quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Lei dos homens


- Chamô dotô?
- Chamei sim Chico.
- O que o sinhô tá pricisanu?
- Quero que você faça um serviço pra mim!
- Póde falá dotô, o sinhô sabe qui eu faço tudo que o sinhô mandá...
- Quero que você reúna os melhores jagunços da cidade e vá com eles lá na divisa da minha fazenda com a fazendo do seu Augusto, entrou um bando de sem terras lá e botaram fogo na roça, mataram algumas cabeças de gado e roubaram uns cavalos...
- Ué dotô, eu vim de lá inda agórinha e ví esses sem terra lá, mas eles não fizero essas coisa não, eles táo inté mais do lado do seu Augusto e nem entraro na vóssa fazenda...
- Eu sei Chico, mas se eles não fizeram aínda eles certamente vão fazer.
- Mas dotô, não é mió esperá eles fazê arguma coisa primêro?
- Não Chico póde ir que eu quero a limpeza agora!
- Mas como é qui nóis vai explicá a mortandade desse povo?
- Se os sem terras sumirem é só falar que foi o seu Augusto que mandou matar... Mas não me desafie Chico, porque se você sumir em nem preciso explicar nada pra ninguém...
- Dotô?
- Que foi Chico?
- O sinhô acha que uns quinze jagunço já dá pra fazê o serviço?




Esse texto foi escrito a uns 15 anos e hoje eu reencontrei ele no meio de uns papéis aqui em casa. Infelismente ele ainda é tão atual...

20 comentários:

  1. Muito bom seu diálogo... Lembrou-me deveras o nosso Guimarães Rosa. Sua crítica social é visível e muito bem-dita.
    Sua veia literária precisa ser vista mais por aqui, pois, como já havia te dito, tu tens uma criatividade superior para narrativas e facilidade em nos provocar imagens com elas...
    Um abraço de quem sai daqui rejuvenescido, meu caro literato!!!

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  2. Que coisa,né? Lindo texto e...PENA!!! abração,ótimo feriado!chica

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  3. Dedé, tudo bem?
    Volto ainda hoje, no máximo madrugadão para ler e comentar direitinho.

    Deixo para vocês um feliz feriado, descansa e namora por aí a Bonitona Andréia rsrs

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  4. Realidade e não só no mato...rs

    Abraço

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  5. Fala futuro papai coruja, bicho, isso soa natural aqui no Nordeste, principalmente nos interiores, onde antigamente o coronelismo era uma realidade. Nos tempos de Lampião e sua gangue, esse era o clima que reinava pelos sertões nordestino, como o Dilso lá em cima frisou, lembra sim Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e outros escritores que bem definiram o clima hostil dos coronéis e dos jagunços. Isso daria uma bela estória se vc se aprofundasse Dedé, e pq não um livro?

    Abração pra ti.

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  6. Realidade e extremamente atual, André, não só na roça!

    Passou a mensagem de forma descontraída e eficaz.

    Até!

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  7. Incrível, André!
    Achei o diálogo sensacional e divertido, sem deixar de observar o cunho crítico do mesmo.
    Parabéns!
    Abraço.

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  8. Dedé, tudo bem?
    A gente é parecido mesmo! Também chego a essa conclusão às vezes, tudo meio maluquinho, parece que a gente tá pregando no deserto. Curiosamente eu escrevi um conto, em 98, lá vão uns 13 anos, sobre essa questão dos sem-terra, dos com muita terra, usando como pano de fundo um episódio que aconteceu em 1990 na Praça da Matriz, em Porto Alegre, onde os policiais massacraram um grupo de manifestantes sem terra, nessa tal Praça da Matriz, onde fica o Palácio do Governo estadual do RS, Assembléia Legislativa, enfim... Foi horrível, até caminhão-tanque usaram para intimidar os sem-terra, e foi amplamente abafado e distorcido pelos meios de comunicação.

    PARABÉNS!
    EXCELENTE TEXTO!

