quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A salvação de jonas


Jonas olhou a sua volta, tudo estava escuro, a lama cobria-lhe o joelho, a cada passo que ele tentava dar se atolava mais e mais. Jonas não via saída, o caminho estava difícil demais pra ele. O sol já não batia mais em seu rosto, a floresta era muito densa e as arvores encobriam o horizonte. De dentro da vegetação ele ouvia sussurros e uivos. Parece que falavam dele, mas não dava pra ter certeza pois as vozes vinham de sombras que ora apareciam por detrás das folhas e ora sumiam fazendo algazarra.
- Ei! - Gritou Jonas - vocês aí, me ajudem. Estou perdido!
Não adiantava, a cada grito de Jonas, a cada pedido seu, as vozes se calavam e apenas olhos esbugalhados apareciam em meio ao breu. Esses olhos pareciam curiosos pra saber se Jonas iria sair da enrascada em que estava mas não pareciam querer ajudar.
Jonas estava aflito, e com esforço sobre-humano ainda dava passos lentos e tentava prosseguir. Ele levantava uma perna da lama pegajosa, inclinava seu corpo pra frente e pisava mais adiante, depois repetia com a outra perna e assim ia tentando sobreviver.
De vez em quando Jonas sentia que alguém segurava sua perna e lhe puxava pra baixo, ele sentia que de vez em quando alguém colocava mais lama no meio do caminho, mas Jonas precisava vencer, Jonas precisava prosseguir, Jonas precisava respirar, Jonas precisava sobreviver.
Foi quando uma pessoa apareceu do outro lado do caminho, ela parecia conhecida. - Olá! - Falou Jonas - Você é a minha professora da quarta série?
A pessoa não respondeu mas jogou um livro para Jonas, o livro se depositou no fundo da lama e Jonas pôde se apoiar nele. Foi quando mais pessoas apareceram ao lado do caminho. Todos pareciam conhecidos de Jonas, uns pareciam antigos professores, um parecia com o dono da livraria, outro parecia o dono da banca de jornais, e eles foram jogando livros e mais livros para Jonas, revistas, jornais, e mais livros e mais livros e Jonas ia usando esses livros como escada, subindo, subindo, saindo da lama até que conseguiu sair do buraco em que estava. Até que conseguiu atingir terra firme, terra sólida e sair da densidão daquela floresta negra... Então o sol bateu de novo em seu rosto, então as cores da vida tornaram a aparecer.
Então, Jonas sorriu!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Ele



 
Com um pincel Ele pintou as joaninhas, algumas de preto com bolinhas laranja, outras de branco com bolinhas pretas, e ainda umas de verde com bolinhas amarelas. Com verniz cor de imbuia ele envernizou as asas das baratas e dos besouros, se bem que nos besouros antes do verniz Ele deu uma tingidinha com betume, depois deu uma bela polida e pronto, ficou muito chique!
No jardim Ele pegou uma moita de marias-regateira e pintou cada uma de uma cor, umas laranjinhas, outras rosinhas, outras azuladinhas, outras branquinhas, tudo com pinceladinhas e tinta guache.
Na maçã Ele fez uma obra prima! Usou vermelho magenta, amarelo ouro e um pouquinho de branco, foi pincelando, colocando mais vermelho, mais amarelo, umas pitadas de branco e por fim um verniz copal pra dar um brilhosinho.
Ele também fez com papel verde picotado um grande gramado e com bolinhas de massinha marrom fez os tatuzinhos colocando pelos de crina de cavalo cortadinhas pra fazer as perninhas. Também usando massinha ele fez umas cobrinhas pequeninas e fininhas e as colocou na grama e deu a elas o nome de minhoca, com uma espátula pequenina ele fez os risquinhos nas minhocas  dando-as um formato mole com um monte de anéis emendados.
Ele pegou argila e fez um monte de bolinhas, pegou papel de sêda e fez umas asinhas, pegou mais crina de cavalo cortou bem pequenininho e espetou nas bolinhas de argila, aí com o pincel de pelo de malta pintou listrinhas amarelas e pretas nas bolinhas, colocou mais uma bolinha fazendo uma cabecinha e pintou com spray metálico fazendo grandes olhos, a essas bolinhas coloridas Ele deu o nome de abelhas.
Por hoje ele achou que já estava bom. Então ele olhou pra esses bichinhos e plantinhas e falou: - Vivam!
Aí Ele juntou toda a tralha do seu ateliê e foi contente pra sua casa. Muitas pessoas não acreditam que foi Ele quem fez tudo isso e tudo mais o que existe, mas Ele não está nem aí, por isso continua fazendo a cada dia!


