segunda-feira, 10 de novembro de 2025

A reciclagem

 




Um aluno disse ao professor  que queria ser chamado de um nome feminino.
O professor disse que não poderia, porque na chamada estava o nome de batismo.
O menino reclamou para o pai.
O pai foi até a escola e reclamou na diretoria.
A diretoria reclamou com o professor.
O professor querendo agradar disse que agora a sala havia ganho mais uma menina.
O menino disse que não se identificava como uma menina.
— Como assim, Rafaela?
— Eu não me identifico.
— Mas porque então você quis mudar de João para Rafaela?
— Porque não me identifico como homem, também.
— Então o que você é?
— Sou a-gênero, dessexualizado em transição.
— Como?
— A-gênero, dessexualizado em transição.
— Então como eu te trato? De ele ou de ela?
— Isto.
— Isto nós dizemos para coisas.
— Então...
— Você prefere ser chamado de coisa, em vez de ele ou ela?
O menino reclamou para o pai.
O pai foi até a escola e reclamou na diretoria.
A diretoria reclamou com o professor.
O professor querendo agradar disse que agora a sala havia ganho mais uma coisa na sala. Assim como as cadeiras, mesas, lousa e apagador.
O menino ficou contente.
O pai ficou contente.
A direção ficou contente.
O professor está fazendo reciclagem — ou... sendo reciclado.



19 comentários:

  1. Aqui é ficção, mas do jeito que andam as coisas, ninguém mais vai entender nada. Belo teu texto muito bem bolado para falar nesse tema! abraços, chica

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Chica!
      Esse assunto é delicado.

      Um abração!

      Excluir
  2. Olá, amigo André!
    Perdoe-me, dei uma boa gargalhada após o almoço.
    Sei que é um tema seríssimo.
    Inclusive tenho uma sobrinha distante, não criada junto da familia de um irmão falecido que está na condição do personagem em questão.
    Se não tivemos filhos ou netos com o 'problema' de gênero, podemos ter um bisneto, se vivermos.
    A sociedade está diferente, necessita de reflexão e adaptação aos novos gêneros.
    Aplausos para como colocou o tema de forma lúcida e humorada até .
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Abraços fraternos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Rosélia, minha amiga!
      Não tenho o que perdoar. O texto é pra rir mesmo... Ou chorar.
      Kkkkkkkkkkkkkkk.

      Um abraço!

      Excluir
  3. André,

    Peso
    Há algo de profundamente bonito na cena o menino que busca ser chamado de Rafaela, o professor que tenta compreender, e a sala que aprende junto. É o retrato de um tempo em que as palavras já não bastam, e o amor precisa ser o idioma principal.

    Não se trata apenas de saber como chamar alguém, mas de aprender a ver o outro como ele se vê. É sobre respeito, escuta e acolhimento. O professor, em sua confusão sincera, representa muitos de nós pessoas que estão sendo chamadas a desaprender antigos moldes e abrir espaço para o novo, para o humano em todas as suas formas de ser.

    Talvez “reciclar-se” seja exatamente isso: deixar que a vida nos reaprenda. E entender que, no fundo, o mais importante não é o nome que usamos, mas o gesto de cuidado com que o pronunciamos.

    Fernanda

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Fernanda.
      Eu sou professor de História e Geografia, porém há uns anos eu parei de lecionar. Eu vi muita coisa na sala de aula.
      Crianças e jovens perdidos, sem aopio do pai ou mãe.
      Tateando no escuro e entrando em narrativas, para estarem "na moda dos dias de hoje."
      Sabe, o amor é sim a pedra fundamental de tudo, mas devemos entender o que é o amor.
      Uma criança que ainda não está com sua personalidade e sexualidade formada, se quiser ser (como no caso do texto) de outro gênero; o pai, deveria ensinar as regras da escola e com amor acompanhar o desenvolvimento do filho, até ele ter certeza, quando atingir a maturidade, do que quer ser.
      Querer forçar situações como obrigar a escola a mudar as normas, (isso existe principalmente em escola particulares), não é uma atitude de amor.
      Respeitar a criança é fundamental, mas ela respeitar as regras também é.
      Isso tudo pensando no bem estar da própria criança, que pode até virar chacota das outras e aí sim, se traumatizar para sempre.
      O não, também é uma forma de amar e resguardar.

