sexta-feira, 30 de março de 2012

Chefe de familia


- Sinhor! - Falou o menino interpelando um homem que passava pela praça. - O sinhor num compra umas bala qui eu tô vendeno?
- Balas? - Respondeu o homem olhando pra'quele menino todo sujinho e descalço. - Quanto é?
- Treis real sinhor! Ei tô vendeno pra ajudá minha mãe e meus irmãozim pequeno.
- Quantos anos você tem?
- Deis ano sinhor.
- E onde está a sua mãe? - Perguntou o homem encabulado com uma criança daquelas tendo que ficar por aí trabalhando em vez de estar numa escola estudando.
- Minha mãe tá no farol alí da frente vendeno salgado.
- E seu pai?
- Num conheço ele sinhor... Nem minha mãe conhece.
- E seus irmãos, onde está o pai deles?
- Num conheço sinhor.
- Hummmm - falou o homem coçando a barba e franzindo a testa - tudo bem, eu não costumo fazer essas coisas mas vou te ajudar, me dá aí dez reais de balas.
O menino sorriu e deu ao homem um punhado de balas. O homem foi embora enquanto o menino ficou olhando até que ele virasse o quarteirão. Então o menino deu a volta na praça e chegou até um banco do outro lado onde um homem estava sentado tremendo feito uma vara verde enrolado nuns trapos velhos. O menino chegou e deu a nota de dez reais pro homem que falou:
- Zézim, vai lá e compra esse dinheiro de pedra e me trais correno que eu não tô aguentano mais!
O menino foi até o banheiro da praça onde outro homem estava sentado num banquinho. Ele chegou deu a nota de dez reais ao homem que lhe deu uma porçãozinha de crack, o menino pegou o crack e levou até seu pai... Agora metade do serviço do dia estava completo, faltava ele comprar mais um pouco de crack pra sua mãe, e um litro de leite pra ele e seus nove irmãos...

25 comentários:

  1. Tudo blz paizão?

    Rapa,z esse seu conto me deixou estarrerecida..indignada e ainda sentida.
    Que tristeza é essa realidade. Vc fez um conto mas um conto dolorosamente real.
    Nem sei direito que palavras expressar sobre.
    Né? É legal quando o cosplayer além de ficar impecável tira as fotos nos lugares certos!
    bjs

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  2. É, André, triste realidade. Não costumo dar dinheiro. Pergunto: "Tá com fome, quer um lanche"? se aceitar eu pago o lanche. Mas esse câncer social está matando milhares de já miseráveis e é um caminho praticamente sem retorno.

    Sinto-me impotente como cidadão diante de tal quadro.

    Mas e aí, lambendo muito a cria?? rsss

    abraços

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  3. Ola André,
    Mas esta é a triste realidade de várias famílias brasileiras literalmente destruídas pelas drogas. Eu evito ao máximo dar dinheiro para pedintes exatamente por conta disso, mas o problema é que sempre ficamos na dúvida, será usado para drogas ou para a compra do leite ?

    Abraços Flávio.
    --> Blog Telinha Critica <--

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  4. Anônimo30.3.12

    Crack, eca... prefiro álcool.

    Família de chefe é pior do que chefe de família.

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  5. Pô!!! É o tipo de coisa que causa indignação total, Dezinho... dá tristeza. Confesso que na maioria das vezes eu faço como o sinhor do texto. Claro, não com dez reais. Mas, sempre doi algum dinheiro. Uma amiga uma vez disse que eu estava sendo boba. Mas, prefiro não pensar nisso. Dou pq meu coração doi... é triste demais.

    Seu texto nos faz refletir! É real... é brutal!

    E como tá Samuquinha??? Por acaso tem sentido cólicas? Lembrando quando o Tavinho era só um pititiquim de gente...

    bjks pra vcs três

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  6. Dedé...
    que situação.
    Putz! Quando vem uma criança pedir... fica difícil, mesmo a gente sabendo que eles podem dar aí para o "pai" ou a "mãe" deles... que situação... mas se olho para os olhinhos deles, não consigo negar...

    Amigo, ótimo fim de semana para vocês três!
    E mima bastante esse garotinho, viu?

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  7. Puxa, que triste realidade essa tão bem retratada aqui,André!!! Infelizmente deve acontecer muito. Aqui nos sinais tem famílias: as "mães" ficam sentadas mais longe, as crianças vão aos sinais e à tardinha saem todos... Um horror!

