Ela
chegou da rua exausta, trabalhou o dia inteiro na casa da dona Ester. Lavou,
passou, secou, limpou, enquanto dona Ester tomava um chá com as amigas, para
passar com mais alegria as horas enormes que o dia lhe trazia.
Ela
passou pela varanda com o balde enquanto dona Ester e suas amigas pareciam não
lhe enxergar, ela passou pela varanda com a vassoura, com o rodo, com a roupa
suja, com o sabão em pó e com sua dignidade ferida, pois em nenhuma das vezes
ninguém nem olhou pra ela. Nem lhe ofereceram uma xicara chá, afinal ela não
deveria gostar, pois seu paladar não era acostumado com essas coisas...
Seu dia era
curto, e ao contrário das horas de dona Ester, seus minutos corriam e seu
relógio lhe lembrava a cada instante que seu marido e seu filho, chegariam as
seis horas do serviço. As sete e meia o menino teria que entrar na escola,
jantado e com a roupa impecavelmente passada, e agora ela lembrava que a roupa
dele ainda estava no varal! "Deus ajude que não chova..."
Ela passou
mais algumas vezes pelas animadas e cheias de chá amigas de dona Ester, quando
ouviu uma delas falar, em como era chato a serviçal da casa ficar passando pra
lá e pra cá bem na hora do chá! Ela engoliu em seco, e num breve instante teve
vontade de voltar e falar um monte de coisas para essa infeliz. Mas tudo bem, o
que lhe interessava no momento era o dinheiro do final do dia.
- Olha aqui
o seu dinheiro, – falou dona Ester olhando pra ela – acho que não vou precisar
mais dos seus serviços, eu não gostei das suas idas e vindas perto das minhas
amigas...
- Mas o que
a senhora queria que eu fizesse se a sua varanda fica no meio do caminho entre
a casa e a lavanderia?
- Bom, como
eu disse, eu não vou mais precisar dos seus serviços.
Ela foi
embora cansada, humilhada e feliz... Passou no açougue, comprou meio quilo de
carne moída e um quilo de músculo cortado em cubos, passou no mercadinho, e comprou
cebola, cenoura e batata, passou no bar do seu Zé e comprou uma garrafa de
refrigerante. Valeu a pena trabalhar hoje!
Ela chegou
da rua exausta, trabalhou o dia inteiro na casa da dona Ester. Lavou, passou,
secou, limpou e chegou em casa finalmente. Chegou na casa onde era tratada com
carinho pelo marido, com amor pelo filho, com festa pelo cachorro e como gente
pelas vizinhas. Ela fez um picadinho de cenoura com carne moída, fez um
feijãozinho novo, um arroz branquinho e junto com sua família jantou
alegremente. Depois ela e o marido conversaram sobre o dia, juntos arrumaram a
casa e esperaram felizes o filho voltar da escola... A vida dela era assim,
triste e revoltante em alguns momentos mas muito feliz no restante do dia,
afinal, ela se amava e não desistiria da felicidade nunca!
Meu amigo André, amei ler aqui, sei que há muitas pessoas assim como a dona Ester, superficiais, ainda bem que "ela" tem capacidade de mesmo depois de um dia cansativo e sem incentivo, conseguiu ser recebida em sua casa pelo marido e filho, desfrutar do amor desses e do bom convívio com os amigos vizinhos!
ResponderExcluirSabe André, fico pensando, como pessoa do tipo da dona Ester pode se sentir feliz?
Seu texto é bem reflexivo, temos de tentar entender como é a psique de pessoas assim superficiais!
Abraços meu amigo, obrigada pelo seu carinho lá no meu espaço, fico sempre feliz com sua amável visita e comentário!
Ah, esqueci de dizer, adoro carne moída com cenoura,arroz branquinho e fresquinho com feijão hummm, delícia!
ResponderExcluirMais abraços!
Infelizmente o mundo está cheio de donas Ester. Bom que "ela " é amada e respeitada em casa. Cada vez há mais violência sobre a mulher por parte de quem com ela vive. Pelo menos em Portugal onde em 10 anos mais de 400 foram mortas pelos maridos, namorados ou companheiros, e quase um milhar ficou estropiada física, ou moralmente.
ResponderExcluirUm abraço e uma boa semana
Para as donas Ester da Vida , meu pesar mais profundo , pois não vêem o que importa nessa vida !!
ResponderExcluirSem sua capa de invisibilidade nossa "heroina" é realmente vista e amada por quem interessa!!! Ainda bem, né ??
Abraços e boa semana
Que lindo ! E pena a invisibilidade que certas pessoas tem que sentir ainda hoje...
ResponderExcluirè fácil para uma D.Ester dispensar os serviços. Com dinheiro, logo outra parecerá lá!
Ainda bem que a outra, sabe viver e apesar de tudo ,mantém a casa com amor e o desfruta!abração,chica
Olá menino
ResponderExcluirA vida é assim, momentos felizes e tristes, porém não podemos nunca perder a dignidade, deixemos isso para os políticos brasileiros.
Abração