      Obrigado pela sua visita, que sempre é tão especial.

      Excluir
  4. Ah, Ah, Ah, Ah, Ah...

    ResponderExcluir
  5. Taquiupareoooooooo
    Cenas da nossa pós modernidade onde a verdade não existe, e nada é o que é, tudo pode ser o que se quiser. A garotada tá indo na onda, talvez pra curtir. É uma experiência de vida. Mas por favor, Enzo, não me peça pra te chamar de abacate, porque eu sei que abacate você não é.
    O mundo nunca precisou de tantos psiquiatras.
    Mas, ah....os psiquiatras também precisam ser reciclar.

    ResponderExcluir
  6. Minha nossa André, o mais trágico ou talvez cômico é que tudo está caminhando para isso mesmo...Não dá para saber o que as crianças e adolescentes querem, elas são muito influenciáveis pela internet e não conseguem se identificar no mundo atual. Ficam em dúvidas quando a tudo e não tomam decisões. Boas eram as escolas de antigamente que já ditavam as regras para serem seguidas e dificilmente eram modificadas. E todos seguiam e não haviam contratempos.
    O seu texto é muito bem humorado, mas já constata uma realidade aterradora...
    Pobre dos professores atuais, não é fácil lecionar nesta época. Com certeza a síndrome de Bonderline nunca esteve tão em evidência, existe essa sensação crônica de vazio e mudanças frequentes de objetivos e valores muito bem evidenciados em seu texto. Você está antenado com a nossa realidade maluca e a gente já não consegue saber o que fazer diante de todas essas novidades..Socorro!!!!!
    Beijos querido e se cuida muito!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Adrinana!
      Sim... Trágico e cômico ao mesmo tempo.
      Mas que não nos escutem.

      Um abração!!!

      Excluir
  7. Um texto que faz rir e faz chorar, André
    Imagine esse pai tendo que acolher os pedidos hilários do filho.
    Gostei quando disse que o 'não' é também uma forma de amar.
    E como disse a Adriana Helena , repito aqui _ Socorro André !
    Até onde vamos com tanta maluquice dos nossos jovens ? fica difícil digerir e entende-los . . então é 'Isto' rsrs
    Grande abraço, amigo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Lis!
      Sim, minha amiga.
      O não também é saber amar.
      O sim em demasia, faz pessoas vazias e voluveis.

      Um abraço!

      Excluir
  8. Maus tempos, más fortunas, erros e erros!!

    Beijinhos e tudo de bom!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Você tem razão, Fá!
      É isso mesmo.

      Um abraço!!!

      Excluir
  9. Olá, André, esse texto está uma joia, diverte, sim, fui lendo com sorriso, pois a coisa de vez em quando descamba bastante. Mas, a vida é muito complexa, há coisas que
    temos de aceitar, afinal, todos somos diferente uns dos outros. Uns mais loucos do que os outros...
    Essa do pai pra professora; professora para a diretora... que loucura!
    André!! Essa tá boa...
    "Sou gênero dessexualizado em transição"
    Que coisa mais louca, kkkk
    Olha, gostei desse texto, tá todo o mundo louco!
    Sei lá como estará esse mundo no ano de 2050, que pena
    que não estarei mais aqui! Ou o planeta vai sumir antes??
    Votos de um lindo fim de semana!
    Abraços daqui do Sul. 😅😁🙋‍♀️

    ResponderExcluir

Obrigado pela sua visita e pelo seu comentário, volte sempre!