Amigos, tudo bem?
Essa é a capa, e o prólogo do meu novo livro que está na reta final.
Confesso que estou feliz com o resultado, e espero, que quando ele estiver pronto, eu consiga publicá-lo rapidamente.
Resolvi postar aqui, o prólogo, para vocês sentirem o gostinho e quem sabe começarem a torcer por mim e desejar que ele saia do projeto e vire logo um livro de verdade.
Muito obrigado a todos que sempre me incentivam a escrever. Sem vocês do blog, eu acho que não gostaria tanto de escrever, como aprendi a gostar, postando por aqui, minhas Verdades e Bobagens.
Um grande abraço!
Prólogo
Três de fevereiro de dois mil e sete,
dezoito e trinta. Um final de tarde quente, e úmido.
A cidade de São Paulo em horários de
pico é sempre cruel para as pessoas. Geralmente, enormes engarrafamentos param
a correria dessa grande metrópole, que desacelera bruscamente sua forma de
viver o dia a dia. Se alguém depender das grandes vias de acesso para chegar a
algum lugar com rapidez, certamente se frustrará, pois nesses momentos a cidade
não reconhece pressa, não reconhece status, não reconhece posição social ou
econômica. Todo mundo, sem distinção, fica aprisionado.
*****
- Marcos, onde você está? Porque está
demorando tanto?
- Desculpe doutor Flavio, mas estou
preso no trânsito. Não tem como eu fazer nada.
- E a Cristina? Como ela está?
- Está se contorcendo aqui; a bolsa
já estourou e ela está em trabalho de parto.
- E agora? Como a gente vai fazer?
Não dá pra buzinar, pedir ajuda, cortar o trânsito? Fazer alguma coisa?
- Não dá doutor, o trânsito está
parado em todas as direções. Não tem como passar nem com bicicleta, imagine de
carro.
- Mas que merda Marcos, arruma um
jeito aí, o que não pode é aceitar o engarrafamento numa situação dessas!
Marcos engoliu em seco. O parto da
filha de seu chefe estava marcado para dali a três dias. Já estava tudo
calculadamente acertado com o hospital do Morumbi e com a agenda do doutor
Flavio. Ele chegaria dos Estados Unidos, onde estava á trabalho, no dia quatro
de fevereiro, sua esposa seria internada no dia cinco, e daria à luz no dia
seis, que era o mesmo dia do aniversário de Cristina. Mas o destino quis
diferente, a bolsa se rompeu e Marcos teve que sair às pressas com sua patroa
se contorcendo de dor, rumo ao hospital.
- O senhor tem uma sugestão doutor?
- Como eu teria uma sugestão se nem
no Brasil eu estou? A sugestão quem tem que me dar é você, que está aí vivendo
a situação.
- Acho que a única solução é pegar o
próximo desvio e seguir para o hospital Bento Cardoso que fica a uns dez
minutos daqui.
- O quê? Bento Cardoso? Mas você
ficou maluco! Você quer levar a minha esposa, para ter a minha filha, no
hospital Bento Cardoso?
- O senhor pediu a minha sugestão
não pediu? A dona Cristina está quase desmaiando de dor aqui no banco de
trás...
Marcos esperou a resposta do patrão
sobre o que deveria fazer; dava pra escutar a respiração ofegante do outro lado
da linha. Mas de repente a patroa no banco de traz soltou um gemido de dor tão
assustador que o motorista não aguentou esperar mais:
- E aí doutor Flavio? O que o senhor
quer que eu faça?
- Tudo bem, toca para o Bento
Cardoso.
*****
O hospital Bento Cardoso é um dos
hospitais mais procurados pela população da cidade, funciona como se fosse a
“Santa Casa” das cidades do interior. Quando alguém tem, qualquer coisa, de dor
de barriga a derrame cerebral, o primeiro lugar que se lembra, é o hospital
Bento Cardoso. Nesse dia não era diferente.
- Misericórdia gente, por favor,
alguém faça alguma coisa. – gritava Luiz nervoso. – Minha esposa vai ter minha
filha agora. A bolsa estourou e ela está com muita dor.
- Já chamei o médico senhor - falou
o enfermeiro, ajeitando um colchonete num canto do corredor. – Não tem nenhum
leito sobrando, e o médico que vai fazer o parto de seu filho está acabando de
atender um rapaz que chegou baleado.
- Mas como isso é possível? – falou
Luiz gesticulando com o enfermeiro. – Minha filha vai nascer aqui no chão do
hospital?
- Senhor! – disse o enfermeiro
tentando ser paciente - nós sabemos que é uma visão terrível, mas, por favor,
deite sua esposa nesse colchonete.
