afirmação pessoal duvidosa dentro de suas próprias cabeças e nesses momentos onde bate essa ansiedade eles se vêem na obrigação de maltratar ou pisar em pessoas menos favorecidas pra demonstrarem que são poderosas.
Sabe que eu trabalho em uma empresa que atende pessoas de todas as classe sociais e realmente as pessoas que mais dão trabalho e que tratam mal os funcionários da empresa são mesmo os novos ricos.
Quando a pessoa é realmente rica, de família rica e estabilizada, ele quase sempre é uma pessoa educada e polida, e na outra ponta, quando uma pessoa é pobre e lutadora com a vida ela é humilde e muito educada também, pois conhece os problemas e agruras do dia a dia.
Mas meu amigo, se essa pessoa é dessa classe nova e emergente... Sai de baixo! Em grande parte eles realmente são despreparados para serem quem são e para terem o que tem, e não sabem exigir o que necessitam de forma educada e polida. Muitos novos ricos, confundem falta de educação com poder de compra, e como num conto de fadas exigem tapetes vermelhos para andarem em cima e taças de cristal com champagne francesa para matarem sua sede.
Lógicamente que não quero aqui generalizar e dizer que todos os novos ricos são assim! Existe  gente educada e mal educada em todos os níveis sociais.
Eu estou aqui, discorrendo sobre o despreparo que muitas pessoas tem em assumir sua posição numa nova classe social, confesso que sempre fui revoltado com esse tipo de pessoa, mas sabe que ontem depois que ouvi a explicação do filósofo eu mudei de idéia.
Só agora é que eu descobri que tudo não passa de uma falha na educação e despreparo social. Agora que eu descobri que essas pessoas, por instinto, usam desses procedimentos mal educados porque querem se auto-afirmar dentro da sociedade, e que na verdade eles pensam que as outras pessoas só os aceitam como ricos, se eles usarem dessa força estúpida e mal educada!
O filósofo disse na palestra que isso só vai melhorar na segunda geração desses novos ricos, então eu cheguei a conclusão de que nós temos que orar e pedir a Deus que nos mandem esses clientes para que gastem seu dinheirinho com a gente, mas que também mande um saco do tamanho do saco do papai Noel! Porque pra aguentar esse povinho mal educado é difícil... Mas a gente é profissional e entende a carência deles.
Coitados...