- E
agora Miguelito o que vamos fazer?
- Calma
senhor Armando, nós vamos dar um jeito de salvar seu filho. - cochichou Miguel
ao pé do ouvido de seu Armando.
Com
grande rufar de tambores, todos os aldeões emudeceram e centralizaram suas atenções
em Monsenhor Fernando, que saudou a todos com o símbolo da cruz de Cristo e
começou a falar:
- Eu,
Monsenhor Fernando, com o poder de julgar e absolver qualquer pessoa, conferido
a mim pelo santo Papa no dia da minha nomeação como homem santo da igreja,
venho aqui dizer para que vocês soldados, amarem essas três almas impuras no
mastro ao centro da fogueira, para que através das labaredas santas eles possam
encontrar o destino que eles mesmo procuraram, quando resolveram se desviar dos
ensinamentos da santa igreja, com seus feitiços, ofensas e heresias.
Os
soldados, acompanhados de mais um rufar de tambores, pegaram os dois homens e
também Juanito, e os encaminharam para o centro da praça, onde o terrível palco
de horrores santos estava armado.
Foi
nesse momento que seu Armando não aguentou, e se jogou aos pés do Monsenhor
gritando:
- Clemência
Monsenhor, peço por meu filhinho que só tem poucos anos e não sabe a heresia
que fez, por favor Monsenhor, pelo amor de Cristo!
Na
multidão, ouve um grande burburinho de vozes cochichando, e os aldeões com
olhares desacreditados, não conseguiam entender a atitude daquele homem.
- Não
fale no nome de Cristo pedindo clemência por um herege; homem sem fé! - bradou
Monsenhor Fernando se desvencilhando de Armando, e virando-se para os guardas
falou: - guardas, segurem esse homem!
Alguns
guardas vieram feito cães raivosos pra cima de seu Armando, mas por sua sorte,
o primeiro que o segurou fazendo sinal aos outros de que tudo estava sob
controle foi Natanael.
- Mas
como o senhor vai queimar um garotinho sem nenhum julgamento? - falou Miguelito
do meio da multidão.
- Como
você ousa contestar a minha autoridade? - respondeu rispidamente Monsenhor
Fernando.
- Eu
ouso porque sei o que Juanito escreveu, e sei que não tem heresia nenhuma.
As pessoas
se entreolharam não acreditando que alguém ousava discutir com o santo homem.
- Quem
é você meu jovem, que se atreve tanto a atrapalhar a justiça divina. - falou
Monsenhor Fernando já perdendo a paciência.
- Meu
nome é Miguelito.
- Me
perdoe, mas Miguelito não é nome. Como é seu nome?
- Miguel
de Cervantes Saavedra, é meu nome inteiro, e eu estou indignado com a
arbitrariedade desse seu julgamento, ou melhor, dessa condenação sem
julgamento.
- Ah
é senhor Miguel de Cervantes Saavedra? - falou Monsenhor Fernando com uma
feição de superioridade. - E o que você sugere então?
- Eu
sugiro que pelo menos seja dada a palavra a Juanito para que ele possa explicar
sobre esse tal poema.
Monsenhor
Fernando olhou para o povo, acompanhava aquela discussão com muita atenção, e
resolveu ceder um pouco para que sua idoneidade não fosse contestada.
-
Tudo bem - falou concordando - traga aqui o herege Juan de Castro!
E cá estou acompanhando o conto.
ResponderExcluirAbraço
Um abração Elvirinha! Obrigado pelo presente!
ExcluirMeu amigo Andre, bom dia!
ResponderExcluirBoa continuação de seu belo conto, séc XVI, Miguel de Cervantes como contemporâneo,( o do D.Quixote), tens inteligência para nos mostrar nesse conto o quanto foi "pilhéria" a Inquisição, mas que infelizmente existiu, "Santa Igreja", "Santo Papa", "santo horror", tudo em nome de Deus, ainda se cometem horrores em nome de Deus, concordo com a ironia!
Amigo vamos indo, espero para ver como será daqui pra frente com a leitura do poema.
Abraços apertados!
Hahahahaha, reparou na ironiazinha!!!
ExcluirLi o que me faltava até aqui e fiquei com apetite de mais, muito mais.
ResponderExcluirPorque a sua narrativa é excelente e a história é muito interessante.
E dá um romance.
Continuação de boa semana, caro amigo André.
Abraço.
Obrigado mestre Jaime!!!
ExcluirEstive também a ler o que faltava e já tenho a leitura em dia, mas queria mais. Fico à espera. Adoro a sua escrita. Um abraço com carinho
ResponderExcluirEstá quase acabando!! Vai valer a pena esperar!
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