Luiz quis esbravejar com o
enfermeiro, mas engoliu em seco quando viu que do lado de sua esposa, outro
enfermeiro ajudava mais uma grávida a deitar-se em outro colchonete.
Da porta do hospital, outra
enfermeira gritou:
- Arrumem mais um colchonete do lado
das grávidas que vem chegando mais uma!
Era Cristina, que vinha carregada por
Marcos que falava desesperado:
- Ela desmaiou! A bolsa já
arrebentou a mais de meia hora e ela está fraca demais para dar à luz sozinha!
- Tudo bem senhor! – falou a
enfermeira guiando Marcos. – Deite-a nesse colchonete.
- No chão do corredor? – perguntou
Marcos aflito.
- Senhor! – disse um médico que
chegava se arrumando para fazer os partos. – Dê uma olhada á sua volta. A gente
faz o melhor que pode, e nesse momento o melhor é esse corredor.
Marcos levantou o olhar e reparou
que o hospital estava realmente superlotado. Pessoas com fraturas expostas,
baleadas, crianças chorando, pessoas desmaiadas nas poltronas que ficavam num
tipo de sala de espera, choro de mães, de pais, correria de médicos e
enfermeiros, e pelo menos cinco grávidas deitadas naquele grande corredor.
Nesse momento mais três médicos
apareceram colocando luvas e máscaras. Dava pra ver que um deles era
anestesista, pois trazia seringas e vários frascos em suas mãos. Outro munido
de um bisturi, entregou-o a uma das enfermeiras e falou:
- Cesariana só em último caso!
A enfermeira balançou a cabeça
afirmativamente e depois de dar uma olhada no estado das parturientes, disse:
- Doutor, eu acho que devemos
começar por essas duas, uma está quase desmaiada e a outra está muito mal
também.
- Beleza! – falou um dos médicos,
que parecia mais velho, se abaixando e ficando de cócoras. – Vou ver se reanimo
essa aqui. – depois, virando-se para um médico bem jovem e com cara de
assustado, falou: - Cuida dessa aí, se precisar de ajuda, me fala.
Marcos e Luiz tremiam de medo. Um de
ser demitido e processado pelo patrão, além de temer pela vida de sua patroa, e
o outro de desespero ao ver sua esposa passar por aquela situação crítica e
humilhante. Pra piorar, essa última frase que o médico mais velho disse ao
médico do lado não ajudou nada para acalmá-los, pois denotava que além das
condições ali serem precárias, nem todos os médicos estavam acostumados a fazer
um parto.
- Moça! Moça! – falou o médico dando
pequenas palmadas no rosto de Cristina. – Preciso que acorde! Vamos, chegou a
hora de você trabalhar, senão seu filho não vai nascer.
Cristina escutava uma voz distante e
sentia que alguma coisa batia-lhe no rosto. Aos poucos seus sentidos foram
voltando e ela conseguiu enxergar à sua frente uma pessoa vestida como se fosse
um médico.
- Hã... o... onde estou? – perguntou
Cristina indecisa.
- Está no hospital, eu sou médico e
agora chegou a hora de você fazer força pra seu filho nascer!
Do lado de Cristina outro médico
falava para Raquel a mesma coisa:
- Como é seu nome?
- R... Raquel...
- Então Raquel! – disse o médico
segurando-lhe a mão e apertando. – Faça força! Respire, e faça força! Seu filho
já está passando da hora de nascer.
Os doentes e feridos que esperavam
para serem atendidos, fizeram uma pequena aglomeração ao redor das mulheres
grávidas e um dos enfermeiros teve que intervir:
- Gente, deem espaço! As mulheres
estão tendo nenê, caramba!
Cristina, ao lado de Raquel começou
a obedecer ao médico tentando fazer força, mas estava fraca e não conseguia. O
médico percebendo a dificuldade da moça insistia:
- Como é seu nome?
- Cristina.
- Cristina, a gente não está em
situação de fazer uma cesariana, eu não sei se você reparou, mas a gente está
no corredor de um hospital.
Nesse momento, Cristina levantou um
pouco a cabeça e olhou ao seu redor, a cena que viu não lhe agradou muito. Como
a esposa de um dos maiores industriais brasileiros, além de político influente,
foi parar num corredor de hospital?
- M... mas c... como? – disse ela
assustada olhando para Marcos, seu motorista, e depois, virando-se para o
médico. – Eu tenho dinheiro pra c... comprar esse hospital se quiser! Meu m...
marido é um dos industriais mais bem s... sucedidos do Brasil, nós te... temos
negócios com o gov... governo, meu marido tem carreira n... na política...
