sábado, 28 de maio de 2016

Amizade eterna






Que legal quando as tecnologias são usadas para coisas bacanas.
Ontem eu e um monte de amigos da terceira, quarta e até quinta série, fizemos um grupo no watsapp!
Olha que hoje nós somos todos quarentões, temos filhos e uma amiga tem até netos!
Puxa, como é bom relembrar histórias, fatos engraçados, fatos tristes, saber como estão essas pessoas que fizeram parte de uma época tão feliz de nossas vidas. Uma época em que a gente não tinha tantas responsabilidades, não pensava em muita coisa e queria mesmo é ser feliz.
Os anos oitenta foram muito bons pra gente! Um anos onde se podia caçoar do amigo, que se defendia com uma caçoada pior que a sua, e a gente não reclamava para os pais e muito menos para os professores.
Ontem no watsapp, as brincadeiras reapareceram, e num determinado momento alguém falou: - Opa! Isso é bulling.
Na mesma hora alguém respondeu: - É mas aqui nós estamos nos anos oitenta!
Todo mundo deu risada, pois a pureza de criança estava de volta nas nossas conversas, e a alegria daquela época parece ter viajado pelo tempo e chegado até os dias de hoje. Talvez possa ter vindo de alguma máquina do tempo... Uma máquina que se chama subconsciente e que grava tudo o que ele acha que é bom e precioso.
Como essas pessoas são preciosas, e como aqueles dias ficaram marcados para todos nós.
Não sou o sábio da montanha, mas vou te dar um conselho: Se você puder fazer um grupo no seu watsapp com pessoas que são importantes para você; faça! Você não tem nada a perder. Pelo contrário, ganhará, carinho, alegria e boas lembranças.





segunda-feira, 23 de maio de 2016

Adultinhos e crianções






Eu tenho notado que as coisas estão um pouco mudadas hoje em dia.
As crianças estão muito mais espertas do que na minha infância, tanto que as vezes, chegam até a discutir com a gente sobre coisas que eu nunca imaginava que elas poderiam saber. Outro dia uma menininha de cinco anos estava falando sobre como o desenho dela estava chato em relação a novela da mãe, porque o desenho repetia muito, e a novela não. Na novela era um capítulo novo por dia e nunca repetia nada.
Quando que eu com cinco anos, saberia argumentar, demonstrando minha opinião sobre qualquer coisa, que não fossem meus brinquedos, ou alguma comida que eu gostasse.
Um filho de um amigo meu estava com uma chuteira no pé, e dizia que era a marca do Neymar, e que o pai dele queria lhe dar uma outra, mas ele não quis, porque calçando a do Neymar, ele poderia mostrar para os amiguinhos e tirar um sarrinho! Gente! Eu nem sabia o que era tirar um sarrinho, e nenhum dos meus amiguinhos sabiam também. Falando a verdade, a gente brincava uns com os outros e até poderíamos fazer o que hoje se chama bulling, mas no nosso tempo era tudo sem maldade.
As crianças de hoje mexem em computador, em televisão, atendem telefone, fazem pesquisa na internet, conversam entrando no assunto dos adultos, e parecem não ter limite!
Minha sobrinha quando tinha seis anos e estava na escolinha, (que hoje não se chama mais parquinho e nem prézinho), já fazia pesquisa na internet. Quando ela tinha dez, já usava batom, bota de couro da Angélica, luzes no cabelo, olhos delineados com lápis, e falava em namorar, (meninos mais velhos!)
Menininhos que jogam futebol, falam em ir para a Europa. Falam em Barcelona, Real Madri, Chelsea. Crianças que tem mais dinheiro, fazem judô, jiu-jitso, caratê, natação, balé, estudam música, inglês, francês, chinês, e por aí vai.
Quando que eu e meus amiguinhos de seis ou sete anos, sabíamos o que é Europa? E Barcelona então?
Mas por outro lado, os jovens pais e jovens mães, que eram essas crianças chatas, adultinhas, se tornaram um adultocrianção, sem ter tido infância, eles querem ser crianças agora. Brincando de Playstation, brincando de ser pai, brincando de ser marido, achando que trair seu cônjuge e beber até cair é uma brincadeira muito legal. As famílias não tem filhos e filhas, elas tem adultos em miniatura. Pois ignoram a hierarquia da família, e deixam seus filhos tomarem as rédeas da casa.
Outro dia um programa estava entrevistando um jovem empresário, que estava de terno e gravata do Mickey. Esse empresário é o que eu chamo de crianção!
Os crianções estão por aí, brincando no trânsito, tirando rachas e arrumando encrenca se alguém encostar no brinquedinho deles.Os crianções brincam de votar sem nunca ter lido um jornal, afinal ler sobre política é um brinquedo muito chato! Melhor assistir o Big Brother.
Tenho uma teoria: Criança adultinha sem infância, vira adulto crianção que quer viver a infância depois de velho.
Tive a ideia de escrever esse texto no supermercado. Na minha frente um casal recém casado estava na fila do caixa, fazendo a sua primeira compra. No carrinho deles só tinha danoninho, bolacha recheada, chocolate, tody, suco, refrigerantes, bolacha recheada, tody, sucos, refrigerantes, refrigerantes,danoninhos, bala, balinha, refrigerante, danone, bolacha recheada, bolacha sem recheio, tody, danone e danoninho.
De repente a mãe de um deles chegou ao mercado e olhou o carrinho que estava lotado dessas coisas, e falou fazendo cara feia:
- Uai gente, essa é a primeira compra de vocês! Onde está o arroz, o feijão, óleo, verduras, frutas, carne?
Eles se entreolharam envergonhados e saíram da fila, voltando a fazer mais compras.
Tomara que eles tenham escutado a mãe e tenham ido atrás de produtos para sua despensa, mas talvez, só tenham se lembrado de que esqueceram a pipoca de microondas.