sábado, 26 de novembro de 2011

A carência do arrogante


Tem um senhor que eu atendo lá no meu serviço que é um cara um tanto quanto arrogante. Ele é um professor e diretor de escola aposentado. Hoje ele tem um sítio que toma boa parte do tempo dele, o tempo restante ele leva lendo livros e enchendo o saco das pessoas.
Um dia ele descobriu que eu gosto de ler, então ele desceu do trono em que vive e veio falar comigo. Falou que nunca assiste televisão, que nunca assistiu novela, que nunca ligou um rádio, que não torce pra time nenhum, que nem se liga em quem está concorrendo na política e que se pudesse nunca iria votar. Falou que passa o tempo lendo, as horas vagas pra ele são apenas para leitura. E deixou bem claro que só lê clássicos e grandes autores renomados no mundo todo e adora livros difíceis com temas pscicológicos e controversos, e quanto mais inteligente for a trama do livro melhor! Me falou que grandes nomes da literatura mundial deveriam ser nossos melhores amigos!
Eu me empolguei porque nunca ví ele se abrindo com ninguém e falei que (na época), eu estava lendo uma trilogia do Marcos Losekan que se chama "Uma entrevista com Deus", e que era muito boa, que era muito interessante e que prendia a gente do inicio ao fim... Bruscamente ele me intenrrompeu e falou que isso tudo era besteira! Quem era Marcos Losekan? Eu expliquei que era um correspondente da rede Globo e um grande jornalista...
- Bosta - falou ele irritado - achei que você tinha um pouco de cultura!
Então ele olhou pra mim, ajeitou o manto real e a coroa, pegou seu cajado e com um olhar fuzilante foi embora.
Outro dia ele voltou à loja e veio falar de novo comigo, perguntou o que eu estava lendo agora. Eu falei que estava já no terceiro livro de um autor que se chama Harlan Coben que era muito bom. Ele anotou o nome num papel e disse que iria pesquisar pra ver se servia. Nesse dia eu peguei um jornal que escrevo de vez em quando e mostrei pra ele uma crônica e falei pra ele ler. Antes dele ver do que se tratava ele falou:
- Bosta! - E irritado gruniu entre os dentes - Aqui nessa cidade ninguém sabe escrever!
Antes mesmo que eu pudesse falar que o texto era meu ele já tinha sumido na sua carruagem real.
Ontem ele entrou na loja de novo e viu sobre a minha mesa um livro que se chama "Três Sombras", que é uma obra prima de texto e desenhos, numa estória contada e desenhada pelo francês Cyril Pedrosa. Ele chegou pegou o livro nas mãos sem me pedir, abriu, viu que era de quadrinhos, colocou em cima da mesa e falou:
- Bosta, agora você está lendo coisas de crainça! - Falou e mais uma vez... Sumiu!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Os amigos e a vida



Outro dia eu falei pra um amigo que as companias influênciam muito o caráter e o tipo de pessoa que a criança vai ser quando crescer. Ele me disse que não! Que o que importa é a criação e a educação familiar. Aí eu tive que contar uma pequena histórinha pra ele e hoje resolvi contar aqui pra vocês também.
Eu era um menino bôbo, daqueles puxados pela mão, daqueles que era inteligente mas não exercitava essa inteligência pra nada. No parquinho, no primeiro e segundo anos eu não tinha amigos, eu simplesmente ia pra escola, vinha pra casa, passava as tardes atormentado, passava os dias feito um zumbizinho que nem sabe o que veio fazer aqui nesse mundo. Meus pais não viviam uma boa fase, brigavam todos os dias e muito, meu pai era mulherengo e minha mãe não aceitava isso, então o pau comia lá em casa. Esses dias também foram dias em que meus pais procuraram saídas erradas para os becos da vida, de vez em quando meu pai tomava umas a mais, de vez em quando eles tentavam procurar explicações indo atrás de religiões e gente má, e esse coquetel fazia de nossa vida uma vida quase insuportável pra uma criança que via todas aquelas coisas e não entendia nada.
Uma vez fugi do parquinho e realmente iria sumir no mundo, mas tão besta que eu era que fiquei alí pelas redondezas de casa e a polícia acabou me encontrando. Eu repeti o segundo ano e posso lhes dizer que isso foi a melhor coisa que me aconteceu na vida, primeiro porque eu realmente não sabia nada de nada, eu apenas vivia, depois porque eu tive a aportunidade de conhecer algumas pessoas maravilhosas que mudaram minha vida e o jeito que eu enchergava a vida.
Na terceira série eu fui transferido de escola e lá conheci o Alexandre, o Toninho e o Marcelo. Eles não sabiam de nada ainda mas o que eles me proporcionaram como amigos, me aceitadando, me incluindo e se aproximando de mim e o melhor de tudo, trazendo uma base familiar de amor que eu não conhecia muito bem, me fizeram mudar. 
Pela primeira vez eu comecei a brincar de tirar nota mais alta que meus amigos, brincar de fazer um trabalho melhor pra poder tirar um sarrinho depois, brincar de aprender a desenhar, disputar quem leria mais livros até o final do ano, disputar e brincar com coisas que só fizeram bem. Esses três caras foram importantíssimos na minha vida. Nós éramos nerds quando esse termo nem existia e isso foi muito bom pra mim. Tudo bem que como um bom nerd a gente ficou um pouco pra trás no quesito arrumar uma namorada, mas nem isso foi ruim.
Então meus amigos, se meu filho Samuel que vai nascer em março tiver a chance de na vida dele encontrar alguns amigos como o Antonio di Petta, o Marcelo Casado Urbano e principalmente o Alexandre Oliveira Batistelli eu vou poder ficar um pouco mais tranquilo, porque amizades realmente mudam vidas! As vezes podem ser pra pior, mas no meu caso eles foram anjos que Deus mandou pra me ajudar!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O acusador