Essas palavras de Cristina chamaram
a atenção das pessoas que estavam aglomeradas em volta das grávidas. Pessoas
humildes que estavam ali por não ter outra opção; que sentiram dó da pobre moça
rica dando a luz ali no meio do povão. Outras pessoas, sem dó, se aproximaram
para fitar o rosto de Cristina e dirigir-lhe algum sorriso de zombaria e ao
mesmo tempo de “justiça”, outros, se olharam sem entender a frase da moça e
acharam que ela estava delirando, mas ao repararem em seus traços delicados e
roupas finas, acabaram achando que ela realmente falava a verdade.
- É minha senhora? – falou o médico
enérgico. – Mas agora você pode escolher: ou dá à luz aqui mesmo, ou vai virar
uma defunta rica e ser enterrada num caixão de ouro. A escolha é sua!
Cristina fuzilou o médico com o
olhar, mas logo entendeu que ele não tinha culpa de nada e estava ali tentando
dar o seu melhor; por isso, consentiu com o olhar se entregando ao atendimento
do médico.
Um burburinho correu pelos
corredores do hospital dizendo que uma mulher milionária estava dando à luz ali,
e mais pessoas vieram ver o show.
Do outro lado, um grito de dor ecoou
pelo corredor chamando a atenção de todos:
- Força! Força! – gritou um terceiro
médico.
Nesse momento um choro esganiçado se
ouviu e uma enfermeira pegou a criança dos braços do médico.
- É um menino! – falou o pai
sorrindo. – Pra onde ela vai levar meu filho?
- Ele vai para o berçário, disse o
médico. Lá um pediatra vai fazer os primeiros atendimentos, depois ele vai
tomar banho e vai para o berço.
- Vocês duas estão vendo? – falou o
médico que atendia Raquel, ficando de pé e gesticulando para ela e Cristina. –
Vocês duas estão muito moles!
Luiz que acompanhava a tudo aflito virou-se
para sua esposa, e falou nervoso:
- Meu amor, faça força, por favor, senão
a Manoela não vai nascer!
- Ah... É uma menina! – falou o
médico com um sorriso. – Vamos lá então dona Raquel, respire fundo e faça força!
Marcos, ao lado de Luiz, olhava para
sua patroa e não se conteve:
- Dona Cristina, a senhora tem que
fazer força também!
Um homem com um corte na cabeça que
estava esperando para ser atendido, um menino com a perna quebrada que gemia de
dor, uma mulher que segurava um pedestal com um frasco de soro, outra mulher
com dor nas costas porque levou um tombo no piso molhado de um supermercado,
dois policiais, que acompanhavam um homem algemado e baleado por ter tentado
fugir de um flagrante, uma mulher segurando um nenê infestado de catapora, uma
mulher com uma grande ferida na perna, algumas pessoas aparentemente sem
problemas e mais dois enfermeiros, olhavam fixamente para Cristina e Raquel,
que resolveram, apesar das dores e da condição precária, fazer toda a força que
podiam.
- Isso dona Raquel, - falou o médico
– respira e faz força!
Aos poucos o bebê começou a
despontar e sair, o médico, com habilidade, ajudava a mulher retirando a
criança.
Ao lado, Cristina tinha mais
dificuldade, e toda a força que fazia não era suficiente para dar à luz sua
filha. Foi então, que o médico que ajudava Raquel, aproveitando que seu bebê já
tinha colocado a cabeça para fora, cortou um pouco do cabelo do bebê e passou
discretamente para o médico ao lado, que pegou o chumaço de cabelo e colocou
bem perto dos olhos de Cristina falando pra ela:
- Tá vendo esse chumaço de cabelo
aqui? É do seu bebê, mas parece que você não quer que ele nasça, pois não faz
força!
Esse gesto do médico caiu feito uma
bomba na cabeça de Cristina, que ganhou uma dose extra de força que nem ela
sabia que tinha.
Ao mesmo instante nasceram as duas
crianças. A filha de Raquel, que se chamaria Manoela, e a filha de Cristina que
teria o nome de Patrícia.
Os médicos entregaram as meninas
para as enfermeiras, que rapidamente saíram com as meninas pra fazerem os
primeiros atendimentos.
As pessoas que assistiam aos partos
aplaudiram as mães que mesmo com muita dor, retribuíram com sorrisos e muita
felicidade.
- Ufa! – falou um dos médicos. –
Vocês deram trabalho pra gente hein!
Marcos e Luiz, que acompanhavam a
tudo muito apreensivos, abraçaram os médicos, e Marcos falou ao ouvido do que
fez o parto do bebê de Cristina:
- Doutor! Parabéns, que golpe de
mestre o lance do chumaço de cabelo.
- Ah, - respondeu o médico sorrindo
– você percebeu!
- Isso salvou meu emprego!