sábado, 27 de julho de 2024

Adultinhos e crianções

 




Eu tenho notado que as coisas estão um pouco mudadas.

As crianças estão muito mais espertas hoje do que na minha infância, tanto que as vezes chegam até a discutir com a gente sobre coisas que eu nunca imaginava que elas poderiam saber.

Outro dia uma menininha de cinco anos estava falando sobre como o desenho dela estava chato em relação a novela da mãe, porque o desenho repetia muito, e a novela não. Na novela era um capítulo novo por dia e nunca repetia nada.

Véio! Eu assisti Chaves 365 vezes por ano, durante 10 anos e nunca reparei que era repetido!

Quando que eu com cinco anos, saberia argumentar, demonstrando minha opinião sobre qualquer coisa. Eu era um bobalhão.

Um filho de um amigo meu estava com uma chuteira no pé, e dizia que era a marca do Neymar, e que o pai dele queria lhe dar uma outra, mas ele não quis, porque calçando a do Neymar, ele poderia mostrar para os amigos na escola e zoar com eles, porque esse modelo novo só ele tinha!

Gente! Eu não me lembro de ter feito planos para tirar sarro de amigos... A gente zoava e pronto. Espontaneamente e sem maldade. Tirávamos sarro a todo momento, por todos os motivos possíveis. Mas ostentação não! A gente respeitava os amigos que não tinham condição de ter um tênis bom, uma calça legal ou se vinha para a escola a pé ou de carro. Bom, pelo menos eu e meus amigos éramos assim.

As crianças de hoje mexem em computador, em televisão, atendem telefone, fazem pesquisa na internet, conversam entrando no assunto dos adultos, e parecem não ter limite.

A filha de um amigo, quando tinha seis anos e estava na escolinha, (que hoje não se chama mais parquinho e nem prézinho), já fazia pesquisa na internet. Quando ela tinha dez, já usava batom, bota de couro da Angélica, luzes no cabelo, olhos delineados com lápis, e falava em namorar, meninos mais velhos!

Menininhos que jogam futebol, falam em ir para a Europa. Falam em Barcelona, Real Madri, Chelsea. Crianças que tem mais dinheiro, fazem judô, jiu-jitso, caratê, natação, balé, tem aulas táticas de futebol, estudam música, inglês, francês, chinês, piano, teatro e por aí vai.

Ainda bem, que em várias cidades, muitas dessas coisas que falei acima, são oferecidas gratuitamente para a população, como é o caso do projeto Guri. Mas a gente sabe que não é a mesma coisa, apesar de ser uma boa oportunidade.

Mas, por outro lado, os jovens pais e jovens mães, que eram essas crianças chatas, adultinhas, se tornaram um adulto crianção, parece até que eles foram exigidos demais e que não tiveram infância, por isso, agora eles querem ser crianças.

Pais que viram a noite brincando no Playstation, brincando de ser pai, brincando de ser marido, mulheres brincando de ser esposa.

Homens e mulheres que acham que trair seu cônjuge e beber até cair é uma brincadeira muito legal.

Famílias sem regras, onde os filhos comandam porque são adultos em miniatura. Pais e mães que não sabem mais o que é a hierarquia da família, e por isso deixam seus filhos tomarem as rédeas da casa.

Outro dia um programa estava entrevistando um jovem empresário, que estava de terno e gravata do Mickey. Esse empresário é o que eu chamo de crianção!

Os crianções estão por aí, brincando no trânsito, tirando rachas e arrumando encrenca se alguém encostar no brinquedinho deles.

Os crianções brincam de votar sem nunca ter lido um jornal, afinal ler sobre política é um brinquedo muito chato! Melhor assistir o BBB.

Eu tenho uma teoria: Criança adultinha sem infância, vira um adulto crianção, que quer viver a infância depois de velho.

Tive a ideia de escrever esse texto no supermercado. Eu estava com meu carrinho de compras na fila do caixa e na minha frente um casal recém-casado estava fazendo a sua primeira compra.

No carrinho deles tinha danoninho, bolacha recheada, chocolate, tody, suco, refrigerante, bolacha recheada, tody, salgadinho, suco, refrigerante, refrigerante, danoninho, danonão, bala, balinha, chocolate, refrigerante, danoninho, bolacha recheada, paçoquinha, chiclete, bolacha sem recheio, tody, chocolate, refrigerante, salgadinho e danoninho.

De repente a mãe de um deles chegou ao mercado e olhou o carrinho que estava lotado dessas coisas, e falou fazendo cara feia:

- Uai gente, essa é a primeira compra de vocês! Onde está o arroz, o feijão, óleo, verduras, frutas, carne?

Eles se entreolharam envergonhados e saíram da fila, voltando a fazer mais compras.

Eu fiquei imaginando se eles realmente se tocaram que agora teriam que comprar coisas de adulto, ou se foram buscar miojo e pipoca de microondas, porque eu me lembro bem, e não tinha isso no carrinho deles.

 




21 comentários:

  1. Divertida leitura e bem recheada de verdades! Ou nós éramos "antas" ou as crianças de hoje estão à milhão...
    Minha netinha aqui me dá banho quando algo na internet ou celular acontece...
    E esss[e casal no supermercado, terá MUIIIIIIIITO a aprender...rs
    abração, lindo fds! chica

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    1. Oi Chica!
      Nós eramos antas para muitas coisas, mas para outras não.
      Realmente o mundo mudou.
      Não sei o que vai ser nas próximas gerações. Parece que o mundo não será tão amistoso. Uma pena.

      Obrigado pela visita!