- Quem você pensa que é rapaz? Olha quanta cagada você já fez na vida... Agora vem com essa cara de anjinho falando que mudou?
- Mudei mesmo, e essas cagadas já ficaram no passado.
- O que ficou no passado? Os erros que você cometeu? Hahahahahahahahaha eles estão aí vivos na sua cabeça e vão te acompanhar pra sempre!
- Não vão mais me acompanhar porque eu abandonei esses erros.
- Abandonou por enquanto, mas é só uma brechinha aparecer que você erra de novo. Você é assim, sua familia é assim, seus pais são assim.
- Mas eu decretei que minha vida mudaria e o dia que eu resolvi mudar tudo isso ficou pra trás.
- Ah que bonitinho... Tudo ficou pra trás? Toda merda, todas as maluquices, todas as pirações. Hahahahahaha, como isso meu amigo?
- Não sou mais seu amigo. Ou melhor nunca fui seu amigo. Você fica aí falando de passado de passado só porque você sabe que não tem como eu mudar esse passado, mas tem como eu mudar o presente e também o futuro!
- Uiuiuiui... Tem como eu mudar o presente e o futuro! Que bonitinha a carinha dele... Acha que engana alguém? Quem nasceu pra ser medíocre morre medíocre rapaz! Pau que nasce torto até as cinzas dele são tortas!
- Você é o acusador mesmo né? Sarcástico, malvado... Mas aquele cara que você conhecia e influênciava não existe mais! Acabou! A vida agora mudou.
- Ah... A vidinha agora mudou?
- Mudou.
- Então está bem... Vai com essa fézinha sua aí que eu vou estar aqui te esperando no dia da sua recaída, hahahahahaha, no dia da sua volta triunfal, no dia que você perceber que eu sou o seu amigo e sempre vou estar com um ombro amigo te esperando de volta!
- Espera sentado que de pé você vai se cansar!
- Tem certeza?
- Tenho?
- Você acha que as coisas, as pessoas e a vida vão te dar segunda chance seu moléque desaforado?
- Vou te falar uma coisa, eu aprendi que a vida pode tudo, ela pode te recompensar e te punir, ela pode te abraçar, acolher e também te derrubar, mas uma coisa ela não pode nunca tirar da gente. A vontade de tentar outra vez!

