quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Críticas

 

Críticas

Te criticaram?
Quem criticou?
Olhe
Analise.
Perceba.
A crítica é para você mesmo?
Ou você tem servido de espelho... 



Críticas 2

É sobre mim?
Não vou absorver.
É sobre mim?
Não quero abraçar.
É sobre mim?
Meu setor de carregar fardos está fechado.
É sobre mim?
Desculpe mas eu sei quem sou.
Então, agora...
O problema não é meu. 
É seu.



Críticas 3

Olho, desejo, bate uma inquietação.
Como defesa, critico.
Como inveja, posso difamar.
Admiro, aplaudo, bate uma insegurança.
Como defesa, falo mal.
Camo inveja, me transformo em um bicho.
Um bicho criticador.

Que vergonha...



segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Borracharia Brás Cubas


— Interessante o nome da borracharia do senhor. 
— É... — respondeu o borracheiro sem olhar pra mim.
— Borracharia Brás Cubas, — continuei intrigado — como foi que o senhor chegou nesse nome?
O borracheiro retirou o pneu furado e o colocou no chão, depois começou a desmontá-lo e, ainda sem olhar pra mim, respondeu:
— É que eu sou comunista.
— Comunista? Como assim? Não entendi.
— Uai, comunista. O doutor não sabe o que é comunista?
Pelo tom áspero de sua voz, me pareceu que o borracheiro não gostou muito das minhas perguntas, mesmo assim, resolvi continuar perguntando:
— Eu sei o que é comunista, mas o que tem a ver o nome Brás Cubas e o comunismo?
— Me desculpe doutor, — falou o borracheiro se levantando com a câmara de ar na mão e se dirigindo até uma bancada — mas é só o senhor pensar um pouquinho. Brás Cubas é o ajuntamento de Brasil e Cuba.
“Meu Deus! — pensei surpreso. — Eu aqui achando que o borracheiro era uma pessoa culta e ele me vem com uma ideia dessas.”
— O senhor é doutor mais não sabe de algumas coisas que nós aqui da periferia sabemos. — desafiou o borracheiro, agora parecendo empolgado com o assunto.
— Ah é? E o que o senhor entende de comunismo?
— Entendo muito mais do que o senhor acha que eu entendo. Eu sigo as ideias de Raul... Saiba o senhor, que o Raul foi um grande pensador comunista.
— Raul? Que Raul? — perguntei cada vez mais surpreso. — O Raul Castro, irmão do Fidel Castro?
— Não meu amigo, — caçoou o borracheiro com um sorriso de conto de boca, expressando desdém pela minha pessoa — o Raul Seixas!
— Raul Seixas???
— Isso mesmo doutor; Raul Seixas. Da sociedade alternativa, do novo Aeon, quem não tem colírio usa óculos escuros! O senhor não entende as mensagens? O Zé entendeu.
— Zé? Que Zé? O Zé Dirceu?
— Não doutor. O Zé Ramalho!
— Zé Ramalho????
— Isso doutor! Nós vivemos uma vida de gado. — anunciou o borracheiro olhando para o além como se fizesse um discurso para uma multidão. —  Zé toca Raul! Um dia a sociedade alternativa vai descer no nosso planeta e a gente vai pra outra galáxia.
— A gente quem? Eu e você?
— Não doutor. — respondeu o borracheiro balançando a cabeça. — Tá na Bíblia! O senhor lê a Bíblia? Pessoas assim como o senhor, que acham que sabem de tudo não vão! Só nós... Os puros de coração é que vamos ser arrebatados! Pessoas que acham que sabem tudo são arrogantes. 
— Arrogantes não vão ser arrebatados? — perguntei maliciosamente.
— Não doutor! — respondeu o borracheiro apontando o dedo para mim. — Mas tem uma salvação pro senhor.
— Ah é... Ufa! E qual é a minha salvação?
— A metamorfose ambulante.
— O que?
— A metamorfose ambulante! Se o senhor preferir ser a metamorfose ambulante, ao invés de ter essa sua velha opinião formada sobre tudo; quem sabe o senhor não vai também.
Não sei como e nem por quê, mas essa última resposta do borracheiro me acertou feito um soco no estômago. Tanto, que depois dela eu resolvi me calar e saí de lado, fingindo que falava ao telefone, esperando-o terminar o serviço.
Eu saí da borracharia Brás Cubas diferente. Meu intelecto me dizia que as coisas que o borracheiro falou, eram coisas malucas e sem nexo, que só poderiam existir na cabeça de um lunático, mas uma pulga ficou atrás da minha orelha. Será que querer sempre dar uma de intelectual, e brigar para ter razão em tudo, não nos transforma em pessoas arrogantes? 
Aquele maluco me deu uma lição. Acho que vou preferir a metamorfose ambulante, a partir de hoje. Vai que a nave me esquece no dia do arrebatamento...