terça-feira, 17 de maio de 2016

Tudo gostoso






Vou caminhar, se o sofá deixar. Talvez, caminhar do sofá até a geladeira.
Vou correr, fazer flexões, polichinelo e coisas assim, se a preguiça e a nhaca sumirem.
Vou fazer regime, se a gulodice me abandonar.
Vou comer de três em três horas, se a vida correr um pouco menos. Puxa... Como ela é rápida...
Vou trocar o leite pelo suco de laranja, se as vacas pararem de produzir, ou se o suco vier natural, fresco, puro, vitaminado e em garrafinhas.
Vou comer menos carne, se os açougueiros fizerem greve.
Vou comer mais frutas, mais legumes, mais fibras... Se a lasanha for proibida pela polícia federal.
Vou mudar de vida, se os obstáculos deixarem de ser tão gostosos...




terça-feira, 10 de maio de 2016

De quem é a razão?






Ele sumiu!
Não queria sumir, pois era muito combativo e ativo, mas, sumiu.
Ele adorava entrar em uma discussão. Adorava deixar claro seu ponto de vista, adorava estar com a razão.
Ele não admitia perder em qualquer questão, por isso, entrava de cabeça em todas as discussões.
Ele era assim.
Agora, eu o procuro em meio às discussões, procuro seu ponto de vista, pergunto a sua opinião, mas não tenho resposta.
Nem sei por onde procurar, ou, se devo procurar.
Outro dia, ele me mandou um watsapp mental que dizia:
Melhor ser feliz do que ter razão.
Meu Deus! Será que ele aprendeu?
Vamos ver. 