    Creio que você deveria ampliá-lo, remodelá-lo, valeria uma sequência ou algo do tipo. Muito bom, Dedé. Prova de que você escreve bem faz muito tempo!

    Grande abraço para ti, a Bonitona rsrs e o bonitinho!

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  9. Belo dia florido prá ti!
    Folhas de Outono chega para matar saudades !
    Saudades de tuas escritas e de vc tbm.Estava privada de fazer uma das coisas que mais gosto de fazer que é te ler,kkkkkkkkk,mas agora posso sim,logo hj que vc deixou um belissimo texto que apesar do tempo escrito está mais atualissimo do que a época que foi feito.Sinto isso tbm com as minhas escritas.Vejo cada dia mais atualizados.
    bjssssssssssssssss

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  10. Ola meu caro,
    Muito interessante esse dialogo que nos alerta para essas questões socias tão presentes principalmente nas cidades de interior do Brasil.

    Abraços, Flávio.

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  11. Nossa e como é atual esse dialogo!
    Vc tem que fazer ais contos, adorei!

    Beijos

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  12. Anônimo3.11.11

    ONDE OS HOMENS SÃO HOMENS?

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  13. Muitas das situações, hoje tidas como extintas, estão apenas camufladas ou cobertas por outros nomes. Veja só, você escreveu um texto real e ele ainda está presente no nosso dia a dia.
    Gostei muito! Deu um ar cômico a um assunto sério, em diálogo que pode, neste momento, estar sendo realizado por aí.
    Bjs.

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  14. Oi André!!!!

    Caramba,. gostei do texto! E é um texto antigo seu! Vc escrevia bem desde aquela época!!!
    Ah olha eu respeito sua opinião de não curtir o Halloween, de defender a idéia que vc tem sobre o tema. Eu discordo dela mas não vou ficar debatendo aqui. Entretanto, é errado dizer que a idéia original do Halloween com relação ao solistício de verão dos celtas não tenha nada á ver. Tudo bem que o povo hoje em dia só foca no Halloween "comercial" em matéria de decoração e festa mas não podemos dizer que o Sahaim ocorrido nessa data nseja invenção .O Sahaim existe sim até hoje entre praticantes do neo paganismo.
    Mas sabe porque as fantasias das criaturas do Folclore brasileiro não alcançam o status dos monstros do cinema/ Porque são coisas que aprendemos na escola e também...convenhamos eu não acho nenhuma lenda do folclore realmente assustadora. Assim o povo absorve as referências de filmes que abrangem uma vasta opção de estética e também...tem muitas lendas que que ajudam a criar uma estética 1000! E é isso que o povo quer! Afinal é uma data pra divertir, zoar...o pessoal faz o que quiser. Acho que encanar com isso é nacionlaismo extremo. Melhor o pessoal vestido estilo Halloween do que o povo seminu no Carnaval...acho Halloween mais bonito de se ver u.u.
    André, desde quando eu falei do pessoal gótico curtindo o capeta? Eu falei que na época do rolê saia parecendo ir pra uma festa do Halloween por conta das roupas XD. Na cena o que impera é wiccanos e agnósticos rs.
    bjs!!!!

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  15. Depois de tanto tempo ser ler os seus textos posso dizer q eles continuam ótimos.
    A realidade do interior do brasileiro é mesmo triste e não mudou depois de tatos anos.
    Grande abraço

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  16. Ah meu amigo, essa eu nem quero ler outra vez, me recorda pessoas amadas que me entristecem pelo comportamento ignóbil, mas que eu não consigo deixar de amá-las.

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  17. Anônimo5.11.11

    Gostei do texto, muito bom.

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  18. Nossa André, mais pura verdade isso aí!
    Abraços meu amigo tenh aum ótimo final de semana =*

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  19. Oh dotô!!rsrs Esse texto apesar de ser de 15 anos atrás, ainda se encaixa bem agora...Legal o modo como foi escrito o diálogo, com o modo de falar.

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