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  2. É assim e assim será. Nossa infância não será igual a dos nossos filhos, e a infância dos nossos netos não serão igual à infância dos nossos filhos. Isso se chama evolução. Uma criança de 10 anos hoje tem mais informações do que um adulto do início do século 20. Não vejo isso como um problema. Agora, vejo muitos problemas nos pais crianções. Eles não tem autoridade alguma com os filhos. Eles fazem todas suas vontades. Eles não passam tempo com os filhos, não brincam com eles, não o aconselham, não passam bons valores. Estão perdidos. Não tenho problema com quem tem "espírito da quinta série", eu mesmo o tenho...mas uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa.

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    1. Está corretíssimo, Eduardo.
      Sou professora e vejo muitas famílias perdidas na criação de seus filhos. Não brincam ,passam pouco tempo com eles e nem sempre é um tempo de qualidade, não lêem mais histórias, contos de fada... Temos, na escola, de ensinar as crianças a brincar. A criança de 10 anos ter mais informações não seria um problema se os pais não fossem "crianções".

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    2. São outros tempos, Dudu!
      Eu ia a pé na escola, sozinho, por uma avenida muito movimentada em São Paulo. Caminhava pelo menos 4 km e minha mãe me levou só no primeiro dia.
      Hoje minha esposa não deica meu filho de 12 anos ir no bar da esquina comprar um refrigerante.
      Nós éramos bons em algumas coisas e eles são bons em outras.
      Mas o que nós eramos melhores e eu me preocupo muito, é em relacionamento.
      Nós tínhamos muitos amigos e brincávamos na rua, hoje isso acabou.

      Um abraço amigo!

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    3. coloquei meu filho para ir pra escola sozinha aos 10 anos. Não é longe de casa, uns 10 minutos. Aos 12 mudou um semestre para outra escola mais distante e que tinha que pegar ônibus. Fui umas 5 vezes com ele e já falei, "você já sabe onde pega e onde salta do ônibus, vai sozinho agora". Ele foi direitinho, a mãe, ao contrário, reclamou muito comigo que ele ainda era criança e blá blá blá...rsss

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  3. Um ditado antigo dizia que "quem não foi infante aos seis anos, o será aos sessenta". Muita gente que agora é adultinho, assim o é por não ter podido experimentar algumas coisas na infância e agora, com maior poder aquisitivo (ou nem tanto assim), estão compensando.
    E de outro lado, crianças adultas precocemente... não é bom. Por mais que nos espantem e nos maravilhem com suas atitudes maduras, não estão vivendo a fase da infância, e mais tarde irão se ressentir pela falta da fantasia e ingenuidade que não tiveram.. virando adultinhos. A fantasia, o encantamento fazem parte da infância e não deveriam sumir dessa etapa da vida.
    Um texto muito reflexivo com certeza fizestes, André.

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    1. Olá Marina!
      Então... Você está corretissima.
      As coisas estão mudando e parece que a geração que errou foi a nossa.
      A dos nossos pais ainda fez a coisa certa.
      Vamos ver o que vem pela frente.

      Um abraço!
      Obrigado pela visita.

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    2. mas então, Marina, será que esse "nova infância" não é agora o padrão? Eles amadurecem mais rápido hoje em dia. Como eu falei antes, precisam apenas de orientação.

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  4. Texto inteligente. De fato, a criançada de hoje está mais esperta... em alguns assuntos. Vai por exemplo, contar caso de assombração, vão rir de você. Realmente a gente se zoava o tempo todo, mas não me lembro mesmo de ostentação. Tinha um amiguinho que era um dos riquinhos do bairro, tinha ferrorama, autorama
    ( lembra desses?), pois não saía de minha casa, a gente jogava botão o dia todo. É até chover no molhado o que vou dizer, a gente corria, subia em árvores, construía brinquedos, isso nos fazia espertos, hoje a meninada anda muito frágil. Abraço. Parabéns... entendi sobre o tracinho do meio da vida.

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    1. Olá Carlos! Que bom que apareceu aqui.
      É isso mesmo meu amigo. Nós eramos espertos em outras coisas, mas o mundo mudou e os relacionamentos também.

      Um abraço!

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  5. Boa noite de domingo, André!
    O mundo não é mais o mesmo.
    Os valores são outros e alguns estão voltando a pré infância mesmo na maturidade.
    Alimentação saudável é para pessoas Inteligentes.
    Tema muito bem abordado e atual.
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Abraços fraternos

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    1. Olá Roselia!
      E esses temas estarão cada vez mais atuais.

      Um abraço!! Tenha uma linda semanna.

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  6. A sociedade e a família estão com uma revolução em curso e ninguém sabe qual vai ser o resultado final. Mas, em qualquer caso, após a revolução industrial as crianças de cada geração sempre foram mais evoluídas que a anterior.
    Já assisti a crianças fazerem um trabalho de casa coma a ajuda da Inteligência Artificial.
    Um abraço caro amigo.
    Boa semana.
    Um abraço,

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    1. Mas Jorge, sabia que essa nova geração, é a primeira da história onde o Qi É MENOR QUE A GERAÇÃO ANTERIOR?
      Olha só.

      Um abraço.

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  7. Olá André
    Agradeço a sua visita ao meu blog.
    Tenho a impressão que os pais hoje em dia têm medo dos filhos.
    As crianças não podem ser contrariadas.
    Vivem dependentes das telinhas.
    Muito preocupante tudo isso.
    Gostei do seu blog.
    Um abraço
    Verena

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    1. Olá Verena! Obrigado por aparecer.
      É, minha amiga! As telinhas são um problema.

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  8. Obrigada pela dica do filme. Vou assistir
    Um abraço
    Verena

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  9. Não basta aprender só na teoria.
    Faz muita falta a experiência de vida para conferir maturidade.
    Abraço solidário.
    Juvenal Nunes

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    1. É verdade Juvenal.
      Maturidade faz falta.

      Um abraço!

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