quinta-feira, 30 de outubro de 2025

As rua engole



 

Ele tava no corre.
Entregava marmita, Ifood, pagava boleto nos banco e fazia uns bico de moto-taxi.
Ele já não era mais moleque. Tinha trinta e pouco.
Mas depois que a firma faliu ele teve que se virá, porque tinha que pagá a pensão da menina e ajudá cas conta da casa da ex-mulher.
Ele tentô otros trampo, mas ninguém tava contratâno.
Mandô currículo, conversô, mas as porta tava fechada.
No começo ele estranhô.
A vida nas rua é diferente.
Conheceu uns mano do corre.
Uns só trabalhava mêmo.
Otros fumava uns baseado pra passá o tempo, enquanto esperava as corrida dos aplicativo.
Outros fazia uns aviãozinho pro tráfico.
Isso ele nunca fez.
Ele começô a comer marmita entre um corre e outro.
Depois ele começô, — quando dava — comer uns salgado.
Depois só tomava café e fumava um baseado junto com os mano.
Mas ele não era desse tipo. 
Não era bruto.
Não precisava entrá na onda dos irmão errado.
De vez em quando ele lembrava que tava com fome.
Trabalhava desde cedo até as onze da noite.
A moto de vez em quando furava o pneu e ele de vez em quando passava mal.
De vez em quando ele vomitava.
Um dia vomitô sangue.
Sentia tontura.
Quando sentia tontura ele comia um doce ou tomava café.
Os dia foram ficano ruim pra ele.
Pediu dinheiro emprestado pruns cara errado.
Pagô, mas levou um pau uns dia antes, porque tava atrasado.
O médico disse que a pressão dele tava muito alta.
Disse que tava desnutrido e com falta de várias vitamina.
O médico disse que ele tava com infecção na urina. Acho que é assim que fala.
Disse que era magro demais, e que mesmo assim a diabete tava quase pegano ele.
Acho que era um lance de hormônio e falta de dá umas dormida.
Ele só pensava no corre.
Parece que a rua engoliu ele.
As rua não é fácil...
Eu até acho que ele tava com pobrema de cabeça.
Podia sê a canceira.
De vez em quando ele falava do trabalho antigo.
Da ex-mulher.
Da filha...
Chorava.
Mas não podia pará de fazê as coisa.
Os corre loco das rua.
Ele tinha que pagá a pensão em dia, senão a Maria mandava os home atrás dele.
Um mês ele atrasô.
Dormiu na cadeia três dia.
Até os mano do corre se juntá e ir lá tirá ele.
Pagaro a pensão e ele foi liberado.
Hoje ele tava locão! Foi entregá quatro café da manhã, foi pagá boleto em cinco banco, depois foi entregá várias marmita, e quando encostô pra trocá ideia co's mano do corre, as três da tarde, ele disse que tudo tava ficano preto.
Deu tontura.
Uma sede que ele não aguentava.
Bebeu quase um litro d'agua.
Caiu duro no farol.
Um cara chamou o SAMU.
Mas não deu mais tempo.
Agora ele não tá mais no corre.
Acabô.
Foi conhecê Jesuis... 


terça-feira, 28 de outubro de 2025

Xadrez

 



 

