segunda-feira, 7 de outubro de 2019

O brinde








- O senhor pensa no futuro?
- No futuro? Como assim?
- No futuro, na sua família, no dia que o senhor faltar?
- Faltar? Faltar de onde?
- Morrer.
- Mo... Morrer? Não eu nem pendo nisso.
- Mas o senhor pode morrer.
- Todo mundo pode! Você também pode.
- Isso, todos nós podemos morrer, e é por isso que eu estou lhe oferecendo essa oportunidade!
- Oportunidade de não morrer?
- Não... Oportunidade de dar um futuro melhor para sua família.
- Mas que oportunidade é essa? Um serviço que vai me pagar mais?
- Não... Um seguro de vida, em que sua esposa vai receber 1000 vezes o que o senhor pagou, e de brinde, um auxílio funeral, em que ela não precisa se preocupar com nada no dia em que o senhor falecer.
- Nossa, que brinde bom esse, hein?
- Na verdade eu me expressei mal, não é um brinde, é uma cortesia que nosso seguro oferece.
- Ah, tá... Olha, o senhor vai me desculpar, mas eu não estou pensando em morrer agora.
- Ninguém pensa, e é por isso todos são pegos desprevenidos.
- Eu me previno, como direito, faço exercícios, bebo socialmente.
- Tudo bem, eu acredito nisso, mas, mesmo assim a morte pode estar esperando o senhor ali na esquina. O senhor pode bater o carro, bater de moto, tropeçar e cair de cabeça na sarjeta, ter um ataque fulminante, pegar uma infecção generalizada, ser picado por um enxame de abelhas, levar um tiro de bala perdida, ter uma overdose!
- Overdose?
- De emoção... Overdose de emoção!
- Não, obrigado! Eu realmente não quero morrer agora, e minha família, se eu morrer, não está tão desamparada assim.
- E sua esposa?
- O que tem minha esposa?
- Já imaginou se ela faltar?
- Nunca imaginei.
- O senhor ganharia até 1000 vezes o dinheiro investido.
- E o brinde? O dela também tem brinde?