sábado, 19 de novembro de 2011

A festa



Lucio voltou da caminhada diária, fez um carinho na cabeça de bóris seu cachorro de estimação, entrou em casa e foi direto tomar um banho. No banho ele começou a pensar que de 3 anos pra cá desde a morte de sua esposa Carmem como sua vida estava mudada. Ele nunca havia imaginado que ao completar 70 anos estaria morando sózinho, pois os filhos estavam todos casados e cada um trabalhando num canto do país.
Lógo ele que sempre zelou tanto pela unidade da familia, pela alegria e união dos filhos com os pais... Mas é assim mesmo, os filhos crescem e querem voar por conta própria e tem de enfrentar o mundo e a vida que tem pela frente, a parte dos pais é apenas prepará-los para isso...
Lucio tomou banho, enrolou a toalha na cintura, foi até a cozinha, pegou um copo de leite e umas torradas e foi até o escritório abrir seus e-mails.
Enquanto o computador abria ele matou sua torradinha com geléia de morango e seu copo de leite gelado.
Lucio era um idoso pra frente, tinha facebook, orkut e se comunicava por MNS e Skipe com todos os netos e sobrinhos e de vez em quando até com um dos 4 filhos, ele se orgulhava disso, pois era um velho conectado no novo mundo. Quando seu e-mail carregou ele foi lendo, e-mail de propaganda de lojas virtuais, e-mail de sacanagem que seu neto João sempre mandava, e-mail com vírus que teimavam em mandar falando que era do banco, da receita federal, do SPC e um e-mail do seu amigão Marcel. O e-mail do Marcel falava assim: "Bem vindo a minha festa, se você abrir esse e-mail não poderá fechá-lo mais". Lucio abriu e dentro era mais uma daquelas correntes que dizia que a partir da hora que você lê-se o e-mail quatro coisas iriam acontecer com você:
1- Uma ligação telefônica inesperada.
2- Alguém iria lhe dar uma notícia boa.
3- Você faria uma viajem.
4- Encontraria a pessoa que você ama.
Mas como sempre era preciso enviar a mensagem para toda sua lista de contatos. Lucio não acreditava nessas coisas mas resolveu enviar, só pra participar da brincadeira. Depois disso ele leu mais alguns e-mails, navegou um pouquinho pela internet até que o telefone tocou.
- Alô!
- Paaaaaaiiiiiii, me sequestraram paiiiiiiiiiiiii, socorro!
- Quem, sequestraram quem? Jonas? É você?
- Sou eu pai, é o Jonas, me sequestraram, eles querem um resgate! Pai socooooorrroooo!
- C.. co... como is.. isso f... filho... - O coração velho de seu Lúcio não aguentou o baque, ele sentiu uma enorme dor no peito e cambaleando foi até a calçada onde caiu no chão.
A vizinha chamou a ambulância que o levou até o hospital, chegando lá foi direto para a UTI. Algumas horas mais tarde seu filho Manoel que morava mais perto chegou ao hospital. O médico leiberou para que Manoel visse o pai... Manoel chegou perto do pai e foi logo acariciando sua cabecinha e falando ao velho.
- Puxa papai... Como é que isso foi acontecer? Eu amo o senhor e a correria da vida fez a gente ficar sem contato diário... Ainda agora eu estava falando isso pro Jonas... Eu já liguei pra ele e ele vem vindo... Vê se aquenta aí...
A mente de seu Lucio estava trabalhando bem e ele ouviu a notícia boa de que seu filho Jonas estava bem, deve ter sido um trote daqueles de presidiários, pensou ele, mas sem forças pra acordar e se levantar do coma ele viu uma espécie de pessoa muito bonita com cabelos loiros e uma roupa branca bem brilhante e iluminada que chegou perto dele, pegou-o pela mão e falou: - Olá senhor Lúcio, tudo bem?
- Tudo bem quem é você?
- Eu sou um anjo!
- Um anjo?
- É... Eu vim buscar o senhor pro senhor fazer uma pequena viajem...
- Pra onde?
- Por enquanto não posso falar, mas vai ser muito bom, e sabe quem está te esperando lá?
- A Carmem?
- Como sabe disso?
- Esses e-mails... - Pensou Lúcio. - E eu que pensava que eram tudo besteira...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Próximo!


Humberto estava na fila a uns 20 minutos quando finalmente uma vóz anazalada gritou: Próximo!
Então ele entrou, olhou pra atendente e deu um sorriso falando: - Bom dia!
- O que você deseja? - Ela respodeu em meio a um suspiro.
- Eu quero tirar a segunda via do meu R...
- Já pagou no banco?
- Como senhora? Eu não entendi...
- Tem que pagar no banco, já pagou no banco?
- Pagar o que no banco senhora?
- Pagar a segunda via do RG e trazer o comprovante - falou ela olhando para Humberto com uma cara de quem olhava pra um cocô.
- Eu não sabia que tinha que...
- Tem que pagar no banco! Próximo!
Ele correu, foi ao banco, pegou a senha, esperou uns dez minutos, pagou, correu de novo até a repartição, entrou na fila mais uma vez até que meia hora depois escutou: - Próximo!
- Oi, bom dia mais uma vez!
- Pagou no banco?
- Paguei, aqui tá o comprovante.
- Agora tem que trazer o xerox do RG antigo, ou da CNH, a certidão de casamento e uma foto atual.
- Mas... Porque a senhora já não falou isso antes?
Ela olhou pro Humberto como se olhasse para dois cocôs... Deu uma bufada, ajeitou o óculos, pegou uma caneta e grifou no papel falando: - Agora tem que trazer o xerox do RG antigo, ou da CNH, a certidão de casamento e uma foto atual... Próximo!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Mariana voou e Graziela se casou