— Bom Dia!
— Bom dia!
— O senhor poderia responder uma rápida pesquisa que estou fazendo?
— Que pesquisa?
— A diferença de oportunidades na sociedade brasileira em relação à raça e classe social.
— Nossa! Que bacana! Posso sim.
— Qual a sua cor?
— Como?
—Sua cor? Negro, branco, amarelo, pardo?
— Uai? A senhora não está me vendo aqui?
— Eu estou vendo, mas o senhor tem que declarar a sua cor.
— Eu acho que sou pardo.
— Por quê?
— Porque sou moreno, bem moreno.
— Seu pai era negro?
— Não… na verdade meus avós paternos vieram já casados lá de Portugal, minha avó materna era italiana e meu avó materno era bem pardo, mais escuro do que eu, mas não era negro.
— Então vou marcar aqui que você é pardo.
— Isso a gente pode ver só de olhar pra mim.
— Eu sei, mas a gente tem que chegar nessa conclusão depois de investigar direito, a nossa metodologia é científica.
— Ah tá… Legal!
— Qual seu grau de escolaridade?
— Estou na faculdade.
— Certo, então vou marcar aqui branco.
— Branco? Mas eu não sou pardo?
— É pardo, mas com esse grau de escolaridade é branco.
— Como assim?
— Nossa pesquisa é científica, baseada na escola Juliana francesa inspirada na metodologia de Frankfurt da Alemanha.
— Ah… Desculpa! Então deve ser coisa séria.
— Lógico que é séria. Posso continuar?
— Pode, uai.
— O senhor tem casa própria?
— Não, moro de aluguel.
— Então é negro.
— Negro? Mas... dona? Eu não era pardo e depois branco?
— Mas nesse quesito o senhor é negro!
— Aiaiaiaiai, vai dona; continua…
— Que tipo de música o senhor gosta?
— Rock, eu sou roqueiro.
— Ah… Branco…
— Branco?
— Isso, porque quem gosta de rock é branco! Negro gosta de pagode e axé…
— Dona, de onde é esse seu método científico mesmo?
— Escola Juliana francesa inspirada na metodologia de Frankfurt na Alemanha.
— E essa sua pesquisa é pra quem?
— Para um jornal e uma TV, que agora não posso revelar.
— Hummmm.
— Continuando: Que tipo de comida é a sua preferida?
— Feijoada.
— Negro.
— De novo?
— Com que regularidade o senhor come feijoada?
— Umas duas ou três vezes no ano.
— E que tipo de comida o senhor mais come na sua casa?
— Arroz, feijão, carne, legumes e salada.
— Branco.
— Branco?
— Comida balanceada é de branco, mas vou colocar uma observação de subnutrição negra.
— Subnutrição negra!?
— Sim...
— Mas por quê?
— Porque o senhor come feijoada só duas ou três vezes no ano.
— Mas subnutrição? Olha o tamanho da minha barriga!
— Isso não importa na nossa metodologia científica.
— O senhor disse que gosta de rock.
— Disse e por isso a senhora me disse que sou branco.
— Certo! Aí, já está entendendo. Mas me diga, com qual frequência o senhor vai aos grandes shows de rock, tipo Lollapalooza, Rock in Rio, João Rock...?
— Nunca fui.
— Negro.
— Uai, mas quem gosta de rock na sua metodologia não é branco?
— É, mas quem não tem direito à cultura é negro.
— Olha dona, essa sua pesquisa é furada! Me desculpe, mas segundo a senhora eu sou pardo, branco e negro, dependendo da ocasião e isso não está certo!
— É a metodologia…
— Metodologia furada e ridícula! Eu não vou mais responder isso não!
— Branco!
— Como? 
 — Pessoas avessas a pesquisas sociais são brancas.

 


sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Eles


Eles falam.
Cantam.
Combinam coisas.
Dançam.
Eles são eles quando estão com eles.
Eles são os outros quando não estão com eles.
Contra os outros, eles falam.
Cantam... 
Combinam coisas.
Mas não dançam.
Eles matam.


quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Ele


Ele fez tudo.
Fez em sete dias.
Ele disse como era o jogo.
Coube a nós jogarmos.
Se jogarmos bem... Aplausos!
Se jogarmos mal... O mau...


segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Eu


Eu andei por aí.
Corri atrás de nada por muito tempo.
Perdi tempo.
Não encontrei o que queria. 
Aliás...
O que eu queria?