    Muito bem contado!! abração,tudo de bom,chica

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  8. ufa... acabei de ler e petrifiquei diante deste desfecho... a crueldade e a dureza desta realidade, onde exploração, desrespeito pela vida e pela dignidade humanas, por nos submetermos aos desmandos das dependências, são um verdadeiro flagelo que apoquenta. e depois, a velha história repete-se: o que irá fazer este garoto quando não tiver dois mas 12 anos?...
    soeiro pereira gomes, no incipit da sua obra maior, esteiros, dedicava a história aos homens que nunca foram meninos...

    um abraço em arrepio, meu amigo, desejando que esteja tudo bem com o teu menino!

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  9. Gostei muito da forma como você colocou em texto tão bem escrito, a dura e cruel verdade que perambula pelas ruas e becos das cidades do nosso País.

    Conheço um pouco a realidade dessas cenas descritas no teu post. Faço parte de uma equipe socorrista, pela Casa Espírita em que participo aqui em minha cidade. Em nosso nucleo para atendimento à infância e adolescente, convivemos diariamente com esses pequenos seres a quem procuramos atender de todas as formas possíveis, no sentido de ajudá-los juntamente com suas famílias, a resgatar-lhes a cidadania, a dignidade,para integrá-los ao mercado de trabalho e a inclusão na sociedade. Fácil essa tarefa? NÃO , mesmo! Os resultados são mínimos ante a enormidade da onda de vícios pelas drogas,e,
    pelo imenso bloqueio psicológico nesses indivíduos, no desejo de mudanças!

    É isso aí, André, num blog intitulado "Verdades e Bobagens", me deparo com uma excelente postagem, que leva leitores à reflexão!

    Beijos agradecidos da Lu...

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  10. Infelizmente é assim...por isso não confio em ficar dando dinheiro para pessoas pobres na rua.Não é por maldade, mas vá saber...

    André, deixa eu te fazer uma pergunta, talvez você saiba, o que aconteceu com a Nicelle Almeida? Desse blog aqui:http://www.nicellealmeida.blogspot.com.br/

    Ela sumiu e não postou mais nada, uma pena, gostava do blog dela!

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  11. Uma realidade tão triste dos dias de hoje. Tive sorte da minha vó ser uma guerreira, quando perdi meus pais. Queria que todos tivessem essa sorte. Abraço Mansin

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  12. É um tanto enigmático, me colocar no lugar destes seres porque vir ao mundo em meio a este ambiente e ver o mundo de um prisma totalmente reverso é de difícil reflexão.
    Vir ao mundo em meio ao caos, geralmente sem amor e carinho e com os exemplos mais indigentes e desumanos, provavelmente já meio insano dentro do útero e mamando o néctar das quimeras deve ser no mínimo distante de minha percepção.
    Eu não consigo e duvido que se consiga de maneira fácil se colocar no lugar de pessoas deste naipe porque é um mundo diferente e geralmente apartado do resto da sociedade tendo como elo apenas os momentos fortuitos em que o ser invisível para a maioria se aproxima e pede ajuda.
    Meu pai sempre pobre (lavrador) deu no mínimo o exemplo do trabalho então nasci em uma casinha de pau a pique em que da cama se via a lua cheia iluminar o terreiro pelos orifícios do barrote e na mesa sempre se tinha o pão de cada dia.
    Então tem pai que não é pai apenas genitor e mãe também genitora apenas progenitora.
    O lar ruiu em alguns cantos deste mundo e como dizem os entendidos é a célula mater da sociedade e quando a célula se desequilibra o corpo acaba desmoronando e nos palácios também os lares estão raleando porque tem boa cama, mesa farta, mas falta abraço de pai para filho.
    Muitas vezes pode acontecer que um abraço mude o curso de uma vida principalmente se vier acompanhado de amor, retidão e exemplo.