quarta-feira, 4 de maio de 2016

Virgem Maria - final






A multidão atônita e os guardas prostrados como estátuas, encaravam a Miguelito sem conseguir mexer um músculo enquanto ele declamou todo o poema. Monsenhor Fernando ao fim da “apresentação” se virou para os guardas e, aos berros ordenou: - Prendam esse Miguel de Cervantes!
- Calma Monsenhor, no seu julgamento faltam algumas perguntas. - retrucou Miguelito. - O senhor não deu chances de Juan de Castro se defender, e fez perguntas que certamente lhe condenaram sem julgamento algum.
Os guardas rapidamente chegaram até Miguelito que levantou as mãos colocando-as atrás da cabeça num claro gesto de que estava desarmado e se entregando.
- Mais perguntas? - falou Monsenhor Fernando.
- Logicamente que sim. - respondeu Miguelito sendo levado para perto do Monsenhor pelos guardas. - Ou o senhor quer que algumas dúvidas sobre sua moral e lisura caiam como pulgas atrás das orelhas desse povo todo que está aqui assistindo ao tal “julgamento?”
- Então faça você as perguntas que salvará o pescoço do senhor Juan de Castro seu amigo, e faça-as bem feitas, porque ao declamar esse poema o senhor também cometeu crime de morte.
Miguelito virou-se para Juanito e falou: - Juan de Castro, o senhor escreveu esse poema para uma mulher normal ou uma mulher inatingível?
- Para uma mulher inatingível.
- Então na verdade, o senhor escreveu esse poema para uma mulher especial?
- Oras! - se irritou Monsenhor Fernando. - Onde essa ladainha vai dar?
- Calma Monsenhor - falou Miguelito, e virando-se para Juan novamente continuou. - Senhor Juan de Castro é verdade que o senhor fez esse poema, “preste bem atenção a minha pergunta”. - Miguelito falou essas últimas palavras em um tom de apreensão e com um gestual dizendo para Juan entender as entrelinhas da pergunta. - Para a virgem, Maria?
- O quê! - intercedeu Monsenhor Fernando. - Rapaz, ele está sobre juramento e se mentir vai para o inferno...
- Por favor Monsenhor deixe eu perguntar, assim o senhor atrapalha o julgamento e as pessoas estão ali esperando e não querem pensar-lhe mal. - virando-se mais uma vez para Juanito, Miguel voltou a perguntar:
- Juan de Castro, é verdade que o senhor fez esse poema para a virgem, Maria?
            - A virgem, Maria?
- Isso. - falou Miguel em tom de afirmação. - A virgem... Maria!
Foi quando Juan entendeu o verdadeiro significado da pergunta e respondeu: - Isso mesmo, eu realmente escrevi esse poema para a virgem, Maria!
Nesse momento um alvoroço se ouviu de novo no meio da multidão e aproveitando-se dessa situação de bagunça Miguelito gritou alto: - Povo de Manzaneda! Quem de vocês não sente a mesma coisa quando estão diante da virgem Maria?  
As pessoas que falavam umas com as outras, discutiam, questionavam, pararam por um momento e olharam, dando atenção a Miguelito que continuou:
- Quem de vocês não sente a face enrubescer, ou se sente indefeso, ou sente que precisa da sua luz, ou sente que não é nada perto da virgem Maria? Quem de vocês não sente tudo igualzinho ao poema quando se tem um pouquinho de fé na virgem? Imagina um garotinho estudante de um mosteiro e educado segundo as rígidas leis católicas, tão plenamente aplicadas pelo disciplinador frei Augusto? Eu exijo que Juan de Castro, que agora sim teve chance de se explicar, seja libertado!
- Liberta-o! - gritou seu Armando do meio da multidão. – Liberta meu filho!
- Liberta o garoto! - outra pessoa gritou também.
A multidão em coro começou a se manifestar em gritos e brados de “liberta o garoto, liberta o garoto!”
Monsenhor Fernando, derrotado pela manifestação da multidão, abaixou a cabeça coçando a nuca, como se isso fosse abrandar a sua ira, e chegando-se perto de Miguelito falou baixinho entre os dentes:
- Eu e a santa igreja, vamos nos lembrar dessa humilhação, senhor Miguel de Cervantes Saavedra e nem que você se esconda entre os moinhos de vento holandeses, eu ainda vou te perseguir!
Miguelito abriu um largo sorriso de contentamento e abriu os braços como se comemorasse uma vitória.
            - Solte Juan de Castro! - ordenou Monsenhor Fernando.





A viagem de volta era longa, mas era muito mais feliz do que havia sido a vinda. Mas apesar da felicidade, uma coisa não deixava a paz adentrar o coração de seu Armando.
            - Filho, eu estou preocupado, porque você estava sobre juramento e mentiu dizendo que fizera aquele poema para a virgem Maria...
            - Não senhor Armando - interpelou Miguelito - ele disse que escreveu para a virgem “virgula” Maria, foi assim que eu perguntei.
            - Mas em quê isso melhora a situação? - falou seu Armando.
            - É que eu escrevi para a Maria filha do senhor Arquibaldo nosso vizinho. E como ela tem treze anos e é tão bem criada, eu tenho certeza que ela ainda é virgem...
            - Entendeu senhor Armando - falou sorrindo Miguelito - Maria a virgem filha do senhor Arquibaldo, ou simplesmente, a virgem, Maria!
            - Tudo bem, mas aí, você Miguel, fez as pessoas pensarem que era da virgem Maria mãe de Jesus, que o poema falava!
            - Tudo bem senhor Armando - respondeu Miguelito num largo sorriso. - Eu não estava sobre juramento mesmo.



