domingo, 31 de março de 2013

O Palhaço




O rato come queijo, o gato bebe leite, e eu... Sou palhaço!
Ontem assisti ao filme, "O Palhaço", do ator e agora diretor Selton Mello. Mesmo lendo e ouvindo muitas críticas negativas sobre esse filme, eu resolvi dar um voto de confiança a este ator que gosto muito, e assiti ao filme.
Gente... A cada dia que passa, a cada crítica que leio, a cada "expert" que eu escuto, eu acabo chegando a conclusão cada vez mais, de que eu não entendo nada de filmes, pois "O Palhaço" é um filme maravilhoso!
Talvez os críticos esperassem um filme feliz, alégre, e cheio de palhaçadas. Talvez esperassem o fantástico mundo do circo! Talvez esperassem uma coisa que o filme não é, e não faz questão de ser...
O filme fala da pessoa que existe por debaixo da pintura do palhaço. Ele fala da dureza que é a vida do povo circense nesse país que não dá valor á cultura e as artes. O filme fala de coisas do caração!
O rato come queijo, o gato bebe leite, e eu... Sou palhaço! Essa frase é repetida algumas vezes no filme pelo dono do circo, o palhaço "Puro Sangue", vivido magistralmente pelo ator Paulo José, pai do palhaço "Pangaré", vivido por Selton Mello. Essa frase sintetiza todo o filme. 
Ninguém se torna artista de circo se não for pelo sangue circense correndo em suas veias, pois na grande maioria das vezes, as derrotas são bem maiores que as glórias. A história do filme se passa em meados dos anos 70. Mas de lá pra cá pouca coisa mudou pra esse povo que anda com suas lonas remendadas, ciganamente de cidade em cidade, fazendo rir, sonhar, fazendo voltar no tempo. Fazendo com que algumas horas, (pelo menos as horas que durem seus espetaculos), sejam horas de libertação! Libertação de problemas, lebertação dos afazeres do dia a dia, libertação da criança que existe dentro de cada um de nós... Que olha para o malabarista sem entender como ele consegue ser tão ágil. Que olha para o mágico e não entende como ele faz as coisas sumirem e aparecerem bem diante de seus olhos. Que olha, e rí do palhaço... Que como um ser composto de pura alegria, te faz soltar gargalhadas juvenis.
Acho que foi isso que faltou para a crítica especializada analizar quando eles assistiram a esse filme. Eles não repararam na arte verdadeira, na poesia das imagens, das ações, das falas e diálogos... Eles não entenderam assim como eu, um simples espectador, entendi. 
Eles olharam com olhos críticos, procurando detalhes tecnicos e infelismente não foram tocados no coração. Triste isso... Mas talvez uma crítica dessas tenha te desestimulado a assistir ao filme. Por isso resolvi escrever esse texto. Um textinho, chinfrim desse humilde blogueiro, que não entende nada de fazer resenhas, não entende nada de tecnicas de filmagens, não entende nada de cinema... Mas entende de contar histórias... E a história de "O palhaço", é a melhor que ví nos últimos tempos. E quem a contou no filme, contou-a com maestria!


terça-feira, 26 de março de 2013

Blues

Aperte o play do vídeo abaixo e sinta as letras do texto...




Um blues toca no meu radinho interior.
Toca insistentemente, a dias...
Os acordes tristes dessa guitarra imaginária, misturam-se com a gaita que vem do fundo de meu coração.
O som, mistura-se com os sentimentos e fazem-me rir e chorar...
O blues é assim...
Ele faz rir das adversidades.
Mas faz chorar nas horas de alegria.
Ao compasso do meu coração, o bateirista, mestre bluseiro, bate o bumbo marcando o ritmo.
Ritmo de vida. Ritmo pra vida... Ritmo dos dias.
Ao compasso do blues, vou aprendendo que as coisas podem demorar, e que ao som uivante da gaita, a gente pode até patinar na lama... Mas o importante é prosseguir!





