Amigos, essa é uma re-postagem de um conto que gosto muito, e como faz tempo que não posto um conto aqui no blog, resolvi postar este novamente, que até já foi publicado um uma coletânea de contos, chamada: Antologia de inverno, da editora Big Time.
João Pedro acordou, conversou com
a família, se despediu de todos, e foi à casa de Irineu para que os dois
ganhassem a estrada. Os dois amigos estavam com os ingressos tão valiosos na
mão, e tinham que viajar até o Rio de Janeiro para assistir a grande final do
Campeonato brasileiro. Se tudo desse certo, com apenas oito horas de viajem
eles estariam adentrando o estádio pra ver seu time do coração, o Brasilina
futebol clube, levantar mais um caneco.
O bairro do Jupiá acordou cedo
neste domingo, ali ficava a sede do Intergalático atlético clube, o time que
disputaria com o Brasilina quem seria o melhor do país neste ano. O
Intergalático tinha a seu favor o empate, se o jogo acabasse com igualdade no
placar, eles levariam mais uma taça pro seu abarrotado museu de tantas glórias
e conquistas.
O time estava concentrado a dois
dias, e mais unidos do que nunca! Eles lutariam até o fim pelo Birimbinha,
massagista do clube a 20 anos, que na antevéspera do jogo, havia sido
atropelado por um moto-taxista e estava agora internado na Santa Casa, todo
enfaixado, com duas costelas e a clavícula quebrada. No dia anterior, o time
todo o havia visitado e prometido ganhar o campeonato para o amigo de tanto tempo
e tanta dedicação aos atletas. Na verdade, Birimbinha era um segundo pai para
os jogadores, sempre pronto a ajudar e dar conselhos, sempre atento a fazer
favores e por isso mesmo muito querido por todos.
Aos 45 minutos do segundo tempo
dessa batalha épica, onde Brasilina e Intergaláticos, faziam a maior partida de
suas vidas, Chicão pegou a bola na entrada da área, driblou Eduardo e de cara
pro gol (na visão do juiz), foi tocado no calcanhar por Emiliano e se
atirou ao chão. O juiz Oscar de Moura não titubeou um segundo e apitou
apontando a marca da cal.
- PÊÊÊÊÊNALTIIIIIIIIIIIII! -
Gritaram todos os locutores que transmitiam aquela final.
Armando estava no final da sua
carreira, quando chegou ao Brasilina. Muita gente foi contra, e falou que o
presidente do clube estava maluco por ter contratado alguém tão rodado, e que
até agora aos 38 anos, nunca havia sido campeão de nada importante. Como
poderia uma pessoa assim ser o maestro do meio campo da equipe e ainda levá-la
ao tão sonhado título? Mas Armando, jogo a jogo, calava a boca de todos, e
estava sendo considerado o melhor jogador do campeonato.
Benedito era torcedor fanático do
Brasilina, desde os 15 anos de idade, quando assistiu o time do seu coração
despachar o grande Santos de Pelé, com uma acachapante goleada de 6 a 0. Desse
dia em diante, resolveu que iria ser brasilinense, e assim o fez. Todos os oito
filhos de seu Benedito seguiram o pai, e hoje se reúnem todos os dias de jogo
pra torcer, gritar, sorrir e chorar pela paixão da família. Só que agora, o
netinho do seu Benedito apareceu com “tendências intergaláticas”, o menino só
fala no Intergaláticos, e isso está tirando o sono de seu Benedito, que como
última cartada, fez um acordo com o netinho: se o Intergalático ganhar do
Brasilina nessa final o neto está liberado pra torcer por quem quiser, mas se o
Brasilina ganhar, o neto terá que seguir a tradição da família, e ser mais um
brasilinense.
Tirolês pegou a bola, colocou-a
debaixo do braço, e se dirigiu para a marca do pênalti. Ele era o artilheiro do
campeonato com 22 gols, mas em nenhum momento de sua carreira havia encarado um
momento tão tenso e importante como esse.
