Sabrina, Jonas, Augusto Cesar e Priscila entraram pelo salão de festas trazendo o bolo de bodas de ouro do vovô Valter e da vovó Soraia. Os velhinhos esperavam o bolo chegar rodeados pelos filhos e amigos, que cantavam “parabéns pra você!”
Uma lágrima escorreu pelo rosto da vovó Soraia e do
vovô Valtinho. A cinquenta anos atrás eles não imaginavam que conseguiriam
chegar a um momento desses.
Em 4 de agosto de 1952, Soraia, uma linda jovem, trabalhava
no mercadinho de seu “Manoel português”, um homem justo, bom patrão, mas
muitíssimo exigente com seus funcionários. Soraia estava pesando um quilo de
feijão para uma cliente, quando Valter entrou pelo mercadinho apressado para
comprar batatas.
- Seu Manoel! – falou Valter num só fôlego. – Me dê
um quilo de batatas meio rápido, porque já está quase na hora de eu ir para
escola e minha mãe se enrolou, não teve tempo de vir aqui, ainda não fez o
almoço e meu pai já vai chegar do serviço.
- Olhe garoto, vais ter que esperaire a sua veix!
Purque tem umas pssoas qui chegaram em vossa friente!
Soraia olhou para Valter com cara de poucos amigos.
Ela detestava esses apressadinhos que vinham tumultuar o seu serviço.
Alguns dias depois, Soraia esperava o ônibus para
ir ao cinema encontrar seu namoradinho novo, um rapaz loiro que tinha os olhos
mais azuis de todo o mundo! Perdida em pensamentos ela nem notou quando Valter
sentou-se ao seu lado no banco do ponto de ônibus e começou a folhear um gibi
do “Cavaleiro Solitário.”
Os dois entraram no mesmo ônibus e mais uma vez
sentaram-se lado a lado, até chegarem à porta do cinema. Soraia logo encontrou
o rapaz loiro e Valter logo encontrou seus amigos que foram até ali para trocar
gibis e dar uma paquerada nas meninas.
Uma vez, Soraia passeava com sua amiga Gorete pela
praça da catedral, quando Valter passou em sua bicicleta olhando para Gorete,
que era “a menina mais linda da cidade.”
Ele se descuidou olhando tanto para sua musa, que
nem viu o banco de concreto à sua frente!
Foi um capote só! Sorte que Valter caiu dentro do
chafariz e apesar de ter se molhado todo e da vergonha que passou, não se
machucou além de uns arranhões.
Na quermesse de São João, Valter discutia com sua
namorada Ermínia sentado nos degraus do coreto ao centro da praça, enquanto
Soraia namorava Arlindo num banco próximo. A discussão de Valter se elevou
tanto que Ermínia deu-lhe um tapa no rosto. O estralo foi tão alto que Soraia e
Arlindo até se assustaram! Quando olhou para ver quem tinha apanhado, Soraia só
viu um rapaz indo embora com sua bicicleta por entre o jardim enquanto uma moça
chorava e xingava dizendo para ele voltar.
Perto de um Natal, Soraia estava junto com as
meninas da igreja passando de casa em casa fazendo uma coleta para montar
cestas de natalinas para pessoas carentes. Ela bateu numa casa e a dona saiu nervosa,
falando que não tinha nada para ajudar e que já estava cansada de pessoas
enchendo o saco em seu portão. Valter que passava pela rua, parou sua bicicleta
assistindo incrédulo a aquela cena. Vendo o destempero da mulher, entrou no
assunto defendendo as “meninas da igreja”.
- Dona Rute! – Falou Valter com respeito. – Isso
que a senhora está fazendo não é legal! As meninas estão tentando fazer uma boa
ação! Se a senhora não quer ajudar é só falar que não e fechar a porta, não
precisa falar tantas coisas assim para elas.
Foi a primeira vez que Soraia encarou os olhos de
Valter. Ele era um desconhecido para ela e ela era uma desconhecida para ele.
Hoje, passados cinquenta anos, os dois velhinhos se
abaixaram para apagar as velinhas do bolo de bodas de ouro.
Ela encarou os olhos de seu velho e se lembrou
desse dia em que ele a defendeu. Os olhos eram os mesmos e a pessoa por trás
deles também.
Novamente ela se encantou por aqueles olhos.
Jovens olhos.
Um jovem olhar de cinquenta anos...
O olhar do amor de sua vida!
Que bom que voltou ao blogue. E com uma história muito bonita. Só não gosto dessa coisa de velhinhos. Já fiz 50 anos de casada há 3 anos e nem de longe me de perto me sinto velhinha.
ResponderExcluirDe volta depois de três dias de cama, com febre, dores no corpo todo, vómitos e inchaço nos pés e mãos. E como toda a gente me diz que o pior é a segunda dose, estou bem arranjada. Bom mas o que interessa é que hoje já estou bem.
Abraço, saúde e bom domingo
Adorei,André e aqui em casa festejamos já 52 de casados e são tantas as recordações, mas vivemos o presente, envolvidos pela vida. Muito legal! abração, chica
ResponderExcluirMuito terno esse conto, que linda história!
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