sábado, 23 de março de 2013

Aos amigos e seguidores




Olá amigos e seguidores deste humilde mas cheio de amor, bloguinho! Eu estou aqui fazendo uma "mea culpa", porque não tenho me dedicado tanto ao blog como me dedicava antes. Eu estou com uns probleminhas de tempo e não estou conseguindo administrá-lo corretamente. Sei que isso é um mal de nosso tempo e que pessoas sábias tem mais facilidade pra se agendar, ou para pegar menos problemas pra resolver, mas fazer o que se eu sou meio burrão?
Eu estava pensando em acabar com meu blog, destruí-lo, desintegrá-lo e mandá-lo para o triângulo da bermudas para que o buraco negro intra mundos o sugue e ele nunca mais volte... Mas não consegui. Eu amo esse blog e tem muuuuuita coisa escrita aqui de que eu me orgulho. Tem muito cometário bacaninha e muito comentário bacanão também. Por isso eu sei que estou em débito com os amigos, sei que estou postando menos e visitando-os menos em seus blogues mas por enquanto vai ter que ser assim.
Em partes isso é até bom pra que eu veja quem é que me ama mesmo, hahahahaha, quem mesmo na época difícil da dificuldade dificultada, ainda vem aqui sempre me visitar, custe o que custar, aconteça o que acontecer, até que a morte nos separe.
Quando eu fiz esse blog eu imaginei um blog muito mais de cartuns e charges do que de textos, mas sabem quanto tempo faz que eu não faço um cartum? Isso mesmo, trezentos e sessenta e cinco anos... Anos luz diga-se de passagem. Mas acho eu que a correria que estou fazendo na vida, uma hora vai brotar e os frutos da persistência me trarão suas flores e frutos... Bom pelo menos é o que acho.
Os amigos sabem que escrevi um livro e sabem que eu estou batalhando na batalha batalhada que é mais tranquila que a dificuldade dificultada, mas não menos trabalhosa, para publicá-lo. "Trabalhosa é com ésse mesmo ou é com zê?" Bom mas não vem ao caso. O caso é que mandei meu livro pra tudo o que é editora e algumas responderam que o livro é muito bom, maravilhoso, primoroso e um sucesso... Desde que eu desembolse mais ou menos 5 mil reais, pague toda a publicação, a distribuição, a revisão, a arte da capa e depois de tudo pago eles colocam nas livrarias e eu ganho 10% de direitos autorais... Puxa amigos... Que triste isso né?
Bom, mas é atrás desse livro que estou correndo. Vou lê-lo agora pela terceira vez, depois que o professor e amigo Bento Sales fez a revisão e ver como ficou os finalmentes, e aí se Deus quizer vai aparecer um bendito de um editor querendo bancar meu trabalho, mas se isso não acontecer, talvez eu faça em algumas dessas editoras que enfiam a faca ou talvez faça independentemente.
Na verdade, uma editora aí "segredo" me fez uma proposta até que agradável... Mas ainda estou na base da pensação.
Beleza? Então, um beijo e um queijo para todos vocês e não fiquem magoados comigo, eu juro que essa fase vai passar e esse blog vai voltar a ser como era antes...


