sábado, 26 de agosto de 2017

Aventura e Ficção






Eu era criança em uma época em que os gibis de heróis faziam sucesso entre a garotada. O gibi do Homem Aranha chegava na banca do Sr. Joaquim no dia 15, o “Superaventuras Marvel”, chegava dia 20, o “Heróis da TV”, que trazia as aventuras dos Vingadores, chegava dia 25, no comecinho do mês, geralmente dia 5, chegava “A espada selvagem de Conan”, gente... Como eu ficava apreensivo esperando esses dias chegarem logo no calendário.
O “seu” Joaquim era um sujeito estranho, ele sabia que eu comprava todos os gibis, mas se eu não corresse lá no dia certo, ele vendia pra outra pessoa.
- Seu Joaquim, - eu falava – cadê o gibi do Homem Aranha.
- Vendi, - ele respondia seco!
- Mas o senhor sabe que eu venho sempre comprar, porque o senhor não guardou um pra mim?
- Eu não estou aqui pra ficar guardando revista pra ninguém! – respondia ele ficando vermelho de raiva.
Uma vez, depois de anos que eu comprava gibi em sua banca, não sei como, o velho Joaquim me disse:
- Gordinho, como é o seu nome?
- André.
- Olha aqui, chegou essa revista nova, ela se chama Aventura e Ficção, eu guardei uma pra você.
- O senhor guardou uma pra mim? – eu falei sem acreditar na gentileza daquele bruto.
- Você tem que ter responsabilidade. – disse Joaquim me entregando a revista. – Quando você gosta de uma coisa, você tem que correr atrás dessa coisa, antes que outros a tomem de você. Assim funciona a vida. Você vai ver que durante a sua vida toda, você vai ter que correr atrás, se quiser se dar bem. Então não adianta você falar pra eu guardar as revistas pra você! Você sabe o dia que elas chegam, e é sua responsabilidade vir aqui buscar!
- Mas Sr. Joaquim, quando o senhor não guarda pra mim, eu tenho que ir na banca do Mário, lá no largo da matriz. Tenho que andar quase uma hora pra chegar lá! Ainda bem que ele pede um monte de gibi e sempre sobra.
- Ele não está ajudando em nada pedindo um monte de gibi pra sobrar. Aposto que os meninos lá são folgados e não são fiéis como os meninos que compram comigo.
Na época eu não entendi muito bem essa posição do velho Joaquim, não entendi como essa chatice dele poderia me ajudar em alguma coisa, e achei simplesmente que ele era um velho ranzinza.
- Quanto é essa revista nova que o senhor guardou pra mim?
- Nada! – disse Joaquim me estendendo a revista. – Mas olhe bem! Hoje é dia 12, e essa revista vai chegar sempre por volta desse dia, se quiser comprar, já sabe! Mês que vem não vou nem guardar e nem te dar!
Sabe que hoje eu entendo bem as chatices pedagógicas do Sr. Joaquim, além de me ensinar a correr atrás das coisas que gosto, de ser disciplinado com isso, ainda me deu de presente a “Aventura e Ficção”, que me fez ter que que escolher todo mês uma revista que tinha que deixar de comprar, porque o dinheiro que meu pai me dava, não dava pra comprar todas... O Sr. Joaquim era sábio... Também... Era dono de banca de revista, devia ser bem informado...






8 comentários:

  1. Que legal e aparentemente rabugento deu lições de vida.Valeram,né? abração,chica

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  2. Salve seu Joaquim.Abraço gordinho.

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  3. André, esta não tem bobagens, só verdades. Esse seu Joaquim deveria ser português, grosso como um cepo, mas de coração mole como todo português, e comerciante por ter o comércio no sangue, fruto da miscigenação árabe. E é o ditado de que de pequenino que se torce o pepino. E sabes porque o ditado, né? É que quando o pepininho está nascendo, põe-se para crescer dentro de garrafas, amarram no meio par ficar acinturado... Linda crônica! Parabéns! Abraço. Laerte.

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    1. Laerte, não se engane, muitas verdades tem sua raiz em outras tantas bobagens, hahahahaha.

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  4. Voltei pra dizer que adorei as galinhas botando pra quebrar,rs...Muito legal! abração,chica

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  5. Cara, eu tinha esta revista. Boa lembrança.
    Dahora o texto e a lição do dono da banca.
    Cordial abraço.

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