Rodolfo namorou com Graziela desde a adolescência. Com o passar do tempo Rodolfo foi se transformando num rapaz ciumento e obsessivo que não aguentava ver a inteligência e a beleza de Graziela que realmente chamava atenção por onde passasse.
Luiz e Mariana namoravam a oito anos. No quarto ano de namoro decidiram morar juntos, a vida deles era perfeita, eles realmente se amavam, eles realmente se respeitavam e viviam bem!
Chegou um dia que a Graziela não aguentou mais as crises de ciúme de Rodolfo e decidiu terminar o relacionamento. Rodolfo não aceitou e chegou até a bater em Graziela. Foi uma briga enorme que mobilizou os vizinhos e até a polícia que teve que prender Rodolfo que após o pagamento de uma fiança foi liberado.
Mariana que era bióloga recebeu uma oferta de emprego no Canadá onde ela teria uma enorme chance de ficar bem de vida e fazendo o que mais gostava, só que Luiz era promotor e tinha uma carreira brilhante pela frente.
Graziela começou a namorar com Ricardo uns três anos depois da separação com Rodolfo, só que ele não aceitou isso e passou a ameaçar os dois. Ligava pra ela todos os dias, mandava cartas dizendo que não aceitava que ela namorasse outro, fazia um inferno na vida de Graziela.
 Mariana e Luiz estavam num bêco sem saída, ela tinha a maior proposta que um biólogo poderia ter, e ele tinha uma vida pela frente num ramo em que ele havia lutado muito para conseguir. Essa situação começou a martelar na cabeça deles até que em uma discussão Luiz  falou pra Mariana ir pro Canadá sem ele.
Rodolfo resolveu que não iria abrir mão de Graziela e não a deixaria se casar com Ricardo, o casamento estava marcado pro próximo sábado as 20 horas.
Sábado as 20 horas sairia o vôo que levaria Mariana ao Canadá, numa última conversa ela deixou claro para Luiz que se ele aceitasse ela abandonaria o convite de emprego e ficaria no Brasil, mas Luiz não achou justo atrapalhar o sonho de Mariana, mesmo amando-a como a amava. 
Rodolfo foi a uma bôca numa favéla e comprou um revólver.
Mariana se despediu de Luiz e foi de taxi para o aéroporto.
Graziela estava se preparando para ir pra igreja.
Rodolfo bebeu a tarde inteira pra tomar coragem de executar sua vontade.
Quinze para as oito Luiz se arrependeu, correu até a garagem e saiu em disparada com seu carro para tentar impedir Mariana de viajar.
Quinze para as oito Rodolfo tomou coragem, pegou a arma, carregou-a e partiu com seu carro pra matar Graziela e Ricardo na porta da igreja.
Luiz estva a 120 por hora na marginal, apodando todos os carros, desviando dos motoqueiros, enquanto Rodolfo vinha em sentido contrario ziguezagueando e correndo o máximo que o carro podia dar, os dois cada um movido por um tipo de pensamento vinham fazendo loucuras no trânsito, correndo riscos e pondo todas as vidas que passassem por eles em risco também.
Foi então que num cruzamento dois carros colidiram de frente, outros carros que vinha atrás foram batendo, batendo, batendo e isso se transformou no maior engavetamento que aquela cidade já havia visto. Os dois motoristas morreram na hora e pedaços de peças de carro se espalharam por quarteirões inteiros.
A polícia chegou, os bombeiros chegaram, as pessoas foram parando seus carros no engavetamento.
...
As oito horas em ponto de um lado do engavetamento Rodolfo olhou no relógio e pensou: - Isso deve ser um sinal de Deus... Eu ia fazer uma cagada e ia me ferrar pro resto da vida!
Do outro lado Luiz sentou-se no capô do seu carro, e olhando para o caos a sua frente, franziu a testa e pensou: - É... Talvez seja melhor assim...



sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Paixão de maluco

João Pedro acordou, conversou com a familia, se despediu de todos e foi à casa de Irineu para que os dois ganhassem a estrada. Os dois amigos estavam com o ingresso na mão e tinham que viajar até o Rio para assistir a grande final do Campeonato brasileiro. Se tudo desse certo, com apenas 8 horas de viajem eles estariam adentrando o estádio pra ver seu time do coração o Brasilina futebol clube levantar mais um caneco!
O bairro do Jupiá acordou cedo neste domingo, alí ficava a séde do Intergalático futebol clube, o time que disputaria com o Brasilina quem seria o melhor do Brasil neste ano... O Intergalático tinha a seu favor o empate, se o jogo acabasse com igualdade no placar eles levariam mais uma taça pro seu abarrotado museu de tantas glórias e conquistas.
O time estava concentrado a dois dias, e mais unidos do que nunca eles lutariam até o fim pelo Birimbinha, massagista do clube a 20 anos que na antevéspera do jogo havia sido atropelado por um moto-taxista e estava agora internado na Santa Casa todo enfaixado com duas costelas e a clavícula quebrada. No dia anterior o time todo o havia visitado e prometido ganhar o campeonato para o amigo de tanto tempo e tanta dedicação aos atletas. Na verdade Birimbinha era um segundo pai para os jogadores, sempre pronto a ajudar e dar conselhos, sempre atento a fazer favores e por isso mesmo muito querido por todos.
Aos 45 minutos do segundo tempo dessa batalha épica onde Brasilina e Intergaláticos faziam a maior partida de suas vidas, Chiquinho pegou a bola na entrada da área, driblou Eduardo e de cara pro gol (na visão do juiz)  foi tocado no calcanhar por Emiliano e se atirou ao chão. O juiz Oscar de Moura não titubeou um segundo e apitou apontando a marca da cal!
- PÊÊÊÊÊNALTIIIIIIIIIIIII! - Gritaram todos locutores que transmitiam aquela final.
Armando estava no final da sua carreira, quando chegou ao Brasilina muita gente foi contra e falou que o presidente do clube estava maluco por ter contratado alguém tão rodado e que agora aos 38 anos nunca havia sido campeão de nada importante. Como poderia uma pessoa assim ser o maestro do meio campo da equipe e ainda levá-la ao tão sonhedo título? Mas Armando estava calando a boca de todos e estava sendo considerado o melhor jogador do campeonato.
Benedito era torcedor fanático do Brasilina desde os 15 anos de idade quando assistiu o time do seu coração despachar o grande Santos de Pelé e tudo mais com uma acachapante goleada de 6 a 0 e desse dia em diante resolveu que iria ser brasilinense e assim o fez. Todos os 8 filhos de seu Benedito seguiram o pai e hoje se reunem todos os dias de jogo pra torcer, gritar, sorrir e chorar pela paixão da familia. Só que agora o netinho do seu Benedito apareceu com tendências intergaláticas, o menino só fala no Intergaláticos e isso está tirando o sono de seu Benedito que fez um acordo com o netinho... Se o Intergalático ganhar do Brasilina nessa final o neto está liberado pra torcer por quem quizer.
Tirolês pegou a bola, colocou-a debaixo dos braços e se dirigiu para a marca do pênalti. Ele era o artilheiro do campeonato com 22 gols, mas em nenhum momento de sua carreira havia encarado um momento tão tenso e importante como esse.
Claudinha era torcedora fanática do Intergaláticos, era ela quem cuidava das bandeiras e das faixas da torcida "Leões fieis" que era a maior e mais maluca torcida que o time laranja e verde dos Intergaláticos tinha. Claudinha iria se casar neste domingo mas do meio do campeonato em diante o Intergaláticos atropelou os adversários e acabou chegando a grande final. Foi uma briga homérica entre Claudinha e seu noivo que ameaçou até largá-la de vez, mas quando viu que não tinha mesmo jeito resolveu adiar o casamento.
Os jornalistas falaram na beira do campo para o juiz Oscar de Moura que as tvs mostravam claramente que o Chicão havia se jogado e que não foi pênalti... Oscar de Moura que estava a um passo de ser escolhido o arbitro representante do Brasil para a copa do mundo ficou muito triste.  - Puxa vida - pensou Oscar - agora o pênalti já está marcado e não tem como voltar atrás. O jeito é torcer para o goleiro Fernando Inácio defender.
Se Fernando Inácio defendesse o Intergalático seria campeão, se o Tirolês convertesse o pênalti o Brasilina é que levaria o canéco.
O estadio estava dividido ao meio, metade laranja e verde e metade vermelho e azul, mais de 120 mil pessoas se acotovelavam espremidos e calados com olhos fixos no gramado, milhares de telespectadores estavam emudecidos olhando fixamente para suas tvs, outras milhares de  pessoas acompanhavam tudo com o radinho colado ao ouvido.
Seu Jorge estava com o coração disparado, dona Rute estava com tremedeira, dona Dirce estava estática, Juvenal levava a cerveja até a boca mas nem piscava seus olhos.
Tirolês colocou a bola na marca do pênalti, olhou para Fernando Inácio que apontava o lado esquerdo e gritava: - Chuta aqui que eu vou pegar, chuta aqui que eu vou pegar!
Birimbinha assistia tudo do seu quarto no hospital, do seu lado um torcedor adversário falava, que seria gol, os enfermeiros pararam de atender pra assistir ao pênalti.
Tirolês correu pra bola.
Enquanto corria olhava pra ver se Fernando Inácio dava pinta se pularia antecipadamente para algum lado.
Tirolês correu, parou com seu pé de apoio ao lado da bola e chutou... Enquanto a bola viajava vários corações viajaram junto e o momento seguinte certamente ficaria marcado na vida de muita gente, de tantas Claudinhas, Beneditos, Armandos, Antonios, Rodolfos, brasileiros, brasileiras, torcedores e torcedoras contra e a favor que amam essa paixâo de maluco chamada futebol!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O agenciador

