Crise à beira do penhasco

Pedro estava triste. Profundamente triste.
Quando essa tristeza ganhava seu coração uma verdadeira guerra se travava a sua volta. Inimigos invisíveis falavam a todo momento pra ele desaparecer, pra ele ceifar sua própria vida ou simplesmente fazer alguma besteira.
Essa batalha também era travada a dois quarteirões de sua casa. Fernanda estava atolada na mesma lama. Seus problemas se tornaram monstros horríveis que criaram vida própria e agora a atormentavam todos os minutos do dia.
Os inimigos invisíveis que alguns chamam de consciência, outros chamam de demônios, outros chamam de espíritos maus ou ainda apenas tristeza profunda e desequilíbrio mental insistiam em martelar em sua cabeça idéias de morte e desesperança.
Pedro e Fernanda estavam a mercê desses pensamentos. A cada instante eles aumentavam mais de intensidade e os convenciam mais e mais que o caminho correto para acabar com seus problemas seria o fim de suas vidas.
Os inimigos invisíveis estavam ganhando a batalha. Eles se juntaram como uma multidão em seus ouvidos e sussurravam:
- Morte! Morte! Morte!
A batalha se travava e as setas inflamadas eram a todos os momentos jogadas como bombas em suas mentes. Até que os inimigos venceram. Pedro saiu de casa decidido a ir na loja da esquina comprar um pedaço de corda para se enforcar em grande estilo, enquanto Fernanda resolveu ir a mesma loja comprar munição para carregar a antiga pistola 38 de seu pai e assim meter uma bala na cabeça.
O estranho é que do mesmo jeito que existem os inimigos invisíveis também existem os amigos e esses sumiram como se tivessem abandonado a batalha.
Quando chegaram à loja Pedro e Fernanda encontraram o dono da loja feliz da vida e dando pulos de alegria.
- Está feliz hein seu Juvenal - falou Pedro com um pouquinho de inveja.
- Olá Pedro - falou o sorridente Juvenal - rapaz você não vai acreditar, mas acabou de sair daqui um rapaz que comprou todas as cordas de todas as medidas que eu tinha e todas as munições de todas as pistolas de calibre 38. Ele disse que era pra um clube de tiro onde trabalha.
Pedro e Fernanda então trocaram um triste olhar que pareceu dar-lhes o entendimento do que os dois estavam fazendo ali.
As vozes sussurrantes então pararam de falar. A frequencia dos dois por um instante mudou e os inimigos não conseguiram mais se conectar. Algo mágico aconteceu e fez com que Pedro se apresentasse a Fernanda. Nesse instante os amigos invisíveis que haviam feito uma estratégia de guerra muito mais inteligente voltaram e a vida novamente voltou a sorrir e fazer a diferença aos dos dois. "Puxa",  pensaram ao mesmo tempo "acho que viver a vida e tentar ser feliz dever ser mesmo a melhor solução".