domingo, 7 de julho de 2013

Olhar de cinquenta anos




Sabrina, Jonas, Augusto Cesar e Priscila entraram pelo salão de festas trazendo o bolo de bodas de ouro do vovô Valter e da vovó Soraia. Os velhos esperavam o bolo chegar, rodeados pelos filhos e amigos, que cantavam “parabéns pra você”.
Uma lágrima escorreu pelo rosto da “vovó Sosô” e do “vovô Vartinho”. A cinquenta anos atrás eles nunca imaginariam que um dia chegariam a um momento desses.
Em 4 de agosto de 1952, Soraia era uma linda jovenzinha que trabalhava no mercadinho de seu “Manoel português”, um homem bom como patrão, mas muitíssimo exigente com seus funcionários. Soraia estava pesando um quilo de feijão para uma cliente, quando Valter entrou pelo mercadinho apressado para comprar batatas.
- Seu Manoel! – Falou Valter num só fôlego. – Me dê um quilo de batatas meio rápido, porque já está quase na hora de eu ir pra escola e minha mãe ainda não fez o almoço.
- Olhe garoto, vais ter quê ispêrar a sua veixz! Purquê tem umas pssoas qui chigaram em vossa friente!
Soraia olhou para Valter com cara de poucos amigos... Ela detestava esses apressadinhos que vinham tumultuar o seu serviço.
Em 3 de setembro de 1953, Soraia esperava o ônibus para ir ao cinema encontrar seu namoradinho novo, um rapaz loiro que tinha os olhos mais azuis de todo o mundo! Perdida em pensamentos ela nem notou quando Valter sentou-se ao seu lado no banco do ponto de ônibus e começou a folhear um gibi do “Cavaleiro Solitário”. Os dois entraram no mesmo ônibus e mais uma vez sentaram-se lado a lado, até chegarem à porta do cinema. Soraia logo encontrou o rapaz loiro e Valter logo encontrou seus amigos que foram até ali pra trocar gibis e dar uma paquerada nas meninas.
Em 23 de maio de 1954, Soraia passeava com sua amiga Gorete pela praça da catedral, quando Valter passou em sua bicicleta olhando para Gorete, que era a menina mais linda da cidade.
Valter descuidou-se com os olhares e nem viu o banco da praça! Foi um capote só! Sorte que Valter caiu dentro do chafariz e apesar de ter se molhado todo, não se machucou além de uns arranhões.
Em 17 de janeiro de 1957 Valter discutia com sua namorada Ermínia sentado num banco da praça do coreto, enquanto Soraia namorava Arlindo num banco ao lado. A discussão de Valter se elevou tanto que Ermínia deu-lhe um tapa no rosto. O estalo foi tão alto que no banco ao lado Soraia e Arlindo até se assustaram! Quando olhou para ver quem tinha apanhado, Soraia só viu um rapaz indo embora com sua bicicleta por entre o jardim.
Em 22 de dezembro de 1959 Soraia estava junto com as meninas da igreja, passando de casa em casa fazendo uma coleta para montar cestas de natal para pessoas carentes. Ela bateu numa casa e a dona saiu muito brava, falando que não tinha nada para ajudar e que já estava cansada de pessoas enchendo o saco em seu portão. Valter passava pela rua e vendo o destempero da mulher, parou sua bicicleta e entrou no assunto defendendo a “menina da igreja”.
- Dona Rute! – Falou Valter em alto e bom som. – Isso que a senhora está fazendo não é legal! As meninas da igreja estão tentando fazer uma boa ação! Se a senhora não quer ajudar é só falar que não e fechar a porta, não precisa falar besteiras pra menina.
Foi a primeira vez que Soraia encarou os olhos de Valter. Ele era um desconhecido pra ela e ela era uma desconhecida pra ele.
Hoje, mais de cinqüenta anos mais tarde, os dois velhinhos se abaixaram para apagar as velinhas de cinqüenta anos de união. Ela encarou os olhos de seu velho e se lembrou desse dia em que ele a defendeu. Os olhos eram os mesmos, e a pessoa por trás deles também.
Novamente ela se encantou por aqueles olhos...
Jovens olhos.
Olhos de cinquenta anos...
Do amor de sua vida!

11 comentários:

  1. Olá!Bom dia
    Dedé,meu amigo!
    Emocionante a história de amor de Vó e vô , Sosô e Vartinho, Soraia e Valter.
    Gostei muitooo mesmo do formato "cronologia" de seu texto,bem organizado com a sucessão de acontecimentos e relato das ações.
    O destino estava os levando para caminhos diferentes, mas, esse mesmo destino, os uniram...nas trocas de palavras, de histórias, nasceu o sentimento, e logo trocaram juras de amor. E quando há amor, nunca acaba. Por isso o amor que sentiram há 50 anos atrás ainda existe. Vivem de palavras, de emoções, de desejo,cumplicidade... olhos de amor!
    Obrigado pelo carinho da visita
    Bela semana
    Abração

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  2. Noooooooooossa, arrepiei! Lindo demais e aqui em casa em janeiro faremos 45. Tomara cheguemos aos 50 assim ... abração,chica e ADOREI te ler!

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  3. Linda e emocionante estória de amor através do tempo.
    Abraço

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  4. Era o meu sonho, envelhecer ao lado da pessoa que escolhi, queira muito poder olhar nos olhos e reconhecer aquele encantamento dia a dia, independente da aparência, das roupas, do envelhecimento...Apenas olhar e saber que poderia contar com aquele olhar em todos os momentos, sem medo...Lindo André!! Obrigado.

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  5. Que belo, André! Felizes aqueles que encontraram esse olhar e se perderam nele para sempre. Ou melhor, se encontraram. Bjs.

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  6. Histórias de amor são sempre ridículas...(quem foi mesmo quem disse isso?); mas o que seria da vida sem elas? Amar, é ser ridículo.

    adorei o conto dos cinquenta.
    mesmo por que, hoje em dia, o que se anda comemorando é quantas relações você já foi capaz de desfazer em um mês.

    abração!

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  7. Que conto mais lindo, André! Tive a impressão de já o ter lido por aqui.
    Eu adoro histórias de amor, principalmente quando deixam a ideia de que este sentimento pode ser duradouro e capaz de manter o mesmo brilho nos olhos do casal, independente da passagem do tempo. Sou romântica-rsrs.

    Grande abraço.

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  8. Maravilhoso meu amigo!
    Vc deveria escrever um livro! hahahahahaah

    Beijoooo

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  9. Ahhhhh coisa bonita demais, garoto! É de emocionar, viu...
    Tua escrita é limpa, clean mesmo e a gente vai lendo e se embrenhando na história e pode até, se quiser, vivê-la.

    Passando também pra dizer que tem uma TAG pra ti no meu blog Escritos na Memória. Acho que gosta de ler, porque escrever super bem, entaum indiquei teu blog para participar. Passa lá e confere, obrigada!

    Bacios

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  10. ANDRÉ:Que gracinha de história!Vc fala do presente e logo, para explicar a sucessão da idade...das fases da vida, volta ao passado, em tempos dourados, quando ainda eles eram jovenzinhos.É emocionante e tão romântico! Seu estilo como sempre, tão reflexivo!
    Amigo, tenha uma tarde abençoada!!Bjs.

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  11. Maravilhosa história de amor! Eis que o amor reside ali, bem na frente de nossos olhos, por muito tempo, esperando o momento certo de se despertado. Que bom ele existe! Abraços renovados!

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