sexta-feira, 14 de junho de 2024

Tudo por um fio...


Leticia acordou cedo.

Estava feliz porque era sexta-feira, e hoje ela tinha um encontro com suas amigas do colegial, que há muito tempo não via.

Radiante, ela tomou seu café, e depois foi para o banheiro tomar um banho demorado para começar com o pé direito, porque esse dia prometia muito.

Enrolada na toalha, ela foi até a sacada de seu apartamento e com a escova de cabelos na mão, e olhando para a cidade e o nascer do sol, penteou seu cabelo, sentindo a brisa que batia em seu rosto.

Um fio de seus longos cabelos loiros se desprendeu da escova e ao sabor do vento, serpenteou no ar, levado para cá e para lá, caindo devagar, até que se prendeu no capacete de Cláudio que apressado corria com sua moto, voltando para casa, cansado, porque trabalhara a noite toda, como chapeiro em um quiosque de lanches, na praça ao lado.

"É sempre assim!" — reclamava Claudio consigo mesmo. — "De quinta, até domingo, o quiosque fica aberto até o dia amanhecer e depois a gente ainda tem que limpar tudo antes de ir embora! Já estou de saco cheio disso."

Ele corria com sua moto, querendo logo chegar em casa, para dar um beijo em sua esposa que era manicure, antes dela sair para o trabalho e dar um beijo também em sua filha, que saia cedo para ir para a escola.

Cortando o trânsito e ultrapassando os sinais vermelhos, ele enfim conseguiu chegar em casa há tempo de ver sua familia.

— Oi amor! — ele disse dando um beijo em Karla, esposa, que o recebeu no portão de casa.

— Oi Claudio! — respondeu ela retribuindo o beijo, mas com uma cara não muito amável. — Você demorou muito!

— Ah, Karlinha... Você sabe como é o Arnaldo! Ele quis, porque quis, que a gente lavasse todo o quiosque antes de ir embora! Como se a gente não estivesse cansado!

— Eu já te disse que você deveria trabalhar em outro lugar. — respondeu ela pegando o capacete e as chaves da moto com o marido. — Você é um cozinheiro profissional, pode trabalhar em restaurantes renomados e não em quiosques de lanche.

— Eu sei disso! — replicou Cláudio abrindo os braços. — Mas o Arnaldo me paga muito bem, você sabe disso.

— Paga mesmo! Mas suga seu sangue até o fim.

Nesse momento a Kombi escolar buzina em frente a casa e Cíntia, a filhinha deles sai apressada, com a mochila nas costas.

— Oi papai!

— Oi minha neguinha linda! Dá um beijo aqui.

— Só um beijinho e um abraço rápido — falou a mãe apressando os dois, porque o motorista da Kombi estava com cara de poucos amigo.

Cintia beijou o pai, a mãe e saiu sorrindo para seus amigos, que a esperavam dentro da perua escolar.

Foi só a filha subir no carro e virar a esquina, que Karla se vira para o marido, com os olhos vermelhos e marejados e uma feição de raiva!

— Eu quero saber quem é essa vagabunda?

— Como? — respondeu Cláudio assustado com a mudança de atitude da esposa. — Que vagabunda?

— Essa loira que você estava!

— Loira que eu estava? Cê tá maluca?

— Maluca? Olha aqui seu safado! Olha o tamanho do cabelo nesse capacete! — gritou Karla segurando o fio de cabelo com cara de nojo.

— K... K... Karla, meu amor! Eu não sei do que você está falando. Eu não sei que cabelo é esse!

— Não sabe? — retrucou a esposa avançando contra o marido querendo lhe bater com o capacete. — Seu sem vergonha.

— Calma minha filha! Vai me bater agora?

— Vou, seu cafajeste! Com essas vagabundas por aí, e querendo falar com a maior cara de pau, que estava lavando quiosque?

— Uai! Liga pro Arnaldo e pergunta!