Imagine uma pessoa falastrona e tentando ser simpática como um desses apresentadores de circo. Imagine ele com a cara e a risada sarcástica do Coringa. Agora imagine ele saindo das sombras e da penumbra e oferecendo algo bem pertinho do seu ouvido. Imagine ele oferecendo isso pra alguém que você ama muito, seu filho, seu irmão, sua namorada. Imagine que ao lhe fitar os olhos você percebesse algo de diabólico no olhar desse ser... Imaginou tudo isso? Então boa leitura.
  
- Olá rapaz, olá senhorita!
Bem vindos ao novo mundo.
Um mundo de alegrias, conquistas, status!
Olá rapaz, olá senhorita!
Eu lhes apresento aqui e agora o divertimento...
A saciedade de emoções, as luzes que piscam!
O desprendimento da realidade que lhes oprime.
Só uma pequenina porção dessa maravilha e você vai se transformar, vai ficar forte, àgil, destemido e corajoso.
Você vai deixar de ser triste e vai virar o super-homem!
Talvez dure até a noite toda!
Isso...
Talvez dure até a noite toda!
E não se preocupe meu rapaz, não se preocupe jovenzinha, pois quando o efeito acabar eu não os abandonarei!
Agora essa maravilha toda lhe custará bem pouco, depois poderá lhe custar a eternidade, hahahahahahaha! Mas me responda.
Quem lhe garante que existe eternidade? Hahahahahahaha. Bem vindos ao novo mundo!

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Seleção de lentas



- Aí lá pelo meio da boate vinha a seleção de lentas!
- Seleção do quê?
- Seleção de lentas...
- O que é isso?
- Era uma seleção de mais ou menos umas 12 músicas lentas onde a gente aproveitava pra chamar as meninas pra dançar.
- E pra quê isso? Dançar musica lenta?
- Pra xavecar as meninas e quem sabe dar uns beijos, ou pedir pra levar ela embora...
- Xavecar?
- É... Se apresentar pra ela, conversar com ela, e quem sabe depois dar uns beijos.
- Tinha que falar o nome pra beijar?
- Lógico que tinha, ela tinha que te aprovar, as vezes beijavamos 2 ou 3 meninas por mês dependendo da sua habilidade de se vender na hora da seleção de lentas!
- Duas ou três por mês? E ela tinha que te aprovar pra poder beijar?
- Lógico pô! E aí você pedia pra levar ela embora...
- Pra quê?
- Porque era aí que você tinha oportunidades a mais... Quem sabe ela começava a gostar de você e começava um namoro, ou quem sabe se ela tivesse telefone marcaria pra vocês saírem durante a semana.
- Não entendi. "Se" ela tivesse telefone?
- É lógico... Um telefone valia o mesmo que uma casa popular ou um carro, as pessoas ricas tinham mais de uma linha telefônica e alugavam como se aluga uma casa hoje em dia...
- E quando é que você e essa menina tranzavam?
- Quando ela tivesse confiança em você, depois de você levá-la em casa algumas vezes...
- O senhor levava as meninas na casa dela e nem rendia nada?
- As vezes se a menina fosse fácil ia render lá pela terceira vez que vocês saíam...
- Se a menina fosse fácil!
- É... mas tinha várias meninas fáceis, se você fizésse tudo certo dava pra tranzar com uma por mês ou a cada dois meses...
- Ah tio... Larga de bobeira... O senhor quer me falar que levava as meninas em casa a pé e nem rendia nada, que tinha que converssar e levar ela no papo pra poder beijar e "pedir" pra levar ela em casa, isso tudo numa coisa absurda que se chama "seleção de lentas", e que só tranzava uma ou duas vezes por mês! E que marcava "encontros" por telefone "se" a menina tivesse telefone porque valia o preço de uma casa! Hahahaha, tio como o senhor é engraçado... E ainda acha que eu vou acreditar numa estória boba dessas, hahahahahahaha.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Saber viver