Claudinha, era torcedora fanática
do Intergaláticos, era ela quem cuidava das bandeiras e das faixas da torcida
"Leões fieis", que era a maior e mais apaixonada torcida que o time
laranja e verde dos Intergaláticos tinha. Claudinha iria se casar justamente neste
domingo, data da grande final. Mas do meio do campeonato em diante, o
Intergaláticos atropelou os adversários e acabou chegando ao derradeiro embate.
Foi uma briga homérica entre Claudinha e seu noivo, que ameaçou até largá-la de
vez, mas quando viu que não tinha mesmo jeito, resolveu adiar o casamento.
Os jornalistas falaram na beira
do campo para o juiz Oscar de Moura, que as TVs mostravam claramente que Chicão
havia se jogado e que não foi pênalti. Oscar de Moura que estava a um passo de
ser escolhido o arbitro representante do Brasil para a próxima copa do mundo,
ficou muito triste.
- Puxa vida! - Falou o juiz
nervoso consigo mesmo. - Agora já marquei o pênalti, e não tem como voltar
atrás. O jeito é torcer para o goleiro Fernando Inácio defender.
Se Fernando Inácio defendesse, o
Intergalático seria campeão, mas se Tirolês convertesse o pênalti, aí o
Brasilina é que levaria o caneco.
O estádio estava dividido ao
meio, metade laranja e verde, e metade vermelho e azul, mais de 120 mil pessoas
se acotovelavam espremidos e calados, com olhos fixos no gramado. Milhares de
telespectadores ficaram emudecidos olhando fixamente para suas TVs, outras
milhares de pessoas, acompanhavam a tudo com o radinho colado ao ouvido.
Seu Jorge estava com o coração
disparado, dona Rute estava com tremedeira, dona Dirce estava estática, Juvenal
levava a cerveja até a boca, mas nem piscava seus olhos.
Tirolês colocou a bola na marca
do pênalti, olhou para Fernando Inácio, que apontava o lado esquerdo e gritava:
- Chuta aqui que eu vou pegar, chuta aqui que eu vou pegar!
Birimbinha assistia tudo do seu
quarto no hospital, do seu lado um torcedor adversário falava, que seria gol,
os enfermeiros pararam de atender pra assistir ao pênalti.
Tirolês correu pra bola.
Enquanto corria, o atacante
olhava pra ver se Fernando Inácio dava pinta se pularia antecipadamente para
algum lado.
Tirolês correu, parou com seu pé
de apoio ao lado da bola e chutou... Enquanto a bola viajava, vários corações
viajaram junto, e o momento seguinte certamente ficaria marcado na vida de
muita gente, de tantas Claudinhas, Beneditos, Armandos, Antonios, Rodolfos,
brasileiros, brasileiras, torcedores e torcedoras contra e a favor, que amam
essa paixão de maluco, chamada futebol!
Futebol, paixão nacional!
ResponderExcluirMuito bom seu texto amigo André, bem escrito!
Amei ler, abraços e tenhas um lindo domingo!
Sério que tu não vai contar se o Fernando Inácio defendeu ou o gol se realizou??? Malvado!
ResponderExcluirOlá André,
ResponderExcluirE eu aqui curiosa para ver o resultado do pênalti-rsrs
Adorei reler e acompanhar toda esta emoção provocada pelo futebol. Não me lembrava do final.
O título disse bem: "Paixão de maluco"-rsrs.
Grande abraço.
Como o futebol é algo que nos hipnotiza, mesmo para aquelas pessoas que não curtem muito, mas sempre se sentem parte da torcida quando a seleção está em campo, por exemplo, ótimo esse texto, abração pra ti Mansim.
ResponderExcluirOlá, André. Tudo bem? Acho o futebol uma paixão nacional. Muito bom. Bjs e uma semana de paz e felicidade.
ResponderExcluirO gol é apenas um detalhe.
ResponderExcluirMuito bacana, abraço André.