terça-feira, 19 de março de 2013

Vozes periféricas 4


E aí irmão dotôr, tudo beleza? Qui legal c'ocê apareceu aqui na periferia di novo. Nóis qui trabalha no corre di vendê os cedê dos Paraguai pricizamo dos criente bão assim igual o dotôr!
As vêiz tem uns bacana aí qui aparece na televisão falano qui nóis é máfia, é do crime organizado, é traficanti... Mas o irmão dotôr aí sabe qui num é nada disso tá ligado? Nóis vende cedê i devedê, só isso i mais nada. Os meu irmãozim lá im casa tem que tomá leite, os barrigudim pricisa disso e cumé qui eu vô arruma esses leite honestamente si num tem trabalho? Si q'éssa cara di melianti, preto, pobre i magrelo qui eu tenho, ninguém qué mi dá um trampo decente? O baguiu é lôco irmão dotôr! Tenho qui vendê esses produto mêmo... Mió qui vendê droga, purquê droga eu num vendo! Inda mais agora qui eu tô curtino uma igreja aí, e o pastor falô uma parada macabra di í pru inferno... Tô fóra di inférno véio. Chega o inferno aqui da vida, quando eu morrê quero vê se Jesuis olha miózinho pra mim e me arruma um lugázim bem cabuloso lá no céu, tá ligado?
Mas intão irmão dotôr, essas pessoa qui critica a preriferia e nossos serviço alternativo, tem qui sabê qui si ninguém comprasse nossos produto a gente não vendia nada, né verdade? I eu tô falanno di genti honesta igual eu e também dos mano ladrão i traficante.
Olha só. O mano ladrão de carro só róba purquê tem quem compra, ou tô falano mintira? I quem compra é os irmão dotôr assim igual o sinhor... Tem também os irmão traficante, qui só trafica purque tem quem usa as droga, num é verdade? A parada é tensa irmão dotôr... Cê tá ligado qui os maior viciado é os filho di bacana qui vem buscá as droga aqui na periferia, não tá? Cadê as mãe e os pai desses muleque qui num inxerga as coisa?
Vô ti falá uma coiso pru sinhor, pra tudo qui é coisa ruim qui alguém faiz, sempre tem alguém quereno recebê du outro lado. Até as sinhorinha fofoqueira, só fofóca purque tem alguém qui iscuta... Intão irmão, a vida é assim mêmo! É lôca e si cuchilá o cachimbo cai!
E aí... Discúpa qui toda veiz qui o sinhor aparece aqui eu sempre falo umas parada maluca pra cima du sinhor, qui déve tê muito pobrema pra fica ovino minhas baboseras né verdade? I aí? Vai levá um cedezim? Ô um devedêzim?





Esse clipe é de uma banda argentina chamada Ataque 77, punk rock hermano fazendo uma versão do sucesso da Legião Urbana.


terça-feira, 12 de março de 2013

Linguagem dos poetas




Muitas vezes nós somos enganados pela linguagem rebuscada que os poetas usam para formularem seus textos. Se a gente for prestar atenção mesmo no conteúdo da coisa a gente percebe como a linguagem poética pode esconder umas coisas que muitas vezes se faladas na linguagem coloquial fica até meio feião de ler e de falar. Resolvi então traduzir para o coloquiês alguns exemplos do rebusquês.
Exemplo 1:
Sua tez enrubreceu, ao ver os contornos curvilíneos de sua amada. Seu coração bombeava emoções que sufocavam seu ser.
Ele teria que descarregar seu instinto animal e seus fluidos carnais urgentemente!!
Tradução: Ou esse cara dá uma rapidinho ou ele vai ter um tróço !!!

Exemplo 2:
Ludicamente a criança caminha num mundo de sonhos sobre o jardim em que sua mãe, feito uma artesã, criara sua mais bela obra prima...
Tradução: Eita moleque bagunceiro, estragou todo o jardim que a mãe penou pra deixar bonitinho!! Ah... vai apanhar na certa.

Exemplo 3:
Os alvos e parcos cabelos brancos que adornavam aquela cabeça octagenária, camuflavam seu falo em riste e seus olhinhos vivos que fitavam entusiasticamente a rebolativa e quase desnuda, arrumadeira da casa de seu derradeiro rebento...
Puxa... parece lindo né? Mas lá vai a tradução:
Que véinho tarado esse... Com oitenta anos, (de pinto duro) e de zoião na empregada do filho mais novo, e ela por sua vez, não tem nada de santa, com essas roupinhas curtas se mostrando e se insinuando, pra lá e pra cá .

Exemplo 4 :
Enquanto a boemia o levava aos braços calientes das damas da noite. A rainha do seu lar, preparava seu recanto e esperava numa noite de longos minutos, a fitar aflitamente o relógio que lhe respondia: Tic tac, tic tac, tic tac...
Agora deu vontade de chorar... Como é bela essa cena de amor... Mas traduzindo: O cara é putanheiro e essa mulher é uma tonta!

Então amigo, preste atenção nessa linguagem dos poetas, que esses caras são espertos, falam coisas que a gente não entende ou apenas querem passar despercebidos pela nossa cabeça de mamão e nossa linguagem chula e coloquial...

sexta-feira, 8 de março de 2013

Oitentinha du bão!