— Você acha que eu não sei que ele é outro safado igual a você e que vocês combinam as coisas?

— Amor...

— Amor o cacete!

— Karla, — insistiu Claudio em meio a um suspiro — deixa de bobagem! Eu não sei de quem é esse cabelo! Deve ter enroscado no capacete no meio do caminho...

— Enroscado no meio do caminho? Era só o que me faltava! Ele acha que eu sou idiota!

— Eu estou falando a verdade meu amor!

— Já te falei que meu amor é o cacete, seu... Seu... Seu traidor! Seu traidor! TRAIDOOOOORRRRR!

 — Karlinha, se acalma!

— Olha... Eu vou trabalhar porque tenho hora pra chegar naquele salão... Mas na hora do almoço a gente termina essa conversa, e eu vou querer saber o nome dessa vagabunda!

Cláudio franziu a testa e suspirou, olhando para sua esposa que saia de moto sem lhe dar um beijo e sem olhar para trás... Ele a amava, mesmo sabendo que ela tinha esses rompantes de ciúme. 

Ele tinha a consciência tranquila, porque nem olhava para mulher nenhuma, que não fosse a sua Karlinha.

Ele sabia que a briga ainda teria mais episódios, mas que no fim, fariam as pazes e continuariam uma família feliz.

Karla chegou aflita no salão onde trabalhava e sua patroa a esperava olhando para o relógio.

— Que cara é essa? Essas olheiras de choro?

— Aquele safado do Claudio.

— Safado do Claudio? Deixa de ser boba menina! Todo mundo sabe que ele te ama e não tem olhos pra outra mulher.

— É... Eu é que sei o sem vergonha que tenho em casa!

— Tá bom... Vai lá dentro e lava esse rosto, anda logo, porque tem uma cliente te esperando.

Karla atravessou o salão em direção ao banheiro, e no caminho sorriu para a cliente, linda, loira e sorridente, que a esperava.

— Oi Leticia, — cumprimetou forçando um sorriso. — Só um instantinho que já vou!

— Eu espero Karla, fica tranquila! Hoje quero ficar com as unhas perfeitas, porque vou rever umas amigas da época do colegial, e tenho que parecer a mais linda da turma.



16 comentários:

  1. Isso que é inspiração amigo. O que um fio de cabelo fez.
    André desculpe aborrecê-lo, mas dá para você ler o texto de novo?
    Abraço e saúde

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    1. Eu vi Elvira, ele tem uns errinhos.
      Vou arrumar.

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  2. Bah! Muito legal e bem inspirado teu conto,André! E um fio pode dar uma tremenda confusão! Adorei o final!
    abração, chica

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    1. Chica! São pequenos detalhes que podem render grandes brigas.
      Kkkkkkkk.
      Um abraço!

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  3. Meu amigo, adorei. Só que deu um gostinho de saber como termina essa confusão toda. Qdo vi a Letícia no salão achei que a Karla ia falar.

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    1. Kkkkkkk, nem eu sei como acabou Zé... Mas tem uma pista, onde o narrador fala que o Claudio tinha certeza que eles fariam as pazes.
      Que bom ver você por aqui.

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  4. Mas rapaz...até provar que japonês, chinês e coreano não é tudo igual (mas é como se fosse!) a coisa já ficou nebulosa. Sei não, acho que vai dar ruim no salão...

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  5. Anônimo15.6.24

    Sensacional.

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  6. O mundo é pequeno.
    Mas mulher ciumenta é pior que tudo.
    Um magnífico texto, gostei de ler.
    Boa semana.
    Abraço.

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  7. Olá, Andre, prazer!
    Que delícia de texto, adorei sua escrita. Parabéns!
    Abraços.
    She

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  8. Um pequeno pormenor a provocar uma enorme discussão.
    O ciúme é sempre devstador.
    Abraço de amizade.
    Juvenal Nunes

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    1. É, Juvenal... As vezes as coisas complicam por nada!
      Obrigado pela visita!

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