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  13. Oi André
    Esse seu texto foi diferente, não deu prá rir, deu prá chorar meu amigo, e é a real, até aqui em Itanhaém que é uma cidade pequena. As vezes eu confesso que dou um, dois reais pro garoto não riscar meu carro, mas prefiro comprar algo para a pessoa comer. Hoje mesmo eu passei e um cara estava sentado pedindo algo para comer, eu não dei dinheiro, fui lá e comprei uma esfiha prá ele, a gente sabe que esse pessoal é malandro e usa crianças muitas vezes, infelizmente. Muito boa essa reflexão.
    Bjão e um ótimo final de semana.
    http://ashistoriasdeumabipolar.blogspot.com.br

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  14. É duro, triste, mas é inquestionavelmente real. Esta epidemia tem se espalhado de forma terrível mesmo pelas cidades do interior e vem ceifando vidas de crianças, adolescente e famílias inteiras... algo precisa ser feito, no entanto ninguém ainda não sabe o que...

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  15. Oi amigo querido,

    Tudo bem por aí?Samuelzinho, lindo, forte e abençoado.

    Sabe que essa realidade é um nó na garganta e o pior é que só aumenta, pois a desumanidade se acentua e o homem se fragiliza. Sabe o que penso? Medo do futuro para tantas crianças, mas vamos na fé em Deus que só ele para segurar a barra. Texto maravilhoso!

    Bom domingo!

    Beijinhos!

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  16. É bem verdadeira essa história. Quantas crianças não tem pelas ruas do Brasil na mesma situação[?]
    Abç André

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  17. Dedé, bicho, é uma estória que está presente no nosso cotidiano, e nenhuma cidade está livre deste tipo de situação. Vivemos numa sociedade em que, a violência e as drogas são um cancro que está arraigado no nosso cerne e que não tem cura, nem há um remédio que "alivie" um pouco esta enfermidade. Não dou esmolas a crianças na rua, muito menos dinheiro, sempre prefiro comprar na hora um sanduíche ou um lanche, mas não dou dinheiro a ninguém.

    Bom texto, infelizmente a nossa crua realidade. Abração paizão coruja.

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  18. Parece bizarra a história, mas é muito real! Esse crack é uma praga que não tá escolhendo condição social... mas o que fazer para exterminá-la. Sinceramente? Nâo vejo luz no fim do túnel... e olha que sou uma pessoa bem positiva...

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  19. já te add lá no face!Se aparecer uma tal de Denise Fernandes lá, já sabe que sou eu.
    ate mais!

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  20. É Dé, a vida tem suas tristezas né?!
    Feliz somos nós e ainda reclamamos, não da vergonha?!
    Bjão amigo!

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  21. Que triste realidade! E o pior é a utilização de crianças, que aprendem, desde cedo, a trilhar um caminho tão obscuro.
    Que bom pra o filhote, que nasceu em um verdadeiro lar.
    Bjs.

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  22. Oi André,

    Que triste! Dá até um nó na garganta... Dura realidade!
    O crack está destruindo grande parte da futura geração e também pessoas adultas e de todos os níveis sociais. Como resolver? Parece complicado...

    Não tenho dado dinheiro para as crianças, no intuito de desmotivá-las de pedir, mas dou outra coisa (pão, biscoito, leite etc)

    Como está o Samuelzinho?

    Grande abraço.

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  23. Sempre que pude ajudei pessoas pedintes nas ruas, ou se batem na minha porta eu se puder faço até um marmitex e alimento quem me pedir, mas dinheiro eu nunca dou, tenho pena, tenho muita pena desses viciados, desses filhos do crack.
    Mês passado uma prima minha, a qual mora em um bairro afastado e de ordem duvidosa matou uma amiga por causa de crack. Sempre que vemos na tv ficamos injuriados, ficamos estarrecidos, mas quando acontece de uma moça de 23 anos, de seu sangue, pegar uma arma e dar 5 tiros em outro ser humano por causa de droga... eu fiquei sem reação, parece que me anestesiei, me senti impotente...
    Seu texto é visceral por si só.
    Beijos
    Viviane

    Razão e Resenhas

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  24. Que estória triste amigo. Foi como se levasse um murro no estomago.
    Um abraço e Páscoa Feliz

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  25. Meu querido amigo !!!!
    Lendo seu post de hj nem dar para fazer uma gracinha,pois O uso de drogas no Brasil e no mundo está crescendo a cada ano. Independente de classe social cada vez mais as crianças experimentam drogas cada vez mais cedo.
    Texto atualissimo e serve como alerta para todos nós que fazemos parte de uma familia brasileira...
    bjs meu querido!

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