- Oi, tudo bem? - Eu disse sendo simpático.
- Humm... - Respondeu o rapaz do outro lado do balcão.
- Eu deixei meu celular aqui pra fazer um orçamento hoje cedo.
- Humm... - Repetiu mascando um chiclete barulhentamente.
- Você viu o que estragou nele? - Perguntei.
- Ví.
- E aí? O que foi que estragou? - Perguntei tentando retirar alguma coisa mais polissilábica.
- O visor fréquis.
- Visor Flex? O que é o visor flex?
- Uma peça. - Respondeu o atendente fazendo cara feia.
- E isso tem concerto?
- Oitentinha du bão. - Respondeu esboçando um sorriso desfalcado.
- Como?
- Oitentinha du bão!
- Eu perguntei se tem concerto. - Falei em tom irritado.
- Intão... Oitentinha du bão! - Me respondeu o atendente com tom mais irritado que o meu.
- Você me entrega quando?
- Senta alí qui nóis já arruma. - Me falou apontando uma cadeira no canto do balcão.
- Rapido assim?
- É...
- A peça que você vai trocar é original? - Indaguei com um pouco de medo.
- Ôpa... Orégis. - Respondeu o rapaz mostrando o desfalque dentário mais uma vez.
- Tá bom então pode consertar...
- Tá pronto!
- Como? Já arrumou? - Falei eu espantado!
- Já! - Me disse ele estendendo a mão espalmada, sorrindo e continuando sua fala: - Oitentinha du bão!

sábado, 2 de março de 2013

Anjos


Mais uma vez estou postando esse texto e acho que do jeito que as coisas vão eu postarei ele de tempos em tempos até o dia do final desse blog. Espero que vocês que já leram, leiam de novo e que falem sobre esse assunto com seus amigos, para que assim quem sabe um dia essa situação mude. Ouça também a música do vídeo, sei que é punk rock e que tem gente que acha agressivo demais, mas ouça e entenda a letra. Ela é um protesto e vale a pena se escutada! 




Zezé era menino.
Menino que não sabia.
Menino que não conhecia.
Zezé era um menino que não sabia de onde veio.
Não conhecia seu pai, era filho de pai sem mãe...
Não conhecia sua mãe, era filho de mãe sem pai ...
Zezé foi criado por uma irmã mais velha. Um ano mais velha. Marcia era o nome dela.
Comiam os restos das latas de lixo, dormiam debaixo da ponte, se cobriam com jornal, cheiravam cola e fumavam bitucas de cigarro.
Um dia acharam o corpo de Marcia num matagal, comida pelos vermes e pelos humanos.
A policia achou normal, afinal, era só uma menina de rua mesmo...
Zezé prosseguiu sozinho. Já tinha quatorze anos e uma mulher! Carol.
Carol, que já tinha treze anos. A oito meses grávida...
- Que legal, eu vou ser pai!
E foi!
Comiam os três restos de lixo, comida roubada ou ganhada, o mercadão jogava muitas verduras fóra.
Carol, desnutrida, não tinha muito leite, e quem tinha não dava. Afinal um centavo valia muito falou o presidente!
Um dia a polícia entrou no cafofo. Cafofo era a casa de Zezé, e de Jão, Zé, Cráudia, Alê, Xixa, Carol e mais um monte de moleque de rua.
Cheirador de cola!
- E esse nenem? - Falou o policial - vamos levar pro juizado!
- Meu filho não! - Falou Carol.
- Vai ele e você!
Carol se atracou com o policial que queria tirar o nenem do seu colo, e os outros moleques entraram na briga, foi uma confusão. De repente um dos policiais puxa a arma e atira!
Legítima defesa ele afirmaria no processo.
Zezé que já tinha visto muita coisa nessa vida, viu sua mulher e seu filhinho cairem no chão...
O tiro atravessou os dois.
Zezé matou um dos policiais a pauladas!
Mais polícia chegou, a televisão chegou, as pessoas chegaram... Mais policia chegou, mais televisão chegou, Os moleques foram presos!
Hoje Zezé está preso... Deflorado, surrado, usado, pisado...
Ele sonha com o dia em que vai sair da cadeia para menores infratores...
Legal né?
Ele sonha...
Afinal ele é criança, que sonha antes de dormir, afinal ele é criança e sonha com fantasias de criança... Criança de quinze anos...
Que sonha acordado!
E sonha com dias melhores... E sonha com os Anjos!