         

 Ela chegou da rua exausta, trabalhou o dia inteiro na casa da dona Ester. Lavou, passou, secou, limpou, enquanto dona Ester fazia um chazinho com as amigas para passar com mais alegria as horas enormes que o dia lhe trazia.
 Ela passou pela varanda com o balde enquanto dona Ester e suas amigas pareciam não lhe enxergar, ela passou pela varanda com a vassoura, com o rodo, com a roupa suja, com o sabão em pó, com sua dignidade ferida pois em nenhuma das vezes ninguém nem olhou pra ela... Nem lhe ofereceram chá, afinal ela não deveria gostar pois seu paladar não era acostumado com essas coisas...
Seu dia era curto e ao contrario das horas de dona Ester, seus minutos corriam e seu relógio lhe lembrava a cada instante que seu marido e seu filho chegariam as seis horas do serviço,  e as sete e meia o menino teria que entrar na escola já jantado e com sua roupa passada e agora ela lembrava que a roupa dele ainda estava no varal! "Deus ajude que não chova..."
Ela passou mais umas vezes pelas animadas e cheias de chá amigas de dona Ester quando ouviu uma delas falar em como era chato a serviçal da casa ficar passando pra lá e pra cá bem na hora do chá! Ela engoliu a seco e num breve instante teve vontade de voltar e falar um monte de coisas para essa infeliz... Mas tudo bem, o que lhe interessava no momento era o dinheiro do final do dia.
- Olha aqui o seu dinheiro – falou dona Ester olhando pra ela – acho que não vou precisar mais dos seus serviços, eu não gostei das suas idas e vindas perto das minhas amigas...
- Mas o que a senhora queria que eu fizesse se a sua varanda fica no meio do caminho entre a casa e a lavanderia?
- Bom como eu disse eu não vou mais precisar dos seus serviços.
Ela foi embora cansada, humilhada e feliz... Passou no açougue comprou meio quilo de carne moída e um quilo de músculo, passou no mercadinho e comprou cebola, cenoura e batata, passou no bar do seu Zé e comprou uma Tubaína... Valeu a pena trabalhar hoje!
Ela chegou da rua exausta, trabalhou o dia inteiro na casa da dona Ester. Lavou, passou, secou, limpou e chegou em casa finalmente. Chegou na casa onde era tratada com carinho pelo marido, com amor pelo filho, com festa pelo cachorro e como gente pelas vizinhas. Ela fez um picadinho de cenoura com carne moída, fez um feijãozinho novo, um arroz branquinho e junto com sua família jantou alegremente. Depois ela e o marido conversaram sobre o dia, juntos arrumaram a casa e esperaram felizes o filho voltar da escola... A vida dela era assim, triste e revoltante em alguns momentos mas muito feliz no restante do dia, afinal ela se amava e não desistiria da felicidade nunca!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Lei dos homens


- Chamô dotô?
- Chamei sim Chico.
- O que o sinhô tá pricisanu?
- Quero que você faça um serviço pra mim!
- Póde falá dotô, o sinhô sabe qui eu faço tudo que o sinhô mandá...
- Quero que você reúna os melhores jagunços da cidade e vá com eles lá na divisa da minha fazenda com a fazendo do seu Augusto, entrou um bando de sem terras lá e botaram fogo na roça, mataram algumas cabeças de gado e roubaram uns cavalos...
- Ué dotô, eu vim de lá inda agórinha e ví esses sem terra lá, mas eles não fizero essas coisa não, eles táo inté mais do lado do seu Augusto e nem entraro na vóssa fazenda...
- Eu sei Chico, mas se eles não fizeram aínda eles certamente vão fazer.
- Mas dotô, não é mió esperá eles fazê arguma coisa primêro?
- Não Chico póde ir que eu quero a limpeza agora!
- Mas como é qui nóis vai explicá a mortandade desse povo?
- Se os sem terras sumirem é só falar que foi o seu Augusto que mandou matar... Mas não me desafie Chico, porque se você sumir em nem preciso explicar nada pra ninguém...
- Dotô?
- Que foi Chico?
- O sinhô acha que uns quinze jagunço já dá pra fazê o serviço?




Esse texto foi escrito a uns 15 anos e hoje eu reencontrei ele no meio de uns papéis aqui em casa. Infelismente ele ainda é tão atual...