                                                                                                           FIM





domingo, 1 de maio de 2016

Virgem Maria - parte 9






Os guardas trouxeram Juanito, que ainda estava encapuzado e com as mãos amarradas nas costas e o colocaram junto a Monsenhor Fernando.
- Tirem o capuz e desamarrem suas mãos. - ordenou o santo homem.
A olhos atentos esta era uma visão surreal, dois guardas enormes, com aquelas armaduras reluzentes, e suas espadas afiadas e prontas para atravessar facilmente as entranhas de qualquer inimigo, desamarrando cuidadosamente, um garotinho de alguns poucos anos de vida, com a estatura normal de uma criança, com as mãozinhas normais de uma criança, amaradas como se fossem de um leão prestes a atacar e engolir toda aquela multidão.
Monsenhor Fernando pegou uma Bíblia, colocou-a na frente de Juanito e falou:
 - Senhor Juan de Castro, o senhor reconhece que esta é a Bíblia sagrada e que ela é a palavra de Deus entre os homens na terra?
Juanito olhou a sua volta, viu os rostos das pessoas que o encaravam como se encarassem o próprio demônio, com olhares de desaprovação e condenação, e no meio da multidão, reconheceu seu pai, com o olhar marejado, aflito e triste que a situação merecia.
- Sim Monsenhor Fernando – falou o menino - eu reconheço que a Bíblia é a palavra de Deus.
- Senhor Juan de Castro - prosseguiu Monsenhor Fernando - o senhor sabe que um juramento feito publicamente e com a mão sobre a Bíblia é um juramento muito sério e que se tratado com injúrias pode te levar para o inferno sem salvação?
- Sim Monsenhor Fernando eu sei.
- Senhor Juan de Castro o senhor sabe que queimando na fogueira santa, você poderá pagar seu crime com o sofrimento e depois de um tempo no purgatório terá absolvição para sua alma?
- Sim Monsenhor eu sei.
Monsenhor Fernando, com um sorriso de sarcasmo, olhou para a multidão e com um leve balançar de ombros como se dissesse “eu tentei ajudar” continuou o juramento:
- Senhor Juan de Castro, o senhor, então ciente de tudo o que eu lhe expliquei, mesmo assim, ainda quer fazer o juramento com a mão sobre a Bíblia?
Juanito dá uma rápida olhadela para seu pai que faz que sim com a cabeça e diz: 
-  Sim senhor eu quero.
Sua resposta causou um alvoroço sobre a multidão que não entendia como uma pessoa preferia a punição eterna ante a chance de salvação.
- Senhor Juan de Castro repita comigo - falou Monsenhor Fernando. – Eu, Juan de Castro.
- Eu Juan de Castro.
- Prometo com as mãos sobre a Bíblia.
- Prometo com as mãos sobre a Bíblia.
            - Reconhecendo nela a palavra de Deus.
            - Reconhecendo nela a palavra de Deus.
            - Que falarei toda a verdade, nada mais que a verdade e não impedirei com nenhuma injúria que meu julgamento seja feito na mais correta justiça.
            - Que falarei toda a verdade, nada mais que a verdade e não impedirei com nenhuma injúria que meu julgamento seja feito na mais correta justiça.
            - Muito bem senhor Juan de Castro - falou Monsenhor Fernando entregando a Bíblia para um dos frades - o senhor está sobre juramento santo, então me diga, foi o senhor mesmo que escreveu aquele poema?
            - Sim senhor, fui eu mesmo.
          - O senhor sabe que é proibido escrever qualquer tipo de coisa que tenha como tema os sentimentos carnais entre homens e mulheres?
- Sim senhor eu sei.
- O tal poema que o senhor escreveu o senhor se lembra dele?
            - Sim me lembro.
            - Ele foi escrito para uma mulher?
            - Sim senhor, foi escrito para uma mulher!
            - Hahahaha, obrigado senhor Juan de Castro! - falou Monsenhor Fernando se virando aos soldados. - Amarrem ele de novo e vamos começar o sacrifício da purificação de sua alma.
Foi então que do meio da multidão Miguelito, subiu em cima de um barril e começou a declamar em alto e bom som: 
- “Ó mulher que suga meu ar.
Que faz minha face enrubescer.
            Não sou nada sem sua presença.
            Nem sequer existo longe de ti.
            E quando chego-me perto de ti, percebo minha insignificância.
          Apenas me sinto uma planta, indefesa, imóvel, que necessita de seus raios! De sua energia!
Ó mulher, és a melhor entre as mulheres.
            És aquela por quem meu coração dispara.
         És aquela por quem minha vida grita a plenos pulmões! Quero ser teu escravo, quero ser teu súdito, quero ser seu!
            Agora e para sempre!
            Todos os homens, se te conhecessem fariam assim como eu!
            Jurariam amor, jurariam fidelidade.
            Agora e para sempre!”